Meu Querido Cupido escrita por Bonnie Only


Capítulo 11
O Cupido é um cara estúpido




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São exatamente oito e meia da noite. Falta pouco tempo para o encontro acontecer. Eu tentei ficar o mais bonita possível. Tenho pouca coisa para vestir e o restante das minhas roupas está em minha casa e eu não posso ir até lá para buscar. Só posso sair acompanhada do David. Ultimamente só tenho saído para ir a encontros e nada mais.

No espelho do quarto do David eu me encarei. Calçava um salto plataforma preto e vestia um vestido beje com alguns detalhes pretos, que chegava até os joelhos. Era simples, mas o mais perto de bonita que eu conseguia ficar. Soltei meus cabelos e os penteei lentamente, olhando para mim mesma através do espelho. Aquele era um momento decisivo.

Era essa noite.

Essa noite decidirá o meu futuro. Decidirá se eu vou poder finalmente voltar para casa, ser livre. 

Mas ao mesmo tempo, isso é estranho. Se Dean for mesmo o cara certo, isso significa que terei que ficar junto com ele para sempre e terei que me apaixonar. 

Me apressei para descer a escada quando tudo já estava pronto. David me esperava na sala e todos os outros cupidos estavam ausentes, provavelmente junto com suas escolhidas. 

Enquanto eu descia a escada, David esbarrou o olhar em mim e ali permaneceu com uma expressão adorável: Seus olhos brilharam quando me viram e ele piscou lentamente. Ele sussurrou um "Uau" enquanto ainda me olhava. 

Foi naquele momento que me senti bonita. O meu cupido havia aprovado o meu visual.

— O que você acha? — Perguntei e ele continuava me encarando com aquele olhar.

— Estou tentando procurar uma palavra que te defina nesse momento. 

Eu ri e olhei para baixo.

— Mas está difícil. — Ele completou.

— Você está ótimo. — Comentei. Ele estava tão bonito quanto em todos os outros dias. Naquele momento, olhando para o David daquela maneira, senti aquela mesma coisa quando olhava para ele. "Aquela coisa" que sinto toda vez que olho para um cupido. Mas dessa vez, sentia muito mais. Quando eu olhava para ele, via o rapaz que me fazia acordar empolgada para ir trabalhar e vê-lo mais uma vez. Me repreendi naquele momento. Meu foco deve ser Dean. Dean Trent.

Ele me acompanhou até o carro e juntos caminhamos até o restaurante cujo eu nem sabia o nome. No caminho, tentei não demonstrar curiosidade sobre quem David levaria para ser sua suposta namorada durante o duplo encontro. Ele disse que ela estaria já no restaurante, era esse o combinado, então tentei não demonstrar curiosidade e tentei me focar apenas no que era do meu interesse: Dean. Se seremos compatíveis ou não. O restante era apenas detalhe.

Quando o carro parou, senti um aperto no peito. Ter um encontro nunca foi tão difícil. Abri a porta do carro e dei de cara com o restaurante. Eu não estava acostumada a ir para lugares assim. Normalmente eu apenas servia as pessoas e perguntava o que queriam comer ou se tinham gorjeta.

Mas agora eu era a cliente e isso era demais. 

Serei servida, finalmente.

David me acompanhou até a entrada do local. Era um restaurante bastante iluminado e parecia estar lotado. Era tudo muito bem organizado e parecia sofisticado, mas nada muito exagerado. Eu e David entramos juntos, um pouco distantes um do outro. 

Assim que entramos eu já pude ver Dean sentado em uma mesa para quatro. Ele abriu um sorriso assim que me viu entrando. Sim, era agora. David vai nos analisar.

Nos cumprimentamos com um abraço e ele apertou a mão do David. Fiquei procurando pela pessoa que faria companhia para ele mas não encontrei e aquilo seria estranho se ela não chegasse logo. Eu, David e Dean. 

— Está maravilhosa, Cassie. — Dean comentou assim que me assentei ao seu lado. David ficou à nossa frente, nos observando. 

— Obrigada, você também. — Foi o que eu consegui dizer. Ele vestia camisa e jaqueta e realmente estava bonito. A minha vida se tornou tão estranha de repente. Um bando de rapazes bonitos aparecendo por tudo quanto é lado, o tempo todo.

Fiquei sem jeito naquele momento. O que fazer agora? Dar em cima do Dean para ver se o David vai nos aprovar? Eu estou quase saindo correndo de novo.

Mas, para minha surpresa, uma loira familiar entrou no restaurante e começou a nos procurar com o olhar. Quando ela nos encontrou, sorriu. Eu rapidamente me lembrei dela. Era a garota que estava dançando com o David no Bar dos Cupidos e era a garota que não desgrudava dele na boate, no dia em que tentei fugir. Eu devia ter imaginado que David pediria ajuda à ela.

Ela estava maravilhosa. Vestido azul e cabelo solto e muito bem penteado. Parecia ter saído de um filme. 

— Olá! — Ela abraçou David, me cumprimentou com um abraço também e deu as mãos para o Dean. Ela logo se assentou ao lado do David e naquele momento me senti mais a vontade. Estava sendo difícil encarar os dois sozinha.

— É muito bom conhecer você, Cassandra! O David me falou de você algumas vezes e eu fiquei super ansiosa quando ele me chamou para o encontro. Quero dizer, nem tão ansiosa, já que ele é o meu namorado. Ah, eu nem falei o meu nome! Eu sou Hayley Withe. 

— É um prazer. — Falei. Naquele momento saquei que Hayley deveria fazer o papel de namorada do David, para não estragar o disfarce. Mas naquela mesa, quem sabia de toda verdade mesmo, eramos somente eu e David. Dean e Hayley não fazem ideia de que David é um cupido.

— Ah, então vocês são namorados? — Dean perguntou, apontando para o David e a garota loira simpática, ele parecia até mais feliz.

— Somos. — David abriu um sorriso falso e colocou um braço em torno da Hayley, ela sorriu e encostou a cabeça no ombro dele. Desviei o olhar deles.

— Hum... Então, vamos pedir? — Pigarreei e abri um sorriso falso também.

— Podemos pedir vinho e algumas porções, o que acham? Uma coisa leve? Porque... Não sei vocês, mas meu principal objetivo aqui não é comer. — Dean me olhou e sorriu. Eu estufei os meus olhos e depois tentei disfarçar.

— Ah, estou completamente de acordo com você. — Hayley entrou na onda do Dean. 

Dean fez os nossos pedidos. Foi vinho tinto e porções de batatas, fritas e cozidas, e também peixe.

— E então Cassie, você e o David se conhecem há quanto tempo? — Dean aproveitou a demora do nosso pedido para fazer perguntas, aliás, era esse o propósito de estarmos aqui.

— É... — Eu franzi minha testa e olhei para baixo, procurando por uma resposta — Faz bastante tempo. — Falei, assentindo com a cabeça. Ele apenas fez uma careta.

— Eu e Cassie nos conhecemos há um pouco mais de um ano. — David me salvou.

— E decidiram morar juntos tão rápido assim? — Dean perguntou com um sorriso, mas ele estava sendo sarcástico.

— Nós nos damos muito bem e isso foi o suficiente para tomarmos a decisão de morar juntos. — David respondeu por mim mais uma vez. Hayley apenas prestava atenção na conversa, acho que isso estava sendo muito interessante para ela, também.

— Isso é interessante. Não me leve a mal, é que no dia em que salvei a Cassie, ela parecia aflita e parecia querer fugir. Você foi rude com ela e eu fiquei preocupado. Mas fico feliz em saber que está tudo bem, e mais feliz ainda em conhecer a sua namorada. 

— São problemas meus e da Cassie. — Foi a única coisa que David disse, ainda quase-abraçado com a Hayley. Eu percebi que o clima não estava nada legal, e então tentei mudar o assunto.

— É... Dean, e que tal se você fizer algumas perguntas para mim? Vamos nos conhecer! — Não acredito que eu disse aquilo.

— Tudo bem. — Ele ergueu as sobrancelhas — Desde quando você mora aqui no Brooklyn? 

— Acho que... Acho que desde sempre. — Acabei abrindo um leve sorriso e me distraindo com algumas lembranças — Eu amo esse lugar, apesar dos seus defeitos. Eu não deixaria o Brooklyn por nada. — Assim que falei isso percebi que David sorria, e Hayley também. — Eu sou, ou pelo menos era, garçonete de uma das lanchonetes daqui. Kismet Diner. Por enquanto estou afastada, mas pretendo voltar em breve. Sinto que as coisas vão dar certo.

— Eu vivo aqui há alguns dois anos. A cidade é bacana, mas eu estava pensando em sair daqui e voltar para a marinha. — Dean falou.

— Você já foi da marinha?! — Gritei, e de repente o imaginei de farda.

— Sim, mas houveram algumas complicações, nada importante. 

— Oh, temos aqui um marinheiro. — David disse e por algum motivo foi sarcástico — E então, o que você fazia nessa "marinha"? — David relaxou ainda mais na poltrona do restaurante, abraçou a Hayley um pouco mais e descansou uma perna na outra.

— Muitas coisas. Mas o fato de que tínhamos poucas horas de descanso acabava comigo. Talvez não fosse para mim. Mas acabo sentindo vontade de voltar.

— Sei. Ainda bem que sou um homem livre, ou pelo menos quase isso. — David disse — Odeio seguir regras. Acho que são as regras que nos impedem de fazer o que realmente queremos fazer, você não acha? — David cerrou os olhos para o Dean.

— Concordo em parte. Às vezes seguir regras garantem o nosso próprio bem.

— Ou o nosso próprio sofrimento. Fico pensando que se não existissem regras, as pessoas não cometeriam tantos erros. Às vezes fazer algo proibido acaba sendo mais interessante exatamente por ser proibido. — David continuou.

Eu e Hayley nos entreolhamos e não fazíamos ideia do que eles estavam falando. Mas eu fazia uma noção e isso me deixava extremamente constrangida.

Nossos pedidos chegaram e então começamos conversar sobre assuntos aleatórios e sobre o quanto a comida daquele restaurante estava gostosa. Tudo ficou melhor quando David e Dean finalmente pararam de fazer trocadilhos. Acho que finalmente comecei a me sentir bem.

Naquele momento peguei minha taça de vidro, que estava preenchida até a metade com o vinho tinto. A levantei e levei até meu nariz e inspirei o aroma. Era demais. Finalmente eu era a cliente, não estava servindo as outras pessoas. Olhei para cada garçom daquele lugar e os admirei naquela noite, por observarem tantas comidas gostosas e apenas poderem olhar, ou a paciência deles para servirem tantos pedidos. Eu os entendia completamente.

— E então, Dean, quantas namoradas já teve? — Perguntei assim que bebi mais um gole do meu vinho. Me sentia muito mais corajosa. Não estava bêbada, o vinho apenas me deu mais um pouquinho de coragem.

David pareceu surpreendido com a minha pergunta.

— Olha, não foram muitas. Ao longo da minha vida, umas cinco ou seis. Mas sempre acaba na mesma coisa: alianças devolvidas e mensagens de voz mandando eu ir me foder. 

— Oh, então você é o cara que estraga tudo? — Perguntei rindo. David observava e eu sabia o que ele estava fazendo. Hayley parecia fascinada com Dean, e não vou mentir, eu também estava.

— Prefiro não pensar assim. Prefiro colocar a culpa em outra pessoa.

— Em quem, então? — Eu continuei rindo.

— Prefiro culpar o cupido.

Cuspi o vinho de volta no copo e todos me olharam. Hayley fez uma careta de nojo e David não pareceu nenhum pouquinho surpreso. Até abriu um sorriso sarcástico nos lábios.

— O-o cupido? — Gaguejei, com a boca toda roxa.

— É, por que o cupido? — David se juntou a mim. Hayley continuava nos encarando.

— O cupido é simplesmente um idiota. Vive atirando nos outros, sem nem se importar se os corações serão partidos no final. Ele quer mesmo é se dar bem. Deve ser um garotinho pirralho. Ou um cara estúpido. Com certeza o cupido deve ser um cara estúpido. 

Dean estava totalmente errado. O sistema não funciona bem assim...

— É isso o que você acha do cupido? — David levantou um sobrancelha e continuava com aquele sorriso sarcástico. 

— Sim. Um panaca. — Dean completou, bebendo o resto do vinho que sobrara em sua taça.

Aquilo era tão irônico! Como é que o assunto se voltou para os cupidos de repente? Somente eu e David sabemos toda a verdade.

— Ah, gente, vamos falar de alguma coisa mais real. — Hayley disse.

— Não, não, deixa ele continuar, Hay. — David disse, abraçando Hayley mais uma vez. Sim, ele tinha soltado ela mas ele voltou a fazer isso.

— Não tenho mais nada para falar. — Dean encheu sua taça mais uma vez — Se existisse um cupido, eu com certeza não seria amigo dele.

— Com certeza você não seria. — David concordou, rindo — Mas eu acho que o cupido deve ser um cara legal. Na minha opinião, ele deve ser um cara gostosão. 

Cuspi o vinho de volta na taça mais uma vez, só que dessa vez eu ri.

— Gostosão? — Hayley perguntou para o David, rindo.

— É. Se eu fosse uma garota com toda certeza iria querer namorar com um cupido. — David disse.

Dean fez uma careta.

— Bom, se ele fosse mesmo um gostosão, eu também iria querer. — Hayley comentou e todos rimos.

Naquele momento, levantei minha taça e todos olharam para mim. Eu estava propondo um brinde.

— Aos cupidos? — Perguntei, com a taça lá no alto. Hayley levantou sua taça e se juntou a mim, Dean hesitou um pouco mas também fez o mesmo. David olhou para mim. 

Aquele era com certeza um olhar malicioso. 

Eu abri o mesmo olhar para ele, com um sorriso contido.

Ele abriu um leve sorriso de lado, e ainda sem tirar os olhos de mim, disse:

— Aos cupidos.

➴ ➵ ➶

Aquela noite fora maravilhosa. Eu a guardaria pelo resto da minha vida. O dia em que fui a um restaurante e não servi ninguém. 

— Foi incrível. — Comentei assim que David abriu a porta. Ele parecia feliz por mim, porque ele sorria apenas porque eu estava sorrindo. — O Dean foi muito gentil comigo, talvez eu possa me apaixonar! Além disso a Hayley é uma garota legal, eu acho. Eu gostei dela. Foi uma ótima noite.

— Gostou mesmo? — David pareceu surpreso.

— Sim. Eu gostei de tudo. Mas e então? Me diz! Eu e Dean somos compatíveis?

— Gooooooool! — Alguém gritou e eu tinha certeza que era um dos outros cupidos, no andar de cima.

— Olha Cassie, não é tão fácil quanto pensa. Vocês vão ter que sair mais algumas vezes. Devo admitir que... Realmente teve alguma coisa. A forma como ele te olhava e... Todo o resto. Mas ainda não temos certeza. Vão ter que sair mais vezes, é o que eu acho.

— Sério? — Perguntei desanimada — Mas como vamos dar um jeito de sairmos de novo sem que ele te veja? 

— Eu vou dar um jeito. Além disso a Hayley vai aceitar me ajudar, não importa quantas vezes eu peça.

— Sinceramente... Eu não consigo entender. Como foi com as outras garotas que você escolheu? Como é que você sente que ele é o cara certo, que rolou alguma coisa? 

— Temos algo dentro de nós. É como se um sensor apitasse e somente eu pudesse ouvi-lo, você jamais entenderia. 

Eu assenti. Isso era bom. Realmente houve algo entre mim e o Dean, e se tudo der certo, em breve voltarei para casa, com um namorado, mas ainda assim, para casa.


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Notas finais do capítulo

O que estão achando?

Logo eu volto!
Beijos, beijos!



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