''A indiferença alheia, resulta em minha desatenção e consequentemente no desinteresse.'' — Renê Fernades Dantas.

 Eu sempre soube que quando ficasse mais velho seria mais um dos mil caras absolutamente comuns que existem no mundo.

Terminar a escola, arrumar um emprego, entrar em algum ensino superior para no fim casar e ter meia duzia de filhos. Parece ser os planos de alguém do interior que nada conhece da vida e seus prazeres, mas muito pelo contrário, são meus planos, listado na minha curta lista de ''Coisas Para Fazer no Futuro''.

Ás vezes me sinto envergonhado por ser assim, pois tendo pais como os que tive — Cheios de aventuras e momentos incríveis, pessoas incríveis, tendo conhecido lugares maravilhosos — é eufemismo dizer que sou alguém decepcionante. Quando vejo as poucas fotos que foram achadas de meu pai, muito me vejo nele, os cabelos rasos, traços físicos e o olhar cansado. Sei que daqui a alguns anos terei as mesmas rugas ao redor dos olhos castanhos.

Eu amo meus pais, mesmo não tendo nenhuma memória sequer deles.

Sinto que deveria continuar o legado de minha mãe, ser um aventureiro, viver com os cabelos rebeldes e coloridos, namorar mil e uma pessoas diferentes... mas sei que não. Por mais que eu queria, não sou esse tipo de pessoa. Por mais que muitas vezes queira ser.

Seria mentira dizer que sou uma pessoa antissocial e sem amigos, porque não sou, humildemente digo que tenho um bom número deles, de todos os tipos, mesmo que eu não seja nada parecido com nenhum. Boates, acampamentos e viagens fazem parte da rotina das pessoas que convivo, que se eu olhar bem, parecem serem saídos de algum tipo de filme americano. E nesse filme, sou um figurante, mas não me incomodo com isso.

Não é que eu não me encaixe, pois gosto de sair e conhecer pessoas, porém, sou muito mais tranquilo e gosto de ficar no meu canto de vez em quando, tenho picos de introspecção, mas em seguida já me vejo me arrumando para alguma festa que Carmen organizou.

O mundo é um lugar para ser conhecido, mas tenho certa preguiça de conhece-lo. Sou acomodado, e é por isso que minha lista de ''Coisas Para Fazer no Futuro'' tem apenas seis itens.

— Terminar a faculdade.
       — Arrumar um bom emprego.
     — Me mudar.
— Comprar uma casa.
— Me casar.
— Ter filhos.

Constrangedor, tenho total ciência disso. Mas, é essa pessoa que eu sou, comum e muito decepcionante se você esperar demais do filho de Remus e Tonks.

Três coisas de minha lista já foram cumpridas, e agora, inclusive, tenho uma namorada, porém, sei que ela com certeza não será aquela que irei me casar. Não gosto de ficar sozinho, por isso insisto em relacionamentos que não tem nenhum futuro. O fantasma da solidão é algo que me assusta em demasiado.

Sou totalmente diferente da minha família, principalmente de James Sirius, que sempre viveu em sua bolha particular e assim que atingiu a maioridade se mudou para bem longe de casa. E eu o invejo, não vou negar.

Nunca tivemos uma grande proximidade, pois ele nunca me deixou ter, sempre que eu ficava perto, ele dava dois passos para o lado, quando eu lhe perguntava algo apenas respondia de forma monossilábica. Isso vem desde pequenos, enquanto meu relacionamento com seus irmãos era ótimo o nosso praticamente não existia.

No começo cheguei até a pensar que era alguma birra estupida comigo, mas com o tempo vi que não, ele parecia não gostar da companhia de muitas pessoas, a minha apenas estava incluída.

Nas vezes em que fui para sua cidade, liguei para ele para podermos nos encontrar e conversar, mas James nunca atendia, então com o tempo parei de ligar.

O que é, de certa forma, triste, pois ele parece ser uma pessoa muito interessante, e sei que é muito inteligente, poderíamos conversar por horas se me permitisse. Mas também não vou glamoriza-lo, pois da mesma forma que é interessante é irritante, é arrogante com tudo que é desconhecido. Se não fosse assim, seriamos melhores amigos.

Espero que um dia ele se abra mais para as pessoas, faça amigos e conheça a garota da sua vida. Apesar de tudo, é um bom garoto e meu irmão.

''Ei, você não vem?''

Sorri, sendo tirado de meus devaneios por Sofie, minha atual namorada. Olhei para seus olhos verdes, encantado.

Sei que ela não é o amor da minha vida, mas, por enquanto, me basta.

Talvez eu esteja apaixonado.