Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 3
Um acordo com meu cupido




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O sol reinava pelas ruas movimentadas do Brooklyn. Quando cheguei ao Kismet Diner, estava suando. Dei de cara com Dolph atendendo diversos clientes e todos pareciam impacientes. Dolph sofria na fritadeira, então corri até ele.

— Dolph? — O chamei.

— Cassandra! Finalmente! Você está quase duas horas atrasada! — Ele virava um hambúrguer com facilidade, enquanto me encarava. — Atenda-os para mim, por favor. — Dolph tentou fingir que não estava zangado com o meu atraso, mas eu sei que depois ele chamaria a minha atenção mais uma vez.

Rapidamente me virei, e do outro lado do balcão comecei a atender os clientes, mas com a cabeça pensando em um outro assunto.

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Às quatro da tarde o Kismet estava mais tranquilo. Todos os clientes já foram atendidos, as mesinhas já estavam todas limpas e Dolph já estava menos zangado comigo por ter me atrasado. Resumindo, eu consegui colocar o dia em ordem.

Mas ainda sentia que não. Eu simplesmente não podia me esquecer de algo tão incomum. Enquanto passava um pano úmido no balcão e pensava frenética nesse assunto, resolvi fazer uma pergunta ao Dolph.

— Dolph?

— Sim?

— Você acredita em coisas sobrenaturais? — Perguntei, não sabendo como explicar.

— Claro. Como você acha que eu consigo gastar todo o meu dinheiro em menos de uma semana? Isso é sobrenatural. — Ele riu da própria piada, organizando o caixa.

— Isso não tem nada de sobrenatural. — Ri.

— Ah, Cassie... Você continua a mesma garotinha de sempre. Vai me dizer que ainda acredita em contos de fadas?

Olhei para baixo. Era muito mais que isso.

— Seu pai sempre teve razão. Você é uma garota bastante sonhadora.

— Não é isso... É... Você acredita no cupido? Acha que ele, ou, eles existem?

Dolph parou e me encarou. Ficou assim por vários segundos, pareceu até assustado.

— Cupidos? Olha, se eles existem eu não sei, mas posso te garantir que esse carinha não é meu amigo. Dois divórcios não é qualquer um que aguenta.

Acabei soltando uma risada. Dolph não me entenderia mesmo se quisesse. Decidi deixar para lá. O que me preocupava de verdade era se ele, o rapaz misterioso, iria aparecer hoje. Ele me deve uma centena de explicações.

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Atendi mais alguns clientes às cinco, e às seis tive que parar a briga de duas criancinhas que tentavam convencer ao outro que seu lanche era mais gostoso.
      E nada de David. Comecei a pensar na hipótese de ficar louca caso ele não aparecesse. Eu nunca me esqueceria daquilo. Nunca.

Foi quando a porta se abriu, e nunca senti um friozinho na barriga tão intenso quando quanto àquele que senti quando David passou pela porta. Com seu olhar de galã, como sempre chamando a atenção de todos os clientes do Kismet Diner. Como de costume, ele caminhou até a mesa do fundo, mas o que eu não esperava nenhum pouco, era que todos eles entraram no Kismet Diner. Estavam todos conversando, Bruce, Franklin, David e Colin. Eram eles. 

Sem exitar corri até eles, já com o bloquinho separado, e quanto todos se assentaram na mesa do fundo, me coloquei à frente deles.

— O que fazem aqui? — Perguntei. Não sabia qual sentimento demonstrar. Desespero, felicidade, medo... Eram todos eles, com seus ares misteriosos, sorrisos indecentes e olhares intimidadores.

Todos pararam de conversar e olharam para mim.

— Desculpe? — Colin perguntou, me encarando. Devolvi aquele mesmo olhar para ele.

— Vocês me devem explicações! Eu quero saber como é que eu fui parar na casa da minha mãe se ontem eu dormi no quarto dele! — Apontei para o David.

Eles pareceram chocados. Se queriam disfarçar e fingir que nada aconteceu, estavam atuando super mal. 

— Qual seu nome mesmo? — David me perguntou e naquele momento senti como se fosse um soco no estômago. Ele agora não se parecia com o garoto que já sabia meu nome sem nem mesmo me conhecer.

Franzi minhas sobrancelhas, olhando para cada um deles, indignada. Estavam se achando os espertalhões e ainda se atreveram a vir ao Kismet Diner!

— Ah, não! Parem com isso! — Falei um pouco alto, chamando a atenção de alguns clientes. Percebendo isso, logo abaixei meu tom de voz e me aproximei mais um pouquinho deles — E as asas? — Perguntei como se fosse um segredo.

— Quê asas? — Franklin sussurrou me imitando, e todos eles deram risadas bem altas. 

— A casa de vocês! Vocês disseram que se meteram em um problema por causa de mim! Vocês acham que eu não saberia seus nomes se não os conhecesse? Você é o Colin, você o Franklin, você o Bruce e você... David. — Olhei para ele. Eu estava muito próxima dele e não podia evitar sentir um leve arrepio quando me aproximava dele, como quando estamos... Apaixonados.

— Gente... Temos uma garçonete meio louca aqui. — Franklin anunciou, e os cupidos voltaram a rir. Menos David, que agora parecia preocupado novamente, como ontem.

Meus olhos se encheram de ódio. 

— Tudo bem. Vocês estão fingindo que nada aconteceu e querem que eu faça o mesmo. — Após dizer isso, retomei minha postura de garçonete — Qual o pedido?

Ele pareceram intrigados com o meu repentino comportamento. Eles pediram suas bebidas um pouco receosos, enquanto eu anotava cada um nos bloquinhos, fingindo que nunca nos conhecemos.

— Gorjeta? — Levantei uma sobrancelha. David estendeu uma nota, eu peguei com um sorriso sarcástico.

Dei três passos para longe deles, mas logo decidi voltar.

— Querem saber? Eu vou provar para todo mundo que vocês têm asas. — Sorri para eles e caminhei até a cozinha. Ficaram arrasados.

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Quando os rapazes terminaram, todos se levantaram das mesas e caminharam até o balcão para pagar os pedidos. Continuei agindo normalmente, como se fosse uma simples garçonete atendendo um bando de rapazes comuns.

— Voltem sempre. — Acenei para cada um deles.

— Cassandra? — David me chamou assim que Franklin deu um sinal, indicando que esperaria ele do lado de fora.

— Oh, você sabe o meu nome! — Fingi estar surpresa.

Ele respirou fundo.

— Olha... Tem algo muito sério acontecendo. E... Para as coisas não desandarem, eu vou precisar da sua ajuda.

— Ah, sério?

— Sim. 

Olhei para meus próprios dedos e decidi parar com o sarcasmo.

— O que quer que eu faça? — Perguntei.

— Me encontre neste endereço quando sair do trabalho. — Ele tirou um papel do bolso e colocou no balcão.

— Não posso. Eu saio muito tarde. 

— Melhor ainda. Quando sair vá até esse endereço, e então te explicarei tudo. — Então meu rapaz misterioso se virou e saiu, como se nada tivesse acontecido. Fiquei ali no balcão olhando para frente e encarando aquele endereço, tentando acreditar que aquilo estava acontecendo comigo.

➴ ➵ ➶

Às onze me despedi do Dolph e corri pegar um táxi. Estava tão curiosa que me sentia ainda mais viva. Finalmente estava acontecendo algo de interessante em minha vida além de novos tipos de sanduíches, mas ao mesmo tempo sentia tanto medo que quase me arrependi de não ter fingido que não me lembrava de nada para os meninos.  Mas ainda assim, sentia que ao lado de David estava segura.

O táxi parou em uma ruazinha escura, mas iluminada por um bar, com letras brilhantes logo acima da portaria. Ali estava escrito "Bar dos Cupidos". Franzi minha testa ao ler.

Assim que desci, tomei coragem e caminhei até a entrada. Ainda estava vestida com a roupa que usava lá no Kismet Diner. A roupa dessa vez era uma blusa de manga listrada, uma camiseta azul clara com a estampa de uma âncora vermelha. 

Quando fui entrar, um cara grandão me parou e pediu a permissão para entrar, olhei para os lados e comecei a gaguejar.

— Não esquenta, ela está comigo. — Bruce apareceu na entrada tão rápido quanto o susto que levei. Ele me estendeu sua mão e me guiou até dentro do bar.

Estava lotado. Diversos rapazes maravilhosamente lindos bebiam, riam, conversavam. Alguns beijavam algumas garotas, outros até mesmo dançavam sensualmente ao lado delas. Olhei para cada um deles espantada, apertei a minha bolsa de pano um pouco mais ao meu corpo.

— David me avisou que você estava chegando. — Bruce ainda não havia soltado a minha mão. — Não se preocupe, ele vai te contar tudo. — Ele então soltou minha mão e me guiou até o David.

David estava dançando justamente como outros cupidos e garotas. Só me surpreendi quando notei que ele dançava atrás de uma garota. Ela descia lentamente até o chão enquanto ele estava logo atrás dela. Ambos riam e se divertiam. Ele usava uma regata branca, diferente do que costumava usar lá na lanchonete. Acho que eu nunca havia visto seus braços e reparado o quanto seus músculos se destacavam.

— O que é que eu faço? — Sussurrei para o Bruce, em meio à música alta.

Bruce acenou para David, que logo bateu os olhos em mim, pediu licença para a garota loira e caminhou até nós dois.

— Eu estou aqui como você pediu.

David logo assoviou para um rapaz que preparou uma mesa para nós dois. Quando nos sentamos, logo comecei.

— O que está acontecendo? 

Ele entrelaçou seus próprios dedos em cima da mesa e procurou pelas palavras certas.

— Você sabe que não somos seres comuns. 

— Com toda certeza, sei.

— Você sabe que nós temos asas. — Ele concluiu.

— Isso também.

— Você já faz ideia do que somos? — Ele me encarou e levantou uma sobrancelha, deixando escapar um sorrisinho de lado.

— É... Anjos e cupidos? — Arrisquei. Não posso mentir, estava gostando daquilo.

Ele riu, olhou para baixo e balançou a cabeça.

— Somos cupidos, Cassandra. 

Como suspeitei! Eu tinha razão, se não eram anjos, eram cupidos, assim como ouvi Franklin falando na casa deles ontem à noite!

— De verdade? Isso é serio? Essa coisa de cupidos realmente existe? — Fui ficando mais empolgada a cada palavra.

— Fale mais baixo, Cassie. Todos aqui somos cupidos. Cada um desses caras têm como missão encontrar a alma gêmea de uma garota.

Enquanto David falava, bati meus olhos em cada um deles. Permaneci calada. Estava tentando acreditar. Tentando acreditar que cada um daqueles rapazes não eram seres comuns.

— Como quer que eu acredite nisso? — Naquele momento me senti mal. Me recusava a acreditar.

— Você viu as asas, Cassie.

— Tudo bem, termine, antes que eu decida que vir até aqui foi uma péssima ideia.

— Cada um de nós temos uma garota. Nossa missão é fazer com que elas iniciem um namoro com a pessoa que amarão incondicionalmente pelo resto de suas vidas. 

— Continue. — Engoli a seco.

— Você é a minha escolhida, Cassie.

Naquele momento senti meu coração disparar. Eu tenho um cupido. Na verdade, não só eu, como todas as garotas do mundo têm um!

— Isso é loucura! — Me levantei da cadeira.

— Cassandra, sente-se, por favor.

— E essas garotas que estão aqui? Elas sabem sobre tudo isso? Ou elas também são cupidos? — Me alterei, voltando a falar alto.

— Não, elas não sabem. — Me repreendeu, então voltei a me sentar — Essas são garotas comuns. Como pode ver, os cupidos gostam de se divertir também.

— Essas garotas são as escolhidas deles?

— Não. Essa é uma das regras dos cupidos, nunca, jamais, devemos ficar ou ter qualquer relação com uma escolhida. Seremos banidos por isso, caso aconteça.

Engoli a seco mais uma vez e assenti.

— Ainda não estou conformada, David.

— Eu sei, e não vai se convencer tão cedo. Mas o que eu quero que faça, é que finja que nada aconteceu. Que você nunca viu as asas do Bruce e nem as minhas. Você tem que fingir que não sabe sobre os cupidos. Além disso, não poderemos nos falar quando eu for ao Kismet Diner. Meu trabalho será apenas encontrar... A pessoa certa para você.

Eu ri.

— Quer que eu guarde isso? Quer que eu viva a minha vida normalmente, sabendo que o cara com quem eu vou me casar foi escolhido por você? — Quase me levantei da cadeira novamente.

—  Cassie, eu só te contei isso porque você viu as asas. Eu não podia te deixar em dúvida. Eu e os outros concordamos em fazer um acordo com você, se quiser. Peça qualquer coisa e te daremos se prometer manter segredo. Estamos tentando encontrar uma forma de resolver isso.

— Ah, é? E o que, por exemplo?

— Bom... — Ele cruzou os braços e fez cara de espertalhão — Fazer sua pior inimiga se casar com o pior dos caras, por exemplo.

Eu acabei rindo.

— Isso é brincadeira, né?

— Ou, sei lá, apagar as melhores memórias dela, por exemplo. — Falou com um sorriso brincalhão.

— Vocês podem fazer isso? — Abri minha boca, não acreditando. Ele concordou. — Então por que não fez isso comigo? Por quê não apagou minha memória? Teria sido mais fácil.

Ele coçou o cantinho do nariz, pensativo.

— Nós tentamos fazer isso. Tanto que até fomos à lanchonete para saber se realmente havia funcionado. Sempre funciona. Mas com você não. Por algum motivo você ainda se lembra da gente, até mesmo dos nossos nomes.

— Oh...

Nos entreolhamos. Logo desviei o olhar.

— E então? Se decidiu?

Fiquei um tempo pensando no que queria, mas não encontrei nada que valesse a pena. Eu estava completamente perdida.

— Pode me dar um tempo? 

— Você vai ter que me dizer até o final desta noite, Cassandra.

Eu assenti, e então, David me chamou para conhecer um pouco melhor seus amigos. Me senti privilegiada por conhecer tantos cupidos em uma só noite! Eram esses rapazes travessos responsáveis por tantos amores por aí.

Eu estava rodeada de cada um deles, Bruce, David, Colin, Franklin e alguns outros. Eles estavam tirando todas as minhas dúvidas.

— E quando a garota se apaixona pela pessoa errada? O que é que vocês fazem? — Perguntei, enquanto todos me encaravam.

— Elas nunca se apaixonam pela pessoa errada. Elas pensam que estão apaixonadas. A verdade é que a paixão é bem diferente de carência ou obsessão. Muitos pensam que estão apaixonados quando na verdade não estão. Então, quando vemos que não vai dar certo, nós simplesmente apagamos as memórias ou fazemos com que elas se tornem insignificantes. — Colin respondeu.

Ficamos falando sobre paixões durante horas. Os cupidos me contaram diversas histórias de amor e de como suas escolhidas eram maravilhosas. 

— E quando elas finalmente ficam com a pessoa certa? O que é que vocês fazem? Digo, o que é que acontece com vocês? Partem para outra garota? — Fiz a que pretendia ser a última pergunta.

Todos eles riram, e não paravam mais.

— O que é?

— Nós voltamos ao normal.

— Como assim? — Me assustei.

— Um dia também fomos humanos. — Bruce respondeu, com certa tristeza nos olhos.

— E como é que acabaram virando cupidos?

— Nós morremos por amor, Cassie. — David logo disse.

Logo continuei fazendo perguntas, queria saber se eles tinham um superior, alguém que os comandasse, e quis saber qual castigo sofreriam se caso se relacionassem com uma escolhida, mas eles não me responderam. Sentiram que já me falaram o suficiente. Quando já estava tarde demais, David me acompanhou até a saída, e antes de partir, lhe chamei a atenção.

— Eu já sei o que quero em troca de fingir que nada aconteceu. 

 Ele parou na entrada e ficou me observando.

— Eu quero que você encontre a minha alma gêmea.

— É esse o meu trabalho. — Ele sorriu, ainda me olhando de uma forma indescritível.

— Mas por uma condição. Poderei falar com você quando bem entender, seremos como... Amigos. Ah, e também quero ter certeza de que a pessoa que você vai escolher para mim será um bom partido. Tenho algumas exigências a fazer. — Sorri convencida. 

Ele pareceu não achar uma boa ideia, mas cedeu.

— Seu desejo é uma ordem. — Falou, então me virei e caminhei pela calçada vazia, iluminada pelos postes.


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Notas finais do capítulo

Nos vemos em breve!

Se desejarem, acompanhem a fic e não percam os próximos capítulos.

Beijooos!