Alfa/Omega escrita por Fernando


Capítulo 3
O que é você?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715521/chapter/3

Paralisia. Assim que os alarmes soaram, esse foi o sentimento que se estabeleceu no hangar. Todos ali sabiam o significado daquelas sirenes estridentes, todos ali sabiam que era um ataque grande. Grande o bastante para que os canhões não conseguissem impedi-los de se aproximar, o que é difícil de acontecer.

— Em seus postos!

Todos ouviram uma voz de comando, forte e imponente, e se viraram em direção a sua fonte. Em pé nas escadas de entrada do hangar estava essa fonte, o General Antônio. Um homem alto e forte usava uma farda verde e lustrosas botas negras.

— Vão esperar muito ainda? Desse jeito vamos acabar sem nave para ser defendida! - Gritou o General. - Todos, em seus postos! AGORA!!

A paralisia e o medo de momentos atrás acabaram de sumir na mesma velocidade em que foi instaurada. Antônio sacou sua espada da bainha que repousava em seu cinto e a ergueu. A lâmina era prata e brilhava com a luz do sol, mas, o que mais chamava atenção eram as linhas azuis que circundavam em torno do fio de corte do sabre como uma aura.

Sobre a visão de seu líder, todos correram para suas posições. Jason correu para a mesa, da qual auxiliaria Engie, que já se encontrava no interior do Galaxy.

— Parece que conseguiu mesmo coloca-lo online a tempo.

Disse uma voz doce, ao lado do garoto.

Ele tirou os olhos da mesa, mas continuou a apertar os botões e deslizar os dedos por painéis, sensíveis ao toque. Ele olhou para a mesa a seu lado e viu Kelly, que acabara de se sentar e começava a colocar os fones e ligar o equipamento.

— Bom saber que ainda duvida de mim. - Falou Jason com um sorriso.

Kelly respondeu ao sorriso do garoto e se voltou para seus monitores. O equipamento de monitoração dos Andadores era, sem sombra de duvida, complicado de se entender. São monitores de diversos tamanhos, teclados, botões e vários painéis touchscreen que mostravam o desempenho da armadura em que estava ligada. Nesse local a habilidade de Jason com as maquinas passa quase que completamente despercebida, todos os vinte e dois controladores pareciam fazer tudo como ele, as mãos se moviam rápidas e os olhos enxergavam diversas telas ao mesmo tempo, sem nenhuma dificuldade aparente.

— Cara, você precisava ver isso. - Disse Engie pelo rádio.

Jason mudou a tela central para a câmera no visor do Galaxy, a visão era realmente assustadora. O céu estava vermelho, como de costume, porem mais ao longe no norte se via uma pequena mancha de tom mais avermelhado, e ela parecia estar se aproximando. Os garotos não tiveram a menor duvida, aquilo era a esquadra dos Alfas que se aproximava.

— Nunca vi tantos juntos. - A voz de Engie carregava medo. - A nave não vai ter a menor chance se passarem por nós!

— Calma. - Disse Jason, tentado fazer sua voz soar o mais calma possível. - Fiquem perto da nave, se eles se aproximarem desse jeito podemos usar os canhões e destruir metade da formação deles.

O garoto não fazia a menor ideia de onde tirara aquilo, mas Engie não pareceu discordar então Jason presumiu que podia ser um bom plano.

A nuvem vermelha se aproximava rapidamente. Eles estavam a menos de duzentos metros, e já era possível ver as correntes elétricas que seus corpos de energia geravam. Já os Andadores formaram uma linha de tiro e quando os Alfas estivessem ao alcance de suas armas eles iriam disparar tudo que tivessem depois se lançariam para o auto e voltariam para o hangar e recarregariam, enquanto os canhões davam algum tempo e destruíam o máximo possível de Alfas.

O silencio tomou conta de todos, ninguém falava nem uma única palavra ou tão pouco se movia. Até mesmo para Jason, que sempre tentava aliviar as situações de tensão, estava calado e com o olhar fixo em único monitor.

Mais alguns minutos de ansiedade e silencio, até ouvirem o primeiro grito: FOGO!

Os Alfas estavam no alcance das armas. Todos dispararam, uma chuva de projeteis verdes e azuis cruzou o céu e se chocaram contra as criaturas de energia, que caiam como moscas mortas. Engie disparava com uma metralhadora que estava acoplada no braço esquerdo do Galaxy, e se mantinha o voo estabilizado com o braço direito. Um Alfa passou, com alguns ferimentos no peito, pela linha de tiro e se jogou contra o Galaxy. As garras cravaram nas costas da armadura e Engie sentia o calor das laminas do monstro quase tocar sua pele sob a armadura.

— Jason! Estabilize os propulsores, agora!! - Berrou Engie, enquanto lutava para se manter no ar.

Os braços do garoto estavam presos pelo Alfa, que o prendia como uma camisa de força. Era apenas questão de tempo até ele começar a usar suas presas e acabar matando Engie.

Jason fez o que o amigo pediu. Ele assistia a tudo, do ponto de vista de Engie e tentava se manter calmo para não errar e acabar matando seu amigo.

Logo o Galaxy ficou estável no ar de novo.

— Retire a energia do armamento e coloque no exoesqueleto, preciso me livrar desse filho da puta!  

Engie lutava para se manter calmo, o que é difícil quando se tem um monstro de energia tentando te rasgar no meio. Sem falar que ele esta tentando fazer isso, a mais de vinte mil pés de altitude.

— Exoesqueleto em cem por cento! - Jason gritou no rádio.

Engie sorriu dentro da armadura. Ele forçou seus braços e começou a se livrar dos braços do Alfa, quando os abriu o suficiente, ele se inclinou para frente e deu uma cabeçada no monstro.  A criatura foi para trás, Engie a seguiu e agarrou seu pescoço com ambas as mãos. Logo os dedos mecânicos da armadura, esmigalharam a garganta do monstro e ele apagou, caindo sem vida rumo ao solo.

Engie se voltou para seus companheiros, mas a cena não era nada animadora. De vinte e dois que estavam ao seu lado, agora ele via apenas treze e todos cercados por monstros de energia vermelha.

Ele rangeu os dentes.

— Tudo nos propulsores!! - Engie gritou e se lançou na direção da batalha.

Jason estava quase tão nervoso e desolado quanto Engie. Ele acabou de ver sete pessoas morrerem nas garras do inimigo, ou despencarem para a morte certa. A cada perda da tropa, um controlador entrava em desespero ao ver seu amigo morrer. Era uma situação difícil de digerir e conseguir manter-se calmo. Mas ele precisava, não iria deixar Engie sozinho.

— Propulsores no máximo. Estou liberando as lâminas de combate. - Avisou Jason.

— Leu minha mente! - Respondeu Engie.

Duas lâminas grandes, banhadas por uma aura verde, apareceram na lateral dos braços do Galaxy. Engie acertou seu primeiro alvo a uma velocidade impressionante e o empalou com ambas as lâminas. O monstro urrou e seu corpo apagou, deixando apenas a carcaça cair no nada. Os demais Alfas o olhavam, mas Engie não esperou um ataque, ele se lançou contra um amontoado de cinco Alfas. Os demais soldados se alinharam atrás do Galaxy, em uma formação que se assemelhava a uma ponta de lança e entraram no meio dos Alfas. Engie empalava, girava e cortava tudo o que fosse vermelho a sua frente enquanto os demais atiravam em tudo que conseguiam.

A cena era heroica, no mínimo, mas Jason estava preocupado. Mesmo com Engie empilhando Alfas, eles ainda estavam em maior numero e parecia pouco se importarem com suas baixas, ele estava com um pressentimento de que a estratégia dos amigos os estivesse levando para a morte.

Foi então que aconteceu. Os canhões da nave se focaram nos Alfas e isso pareceu os deixar mais atentos, logo os monstros cercaram todos os Andadores e alguns começam a disparar rajadas de energia, pela boca, contra a nave.

Engie e os demais soldados formaram um circulo e tentavam se defender das criaturas. Embora eles estivessem mais atentos a olhar para a nave e rosnarem do que a mata-los ali de vez.

— Para o alto. - Engie ouviu a voz de Jason no rádio.

— O que?

— Suba! - Jason respondeu mais alterado. - Eles não estão prestando atenção em vocês! Voem para o alto e saiam dai e nossos canhões cuidaram do resto.

Engie ponderou por alguns segundos. As chances de dar errado eram muitas, se os monstros os seguissem, eles iriam ser dilacerados e os canhões não teriam ângulo para atirar para o alto. Era arriscado, mas essa não era a primeira vez que um plano idiota de Jason salvava sua vida.

— Certo, avise aos controladores dos outros. Vamos precisar de tudo nos propulsores.

— Já estão prontos, é a única saída que pensamos aqui. Eles estão esperando sua deixa, deem a volta por cima da nave e entrem pelos portões leste.

Engie suspirou e se preparou. E então ascendeu às céus, seguido por seus companheiros. Os monstros rosnaram e se preparam para segui-los, mas os canhões começaram a disparar logo que os Andadores saíram da linha de tiro.

Jason se jogou na cadeira e soltou um alto e sonoro: UFA!

— Bom plano. - Disse Kelly.

O garoto estava pronto para se gabar, quando uma explosão o interrompeu. Atrás de Jason, uma grande explosão rompeu as paredes e abriu um grande buraco na lateral da nave. O garoto foi arremessado para longe, devido à onda de choque da explosão, mas logo se pós em pé novamente. Mas ele preferia não ter feito, logo que se levantou viu um grande corpo vermelho, envolto em correntes de energia, adentrando a nave, por aquele buraco.

O pânico tomou conta de Jason, ele não se movia, suas pernas pareciam chumbo e seus braços espaguete. Todos, que ainda estavam conscientes, começaram a correr ou gritar de pavor.

Jason estava louco ou o Alfa estava olhando diretamente para ele? O monstro rugiu e se lançou na direção do garoto, que permanecia imóvel. Ele teria sido dilacerado ou esmagado, ou ambos, se algo não o tivesse puxado para o lado no ultimo segundo. Jason olhou e viu Kelly sobre ele, a garota havia saltado sobre o garoto para tira-lo da frente do monstro.

— Jason! Você tem que acordar! - Gritava Kelly enquanto balançava Jason pela gola da camiseta.

Os demais controladores já haviam deixado o lugar ou se escondido. Naquela sala do hangar estava apenas Jason, em estado de choque, Kelly, tentando desesperadamente não sucumbir como Jason e um Alfa, que olhava para suas garras como se achasse que deveria ter um pedaço de carne suculento cravado nelas.

Jason estava perdido em seus pensamentos, ele não entendera o que estava acontecendo era como se a cabeça dele estivesse fazendo tudo que ele via passar em câmera lenta. Ele não conseguia distinguir o que estava acontecendo e seu corpo entrara em curto por isso. Mas esse curto logo passou, ele ouviu um grito de pânico e reconheceu a voz.

— Kelly... - Ele balbuciou enquanto voltava a si.

Ele olhou para frente e viu a garota, que estava com seus pés fora do chão. Ele olhou de novo e viu que ela estava sendo erguida pelo pescoço, por uma mão vermelha e com grandes garras. Jason finalmente entendeu a situação, e todos os seus neurônios gritavam para ele sair dali e correr até não aguentar mais. Mas ele não fez isso, ele, sabe-se deus por que, correu na direção do Alfa.

Jason avançou contra o Alfa, pegou um cano metal no chão e o acertou contra o tórax do monstro, o mesmo nem se moveu com a pancada, mas voltou sua atenção ao garoto, largando Kelly no chão. Jason olhou para a garota e viu que ela tinha marcas de corte no pescoço, isso o abasteceu de ódio e raiva. Kelly estava tentando protege-lo e ela acabou se ferindo... Ou pior. O garoto, em um acesso de raiva, pegou uma chave de fenda de seu bolso e saltou na direção do Alfa.

Jason cravou a chave no ombro da criatura, que urrou de dor e então afastou o garoto com algo parecido com um tapa. Jason bateu a cabeça em uma das paredes e sua visão ficou embaçada, ele não sentiu nada por alguns segundos, mas, logo depois sentiu uma lâmina quente atravessar sua mão direita. Ele gritou, piscou os olhos e viu que uma das garras do Alfa atravessara a palma de sua mão.

O rosto do monstro estava a centímetros do seu, ele conseguiu sentir a respiração acida do Alfa. E logo começou a ouvir um som que vinha do monstro, de começo, era estridente e irritante, mas logo começou a se tornar distinguível para ele, como se a criatura estivesse tentando se comunicar.

“Um de nós.” “Roubo.” “Casa.”

— Você... você fala?! - Jason perguntou espantado.

O monstro se arqueou para trás, para respondê-lo ou mata-lo. Mas foi interrompido, quando a lâmina de um sabre, com as laterais azuladas, atravessou-lhe a garganta. O Alfa urrou e seu corpo caiu, já sem vida e apagado, sobre o de Jason. O garoto olhou para cima e viu General Antônio em pé ao seu lado e, em suas mãos, o sabre com o sangue alaranjado do monstro. Logo atrás dele apareceu Glover e mais alguns oficiais.

— Tirem o monstro de cima do garoto! - Ordenou Antônio.

Dois dos oficiais levantaram o corpo do Alfa, mas quando foram o retirar de cima do garoto, Jason gritou. Ele viu que todas as pessoas do hangar o olhavam boquiaberto, mas ele reparava em apenas dois olhares os olhos cinzentos e amedrontadores do General Antônio e o os olhos azuis e preocupados de Kelly. Jason olhou para onde todos os outros estavam olhando e viu a garra do monstro, ainda cravada em sua mão direita.

— Você foi contaminado! Deveria ter se transformado em um deles. - Disse Glover alternando entre raiva e confusão em sua face.

— E-eu... eu não sei o que aconteceu... aquele Alfa. Ele falou! - Jason falou tão surpreso quanto todos que o ouviram dizer tais palavras ficaram.

Antônio suspirou e Glover começou a berrar acusações.

— Você está contaminado! Isso são alucinações! O vírus está encubado em seu sistema!

A cada nova acusação mirabolante do Sargento, mais pessoas pareciam concordar com ele.

— Já chega. - Disse o General.

Antônio se aproximou de Jason e cortou a garra que prendia mão do garoto ao chão. Ele olhou nos olhos de Jason, se o garoto não conhecesse o General poderia jurar que ele estava tentando ler sua mente ou ver através dele.

— Mas senhor! Esse garoto foi contaminado, nós sabemos o que acontece quando um Alfa apenas arranha um humano! Ele teve a mão transpassada! - Insistiu Glover.

O General se voltou para Glover e o encarou, o General era ainda mais alto que o Sargento.

— E o que sugere Sargento?

Glover pensou por alguns segundos.

— Execução! - Exclamou apontando o dedo para Jason.

Jason arregalou os olhos, ele abriu a boca para falar, mas as palavras não saiam. Estavam realmente considerando mata-lo por algo que ele mal estava entendendo no momento.

— Fora de questão. - Interveio o General. - Não vamos executar ninguém por lutar contra um monstro e acabar sendo ferido.

Jason relaxou, ele quase correu para abraçar o General, mas achava que se fizesse isso, ele poderia acabar concordando em executa-lo.

— Mas senhor! Ele não pode ficar andando por ai livremente, ele está contaminado! Ele pode se transformar a qualquer momento!

— Estou ciente disso. - Respondeu o General, com o olhar fixo em Jason. - Ele ficara em quarentena, até segunda ordem.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Alfa/Omega" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.