Domino Effect — Interativa escrita por Avalon


Capítulo 2
01; No final de tudo, quem salva quem?


Notas iniciais do capítulo

Olá! Olha quem voltou muito feliz com todos os comentários e acompanhamentos que vocês deixaram. Demorei muito? Eu não sei, sou meio aérea, hahah. Nesse capítulo eu dei um jeito de apresentar todo mundo da família real pelo menos um pouquinho e também coloquei uma confusão para animar a coisa!
Bom, eu ia postar logo toda a família real de uma vez no tumblr. Mas como devem ter percebido, acabei desistindo e postei só a família sulista. Não é preferência não, aushuah, é só que eu acabei optando depois por apresentar eles a medida que os apresentava na fanfic. Assim vocês se situam melhor. Quando eu postar o capítulo também vou postar também no tumblr sobre a parte da família real que apareceu aqui.
Eu estava pensando em alguma forma da gente se comunicar além do tumblr e da fanfic. Vocês tem alguma sugestão?
Bom, vamos parar de papo e vamos direto para o capítulo não revisado, foi mal tô ansiosa para postar :v.



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Times that I've seen you lose your way
You're not in control and you won't be told
All I can do to keep you safe is hold you close
Hold you close till you can breathe on your own
Till you can breathe on your own

— Keeping your head up, Birdy

 

NO FINAL DE TUDO, QUEM SALVA QUEM?

"O pessimismo, depois de você se acostumar a ele, é tão agradável quanto o otimismo."

Era um dia frio e luminoso de maio. Os relógios espalhados pelos corredores dourados soavam o badalar ritmado de dezoito horas. Ventava como nunca pelos arredores do palácio sulista, ameaçando uma grande tempestade. Theodore permanecia com o queixo enfiado no peito e com o capuz de couro cobrindo seu rosto. Era arriscado tentar fugir a luz do dia, entretanto naquela altura do campeonato, valia de tudo para escapar do castelo sem ser visto. Esquivou-se de alguns funcionários e passou depressa pelos portões de vidro, mas não tão depressa ao ponto de não ser visto pela figura de cabelos louros logo atrás dele.

— Aonde você pensa que vai? — Theodore bufou de raiva e virou-se para Charlotte, que o encarava com um ar quase que vitorioso — Você achou mesmo que conseguiria fugir daqui antes do maravilhoso jantar de família? É um reencontro, deveria aproveitar.

Fazia poucos dias que todos haviam mudado para o castelo sulista, porém em nenhum deles a família tinha de fato se reunido por inteira, viviam evitando uns aos outros e procurando formas de não terem que se encontrar. Naquela noite, no entanto, Myrna tinha exigido que toda a família se reunisse para um jantar, pelo menos uma vez. Theodore tinha certeza de que algo daria errado e ele só queria escapar daquelas paredes abafadas.

— Pare de ser tão cínica, você também odeia esse lugar.

Charlotte sorriu debochada e encarou o irmão com todo o ardor de seus olhos azuis, analisou-o de cima a baixo e suspirou fundo. Em muitas coisas ela havia puxado a mãe e Theodore o pai, mas sem dúvida alguma, a ambição dos dois estava somada nela. Por isso a relação dela com Theo era tão ruim. Afinal, Charlie era a irmã mais velha, ela deveria ser a herdeira, porém seu querido pai decidira que uma garota não poderia governar um país, falava isso por puro rancor de sua tia Myrna que quase tomara seu trono. Ela queria a coroa, ela merecia a coroa. Isso a fazia ter uma raiva fatal do Irmão.

— A diferença é que você é o futuro rei. Não poderá fugir para sempre de todas as responsabilidades como costuma fazer agora. Por mais que não queira, um dia terá de enfrentar tudo.

— Não posso? Continue observando — Theo já planejava ir em direção à porta e deixar Charlotte tagarelando sozinha, como sempre fazia, quando a irmã fincou suas unhas vermelho sangue no casaco de couro de Theodore e puxou-o para trás, fazendo com que por pouco não caísse sobre o piso de porcelanato.

— Não. Dessa vez não — Charlie rangeu os dentes e puxou o irmão para que a acompanhasse até a sala de jantar, onde estavam esperando por eles — Você é patético.

Do outro lado do palácio Lukas andava apressado pelos corredores para conseguir chegar à mesa de jantar sem levar uma bronca da mãe, como de costume. A verdade é que ele mesmo se perdera em meio aquele ambiente novo, se perdera de todas as formas possíveis e imagináveis. Desde que chegara, ainda não havia conseguido decorar em sua mente cada sala do grande palácio sulista. Se não fosse sua incrível atração pelo novo, talvez não estivesse perdido, porém ele e sua cabeça dura insistiam na ideia de querer conhecer cada centímetro do local. Procurava por um canto calmo, onde pudesse se esconder de toda a confusão que se formara ou que pudesse ao menos pensar sem ser interrompido pelas brigas de família. Eles pouco se viam, mas quando o faziam desatavam a despejar todas as intrigas mal resolvidas durante os anos.

Lukas definitivamente não estava acostumado com aquilo. Não estava acostumado com todo aquele ambiente cheio de energia negativa e cheio de confusão. Nunca convivera muito com problemas familiares até o momento. Tudo era novo para ele. Desde que se conhecera por gente, era apenas ele e sua mãe, a pequena família que os dois haviam criado. Raramente discutiam, vez ou outra ele levava alguma bronca, mas nada muito sério, não como aquilo. Olhou para o relógio cuco a sua direita; dezoito horas e quinze minutos.

— Como irei governar um reino se não consigo nem mesmo encontrar a maldita sala de jantar? — Pensou consigo mesmo ainda olhando para o relógio. Sentiu uma mão tocar seu ombro e virou-se rapidamente.

—Está a sentir-se bem, alteza? Parece meio perdido — Uma velha criada, Amélia se não lhe falhava a memória, que carregava algumas toalhas sorriu docemente para o príncipe. Este a encarava preocupado e não precisou de muito mais, para que a criada soubesse o que acontecera — O jantar é naquela sala — Apontou para uma sala que estava logo atrás do príncipe. Lukas suspirou e agradeceu a criada, finalmente situando onde estava exatamente.

— Só pode estar de brincadeira — Resmungou baixinho consigo mesmo antes de sentar em seu respectivo lugar na grande mesa.

Logo depois dele Theodore apareceu sendo praticamente arrastado por Charlotte, ela resmungava alguma coisa em seu ouvido enquanto o príncipe permanecia com um sorriso no rosto e a revirar os olhos. Rosemary e Noah pareciam que foram os únicos herdeiros a chegar na hora para o jantar, embora no fundo também não estivessem nada felizes com aquilo. Os dois estavam entediados com o silêncio que pairava sobre a sala.

— Pelo menos me livrei das lições de piano — Cochichou para Noah, sentado logo ao seu lado.

— Livrou meus ouvidos das suas lições de piano, isso sim — Brincou Noah, porém era verdade. Por pura insistência do pai Rose começara a praticar, por mais que não levasse o mínimo jeito com aquilo. Praticava-o na pura intenção de fazer com que o pai parasse de pensar tanto em sua mãe toda vez que via algum piano. Phillip nunca havia superado a morte da mulher durante o parto de Rosemary, inclusive, chegava a culpar a própria filha pela morte da mãe, mesmo que indiretamente. Tudo que a jovem queria era ser aceita pelo pai, por isso cumpria a quase todas suas exigências.

— Falou o mestre do piano — Rose levantou uma das sobrancelhas em questionamento. Noah sempre gostou do som do instrumento, porém, graças às lembranças da mãe que aquilo trazia a tona, nunca havia tomado iniciativa para começar a praticá-lo — pelo menos eu tento — a princesa sorriu e o irmão já abria a boca para falar algo quando o olhar bravo que Phillip lançou aos dois impediu que continuassem a conversa.

Os três governantes permaneciam calados encarando uns aos outros por puro orgulho, nenhum deles parecia disposto a ser o primeiro a dirigir a palavra. Os pratos foram servidos sobre a mesa de mogno e por certo tempo todo o barulho que se ouvia eram os caros talheres batendo contra a porcelana dos pratos cobertos sobre o leve mastigar dos membros da família real. Esse silêncio constrangedor permaneceu por mais alguns minutos antes de Elizabeth, esposa de David, finalmente decidir quebrá-lo.

— Os preparativos da seleção já estão quase todos prontos. Avisaremos para o jornal de Illéa amanhã mesmo, transmitindo para todos os três países. Quero todos os herdeiros prontos para a entrevista bem cedo.

— Fala como se tivéssemos alguma opção — Theodore indagou sem nem mesmo tirar os olhos do prato.

David revirou os olhos. Sabia que Theodore não se incomodava com a ideia da seleção, muito pelo contrário. Já o ouvira se gabar com alguns amigos de que teria diversas garotas bonitas apenas para ele durante a seleção. Porém parecia gostar de falar que odiava a ideia na frente dele, apenas para irritá-lo. Theo parecia disposto a tudo para acabar com a paciência do pai e isso incluía dizer que não concordava com a maioria de suas ideias. David conseguia até mesmo prever; o filho insistiria em escolher justamente a garota que menos o agradasse, no entanto o rei não estava disposto a aturar essa ação, preferia entregar seu pescoço à forca a ver o filho casar-se com uma jovem sem escrúpulos para tirá-lo do sério.

Naquele momento um empregado invadiu as pressas à sala de jantar. Estava arfando, com o uniforme azul completamente molhado por causa da tempestade e os cabelos grudados sobre a testa numa mistura de suor e gotas de chuva. Fez uma breve reverência e com um olhar assustado entregou a Phillip um envelope preto, com uma insígnia que nenhum dos presentes jamais tinha visto em toda a vida.

— O que é isso? — David arrancou o papel das mãos de Phillip com presa, que por sua vez teve o papel arrancado das mãos por Myrna, que abriu o envelope com certo desespero.

— Todos vocês, saiam da sala agora — A rainha apontou para a porta e fez com que os herdeiros se retirassem de um a um, com uma interrogação em suas mentes. Myrna até tentou falar com o filho, que olhava para tudo com um ar abismado, provavelmente bolando algum plano em sua mente. Ela queria comunicar para ele o que estava acontecendo, porém foi impedida por um guarda que arrastou Lukas para fora.

Quando o local finalmente ficou vazio, Myrna jogou o corpo sobre a cadeira acolchoada e suspirou profundamente. David permanecia a reler o papel em suas mãos, quase sem acreditar no que estava escrito naquelas letras graúdas.

— O que está escrito aí? Falem logo — Elizabeth falou, tirando o papel da mão do marido e finalmente lendo-o — “Cara família real, vocês não nos conhecem, mas nós conhecemos vocês. Conhecemos cada um de seus roubos e estratégias para tentar enganar a pobre população. Estamos em todos os lugares. Em cada esquina e em cada rua. Vocês não nos vêm, mas nós vemos vocês. Os vemos de verdade, sem essa máscara maldita de amigo do povo que toda a realeza busca. E confie em mim, vamos fazer todos os verem dessa forma. Nem mesmo a união dos países vai funcionar para unir essa nação destroçada. Podem até tentar nos encontrar, mas não vão conseguir. Somos mais forte, estamos escondidos em meio às cinzas e quanto mais tentarem nos aniquilar, mais de nós irão surgir. É o fim do reinado de mentiras. Atenciosamente, os verdadeiros salvadores

O rosto de Elizabeth tornou-se pálido, sem expressão, assustado. Justo ela, a mulher que parecia não ter medo de nada. Naquele maldito pedaço de papel estava escrito o maior medo da família real naquele momento; rebeldes. Não qualquer tipo de rebeldes. Não eram daqueles que basta um pouco de pressão para que desistam. Não. Esses eram rebeldes informados que se infiltram como pestes em meio a tudo e sabem de tudo. Afinal, como saberiam tão facilmente da união dos países que ainda nem sequer fora anunciada? Deveria haver alguns deles pelo palácio, infiltrados como criados ou sabe-se lá o que. Aquilo era tudo que a realeza não precisava no momento; uma revolução.

— É culpa sua, sabia? —Phillip olhou irritado para David — Se nunca tivesse inventado aquela bobagem de “o salvador” se fazendo de populista, nada disso estaria acontecendo, mas como sempre você tem de querer ser o maior e o melhor em tudo.

— Minha culpa? Se você não tivesse roubado tanto naquele reinado não haveria motivos para criar “o salvador” — David levantou-se da cadeira e apontou para Phillip, irado — Não venha querer me fazer de vilão, porque você não é nenhum santo. Não fui eu que roubei e desviei todo o dinheiro que iria para a educação e para a saúde e culpei alguns funcionários do estado para sair impune.

Phillip gargalhou alto. Como depois de tudo aquilo ele ainda queria se fingir de mártir? Ainda gostava de alegar que fez um favor para a população expondo o irmão. Todos sabem que o único favor que David fizera foi para si mesmo e para satisfazer seu próprio ego orgulhoso.

— Pelo menos eu me arrependo de tudo que fiz! Sabe que se pudesse voltaria atrás. Ao contrário de você e sua ambição desenfreada — Agora, Phillip gritava com o irmão em plenos pulmões, deixando todo o ódio acumulado fluir por suas palavras — E você já fez coisa muito pior! Ou preciso lhe lembra de Austin?

Aquela fora a gota d’água para Myrna. Podiam falar do golpe, da coroa, da ambição, mas não de Austin. Não da sua maior ferida. Ele fora o único amor que já tivera. O conhecera antes da guerra, antes de toda a confusão. Ele tentou impedir para que não expusesse o irmão, ao contrário de todos eles, Austin sabia que aquilo não acabaria bem. Mas Myrna não o ouviu, seu orgulho e sua sede por poder falaram mais alto e ela desmascarou David e quase tomou a coroa apenas para si. Porém seu irmão descobriu a armação que ela fizera com ele e num ato de ódio David quase atingira a própria irmã com uma bala, a sorte foi que Myrna fora o suficiente para desviar, sendo atingida apenas de raspão. Austin não tivera a mesma sorte e acabou morto com o tiro da bala, deixando a princesa grávida de Lukas, seu único filho. Nunca amara de novo e graças à imprudência do irmão, fora condenada a criar o filho sozinha, recusando-se a casar com alguém apenas por casar.

— CHEGA! — Myrna gritou, colocando-se no meio dos dois irmãos — Vocês parecem duas crianças brigando por um doce! Temos problemas maiores para resolver do que apenas decidir de quem é a culpa! E você — colou a unha pintada com esmalte preto no terno cinza giz de Phillip — Você não ouse falar de Austin.

Do outro lado da sala de jantar, Charlotte permanecia com o ouvido colado a grandiosa porta, tentando inutilmente ouvir algo que viesse de dentro. Enquanto os outros herdeiros permaneciam no corredor esperando notícias. Aquela altura a tempestade se tornara cada vez mais forte e os raios cada vez mais presentes.

— Duvido que consiga ouvir alguma coisa — Theodore falou, desencostando-se da parede e sorrindo debochado para a irmã.

— Cale a boca. Se você continuar falando aí que eu não ouço mesmo — Charlie revirou os olhos azuis e continuou com o ouvido grudado sobre a superfície de madeira, ignorando o irmão.

— Ele está certo, você não vai ouvir nada — Noah foi em direção à prima e bateu levemente com a mão sobre a porta, obtendo um soar oco — É a prova de som.

Rendida, Charlotte bufou e desencostou-se da porta, ouvindo uma risada de Theodore que a olhava com um leve ar de “eu avisei”. A princesa sentou-se numa cadeira irritada e começou a encarar a tempestade de fora pela janela do palácio. Um relampear ecoou pela sala, sendo seguido de um forte barulho de chuva. Era sem dúvida a pior tempestade do mês, que estava surpreendentemente frio, mas para o descontentamento de Rosemary, não havia nem mesmo o risco de nevar.

— Parece que o céu vai cair sobre nossas cabeças — Rose indagou fechando as cortinas cor de vinho.

— Com aqueles três lá dentro, é bem capaz que caia mesmo — Lukas ironizou apontando para a porta, onde já estavam esperando há quase meia hora, e arrancou um sorriso de Rosemary. Eles ainda não eram muito próximos, nenhum deles era. Haviam se visto poucas vezes em toda a vida e agora eram obrigados a reconstruir laços familiares que nem existiam. Ainda estavam começando a se conhecer.

Sem mais nem menos Theodore levantou-se da cadeira acolchoada, colocou as mãos dentro do casaco de couro, cobrindo os cabelos castanhos com um capuz. Em seguida, seguiu em direção ao fim do corredor.

— Aonde você pensa que vai nessa chuva? Enlouqueceu? — Lukas levantou uma das sobrancelhas — No mínimo vai pegar um resfriado.

— Que seja, essa é minha chance de escapar desse inferno. Mesmo que só por algumas horas.

Você que sabe — Noah deu de ombros e observou Theo correr pelas escadas até o fim do corredor. Em outra situação, Charlotte até tentaria impedi-lo, mas estava entediada demais para fazê-lo e a ideia de ver o irmão resfriado a divertia um pouco.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Comentem tudo, até as críticas construtivas, isso me ajuda a melhorar. Até o próximo capítulo. Xo, Myra.
Obs: Ah, ia esquecendo! Eu fiz um tumblr para os rebeldes, achei que seria legal postar lá algumas coisas sobre a família real e a opinião deles sobre ela, além de alguns spoilers e confusões. aqui está o link: http://verdadeirossalvadores.tumblr.com/