Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 2
Lar de Cupidos


Notas iniciais do capítulo

Tenham uma boa leitura!



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Grudei nele com todas as minhas forças, em um tipo de abraço desesperado. Eu literalmente estava nos altos, remexendo as minhas pernas procurando pelo chão, mesmo sabendo que era impossível tocá-lo. Eu admirei o rapaz misterioso por suportar me segurar enquanto eu me remexia toda e lhe implorava para não me deixar cair. Foram longos minutos gritando até sentir a garganta doer. Eu odiava esses friozinhos na barriga. Mal conseguia suportar quando andava de carro e passava por uma lombada.

— Fique calma, Cassie. Eu não vou te deixar cair. — Ele falou, me abraçando um pouquinho mais forte. Aquilo me aliviou. Ele falou com tanta certeza que parei de gritar imediatamente e retribuí o abraço, encostando minha cabeça em seu peito e fechando os olhos bem forte. Naquele momento eu sentia muito frio. A temperatura diminuiu drasticamente.

— Está com frio? — Ele me perguntou, enquanto eu ainda permanecia de olhos fechados. Tudo o que eu podia ouvir e sentir era o frio e o som de suas asas batendo contra o vento. Era arrepiante.

— Um, dois, três... Um, dois, três... — Contei baixinho, apertando ainda mais os meus olhos.

Ouvi sua risada. 

— Ei — ele chamou a minha atenção, para que eu abrisse meus olhos. 

— Eu estou nervosa aqui, não percebeu? — Entrelacei minhas pernas nas dele, sentindo que iria cair. Meu coração estava descontrolado.

Ele ficou em silêncio, mas eu tinha quase certeza de que ele estava sorrindo. Quando não consegui me conter mais, decidi abrir os meus olhos. Abri um e depois o outro, hesitando. Quando finalmente olhei para seu rosto ele me olhava de forma serena, sorrindo calmamente, como se estivesse observando uma criança a dar seus primeiros passos.

— Não olha para baixo... — Falei para mim mesma e logo em seguida olhei para baixo. 

Naquele momento achei que sentiria medo. Mas foi algo tão diferente do medo. A cidade toda iluminada fez com que todo o meu medo e aquele friozinho na barriga fossem insignificantes! Eram milhares de pontinhos brilhantes em meio a escuridão. Algo diferente de tudo o que eu já tinha visto em todos os meus 22 anos! Para uma garçonete acostumada com o chão ladrilhado do Kismet Diner e uma fritadeira cheia com hambúrgueres, uma paisagem dessas significava que minha missão na vida estava completa.

— É lindo. — Deixei escapar, olhando para baixo e me segurando toda desengonçada nele. 

— Nós chegamos. — Ele me interrompeu. Levei um tremendo susto quando de repente começamos a cair. Mas não estávamos caindo, estávamos aterrissando! Terra firme!

Quando finalmente estávamos no chão, foi tão rápido que nem me toquei. Ele me colocou cuidadosamente na calçada de uma rua, e suas asas desapareceram de imediato. Ninguém viu o que aconteceu.

Senti náuseas e com toda certeza, meu pequeno rabo de cavalo estava todo desmanchado e meus fios castanhos todos de pé. 

Naquele momento respirei fundo, o encarei e tentei acreditar, mais uma vez, que tudo aquilo realmente aconteceu e que não era um daqueles sonhos bizarros.

— Que lugar é este? Por quê me trouxe até aqui? — Olhei para ele, me readaptando, depois olhei para mim, ainda usando o avental do Kismet Diner.

— Ainda estamos no Brooklyn. Nós vamos entrar. — Falou, subindo uma escadinha que dava direto para a porta de uma casa que tinha a aparência igual a de todas as outras da rua. Havia algumas árvores nas calçadas, que deixavam o lugar mais bonito e frio. As típicas casas do Brooklyn. Ótimo, pelo menos ainda estávamos no Brooklyn e não em outro país. Essas ruas eu reconheceria em qualquer lugar.

Ele caminhou normalmente, abriu a porta e ficou me esperando.

— Você só pode estar louco. Eu acabo de descobrir que você tem... asas! Nós acabamos de voar e você quer que eu entre nessa casa como se nada tivesse acontecido? Eu nem te conheço!

— Mas eu te conheço, Cassandra. — Ele me encarou, sério. Naquele momento parei de falar imediatamente. Ele me lançou um olhar suplicante e suportar aqueles olhos escuros me implorando me fez sentir segura.

Olhei para baixo, em seguida encarei a minha roupa; meu suéter vermelho, meu típico velho jeans e meu par de All star. Algumas horas atrás eu era apenas uma garçonete servindo dois caras. Agora eu fui pega por um ser com asas que está me implorando para que entre em sua casa.

Olhei para um lado e depois para o outro. Eu estava muito longe de casa.

— Eu posso ao menos saber o seu nome? — Cruzei meus braços por causa do frio e o encarei.

Ele pensou bastante.

— David. — Respondeu.

— Só David?

— Só David.

Então entrei.

➴ ➵ ➶

Eu já fazia uma ideia da planta daquela casa. Eram praticamente todas parecidas. Mas assim que entrei, dei de cara com um trio de rapazes na sala de estar. Eles gritavam, riam e deixavam escapar alguns palavrões de vez em quando.

Assim que eu e David passamos pela porta, eles pararam de jogar cartas e nos olharam. Fui o centro das atenções. Todos eles estavam em volta de uma mesinha, haviam várias garrafas de bebidas alcoólicas e não pude deixar de reparar o quanto eram bonitos.

— Ah, não! Combinamos que hoje era a noite dos caras. Sem garotas, sacou, David? — Um loiro oxigenado falou. 

Naquele momento reconheci o de cabelo comprido. Ele foi até a lanchonete com o David. Ele olhava assustado para o David, como se ele tivesse cometido um gravíssimo erro. O cara engraçadinho da lanchonete agora era um cara preocupadíssimo.

— Essa é a Cassandra. — David anunciou e os três me olhavam. O oxigenado, o de cabelo comprido e um de cabelos castanhos e olhos azuis.

— Por que ela está fantasiada de garçonete? — O oxigenado continuou.

— Esses são os meus... Amigos... Irmãos... Aquele é o Bruce. 

O de cabelo comprido levantou a mão

 — Franklin.

O oxigenado piscou para mim.

— E o Colin. 

Colin sorriu para mim. Eu apenas acenei com a cabeça para eles.

— Mas qual é a sua, hein? Ninguém está afim de te ver se pegando com uma garota! Noite dos caras! — Franklin prosseguiu irritado.

Bruce logo se intrometeu.

— Você não está entendendo. Ela é a escolhida do David. Cassandra é a garota do David. — E assim que ele terminou essa frase, os rapazes ficaram petrificados. De repente toda a zoeira se foi. Agora me olhavam como se eu fosse um fantasma.

— Caramba, David... Como você deixou isso acontecer? — Franklin se levantou — Você faz ideia do problemão que está arrumando? Ela já sabe sobre... 

David interrompeu a frase rapidamente.

— Sobre as asas, sim. Sobre todo o resto... Não.

— O que está acontecendo aqui? Quem são vocês e por que estão falando desse jeito? Há alguma coisa mais bizarra além das asas? — Gritei, não aguentando mais.

Eles permaneceram em silêncio.

Bruce logo chamou David para a cozinha e Colin correu atrás. Fiquei sozinha com o oxigenado.

Me encolhi, trêmula tentei pedir ajuda ao oxigenado.

— Por favor, eu te imploro, me conta o que está acontecendo. Seja o que for, eu só quero ir para casa. Minha mãe precisa de mim, você entende? — Lancei um sorriso nervoso para ele.

Ele apenas me encarava. Fiquei até com medo.

Os três voltaram logo em seguida.

— E aí? Decidiram o que vão fazer com a bonitinha aqui? — Franklin perguntou. Eu olhei para eles, também esperando a resposta. — Eu tenho uma sugestão. Lavagem cerebral seria uma boa. Ou sei lá, em casos mais extremos... A morte?

David se intrometeu logo em seguida.

— Quer calar a boca?

— David tem razão. Vocês sabem que se a Cassandra for eliminada, acaba tudo para o David.

— Vocês estão querendo me matar, é isso? — Gritei, olhando assustada para cada um deles, em seguida me levantando do sofá.

— Não. Eles não vão fazer isso. — David disse, bravo.

Naquele momento senti que tinha alguém do meu lado. Era como se David estivesse disposto a me defender a qualquer custo.

— Tudo bem, eu vou embora. — Caminhei até a porta. Bruce entrou em minha frente rapidamente. Por um momento eu havia me esquecido de como ele era intimidador, assim como todos os outros.

— Oi. — Ele disse assim que entrou em minha frente.

Respirei fundo.

— Vocês estão de brincadeira comigo. — Me virei e voltei a encará-los. Estavam todos pensativos. Mão na boca, olhando para baixo. Eu era um verdadeiro problema para eles.

Um tempo de reflexão depois, Franklin decidiu gritar.

— Nunca, na história dos cupidos, deixaram isso acontecer. Somos os únicos idiotas, repito, os únicos idiotas que deixaram uma escolhida ver além do que podia. Nós estamos cozidos, vocês sabem o que é isso? — Franklin levantou as mãos.

Me assustei um pouco e me encolhi. Então Franklin continuou.

— Quer saber? Nós não. O David é quem trouxe a garçonete, o David é quem deixou isso acontecer, então o problema é todo dele. — Franklin se aproximou do David que o olhava com uma cara nada legal, em seguida deu alguns tapinhas em seu ombro — Boa sorte, amigão. Você vai precisar. — E saiu da sala.

Olhei para os outros, em especial, para o meu rapaz misterioso. Ele parecia tão frustrado.

— Cupidos? — Quebrei o silêncio. Os três me olharam.

— Cassie, vamos para o meu quarto. — David aliviou as expressões e se aproximou para me guiar até seu quarto.

— Eu não vou a lugar algum! Eu preciso ir para casa. Não posso me atrasar para o trabalho amanhã, Dolph precisa de mim. Eu tenho uma vida, vocês sabiam? — Comecei a me desesperar.

— Está tarde.

— Então, sei lá, me leve voando! Eu não tenho tempo para discutir sobre algo de que não sei! Eu mal conheço vocês! — Meus olhos lacrimejaram instantaneamente. — Prometo não contar nada a ninguém! Me desculpem por ter visto as asas e... essa casa cheia de garotos. Eu só quero ir para casa. — Minha voz falhou.

— Você vai voltar, eu prometo. Agora vamos subir, por favor? — David disse, e mais uma vez eu me deixei levar pelo seu tom de voz, pela confiança que seu olhar me transmitia. Os olhos castanhos, o cabelo escuro e aquele aquele visual que eu tanto admirava todos os dias. Ele era o meu rapaz misterioso. O rapaz que me fez queimar bacons sem querer e derrubar suco de maracujá nas calças de uma criancinha.

Eu atendi ao seu pedido.

➴ ➵ ➶

Em seu quarto a mesma situação anterior se repetiu. Ele continuava pensativo e frustrado. Me sentei na beira de sua cama e fiquei reparando no quarto. Era tão simples e confortável. Nunca imaginei que conheceria o quarto dele, nunca, de verdade. Gavetas, relógio, uma luz tênue, papel de parede verde oliva. Era cheiroso também. 

Naquele momento concluí algo. O que quer que estivesse acontecendo estava abalando mais a ele do que a mim.

— O-olha, desculpa se eu fiz algo de errado. Eu prometo que não vou denunciar você, ou seus amigos, para o governo ou coisa assim. Me desculpe por perseguir vocês e por ficar tão interessada em você. — Terminei de falar, e quando me dei conta do que disse, levantei meu olhar e percebi que também havia chocado ele.

— Interessada em mim?

Olhei para baixo.

— Cassie, me promete que vai ficar longe. Que não vai pensar em mim. — De repente David se colocou em minha frente. Acho que ele nunca foi tão sério.

Fiz uma careta.

— Te prometer que vou ficar longe? Olha aqui, é você quem vai ao Kismet todos os dias! Foi você quem me levou para os altos e saiu voando por aí! Foi você quem me trouxe até aqui. — Comecei a reclamar e fazer gestos com as mãos — Eu... Eu sinto muito mas... — Abaixei o tom de voz — Te esquecer vai ser meio que... Impossível.

Naquele momento pareceu impressionado. Se virou e dessa vez foi ele quem evitou contato visual, passou as mãos em seus cabelos demonstrando frustração, logo em seguida voltou a me encarar.

— Durma. — Ordenou.

— O quê? — Ri.

— Por favor, deite-se e durma.

— Faz ideia do que está me pedindo, ô anjo da guarda? Já é madrugada! Eu preciso voltar.

— Cassie, e se eu lhe prometer que quando você acordar, tudo isso vai ter acabado?

Naquele momento fiquei pensativa.

— Como eu posso ter certeza? — Falei e logo em seguida contemplei o silêncio de seu quarto e os murmúrios dos rapazes lá embaixo.

— Você vai ter que confiar em mim.

Suspirei de frustração enquanto algumas lágrimas escapavam. Ele pareceu ainda mais desesperado quando me viu chorando. Se abaixou em minha frente e disse:

— Eu vou te levar de volta para a sua casa. Você vai acordar e vai estar segura.

— Você promete?

— Eu prometo.

Por que eu me senti tão segura com sua promessa?
       Desamarrei meu avental sujo e me deitei de lado em sua cama.

➴ ➵ ➶

Ao abrir os meus olhos, pulei da cama. Olhei para um lado e depois para o outro, procurando David, ou Bruce, ou Franklin ou Colin. Mas me impressionei quando percebi que estava em minha cama. Aquele era o meu quarto, ali estava a minha cômoda e minhas fotos coladas na parede azul-claro. 

A verdade é que esse é o meu segundo quarto. Eu moro sozinha em uma casa pequena um pouco longe daqui, mas tenho dormido nesse quarto por causa do acidente que minha mãe sofreu, agora uma de suas pernas está quebrada.

Eu ainda usava a mesma roupa em que trabalhei no Kismet ontem à noite. Só que eu estava descalça. Quando me levantei da cama, meu All Star estava no chão, com os cadarços desamarrados. Procurei por meu avental dando algumas batidinhas na minha barriga, mas não o encontrei.

Assustada, gritei:

— Mãe? — Corri descalça até a sala e lá estava ela, no telefone conversando com alguma de suas amigas. Olhei para o gesso em sua perna direita.

— Sim, querida? — Ela afastou o telefone.

— Que horas eu cheguei ontem?

— Não sei. Quando chegou eu já estava dormindo, provavelmente. — E voltou a conversar no telefone.

Desesperada voltei ao meu quarto. Eu estava atrasada para o trabalho e Dolph deve estar sofrendo sem mim. Mas ainda indignada, olhei desesperada para todos os lados. Ontem à noite, as asas, o voo, os meninos, o...  Rapaz misterioso, ou devo dizer David! Como foi que vim parar aqui? Não me lembro de mais nada depois de ter dormido na cama dele. Me sentei em minha cama, decepcionada. Eu precisava de respostas, tudo aquilo não foi um sonho, não podia ser! 

Fixei meus olhos no chão, enquanto o raiar do sol entrava pela janela. Havia uma pena branca bem ali.


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Notas finais do capítulo

Em breve conheceremos mais sobre os cupidos e prometo deixar um gif de cada um deles.

Não percam o próximo capítulo ♥ :)

Beijos e até Quarta-feira!