A chegada do inferno escrita por Andrew Ferris


Capítulo 16
Abrindo o jogo


Notas iniciais do capítulo

Elias é o traidor escondido e agora as coisas complicam para Derek, que tem uma dívida para com Nathan! Novos desafios para nosso jovem Assassino, que ainda tem muito a aprender antes de seu derradeiro destino!!!



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Subindo as escadas e passando por uma série de corredores até finalmente chegar no cômodo onde Harry Dustin se encontrava com outros Assassinos, bato a porta com força e vocifero irritado.
— Todos pra fora - Harry me encara surpreso, sorri de canto e pede gentilmente para que os demais se retirem. Ao fazerem, ele se levanta da cadeira dando uma de desentendido.
— Stonenberg está morto - Afirma como se pudesse ser aquele mestre bondoso e sábil a hora que lhe convier.
— Você matou a família dele - Declarei indignado - Você matou a esposa e a filha de Stonenberg sem hesitar.
— Como um verdadeiro Assassino teria feito. A questão é que fiz o que me foi ordenado - Se defendeu com frieza.
— Você obedeceu cegamente e é isso que busca entre os seus. Se realmente for isso, então não sei o que continuo fazendo aqui - Afirmei com ódio, andando de um lado para o outro da sala na esperança de que meus pensamentos fluíssem melhor - Ele estava prestes a me contar quando seu traidor acertou uma bala nele.
— Traidor que você considerava um amigo - Lembrou Dustin caminhando em direção à porta - Caso não se lembre, deve desculpas a Nathan.
— Devo, mas isso não muda muita coisa, afinal de contas faltam dois alvos Templários para liquidar e eu continuo sem saber de nada - Declarei indignado encarando o velho com seriedade.
— Você não precisa saber de nada, já que não é um de nós. Temos um acordo, Azhiph, isso é tudo. Agora vamos dar nossos cumprimentos a Nathan por ajudar na captura do traidor e perguntar algumas coisas a Elias.
Quando chegamos na sala onde Elias está sendo mantido, ele está na companhia de mais quatro Assassinos, dois deles altos e robustos, com muitas cicatrizes e barba rala e dois que eu conhecia muito bem, Jade e Nathan. Dustin toma a frente e agradece ao braço direito, seguindo em direção a Elias enquanto tomava a frente para minha vez.
— Obrigado pela ajuda - Afirmei com os dentes rachando,ainda sem conseguir acreditar que Nathan no final das contas não era um traidor infiltrado, mas sim aquele que eu chamei de amigo. Jade me para um instante, no qual enxergo sua notória preocupação esvair-se enquanto tenta esconder a própria dor.
— Não tente fazer nada do qual vá se arrepender - Suplica em tom baixo mantendo seus belos e luminosos olhos focados em mim.
— Não sou o mesmo que você conheceu - Declarei com frieza visando me afastar o máximo que pudesse dela, já que ela tinha um namorado hospitalizado e sua mente devia estar muito sensível naquele momento. Por mais amigos que fôssemos, essa parecia a coisa certa a se fazer.
— Ainda assim não muda o fato de eu te conhecer, Azhiph. Converse com Dustin, tudo será esclarecido em breve - Dirigindo meu olhar a Harry, que questionava Elias com uma postura onipotente, percebi uma verdade nas palavras que Stonenberg me dissera.
— Nada será esclarecido - Afirmei lembrando do acordo que Dustin e eu havíamos feito -Não tem nada a se esclarecer.
— Lógico que tem, você é um de nós.
— Não, não sou - Assim, depois de uma encarada séria de Dustin para seus ajudantes, que saem sem se manifestar, ele se volta para mim apontando Elias.
— Ser um Assassino requer muito mais do que você pensa. Esses monstros tentam nos exterminar há séculos por mais que nossas intenções sejam as melhores. Vivemos um jogo insano o qual não podemos vencer a menos que estejamos dispostos a sacrificar alguma parte da nossa humanidade em troca daquilo que precisamos.
— Eu não sou um Assassino - Rebati revoltado.
— Mas quer ser.
— Não graças às suas armadilhas - Revelei finalmente me livrando da perturbação que percorria minha mente.
— Do que diabos está falando? - Indagou Harry passando a mão no queixo confuso.
— Eu sei que vocês tramaram para os Templários me capturarem naquela missão inicial. Vocês queriam que eu fosse capturado porque sabiam que eu conseguiria aprender habilidades através do Animus assim como sabiam antes de mim a respeito de minha habilidade. Aquela que eu não consigo explicar - Elias dá uma risada abafada, o que nos faz lembrar que ele continuava ali.
— O que te faz pensar que isso é verdade?
— Simples, eu ouvi você dizer - Harry me encara por um breve momento para confirmar se eu estava jogando verde com ele ou se dizia a verdade, então sorri friamente.
— Sabia que a ideia foi de Jade?
— E porque isso faria diferença?
— Porque você gosta dela do mesmo jeito que ela gosta de você - Um silêncio profundo se instala, até mesmo Elias que poderia dizer qualquer merda apenas para nos provocar fica em silêncio por alguns instantes antes de rir desenfreadamente, chegando ao ponto de ser irritante.
— Pelo amor de Deus, Azhiph -Declarou Elias sorridente - Vai me dizer que nunca percebeu? - Dustin corre na direção de Elias e desfere um soco potente, que faz um barulho agonizante antes de se virar para mim com seriedade.
— Isso será longo e impróprio para você, meu caro. Vá falar com Jade, acredito que esteja precisando da sua amizade nessa fase difícil - Sem responder nada, saio da sala deixando Elias e Dustin sozinhos, afinal já tinha problemas demais na minha cabeça. Parece improvável Jade sentir algo por mim, deveria ser vindo de um traidor e de um cara sem escrúpulos que confiava menos quanto melhor o conhecia. Pensando em tirar essas coisas da cabeça, penso em passar nas salas de treinamento, mas muitos dos Assassinos interrompem suas atividades para me olhar de canto, indicando que minhas atitudes imperativas para com Dustin já estavam circulando e provavelmente circulariam por mais alguns dias. Enquanto divagava estes acontecimentos minha barriga treme, o que me lembrou que estava há quase um dia sem comer e há poucas horas havia usado meu poder, o que tinha exaurido minhas energias além do normal. Ao chegar no refeitório e encher um prato com comida e um copo com suco fui procurar um lugar para me sentar e me deparo com Jade comendo, ou melhor, tentando comer. Ao invés de comer ela simplesmente mexe a comida de um lado para o outro sem distinção específica, até perceber que eu a observava fixamente. Para disfarçar meu comportamento esquisito, resolvi ir ao seu encontro, me sentando à sua frente na mesa sem tirar os olhos dela.
— Está tão ruim assim? - Perguntei com ironia.
— Não tanto quanto sua relação com Harry. Sabe que precisa melhorar se quiser que ele mantenha sua confiança - Esclarece parando de agitar a comida para arrastar um pouco para sua boca.
— Sei - Penso em retrospecto e me recordo das palavras de Dustin sobre Jade, dizendo que ela também ajudara no plano de me entregar de bandeja aos Templários e tomo uma decisão sobre o que deveria fazer.
— Jade, eu sei que você pode pensar coisas erradas a meu respeito, mas não sei mais em quem devo confiar - Pausei para dar uma olhada em seus olhos antes de prosseguir - Eu sei que Dustin tramou para me entregar aos Templários. Ele sabia que eu era valioso para o inimigo e se aproveitou da situação - Ela me encara apavorada e nervosa antes de evitar meu olhar, preferindo voltar a comer do que pensar no assunto. Assim ficamos por alguns minutos, comendo em silêncio enquanto um Assassino ou outro me encara de canto, até ela gritar cansada e voltar a olhar para mim.
— Já chega. Foi eu que dei a ideia pro Dustin. Você não evoluía nem um pouco e soube de um Assassino que ganhou habilidades depois de entrar em contato com o Animus. A questão é que isso só aconteceu uma vez e normalmente os prisioneiros da Abstergo não costumam fugir, então tínhamos de manter a situação sob controle, desconfiávamos do seu nome de você ser de fato a pessoa que procurávamos. Sei que não tem perdão pro que fiz mas fiz o que fiz pensando na Ordem, nas pessoas que dependem do que fazemos e... por você - Nesse instante meu coração tem um sobressalto, a sinceridade nas palavras de Jade me abalavam tanto que não sabia se o que sentia era raiva ou alegria - Eu sabia que os Templários acabariam matando você de um jeito ou de outro, então seria mais fácil deixar que te levassem. Tentamos manter-nos o mais perto possível da base para que na primei chance conseguíssemos tirar você de lá, mas você voltou diferente. Agora luta ao nosso lado por que quer, não por que é obrigado - Tento manter as palavras na minha mente, mas o momento termina sendo mais forte que eu.
— Na verdade, fiz um acordo com Dustin - Jade me olha intrigada - Ele me prometeu que se eu ajudasse a matar todos os alvos Templários que tem conhecimento pleno do real objetivo da Ordem poderia voltar à minha antiga vida e não precisaria mais ficar aqui - Jade engole em seco, seus olhos úmidos revelando o turbilhão de emoções que a sacodem nesse instante.
— Bem, acho que ainda não viu o noticiário - Comentou com seriedade.
— Não, o que houve?
— Descubra por si mesmo. Tenho que ver Alex agora, se nã se importa - Assim, Jade me deixa sozinho no refeitório, onde consigo ponderar sobre nossos pontos de vista, afinal de contas o namorado dela estava hospitalizado e possivelmente ela podia gostar de mim e se sentir culpada por isso. A mulher que outrora eu amei na verdade me enganou todo o tempo, sendo uma Templária querendo me manter sob vigilância, além do fato que eu não estava ali por que queria e não seria assim em momento algum. Talvez Dustin tivesse previsto minha morte e acabou se decepcionando, afinal enquanto eu vivesse ele teria de manter o olhar atento sobre mim. Minha presença ali não beneficiaria ninguém, assim como minha ausência, então o que eu poderia fazer perante uma questão tão complexa? Cansado desses devaneios decido ir para meu quarto, onde ligo a televisão para ver o que passa de assistível àquela hora. Depois de trocar de canal dezenas de vezes consigo encontrar um canal onde passa um telejornal, então largo o controle e presto atenção nas notícias. Nada do que diziam fazia muita diferença, até tocarem no meu nome.
"Depois de três meses desaparecido, os membros do conselho e os atuais acionistas majoritários da Venille Corporation conseguiram uma liminar na justiça que oficializa a morte do presidente da empresa. Sendo assim, todos os bens de Azhiph foram entregues aos acionistas, depositados diretamente no fundo da Venille juntamente com bens físicos como carros e casa, que serão penharados ou vendidos até o final do mês. Vale ressaltar que o CEO da Venille Corporation estava sendo procurado pela justiça por ter ameaçado a segurança dos próprios comegas de trabalho - Assim se encerra a carreira do jovem e renomado empresário, que deixa mais dinheiro do considerações, já que ele não possuía nenhum herdeiro declarado em atestado - Comentou Thomas Memphis hoje cedo para nossa equipe de reportagem. Lembrando que Thomas Memphis é atual acionista majoritário da Abstergo Solutions e retém atualmente trinta por cento das ações da Venille. O empresário, que tem um excelente currículo para alguém com meros trinta e nove anos, se diz empolgado com o trabalho que vai iniciar nas próximas semanas com a empresa recém-adquirida - O que fizemos com outras empresas será feito com a Venille. Nossa proposta é tornar o mundo um lugar melhor, pretendemos fazer isso trazendo um novo mundo no lugar deste que vemos e esperamos a colaboração de todos em nosso propósito. Quando a matéria termina, eu sequer consigo prestar atenção, pensando apenas no tempo que os Assassinos iriam desperdiçar nossos próximos dias ao se prepararem para a próxima investida contra os Templários e riscando assim os dois últimos nomes da lista. Eu não tinha mais o que fazer ou para onde ir. Em breve os bens que me restaram seriam vendidos e o que sobrar vai para o lixo, junto com o império que meu pai construiu. Independentemente do que eu fizesse a seguir, não estaria fazendo nada demais, afinal agora não tinha mais obrigações com ninguém, nem mesmo com os Assassinos. Se eles querem os Templários mortos que façam isso com suas próprias mãos, eu irei seguir meu próprio caminho. Juntei alguns pertences em uma bolsa pequena e a coloquei nos braços antes de vestir meu casaco e capuz, caminhando com cuidado ao longo dos corredores da base enquanto tentava chamar menos atenção possível, e teria conseguido sair dali sem dar bandeira caso não tivesse avistado Jade sentada na quina de uma parede, com a cabeça deitada sobre os próprios braços. Me aproximo pensativo e comovido, me sentando à sua frente para esperar que dissesse alguma coisa, o que não vem ao caso.
— Jade, o que houve? - Pergunto por fim, sem poder suportar vê-la naquele estado.
— Alex - Ela ergue os olhos repletos de lágrimas, além de uma profunda mágoa e ressentimento, enquanto suspeita do modo como estou vestido - Alex morreu essa noite - Um longo e respeitoso silêncio se instala antes que eu encontre o momento adequado para voltar a falar.
— Eu sinto muito.
— Fico grata por isso, mas não dá. Todo esse tempo quis fazer a coisa certa, mas sem uma base sólida para fazê-lo.
— Do que está falando?
— Eu sei o motivo real dos Templários ainda não terem te matado - Revela limpando o rosto com a manga de seu suéter marrom - Você é um Renegado de Venerale.
— Renegado de que?
— Renegados de Venerale. Um grupo de Assassinos da antiga Irmandade que jurou manter viva a tradição e princípios que jugaram ter sido abandonados. Eles afirmavam que nossa causa havia se perdido no meio da própria busca, se corrompido pelo inferno que juraram impedir.
— Que inferno é esse, afinal?
— É o que está nos livros, mas você pode dizer melhor do que todos, já que teve contato com o fundador dessa Ordem secreta de refugiados e descartados.
— Quem?
— Wilkar Azhiph - Jade recobra a ciência, se levantando sem rodeios. Eu a acompanho até o corredor de entrada, onde nos abraçamos com força, deixando que nossos sentimentos falassem por nós - Onde você vai vestido desse jeito?
— Vou tomar um pouco de ar - Menti soltando sua cintura para seguir rumo à escuridão solta, passando por túneis escondidos e espremidos até finalmente alcançar a saída do esconderijo.


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Notas finais do capítulo

Derek fugiu da base da Irmandade de sobreviventes, já que sabe que lá não encontrará respostas, mas o que ele pretende fazer agora que está sozinho? Como a dor da perda afetará o julgamento de Jade? Será que Harry Dustin tem de fato mais planos do que demonstra?



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