Alfa/Omega escrita por Fernando


Capítulo 4
“Arma” Secreta.




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Quatorze dias. Esse era o tempo que Jason estava trancafiado. O garoto estava impaciente e se irritava facilmente, o que não vinha ajudando a convencer os demais de que ele não mataria todos ali na primeira oportunidade que tivesse. O quarto onde ele estava parecia com uma área hospitalar, mas era um quarto pequeno, tinha apenas uma cama e uma pequena mesa a sua cabeceira. Ele recebia suas refeições por enfermeiros, todos equipados de mascaras de gás e roupas que os protegiam de radiação. Sem falar nos soldados, fortemente armados, que os acompanhavam.

Jason já teria enlouquecido! Se não fosse por Kelly e Engie. Todos os dias, Kelly ia almoçar com ele e esses eram os poucos minutos onde o garoto se sentia melhor. Engie sempre ia pouco antes do anoitecer, ele atualizava Jason sobre como estava seu caso, uma vez que ele estava sendo “julgado” em corte marcial e sem chance de se defender até agora. O amigo, também, sempre trazia uma lata de Pepsi consigo e entregava a Jason. Jason tinha uma estranha obsessão pelo refrigerante, ele era basicamente movido aquilo. Acreditava que poderia ter passado esses quatorzes dias sem comer, mas não sem uma única lata de Pepsi.

Na manhã do décimo quinto dia, General Antônio foi ver Jason. Ele estava como sempre, com sua farda esverdeada de general, seu sabre preso ao cinto e suas botas lustrosas.  Jason reparou que ele estava não apenas sem chapéu, e isso permitia ver seus cabelos grisalhos e cinzentos como os olhos, o que apenas o tornava mais intimidador, mas que ele também não usava uma mascara de proteção como os outros.

— Bom dia, soldado. - Cumprimentou o General.

Jason estranhou, nunca o chamaram de soldado antes.

— Bom dia, senhor. - Ele retrucou, a irritação em sua voz era perceptível.

Antônio chegou a levantar uma sobrancelha para o garoto, mas resolveu relevar a insolência do mesmo.

— Os relatórios dizem que você está tendo acessos de fúria. Isso não está ajudando na sua condição.

Os olhos de Jason se estreitaram.

— Desculpe senhor. - A palavra senhor saiu com um completo tom de escarnio. - Não sei como consigo perder a calma num lugar como esse. Preso por algo que eu nem mesmo fiz!

Jason se levantou da cama.

— Acho que é realmente difícil de entender como alguém pode ficar levemente, irritado quando é ameaçado de execução, exilio ou que seu corpo seja fonte de estudos. - Jason se aproximava do General a cada palavra que dizia. Ele então viu que o General pousava a mão sobre a guarda de seu sabre.

— Vejo que Engie o vem mantendo bem informado. - O General disse de maneira direta.

Jason falou demais, mas não se importava. Estava nervoso e queria sair logo dali, cada segundo que passava preso era agonizante.

— O que traz o senhor aqui? - Jason foi direto ao ponto.

— Um acordo. - Respondeu Antônio, agora afastando a mão de seu sabre. - Precisamos de seus conhecimentos com as partículas alfa.

Agora as coisas começaram a fazer sentido, Jason finalmente entendeu por que o General estava ali. Engie havia contado que a corte suspeitava que o que acabou atraindo o enxame de Alfas foi uma “arma secreta” que Glover estava mantendo em segredo.

— Mas vocês tem a Kelly, ela pode dar conta disso. - Jason queria saber com o que estava lidando, então jogou essa como uma isca.

— Kelly é brilhante, realmente. Mas ela não está conseguindo nos ajudar muito. Usamos algumas anotações suas como base e foi o máximo de avanço que tivemos.

“Usaram anotações minhas?!” - Pensou o garoto.

Ok, isso era grande. Ele apenas estava tentando medir a proporção, mas não mentira sobre Kelly poder dar conta de algo em seu lugar. Se ela não estava conseguindo avanços e eles chegaram ao ponto de começar a usar as anotações dele, a coisa era complicada.

Não querendo se gabar, mas, os projetos de Jason eram complexos ao extremo. Quase nunca passavam pelos oficiais por serem muito avançados, ou seja, impossível de serem realizados ou mantidos.

Jason estava tentado a recusar qualquer acordo com o General, mas sua curiosidade era incontrolável, seria impossível para ele deixar isso passar.

— Qual o acordo? - O garoto perguntou, tentando parecer o mais calmo possível.

— Você será acompanhado por soldados o tempo todo. Será transferido de volta a sua cabine, mas ainda em observação e poderá retornar a seu posto de mecânico. - Explicou o General.

— E quanto ao Galaxy? Não serei controlador de novo?

— O Galaxy está fora de ação por enquanto. Engie está pilotando outro Andador nos reconhecimentos.

— E por quê? - Jason estava confuso.

— Não achamos ninguém que conseguisse ser o controlador do Galaxy. Nossa frota de Andadores já foi reduzida após o ataque, não podemos perder Engie como piloto então ele foi designado para outro Andador.

— Certo, mas se eu voltar a ser contro-

Jason foi interrompido por Antônio.

— Você não voltara a ser controlador, Jason. A equipe não confia mais em você. Não faz ideia do quanto foi cansativo convencer a corte que precisamos de você para nós ajudar.

O garoto estava passando de confuso para furioso. Mas viu na expressão do General que aquele acordo, era o melhor que ele tinha conseguido e isso depois de muita insistência.

— Tudo bem. Eu vou ajudar, mas quero acesso a todos meus projetos antigos e todo meu material de pesquisa. - Exigiu Jason.

— Muito bem, vamos formar uma equipe de pesquisa que irá...

Dessa vez foi Jason quem interrompeu o General.

— Sem equipe. Como o senhor disse, eles não confiam em mim. Quero apenas Kelly trabalhando comigo, será mais que o suficiente.

Antônio ponderou um pouco, mas assentiu.

— Certo, será apenas o pessoal que escolher. Então, temos um acordo?

O General estendeu a mão para Jason após a pergunta.

— Acordo. - Jason disse enquanto apertava a mão de seu superior.

...

Jason estava fora de seu quarto/prisão novamente. Foi direto para sua cabine e tomou um bom banho, sem se preocupar com médicos o olhando na tentativa de ver algum sinal de mutação em seu corpo. A única coisa que, de fato, mudara no garoto era uma cicatriz em sua mão, onde antes havia um grande e fundo corte.  O garoto saiu do banho colocou suas roupas de trabalho, seu velho e confiável cinto de ferramentas, ele até procurou a chave que usou para perfurar o Alfa, mas não a achou, e então se dirigiu para o local que o General o havia indicado.

Ele se viu em frente a duas portas enormes com vários avisos que diziam: “Afaste-se! Somente pessoal autorizado!”

Jason se aproximou de um painel na lateral das portas, colocou o olho direito sobre um pequeno circulo transparente e um scanner passou pelo mesmo. O painel acendeu uma luz verde e as portas se abriram, lateralmente. A visão do interior da sala era também surpreendente, ela era circular e de dois andares. O segundo, onde Jason estava, era uma plataforma de ferro que circundava as paredes da sala, uma escada de ferro levava ao piso da parte mais baixa, onde algumas partes do piso transparente emitiam um brilho avermelhado, fazendo contraste com toda a sala branca. Em seu centro, estava um cilindro de metal do tamanho de um caixão em cima de uma estrutura que era ligada a diversos tubos, cada tubo ligado a uma parte diferente da sala.

A sala era incrível, mas Jason não conseguia tirar os olhos do cilindro no centro dela, ele parecia emitir pequenas correntes de energia e no momento em que o garoto o viu, a cicatriz em sua mão direita começou a doer.

— Ah enfim temos nosso especialista! - Uma voz gritou a esquerda de Jason.

Ele olhou para ver quem falara e viu Glover, apoiado na grade da plataforma, com Kelly e o General Antônio ao seu lado.

“Mantenha-se calmo! Não estrague tudo de novo!” - Jason disse para si mesmo.

Ele ignorou o comentário do Sargento e foi descendo para o centro sala. Era obvio que aquele cilindro era o objeto que estava sendo estudado.

Kelly o acompanhou. Ela apenas parou ao seu lado, mas não disse nada.

— Alguma ideia do que é isso? - O garoto perguntou sem tirar os olhos daquela coisa.

— Nenhuma. - Respondeu a garota. - Achamos que o cilindro pode ser um suporte de vida. Seu interior emana uma quantidade de energia colossal, nunca vimos nada do tipo.

 - É eu percebi. - Jason disse impressionado. - Mas por que acham que é um suporte de vida?

Kelly andou para o lado, fazendo um movimento de mão para que ele a acompanha-se.

— Por causa disso.

A garota apontou para um pequeno painel oval, estava apagado e sua superfície trincada. A dor na mão de Jason era tanta que ele começava a achar que sua cicatriz estava se abrindo novamente.

— Tentaram drenar a energia disso?

— Sim, derretemos cinco reatores em menos de dois segundos.

Jason olhou espantado.

— Dois segundos? Sério?

Kelly assentiu.

A cabeça do garoto rodava. Como algo pode DERRETER cinco reatores, que foram projetados para armazenar quantidades industriais de energia, em dois segundos? Aquilo era tão fascinante quanto assustador. Com uma fonte de energia daquelas, talvez, só talvez, fosse possível realizar um de seus melhores e mais audaciosos projetos!

Ele começou a estender a sua mão, devagar, para o painel.

A dor na mão de Jason apertou. Era como se a mão estivesse tentando avisa-lo para se afastar ou algo do tipo. Mas Jason nunca foi muito bom em aceitar ordens, ele tocou no painel.

Uma luz vermelha acendeu no painel, Jason e Kelly se olharam espantados. Símbolos começaram a surgir, de maneira aleatória, na tela vermelha.

— O que são esses símbolos? - Perguntou Kelly. - Algum tipo de código?

Jason estava assustado. Ele não sabia como nem por que, mas de alguma forma parecia entender aqueles símbolos.

— N-não são... Não são símbolos. - Ele disse com os olhos arregalados.

Kelly olhava para ele assustada.

— Como você sabe? – A loira perguntou.

— Não sei... eu... eu simplesmente sei. - Responde Jason, ele olhava para a cicatriz na mão palma da mão direita, ela já não doía mais.

Kelly ameaçou dar um passo para trás, mas não poderia fazer isso. Ela estava assustada? Sim. Mas não iria deixar Jason sozinho, ele parecia estar mais assustado do que ela.

Kelly respirou fundo, e se colocou ao lado de Jason.

— Calma, estamos indo bem. - Ela tentou se convencer. - Consegue ler isso?

— Só as duas primeiras linhas.

Ele apontou para a tela, onde Kelly via de tudo menos duas linhas de palavras.

— Certo, e o que dizem? - Ela tentava soar mais calma e confiante possível, mas achava que estava falhando miseravelmente.

Jason estreitou os olhos para a tela.

— Sistema de liberação. - Ele leu.

Antes que Kelly pudesse dizer algo, Jason tocou a tela com o dedo.

Toda a estrutura estremeceu. No cilindro, duas fendas se formaram na extensão de sua lateral, e o mesmo se abriu como um caixão com fumaça saindo de seu interior. Antes mesmo que Jason e Kelly pudessem perceber, todo um contingente de soldados estava na sala, apontando seus rifles para o interior do cilindro. Foi quando algo deu dois passos para fora do cilindro.

— Não atirem! - Bradou o General.

De todas as coisas que Jason poderia imaginar, e ele imaginou muitas coisas medonhas e assustadoras saindo daquele cilindro, ele viu a mais improvável de todas. Uma garota saiu do cilindro. Sim, uma garota e linda por sinal! Ela era pequena, menor do que Jason, sua pele cor de canela e os cabelos pouco cacheados e castanhos escuros. Ela vestia apenas algo como um vestido bege, que cobria seus seios e um pouco acima das coxas. Mas o momento em que Jason ficou hipnotizado foi quando os olhos da garota encontraram os seus. Os olhos dela eram castanhos como os dele, mas muito mais claros e tão cheios de vida que era impossível desviar o olhar.

Ela deu mais alguns passos em direção a Jason. A tensão na sala era quase palpável, todos com as armas apontadas para a garota, que parecia nem notar que existiam mais pessoas naquele lugar além de Jason. Ela cambaleou, balbuciou alguma coisa e desmaiou. Jason correu e a segurou antes que tocasse o chão.

Ele olhava para ela perplexo, assim como todos olhavam para ele.


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