"-Nós vamos nos reencontrar algum dia, isso é uma promessa."

Já pensou em alguma coisa que fez ou disse, e se arrepender um pouco depois que já aconteceu? Pois é, eu estava sofrendo disso.

Estava fazendo mais de um ano desde que tinha feito aquele juramento em frente a escola, e desde então, não sabia se foi certo, mas depois de nossa inesperada viagem,nós nos tornamos outras pessoas. Rafael agora fala mais do que de costume, o que, na minha opinião, acho muito bom, Jenny começou a estudar sobre o passado da família dela, queria descobrir qual de seus avôs tinha ido pra lá, e como começou a se soltar mais, agora fica dando conselhos para a gente de vez em quando. Carol continua praticamente a mesma, ela agora esta saindo as vezes com um garoto da faculdade dela, mas tenho certeza que ela não se esqueceu "do seu verdadeiro amor", como ela diria, e eu virei uma garota muito pensativa, até mais do que eu já era, e tudo por causa da promessa. Era só eu pensar nela, que ficava com uma cara meio triste e não falava nada por um bom tempo.

Algumas pessoas estranharam o modo de como eramos agora, mas raramente comentavam, o que fiquei aliviada. Eu realmente não gosto muito de falar sobre meus problemas, as pessoas já tem os seus, imagina se elas também ficassem preocupadas com os meus? Isso não ia ser bom.

Porem, teve um dia que minhas amigas me perguntaram o que estava havendo comigo, e é obvio que eu não respondi, mas como a Jenny estava ao meu lado, acabou respondendo por mim:

-Ela esta naqueles dias pensativos, acho melhor nem atrapalhar. -agradeci a ela por pensamento e seguimos nosso caminho pra casa.

O bom é que com o termino de nosso caminho escolar, Carol nos convidou para passar algum tempo na sua casa, aceitamos de imediato, é claro. Faz um mês e meio que estamos aqui, e ainda sim, nem parecia que tinha se passado tanto tempo. Todos os dias, conversávamos um pouco sobre a nossa aventura, e todas as vezes eu era a depressão em pessoa, mas tentava não demonstrar muito.

Uma coisa que eu estava fazendo bastante nas duas últimas semanas, era ficar trancada no quarto em que eu dormia. Pode até parecer loucura, mas eu precisava pensar sobre um monte de coisas e o porquê de não conseguir tirar "ele" da cabeça. Meus amigos não me atrapalhavam, menos quando era a hora do almoço, aí é que a discussão começava:

-Letícia, você tem que parar de ficar trancada nesse quarto o dia todo. -dizia Jenny.

-Ela tem razão, você não precisa ficar ai. Pode muito bem ficar na varanda. - dizia Carol depois.

-E você mal esta se alimentando esses dias. Tem que comer alguma coisa. -advertia Rafael.

Eu abria a porta e dizia:

-Acho que vocês tem razão, mas isso é automático, quando dou por mim, percebo que ainda estou no quarto e que não quero sair nunca mais. -eu explicava e depois voltava a fechar a porta de novo, mas de algum jeito,  eles conseguiam fazer com que eu a abrisse de novo e me davam um copo de vitamina, diziam que isso me alimentaria por um tempo. Eu tomava e ficava deitada na cama pelo resto do dia.

Deu pra perceber que eu não era a mesma de antes, e fazia mais de uma semana que eu estava tendo o mesmo sonho, o que já é muito estranho, só que hoje foi meio diferente.

                                               Sonho

Eu estava sozinha em algum lugar, onde eu não conseguia identificar aonde, pois estava muito escuro e ficava falando coisas que nem eu mesma entendia. Até ai, era o mesma coisa que nos últimos dias, mas de repente, eu ouvi alguém me chamando. Levantei minha cabeça rapidamente e olhei em volta, mas não vi ninguém, até que apareceu na minha frente um clarão de luz, me levantei devagar e decidi andar até onde a luz estava mais forte. Quanto mais perto eu chegava, mais eu sentia uma sensação de conforto e proteção, e assim que parei em frente ao clarão, vi uma silhueta de alguma pessoa estendendo a mão pra mim. Eu não peguei de imediato, mas a pessoa falou "-Esta tudo bem, não precisa ter medo" e rapidamente estendi a minha, assim que apertei a mão da pessoa, ela me puxou para fora da escuridão e eu acordei.                                              

                                                     Fim do sonho

Depois de ficar alguns minutos pensando sobre isso, desisti e me levantei para me arrumar. Olhei pela janela e percebi que esta chuviscando, dei um sorriso triste e peguei uma calça jeans e uma blusa de manga curta roxa para vestir. Assim que fiquei pronta, olhei para a estante que tinha ali e vi o colar que "ele" tinha me dado. "Faz algum tempo que eu não uso" pensei por um minuto se o colocava ou não e acabei decidindo coloca-lo, o botei rapidamente, escovei meus cabelos e desci. Assim que desci as escadas, os três olham pra mim espantados.

-O que foi? -perguntei.

-Nada de mais, é que você saiu do quarto antes do almoço. -Jenny explicou.

-E posso saber qual o problema? -perguntei estranhando.

-É que faz umas duas semanas que você não sai daquele quarto, então é obvio que vamos estranhar. -disse Carol tomando uma xícara de café calmamente.

-Achamos que nunca mais ia sair de lá. -falou Rafael rindo e ri com ele também.

-Faz tanto tempo assim? -perguntei fingindo não saber.

-Você não percebeu? -eles me perguntam ao mesmo tempo.

-Não, não percebi. É que o tempo está tão bonito... -falei olhando pra janela que tinha ali na cozinha, mas quando percebi que eles estavam rindo de mim, fiquei um pouco vermelha e perguntei. -O que vão fazer hoje?

-Vamos até a escola para saber as notas das nossas provas finais, lembra? -ele me perguntou e quando eu confirmei com a cabeça, ele continuou. -Mas voltaremos rápido, o clima não esta o dos melhores para fazer mais nada. -resmungou Rafael. Ao contrario de mim, ele não apreciava a chuva e nem o tempo fechado.

-Para de reclamar, seu chato! -brincou Jenny. -Só porque esta chovendo você fica desse jeito? Assim não dá, não é? -ela perguntou pra mim e pra Carol e confirmamos com a cabeça rindo, isso só fez com que ele fechasse mais a cara.

-Tudo bem, chega de protelar tanto. A proposito, Letícia, por que você resolveu usar esse colar hoje? -Jenny perguntou apontando pro meu pescoço.

-Não sei direito. Eu acabei de acordar daquele sonho estranho, só que hoje, sonhei uma coisa diferente.-eu disse.

-Nos conte como foi. -pediu Carol e assim que terminei ela disse. -Nossa, esse sonho esta ficando cada vez mais estranho...

-Pois é. Mas você ainda não respondeu a pergunta. -disse Jenny me encarando. Pensei por um momento e respondi.

-Hum...eu não sei o porquê de eu estar usando esse colar, só olhei para a estante e o vi. Algum problema? -perguntei fingindo irritação.

-Não, nada de errado. Agora vamos comer. -disse Rafael. Resolvi tomar uma xícara de café também e esperei eles terminarem o café da manhã.

-Letícia, você tem que comer alguma coisa. -disse Carol quando já estava na porta da sala.

-Não estou com fome agora, mais tarde eu como algo. -lhe disse e assim Jenny e Rafael desceram as escadas, foram em direção a escola. E eu, pra variar um pouco, resolvi seguir o conselho da Carol e fui até a varanda refletir.

                               Com Carol e os outros (N/A: é do ponto de vista da Carol, ta?)

-Gente, acho que alguma coisa vai acontecer hoje. -eu disse.

-Por que você acha isso? -Jenny e Rafael me perguntaram.

-Acho que o sonho da Letícia pode ser uma premonição. -eu expliquei e completei. -E alem do mais, ela não usa aquele colar a um bom tempo, deve ser um sinal.

-Acho que tem razão. O sonho dela é muito estranho, e esse tipo de sonho sempre tem algum significado. Fora o fato do colar também. -disse Jenny.

-Tive uma ideia. Por que não vamos até a sala onde encontramos os livros e o círculo e tentamos ver se tem alguma coisa a ver com isso? -Rafael perguntou.

-Ótima ideia. -eu disse.

-Então vamos logo. -Jenny disse já começando a correr pro colégio.

Assim que chegamos no colégio, fomos correndo até o prédio antigo e subimos as escadas até o quarto andar do mesmo jeito, assim que nos deparamos com as cadeiras que escondiam a porta, paramos de correr e começamos a recuperar o folego.Depois de termos descansado um pouco, começamos a arrastar as cadeiras até termos livre acesso a porta.

Quando a abrimos, tudo estava do mesmo jeito de antes. Fui até círculo e coloquei minha mão direita nele. "Eu só queria que tivesse um jeito de ajudar a Letícia". Assim que pensei nisso, o círculo começou a brilhar e tudo ficou branco, e de repente quatro pessoas saíram dali e caíram em cima de mim, quando eu consegui sair de debaixo deles, eu disse:

-Não pode ser...                                                   

                                                         Comigo

Eu tinha sentado no balanço que estava amarrado a arvore da varanda e tinha a impressão de que aquele sonho era importante de algum modo, que alguma coisa ia acontecer. Comecei a me balançar e pensar de novo no sonho. "É tão estranho...O que será que isso significa? Será que..." parei de me balançar e fiquei imaginando o significado dele enquanto ouvia a chuva aumentar e virar um temporal, mas depois de alguns minutos, interrompi meus pensamentos com um risinho.

-Não, eu devo ta ficando maluca... -dei um sorriso triste depois que disse isso, me levantei do balanço e fiquei sentindo a brisa que a chuva trazia. Depois de um tempo, sai de baixo da arvore, levantei minha cabeça e fiquei sentindo a chuva cair em cima de mim.

Comecei a sentir uma tontura, mas não me importei de início, devia só ser o resultado das noites mal dormidas que vinham acontecendo a um tempo, o que eu achei melhor nem contar pros meus amigos. Assim que percebi que eu não estava bem, abaixei minha cabeça e fiquei olhando para a rua que tinha atras da casa.

Quando me virei, percebi que não sentia mais minhas pernas e que minha visão estava muito embaçada, eu percebi que estava caindo, mas não conseguia me movimentar e a última coisa que eu senti foi alguém me pegando.