Blessed by the raindrops escrita por Crazy


Capítulo 1
Capítulo único - Blessed by the raindrops




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Louise olhara as prateleiras pela quinquagésima vez. Então - com certo constrangimento - voltou-se à amiga, Rosalya. Ela a fitou com um olhar inquisitivo e crispou os lábios; já se entediava com a indecisão da morena, e – de certa forma – ressentia-se por ela não notar o quão inoportuna estava sendo. Todos os modelos expostos eram de autoria de Leigh, seu namorado, afinal, e o fato de Louise não simpatizar com nenhum deles deixava-a enfurecida.

  - Louise, vamos! – disse, olhando-a de cima a baixo. – Ele não vai julgá-la pelo modo de se vestir.  

  Louise suspirou, apoiando-se em uma arara repleta de vestidos dos mais variados comprimentos. Já não sabia o que fazer para espantar seu desânimo, e a chuva lá fora em nada parecia ajudar. O céu nublado, na verdade, só servia de incentivo para que ficasse ainda mais melancólica.

  Olhou para Rosa e, em seguida, para Leigh, que estava pacientemente debruçado sobre o balcão. O rapaz quase não pronunciara nenhuma palavra desde sua entrada na loja, limitando-se a rabiscar novos modelos em um papel de rascunho.  

  - Não há nenhuma peça de roupa que a agrade, senhorita Louise? – ele fez-se ouvir, por fim, erguendo o olhar.

  - N- não é bem isso. – respondeu-o e, sob o olhar fulminante da melhor amiga, apressou-se em adicionar: - S- seus modelos são lindos, Leigh, mas nenhum...

  Silenciou-se. Olhou pelo vidro molhado da vitrine em direção às ruas. Será que tinha sido uma boa ideia?

  - Ah, qual é! – Rosa tocou em seus ombros, despertando-a dos devaneios. – Eu já te disse, Lou. Ele não vai ligar para o que veste ou como se maquia, sua boba! Ele já te disse o quanto te acha atraente, não é?

  A garota suspirou mais uma vez. Era verdade. Nathaniel já lhe dissera várias vezes o quão bonita era, mas, de uma forma ou outra, aquela ocasião parecia exigir algo a mais. Era a primeira vez - desde que oficializaram o namoro - que sairiam para ir ao cinema, e Louise sentia que aquele era um passeio especial.

  - É, mas...

  Era verdade que estava um pouco atordoada, sim. Afinal, descobrira não ter um look à altura apenas no dia anterior, e tal descoberta a guiara para a loja dos amigos. Até ligara para o namorado a fim de “reorganizar” o cronograma, o que – na verdade – fora apenas um artifício que usara como desculpa para encontrar a roupa perfeita para o dia. “Hey, em vez de vir me buscar, me encontre em frente ao shopping, tá legal?”.

  - Mais confiança, menina! – a platinada deu continuidade, um timbre de voz espontâneo tomando conta do ambiente. – Olhe só! Você já está linda por si, só. Até fazer cachos se submeteu a fazer...

  Era verdade. Louise virou o rosto minimamente e captou o vislumbre das pontas de seus cabelos: contraditório ao habitual, elas se curvavam em uma cascata de cachos, caindo majestosamente ao longo de suas costas. Seus fios, antes tão lisos e escorregadios, adquiriram um volume digno de atrizes famosas, e estavam tão lindos e alinhados que facilmente seriam indicados para a elaboração de um comercial de shampoo.

  Ainda assim, não estava satisfeita.

  - Mas Rosa! E- eu... – hesitou.

  A amiga olhou por sobre seus ombros e foi até os cabides. Louise a acompanhou com o olhar enquanto ela revirava cada mínima peça de roupa ali, em uma busca minuciosa.  Por fim, optou por um vestidinho plissado de cor rosada. Entregou-lhe logo em sequência, e Louise o analisou por um momento: o bustiê tinha uma cor diferenciada de todo o resto de tecido, em um tom mais perolado que parecia combinar perfeitamente com seu tom de pele.

  Sorriu. Mas como é que não o havia notado antes?!

  - Tome. – Rosalya disse. – É delicado, romântico, não curto demais e faz um par e tanto com seu scarpin preto.

  Ambas riram, enfim, e Louise se direcionou ao provador. Rosalya estava certa, afinal; Nathaniel sempre fora aficionado pelo estilo mais romântico, ademais.

  Saiu após se vestir e se admirou no espelho. É... A peça lhe caíra bem, por fim, e ela não pôde deixar de abrir mais um sorriso confiante.

  - Aqui! – Rosa apareceu por trás de sua figura, entregando-lhe um brinco adornado por pérolas. Perfeito. — Agora sim, está linda!

   Enfim dera-se por satisfeita, ao que rodou mais uma vez em frente ao espelho, em uma visão de 360º graus.  Tudo, agora, parecia combinar: o batom mate vermelho era quase da mesma cor que a saia, e as pérolas do brinco – de certa forma - chamavam a atenção para a fisionomia delicada de seu rosto. Enfim, sentira-se feliz com a escolha.

  - São €300¹, senhorita Louise. – Leigh a informou. – Pagará em crédito, débito ou...

  Louise empalideceu.  €300?! Os dois só podiam estar de brincadeira... Não tinha maneira de ela ter essa quantidade de dinheiro.

  Gaguejou.

  - R- Rosa! – olhou para a amiga, o semblante congelado no mais puro horror. – C- como é que você me oferece um vestido de €300, sua louca?!

  Não tinha jeito. O dinheiro que lhe restara realmente era insuficiente, e pedir um empréstimo aos pais estava fora de cogitação; o scarpin preto também era novo, afinal, e fora comprado com o cartão da mãe. Pedir por mais seria um abuso, e – além do mais – o emprego de professor de história não permitiria que o pai lhe desse esse luxo.

  - Desculpe, Leigh. – disse, entristecida. – Mas não dá. Fica pra outra ocasião...

  Leigh baixou os olhos por uma ínfima fração de tempo. Comovera-se com a história da garota, finalmente, e se sentira sensibilizado com a devoção que tinha para com o namorado. Encarou-a.

  - Fique. – sorriu. Louise arregalou os olhos, e Rosalya o fitou como se inquirisse um “vai fazer fiado?!”. Ele continuou: - Você é uma cliente muito fiel de nossa loja, senhorita Louise, e é melhor amiga de minha namorada. É o mínimo que posso fazer.

  Louise mal conteve o sorriso. Sentira-se - de fato – endividada com o garoto, mas, por ora, tudo o que podia fazer era agradecer. E foi com essa alegria que saiu da loja, deixando um Leigh risonho e uma Rosa desacreditada para trás.

{#}~{#}

  A chuva castigava as ruas de Paris, e foi com certa pressa que Louise correu para debaixo dos toldos mais próximos, trilhando um caminho de “fuga” pelo centro da cidade. Faltam duas horas para que o encontro tivesse início, mas a garota insistira na ideia de comprar uma lembrancinha para o namorado antes.

  Tudo tinha de ser perfeito, afinal.

  Olhou ao redor. Em direção a uma livraria, mais precisamente, cuja vitrine expunha vários exemplares de “Sherlock Holmes” em suas prateleiras.

  Abriu um sorriso. Sabia o quão apaixonado por aquele tipo de literatura era o namorado, afinal, e dar uma cópia a ele – porque, aparentemente, Nathaniel possuía um grande acervo de livros àquele estilo – parecia a alternativa certa.

  “Ele vai amar”, pensou consigo mesma antes de correr na direção da loja. Comprou o tal livro e pediu para que a balconista o embrulhasse em um papel decorativo. Saiu de lá aos pulos, porém, ao executá-los, não notou o bueiro em seu caminho, o que resultou em uma situação – no mínimo – catastrófica. O salto do scarpin preto inventara de ficar preso em uma das perfurações da tampa, obrigando a pobre jovem a dar uma guinada para que se soltasse. Mas a decisão, entretanto, foi péssima: mesmo com o impulso, o salto não cedeu, e simplesmente se partiu ao meio quando Louise insistiu em se soltar.

  - Ai! – gritou em um impulso, ao que, a fim de completar a desgraça, foi em direção ao chão e deu com a cara na lama.

  A chuva, de súbito, aumentou. E já era tarde demais para recuar: Louise já estava com as vestes repletas de sujeira, a maquiagem borrada devido à torrente de água que caía em seu rosto. Para agravar o problema, um carro que passava por ali havia aumentado a velocidade bem no ponto em que uma poça de água se formava, esparramando tudo sobre ela.

  Baixou o rosto. O que faria agora, afinal? Seus cabelos, antes tão sedosos e perfeitos, umedeceram e voltaram ao estado normal, as roupas novas se encharcaram com o deslize que cometera. Fora – era claro – o scarpin preto, que se quebrara e, provavelmente, não tinha conserto.

  As lágrimas se acumularam sob as pálpebras. Conseguira, por sorte, salvar o presente, mas aquilo era o de menos. Após tantas horas em frente ao espelho e tanta discussão com Rosalya para decidir o que vestir, como é que encontraria o namorado?

  Olhou para cima, amaldiçoando a chuva. “Maldita”, pensou. “Maldita chuva! Por que justo hoje...?!”.

  Ergueu-se, cambaleante. Por sorte, um senhor bondoso a ajudou na tarefa e a abrigou da chuva com sua sombrinha até a entrada do metrô, que era o lugar mais óbvio para se dirigir em uma situação daquelas. Louise não podia encontrar Nathaniel, finalmente. Não daquele jeito.

  Era melhor ir para casa. Lá, apesar dos pequenos contratempos, ela poderia dar uma ajeitada em sua aparência deplorável antes de se encontrar com o rapaz, e foi com essa intenção que agradeceu ao tiozinho antes de descer as escadas, encharcada; os degraus ainda ficavam ao ar livre, molhando-a mais ainda. “Mas tudo bem”, continuou. “Já está tudo arruinado, mes...”.

  Os respingos pararam, de súbito, e foi só então que Louise se deu ao trabalho de olhar para cima novamente. Um guarda-chuva fora colocado sobre si, impedindo a chuva de deixá-la mais encharcada. Conformada com a ideia de ainda ser o tiozinho, Louise virou, um sorriso forçado em seu rosto. Mas, na verdade, a pessoa que a privara das gotas era bem diferente do que o imaginado, e ela petrificou.

  Era Nathaniel. Diferente da jovem, ele estava deveras elegante com sua jaqueta nova de couro e calça jeans. Os óculos de aro preto – que, após uma consulta com o oftalmologista, passaram a ser seu acessório mais marcante -, davam um toque de seriedade ao look, deixando o garoto ainda mais sexy.      

  Ele sorriu.

  - Oi, princesa. – cumprimentou-a. – Tudo bem?

  Louise arregalou os olhos.

  - N- Nathaniel! – arquejou, e algo em seu âmago pareceu gritar para que corresse. Respirou fundo, porém, e permaneceu estática. – M- mas o que... A essa hora...

  - Vim mais cedo para comprar suas flores... – disse, ao que lhe estendeu um lindo buquê de rosas vermelhas. Louise, primeiramente, teve o ímpeto de pegar o ramalhete apenas para se esconder atrás dele, mas, por sorte, se deteve. – O que é que você tem, hein?

  - N... Não... – uma pausa. As lágrimas insistiam em vir, deixando-a a ponto de explodir em um espetáculo de melancolia. – Não olhe pra mim! E- eu... Eu estou horrível!

  Nathaniel se aproximou. Riu em seguida, o que fez com que a moça o fitasse, desacreditada. Ele pousou os dedos sob seu queixo.

  - Lou... – começou, um sorriso complacente se formando nos lábios. – Você é linda! Eu não me importo com o jeito que se veste ou se maquia, afinal...

  Naquele mesmo instante, não pôde deixar de se lembrar de Rosalya, que dissera a mesma coisa. Mas aquilo, infelizmente, não mudava o fato de ela estar envergonhada, e foi com isso em mente que se empertigou, a boca crispada em um biquinho.

  - M- mas... A minha maquiagem... – não deu para aguentar: o choro veio à tona. – E o meu vestido....!

  O rapaz fez que não. Pegou-a pela mão e a impediu de correr quando fez menção de fugir, trazendo-a para o calçadão em um puxão.

  - Gosto de você da forma mais natural possível, Lou, e você sabe disso. – permitiu-se soltar mais um risinho. Louise o fitou, e ele continuou: - Se tem tanta vergonha assim, em vez de ir ao cinema, podemos assistir a algum filme lá em casa. – uma pausa. – S- sem segundas intenções, viu?!

  Louise baixou o rosto. Então, como se nada daquilo tivesse ocorrido, permitiu-se rir também. “Mas como sou boba”, o pensamento lhe invadiu instantaneamente, e ela olhou para cima. “Não foi tão mal, enfim...”.

  - Vamos?

  Ela fez que sim, aproveitando o momento para se agarrar aos braços do loiro. Ele a amparou, e foi assim que ambos desceram a rua chuvosa, contentes pelo simples fato de já estarem juntos.

  - Vamos! – Louise sorriu abertamente, conformada. Ela não havia sido a vítima de uma situação constrangedora, por fim. Fora, na verdade, abençoada. Abençoada pelos pingos da chuva. 


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Notas finais do capítulo

¹ €300 - aproximadamente R$1289,00.


{#}~{#}


E aí, gente? O que acharam? (Risos).

Para falar a verdade, eu não sei por que escrevi isso; só me deu uma p*** vontade de fazer algo fofo relacionado a esses dois, então... Voilá!


Obrigada a quem leu até aqui! Nos vemos na próxima!



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