Yo conozco tu rostro escrita por Lena V


Capítulo 9
Capítulo 9 - Memórias perdidas




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Em um lugar distante no passado, bom... Nem tão distante assim...
Um momento perdido, esquecido.. Talvez não tão esquecido mas definitivamente perdido, comparado com tudo que já aconteceu, alguns momentos apenas se perdem, não por serem menos importantes, as vezes os momentos mais importantes não são lembrados com frequência, ficam perdidos em algum lugar em nossas mentes e só precisamos de um pequeno esforço para encontra-los.
O dia estava ensolarado, uma garota se divertia durante um passeio de gôndola junto com uma jovem mulher.
A mulher olhava atentamente para a garota que mantinha sua mão para fora da gôndola para brincar com a água. Um sorriso tomou conta de sua face e por um momento ela esqueceu de todas as complicações de sua vida.
—Clara? - A garota chamou fazendo com que a mulher de cabelos escuros a olhasse
—Agora é Joanne - Ela corrigiu num sussurro
—Desculpe... Preciso me acostumar... - A garota abaixou a cabeça e seu sorriso sumiu
—Esta tudo bem, Titi... - A mulher se aproximou da mais nova - Sempre vou ser a sua R, não importa o nome que estou usando - Ela levantou o rosto da mais nova e lhe presenteou com um sorriso
A verdade é que ver Sin Rostro em um desses momentos era estranho, mas Cinthia causava tantas emoções nela que se tornava impossível não demonstrar
Cinthia se jogou nos braços da morena que a abraçou forte num pensamento de nunca mais solta-la. Esses momentos eram raros e ela queria aproveitar o máximo possível com sua irmãzinha.
—O que quer fazer agora? - Joanne perguntava enquanto a gôndola era presa para que pudessem sair
—É minha primeira vez na Itália, o que acha que quero fazer?
Cinthia só pensava em se divertir, queria conhecer o mundo, ir a festas e beber até esquecer o próprio nome. Mas ela não podia, não podia chamar atenção, nem pra ela nem para sua irmã.
Rose sempre quis que Cinthia tivesse tudo, absolutamente tudo que ela quisesse, então muitas vezes se colocava em risco para que a mais nova pudesse ter um pouco de diversão.
Cinthia não pensava no risco que sua irmã corria, ela pensava em ganhar as apostas de bebidas, ela era a irmã que pensava no momento, Clara era a irmã que pensava no futuro, na segurança, no bem estar de ambas. Alguém precisava ser a responsável a final de contas...
—Por favor, não me diga que quer bancar a turista...
Sin Rostro, era a Sin Rostro por ninguém (ou quase ninguém) saber a sua identidade, bancar a turista, ser vista em lugares movimentos estava fora de seus planos.
—Por favor... - Cinthia juntou as mãos como se implorasse para sua irmã aceitar
Ela não precisava se esforçar, Rose não conseguia dizer não para a caçula, um sorriso da mais nova e ela se derretia.
—Tudo bem, mas sem escândalos...
O dia corria normalmente, como se elas fossem pessoas comuns, o clima estava leve e elas não se preocupavam com nada.
Bom... Cinthia não se preocupava com nada e Rose fingia não se preocupar, mas a cada parada ela olhava ao redor para garantir que era seguro, que não estavam sendo seguidas ou observadas, para garantir que tudo ficasse bem.
Tudo estava sob controle, até que Cinthia pediu para serem desenhadas.
Elas se sentaram, uma de frente pra outra, o olhar de ambas se cruzavam e sorrisos eram inevitáveis.
—De onde são? - O homem que as pintava perguntou numa tentativa de puxar assunto
—Londres - Cinthia respondeu sem pensar
—Garotas de Londres... Como posso chamar vocês?
—Garotas de Londres parece bom pra mim - Rose respondeu seca para cortar o assunto
—O nome dela é Joanne e o meu é...
—Ramona - Rose a interrompeu antes que ela revelasse sua real identidade. E foi nesse momento que Cinthia percebeu o que estava fazendo, colocando sua irmã em risco.
Ela pensava em viver o momento, mas logo que seu momento passava sua consciência pesava com as teorias do que poderia ter acontecido. Ela entendia o fato de Rose ser tão preocupada, alguém precisava ser, já que ela era tão descuidada.
Sua expressão, antes alegre, agora era de preocupação. O homem continuava tentando puxar assunto, forçando muitas vezes. Ela já havia parado de responder e deixado por conta de Rose.
O homem terminou o desenho, foi pago e então elas seguiram para o hotel sem trocar uma palavra.
Rose entrou no banheiro anunciando logo em seguida que iria iniciar seu banho. Cinthia aproveitou este momento para sair do quarto, quase como uma fugitiva.
Voltou para o centro, encontrando o homem que as pintou conversando com um policial, ela parou de respirar e sentiu como se fosse desmaiar ali mesmo. Seria culpa sua se descobrissem sobre sua irmã.
Ela ficou por ali, esperou o policial ir embora, algumas horas depois o homem já estava arrumando seu material para ir embora.
Carregando várias coisas debaixo do braço ele seguiu andando em direção a sua casa. Cinthia estava logo atrás, um tecido vermelho cobria suas mãos, enquanto o capuz de sua blusa cobria parte de seu rosto.
O homem viu sua sombra no chão e logo se virou sem entender o que estava acontecendo. Encontrou uma garota com o rosto oculto, segurando um pedaço de madeira com alguns pregos para fora.
—Eu não tenho dinheiro - Foi tudo o que ele disse antes de ser atacado
Ela o acertou na cabeça, fazendo com que o homem caísse no chão, os pregos causaram um corte feio no rosto do homem
—Por que está fazendo isso? - Ele perguntava se rastejando pelo chão
—Estou fazendo isso por amor - A madeira que Cinthia segurava foi cravada no pescoço do homem que não teve nem como reagir.
Sangue escorria, manchando toda a roupa do homem que foi perdendo a consciência lentamente. Cinthia o observou, assistiu o homem morrer sem derramar uma lágrima sequer. Deixou a arma do crime ao lado do homem já morto, desenrolou o tecido vermelho de suas mãos logo pegando um isqueiro e os queimando. Voltou para o hotel encontrando uma Rose andando de um lado para o outro sem saber o que fazer.
Ver a irmã desesperada por sua causa não era algo que ela gostava, mas sem dúvidas ela amava ver como Rose se importava com ela.
A mais velha estava preocupada com sua irmãzinha e a irmãzinha estava garantindo que tudo ficasse bem para sua irmã mais velha sem se importar com o que aconteceria com ela.
Não era um troca de favores, mas uma colocava a outra em prioridade.
A visão de Cinthia estava embaçada, ela via pessoas de branco discutindo sobre algo, seu corpo estava pesado, dolorido, sentia dificuldade para respirar.
—Ela acordou - Disse um dos médicos
E logo tudo foi ficando escuro novamente.
Sabe quando sua vida passa diante de seus olhos? Bom... Eu não sei, na verdade não sei se isso acontece. Mas Cinthia estava perdida em lembranças dentro de sua mente.
Valéria a pena acordar?
Ela poderia ficar ali revivendo seu passado para sempre. Onde tudo que importava era estar na companhia de sua irmã.
Ela havia saído de mais um centro de detenção, a deixaram em uma rodoviária e ela comprou uma passagem para Miami. Para ser exato, ela comprou uma passagem para a parte pobre da cidade.
Ela tinha uma casa naquela região, um pequeno apartamento que ficava perto de um bar que ela costumava vender as drogas de sua irmã.
Ela dizia que era um tipo de boa ação, "A vida as vezes fica tão fodida que você precisa relaxar" ela abaixava o preço para eles, e era a salvadora da noite.
Sin Rostro não dizia nada, se Cinthia achava que essa era a forma de fazer com que aquilo pareça menos errado, ela apoiava. As vezes uma desculpa esfarrapada era tudo que precisavam para dormir com a consciência Tranquila.
Cinthia entrou no ônibus sentando-se do lado da janela. Alguns minutos antes do ônibus sair, uma mulher loira entrou e sentou-se ao lado de Cinthia.
Cinthia a olhou e sorriu, a loira com óculos escuros era a pessoa que ela mais amava no mundo.
—R...
—Tem certeza que quer ir para Miami? - Foi tudo que Rose disse
Cinthia sempre foi extravagante, quando saia desses centros de detenção ela gostava de viagens caras, lugares exóticos, queria viajar o mundo, e ir para Miami deixou Rose desconfiada.
—Uma noite em Miami e o resto da semana podemos ir para Paris? - Perguntou animada
Essa era a Cinthia que Rose lembrava
A visão de Cinthia estava embaçada de novo, ela ouvia alguém chorando, não conseguia ver quem, mas aquele choro cortava seu coração.
Ela se esforça para abrir mais os olhos, mas era inútil, sua visão escureceu e novamente ela mergulhou em mais lembranças.
Lembranças que a faziam sorrir em tempos difíceis como naquele momento.
A hipótese de não acordar e poder ficar agarrada à todas essas lembranças era satisfatório, mas algo impedia ela de ir por esse caminho, ela não sabia o que, mas impedia.
E então lá estava ela, correndo para os braços da irmã, o vento era forte por conta do helicóptero, elas entraram rapidamente, não tinham tempo para conversar, não naquele momento. Cinthia havia fugido da prisão, era aniversário de Rose e ela faria de tudo para ver a irmã.
O helicóptero decolou, e por mais que fosse aniversário de Rose, ela abria mão de seu dia para fazer as vontades da outra.
—Pra onde quer ir? - Rose perguntava já esperando um plano de viagem completo
—Para qualquer lugar, só quero estar com você...
Então Cinthia abriu os olhos novamente. Ela não poderia ficar perdida em sua mente, por mais que as lembranças fossem boas, ela tinha alguém que precisava dela, tanto quanto ela precisava desse alguém.
Sua visão foi ficando nítida, estava em um quarto de hospital, nenhum médico por perto, mas alguém estava adormecido com a cabeça na cama.
Cinthia colocou sua mão sobre a cabeça acariciando os cabelos que cobriam o rosto da mulher. Assim que sentiu o toque de Cinthia levantou o rosto. Era Luisa, o choro que Cinthia tinha ouvido era dela, ela estava preocupada, havia passado cada minuto ao lado da mais nova desde que a mesma foi levada ao hospital.
—Você esta bem? - Luisa perguntou com a voz fraca
—Ela fugiu? - Cinthia estava colocando a irmã em primeiro lugar novamente.
Luisa fez que sim com a cabeça permitindo que Cinthia sorrisse.
—O que aconteceu? - Luisa estava curiosa
—Apontaram uma arma pra mim, ela ia se entregar para que eu ficasse segura... Eu não poderia deixar isso acontecer... Eu puxei o gatilho - Nesse momento Cinthia passou a mão em seu abdômen sentindo os pontos
—Você poderia ter morrido!
—Ela estaria livre, então teria válido a pena
—Ouvi Michael dizer que ela se segurou para não correr até você quando ouviu o disparo...
—Eu imagino o que ela tenha passado...
—Não faça mais isso, essas loucuras, não se arrisque tanto...
—Não posso prometer isso - Nesse momento uma enfermeira entrou no quarto
—Que bom que acordou - A mulher sorriu para Cinthia - Preciso tirar sua temperatura e ver como estão os pontos, será que sua amiga pode esperar lá fora? - Ela lançou um olhar para Luisa
—Vou buscar café - Anúncio antes de sair.
—Dê um jeito de ir para a emergência. Tem uma saída - A mulher sussurrou para Cinthia que apenas fez que sim com a cabeça
Logo a porta foi aberta novamente, Michael entrou acompanhando de Luisa que trazia café.
—Ficarei por perto, qualquer coisa é só me chamar - A mulher disse mostrando um botão perto da cama para emergências.
Luisa se sentou perto de Cinthia e Michael observava a cena sem saber o que falar.
—Sinto muito, detetive... Ela é minha irmã, não posso deixar que nada aconteça com ela...
—Vamos te transferir para o hospital da prisão assim que estiver estável.
Um silêncio tomou conta do ambiente, fazendo com que Michael fosse obrigado a se retirar, ele não conseguia olhar no rosto de Cinthia.
—Ouvi um policial dizendo que vão te levar assim que amanhecer... - Luisa estava com voz de choro, aquilo era muito para ela, Luisa passou por muita coisa e por mais que fosse uma mulher forte, não estava preparada para aquilo.
—Assim que amanhecer... - Ela repetiu - Estarei frágil, não conseguiria nem pensar em fugir mal me aguento em pé...
—Sinto muito...
—Se eu dissesse que você pode me ajudar com algo, você ajudaria?
—Tem dúvidas?
—Vem até aqui - Cinthia chamou Luisa já levantando a camisola do hospital mostrando seus pontos - Force a pele para lados opostos
—O que? - Luisa parecia horrorizada
—Lembra que você disse para eu parar com as loucuras? Preciso fazer essa ultima, Luisa... Você vai estourar os pontos.
Cinthia colocou o travesseiro entre os dentes, puxou o lençol e então esperou por Luisa que estava com os olhos cheios de lágrimas só de imaginar o que ia fazer.
Cinthia fez que sim com a cabeça e então Luisa apertou a pele da mais nova quase as puxando em direção opostas.
Sentir sua pele rasgando foi uma das piores sensações de sua vida, o travesseiro em sua boca a impedia de gritar, mas ela chorava durante todo o processo.
—Pronto - Luisa falou tentando parar de chorar enquanto limpava a mão ensanguentada
—Vem aqui - Cinthia chamou fazendo com que Luisa se aproximasse dela, os olhos se cruzaram e Cinthia juntou seus lábios aos da outra num beijo de despedida - Minha irmã te ama - Ela disse ao romper o beijo roubando um sorriso de Luisa
Cinthia apertou o botão de emergência e logo a enfermeira apareceu com uma cadeira de rodas.
Luisa ajudou a colocar Cinthia na cadeira com uma certa pressa.
—O que está acontecendo? Ela não pode sair do quarto - Michael apareceu na porta
—Os pontos romperam, preciso levar ela pra emergência - A enfermeira disse empurrando a cadeira de rodas e deixando Luisa para trás.
Michael seguiu as duas até uma certa parte do corredor.
—Não posso deixar que entre. Só médicos daqui pra frente
Michael nada disse, sentia que parte do que estava acontecendo era culpa sua.
A enfermeira empurrou a cadeira com Cinthia pelos corredores até chegar na garagem onde estavam várias ambulâncias juntamente com vários carros pretos exatamente iguais.
—E agora? - Cinthia perguntava meio sonolenta, estava quase perdendo a consciência por conta do sangue que estava escorrendo de seu corpo
—Ela disse pra esperar... - A enfermeira falou pegando Cinthia pela cintura numa forma de carrega-la
Todas as luzes se apagaram e então um dos carros abriu a porta e a enfermeira correu para o carro levando Cinthia com ela.
Michael estava impaciente no corredor então perguntou a um médico como Cinthia estava.
—A única paciente aqui dentro é a Senhora Romana que está dando a luz.
Michael ficou pálido, havia entendido o que aconteceu, correu pelos corredores em direção a garagem mas as luzes se apagaram, a queda de energia sem dúvida o atrapalhou no processo de chegar ao estacionamento. E quando chegou lá tudo que encontrou foi cerca de 20 carros exatamente iguais com os vidros e com as placas cobertas.
Ele pensou em dizer algo, mas não teve tempo, os carros saíram do prédio cada um tomando uma direção. Ele não sabia o que fazer ou pra onde ir. Mas tinha alguém que sabia
Cinthia estava no colo de Rose, Rose sorria mas seus olhos estavam vermelhos de tanto chorar.
—R...
—Não fale nada, eu vou cuidar de você.
A enfermeira cuidava dos pontos de Cinthia enquanto Rose Acariciava seu rosto
—Vamos ser só nós duas... Nada, nem ninguém vai te machucar, eu prometo - Rose colou seus lábios nos de Cinthia numa forma de demonstrar seu carinho - Ninguém vai nos afastar de novo. Eu não vou deixar...
E com essas palavras ela abraçou sua pequena irmã que encontrava paz em seus braços.
Seguiram a estrada até sumirem, foram criar novas memórias para poderem se perder daqui a alguns anos.


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Notas finais do capítulo

E fim...



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