Moon Lovers: The Second Chance escrita por Van Vet, Andye


Capítulo 54
Decisão e Apoio


Notas iniciais do capítulo

NÃO, HOJE NÃO É DOMINGO!

Mas é um dia muito especial para essas autoras e para cada um dos leitores que têm acompanhado firmes e fortes cada nova atualização dessa fanfic.
Estamos completando 1 ano de postagens!!! E mesmo sabendo que a data oficial é amanhã, quisemos nos adiantar na comemoração adiantando um capítulo para vocês.

Queremos, com isso, agradecer cada comentário aqui no Nyah!, no grupo, cada recomendação e indicação recebida. Queremos agradecer as palavras de incentivo, os elogios, as criticas, os desesperos, as ameaças de morte, as palavras de amor e afeto... Isso é maravilhoso e nos impulsiona a tentarmos melhorar a cada dia e trazer, sempre, algo novo e bacana para vocês!

As autoras agradecem a sua participação e, como prova desse agradecimento, vamos de capítulo novo!

PARABÉNS PARA NÓS!!!

PS: Tem capítulo domingo de novo! :D

감사합니다



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/715437/chapter/54

 Taeyang tivera uma péssima noite de sono embalada por preocupações, tristezas e ansiedades. Era longínqua a recordação do momento em que trabalhar na empresa não o reconfortava e distraía. Hoje era mais um desses dias.

A caminho do escritório, seu coração pesava meia tonelada e suas pernas eram feitas de chumbo. Tão logo viu o nome de sua empresa, de sua família, as letras reluzindo com os raios mornos do sol da manhã, estampados no alto do edifício, a terrível verdade o abateu mais uma vez: em breve Wang Hansol não poderia mais apreciar aquela vista.

Trata-se de um câncer muito grave, em um órgão muito importante, que já está em seu estado mais avançado… Em resumo, o Sr. Wang não tem mais muito tempo entre nós…”.

Ainda com a sentença médica em mente, o herdeiro estacionou seu carro e subiu para o andar dos escritórios. Ao sair do elevador, cumprimentou as secretárias e demais funcionários do recinto, encontrando olhares cautelosos por onde andava.

O ambiente estava duplamente carregado, a crise na empresa aliada à certeza da ausência permanente de Hansol não conseguiam ser ignoradas. Os semblantes poderiam significar pesar, descontentamento ou medo de perderem o emprego. Taeyang experimentou uma nova pressão envolvendo seu âmago.

Acenou brevemente para sua própria secretária e entrou na sala deixando a pasta em cima da poltrona. Ao depositar o objeto, observou uma pequena pilha de documentos sobre a mesa, que ele pegou sem vontade já imaginando o seu conteúdo. Eram os pedidos dos acionistas para desligamento da empresa. Sete no total. Com isso, apenas Yoseob e outros dois companheiros antigos de seu pai permaneciam no barco. Era muito pior do que ele pensara.

— Taeyang… — alguém o chamou às suas costas. Um de seus irmãos, parado diante da porta aberta do escritório.

— Eujin? Aqui… tão cedo? Aconteceu algo? Papai…

— Jung veio do hospital há alguns minutos… Papai teve uma boa noite de sono e, por hora, não corre risco de vida — disse com sua voz afável. O rosto estava marcado por olheiras e olhos inchados — E você? Conseguiu descansar um pouquinho…?

— Quase nada — Taeyang abandonou os documentos na mesa e massageou a nuca, trazendo outra pergunta importante para a conversa — Shin deu notícias?

— Não — o mais novo respondeu entristecido — Estou tentando, mas o celular dele não responde. Ele precisa saber sobre papai… E… E precisa saber que nos importamos com o que está acontecendo na vida dele… As acusações, a governanta Nyeo, as últimas palavras de papai para ele… Nem consigo pensar em como ele deve estar se sentindo…

— Ele vai aparecer, Eujin — Taeyang tentou confortar o irmão, embora não tivesse certeza alguma da afirmação que proferia. Da última vez que Shin desapareceu, demorou cinco anos para voltar — Agora precisamos saber quem será o próximo CEO. Pela ordem…

— Estamos todos te esperando na sala de reuniões.

— O que? Quem? — ele indagou, surpreso.

— Já estamos reunidos e devemos ter esse assunto esclarecido o mais cedo possível. Vim até seu escritório para te chamar. Você é o principal assunto desta reunião, irmão.

Não estavam todos reunidos. A sala de reunião, na verdade, nunca esteve tão vazia. Sem seu pai e a maioria dos acionistas, as poltronas vagas ao redor da extensa mesa retangular apenas faziam aumentar a sensação de desmoronamento que a Wang S.A. enfrentava.

Taeyang não tinha certeza de como começaria a pauta do dia, mas reorganizou as singelas anotações que preparara às pressas durante a madrugada e iniciou sua fala tendo Yoseob, dois acionistas e alguns dos irmãos como espectadores.

— Devo ser honesto com todos os presentes nesta sala que… é… Hoje é meu último dia como CEO e eu… — um longo e doloroso suspiro — Eu esperava que papai estivesse aqui conosco… Esperava que nós pudéssemos estar comemorando o sucesso do novo projeto… — à sua esquerda, Sun fungou baixinho e limpou uma lágrima solitária que, de repente, caiu à menção do pai — Antes de apresentar o atual estado da empresa para minha irmã… É que… É difícil até começar isso, mas… Me perdoem por fracassar. Me perdoem, se possível, por deixar nosso projeto ser roubado. Não sou digno de estar à frente da Wang S.A., Yun Mi, eu…

— Você vai continuar onde está — Yun Mi atropelou as explicações desajeitadas de Taeyang fazendo com que ele a fitasse atentamente. Encarando-a melhor, sem maquiagem e pálida, ele encontrou dor e sofrimento no olhar dela, embora também estivesse lá a velha resiliência e obstinação — Estou abrindo mão da minha vez. Não quero ser a próxima CEO.

— Yun Mi… É a sua chance, não diga algo assim…

— E quando chegar a minha vez, também abdicarei — Sun, que havia se recomposto um pouco, pronunciou-se interrompendo o irmão mais velho.

— Esperem…

— E eu não sei quanto a Shin, mas também estou fora dessa jogada. Não quero a liderança da empresa. Ela não me cabe, não sirvo para isso — Jung, a voz anormalmente baixa, uniu-se aos demais naquela decisão.

Taeyang franziu o cenho, confuso. Passado um instante de desorientação, ele percebeu que os mais novos não estavam conseguindo lidar com a notícia da doença do pai e, provavelmente, por isso diziam aquilo. E ele nem poderia culpá-los. Entregar o caos que se transformara seus patrimônios para qualquer um deles era, no mínimo, cruel demais. Eujin olhou para o irmão com solidariedade e explicou com suas próprias palavras:

— Nós nos decidimos ontem. Queremos você guiando a empresa, pelo menos até que as coisas se resolvam. Ela tem de estar nas mãos de alguém que saiba o que está fazendo, meu irmão.

— Vocês acabaram de me escutar?! Estão vendo o resultado diante de vocês? Todos os nossos bens estão chegando perto de ruir e isso aconteceu comigo como CEO. Eu fui o incompetente aqui e, ainda assim, me querem por mais tempo…?

— Nada do que houve de errado foi culpa sua, Taeyang — Yun Mi respondeu de prontidão — Vamos descobrir o que aconteceu, quem nos traiu, porque é certo que foi alguém de dentro, e estou empenhada nisso. Hoje mesmo irei para a fábrica investigar…

— Eu vou junto, Yun Mi — Eujin ofereceu-se resoluto — Também quero ajudar. Shin também não teve nada a ver com aquilo e vou provar!

— Isso eu também já sei — a moça disse ríspida, mas acrescentou menos agressiva — Me ajude se quiser, e como puder… Acho que, quanto mais, melhor.

— Eu e Sun ajudaremos no que conseguirmos, tanto aqui na empresa quanto na investigação — Jung apoiou calmamente, o rapaz aparentava uma melancolia genuína ao falar. Sun olhou para ele e apenas concordou, balançando a cabeça.

Os ares dentro da sala não eram dos mais otimistas. Os filhos de Hansol ostentavam todos olhos vermelhos e semblantes desolados. Cada um aprisionado em sua própria dor, que se unia na dor comum pelo que acontecia com o pai. Entretanto, se observados com mais atenção, os sentimentos poderiam ser esmiuçados individualmente também.

Jung, por exemplo, vivia uma série de dilemas internos ao descobrir que Shin não era seu irmão completo. A mãe e o irmão maldizendo a todo minuto e criando o caos na família o irritavam mais do que tudo atualmente e ele achava que já não poderia suportar.

Eujin continuava se sentindo culpado por ter odiado o pai e não ter se concentrado em prestar atenção no velho homem que estava morrendo, deixando de lado seus próprios problemas para se dedicar, exclusivamente, àquele momento de luta e dor.

Sun, que nunca precisou lidar com a perda, muito menos de alguém tão próximo e que amava tanto, nutria um sentimento de impotência que o deixava abalado. Em seu âmago, queria poder controlar tudo, mas aquilo não era um de seus jogos.

Yun Mi, um fogo indignado e constante queimando dentro dela, não se conformava de raiva pelo pai esconder sua condição por tanto tempo, sentindo-se, mais uma vez, impotente diante daquela realidade.

Para Taeyang, unindo-se ao sofrimento e à culpa, algo não estava esclarecido:

— Mesmo com papai internado, era desejo dele que todos experimentassem um tempo como CEO… Ele jamais…

— Falamos com papai hoje cedo — Eujin prosseguiu o interrompendo — Quer dizer, Jung conversou… Ele ainda está muito sonolento devido ao efeito das medicações, mas foi enfático em duas coisas: Você deve permanecer como CEO enquanto enfrentamos essa crise e devemos estar unidos em nossas decisões a partir daqui.

— Papai disse isso?

— Ele disse que confia em você, irmão — Eujin confirmou exibindo um sorriso carinhoso para o mais velho.

— É tudo um absurdo! — Gun invadiu a sala reuniões no momento do comunicado de Eujin acerca das escolhas de Hansol. Batendo sua pasta na mesa com força, retorquiu em tom de voz eloquente — É ridículo se valerem do estado de saúde de papai para dominarem a liderança. Não podemos contar com a opinião de alguém dopado no hospital! Mesmo que esse alguém seja meu pai, ele não está no seu juízo perfeito. Não aceito. Não aceito!

— Você pode, pelo menos uma vez, se unir a nós e parar com essa mania de perseguição?! — Jung reclamou, irritado — Estamos tentando resolver toda essa bagunça, Gun.

— Não aceito essa decisão, é minha palavra final — o outro disse ao seu modo mimado de ser — Minha opinião também vale neste lugar, sou herdeiro tanto quanto vocês e…

— Arghh, não aguentamos mais ouvir seus latidos, por favor — Yun Mi objetou, apertando o rosto com as mãos para se controlar e não criar uma cena ainda maior contra seu meio-irmão.

— Não estou nem aí para o que incomoda ou não seus ouvidos, garota — rebateu ele. Apesar da pompa imperiosa, Gun também mostrava olhos inchados. Na verdade, mirando-o detidamente, era notável que suas mãos tremiam e o brilho sagaz de sua vaidade havia se esvaído.

— Nós devemos votar — Yoseob, até então calado e taciturno em sua poltrona, enfim interveio — Devemos decidir esse impasse como sempre decidimos as coisas por aqui. Gun não está de todo errado. Hansol está internado sob forte efeito das medicações, sua opinião não é muito confiável no momento… Por outro lado, não podemos ficar sem um líder por nem mais um dia sequer. A empresa está ruindo, senhores. Discussões, gritaria, esperneio e birra não nos cabem mais. Portanto, quem vota para a permanência de Taeyang até segunda ordem? — o próprio acionista ergueu a mão.

Além dele, Yun Mi, Eujin, Sun e Jung apoiaram a decisão sem pestanejar. Um dos outros dois acionistas ergueu a mão vacilante também. Enraivecido por aquela virada de mesa eficiente do velho amigo de seu pai, Gun empurrou uma poltrona que estava ao seu lado para longe e saiu da sala batendo a porta com força.

Taeyang continuou no mesmo lugar, em pé atrás de sua poltrona, sentindo o coração bater loucamente dentro do peito, ansioso para ter um momento a sós com Na Na e contar o quão assustado com tamanha responsabilidade ele estava.

***

Foi com rapidez que Mi Ok subiu a ladeira que a levaria de sua casa até a praça onde costumava conversar com Jung nos finais das aulas de defesa pessoal, antes de ser levada por ele até a porta de seu lar. A rapidez era em resposta à ligação do rapaz, chamada essa que ela estranhou e se preocupou.

Avistou o jovem Wang sentado no banco que geralmente ficavam juntos e se aproximou apressadamente. Ao chegar mais perto, sentiu o peito dar um solavanco, Jung, sempre tão bonito, mexia com seu coração de uma forma que ela não se cansava de experimentar. Estava muito apaixonada, não tinha porque negar essa condição para si, e queria estar ao seu lado constantemente, mas o seu sentimento não deixou passar despercebida a tristeza que ele emanava.

As duas árvores, esbranquiçadas pela neve que caiu durante todo o dia, pareciam fazer o rapaz brilhar aos seus olhos. Ele, com uma camisa grossa listrada, um casaco marrom pesado por cima e uma calça jeans azul, tinha os cotovelos apoiados sobre as coxas, a cabeça abaixada e sequer notou enquanto ela se aproximava, tão absorto em seus pensamentos.

— Jung… — ela o chamou ao seu lado, o tom baixo, fazendo com que o rapaz levantasse a cabeça e a olhasse. O rosto estava apático. Os olhos, inchados e confusos. Eram olhos de quem tinha chorado.

— Que bom que já chegou — ele falou de uma vez. Mi Ok, pega de surpresa, não esperava o que ele fez a seguir.

Com um único gesto, Jung ergueu os braços na altura da cintura da jovem, a envolvendo e lhe trazendo para perto dele. A cabeça, repousando sobre a barriga de Mi Ok, parecia quente para ela que tentou refrear o disparo do coração e a acelerada que a respiração deu.

O herdeiro, parecendo verdadeiramente abalado, não falou nada e a puxou para mais perto, relaxando a cabeça e os ombros. Mi Ok, atônita e sem saber o que fazer ou como reagir, num impulso, levou uma das mãos até a cabeça dele e acariciou seus cabelos numa tentativa silenciosa de consolá-lo, mesmo que não soubesse o porquê.

— Desculpe por te fazer sair de casa nesse frio e vir me encontrar aqui — ele começou enquanto recebia os cafunés. Mi Ok, de pé, sentia seus sentimentos em conflito, feliz por ter sido chamada e triste por vê-lo assim.

— Não precisa se desculpar, Jung — ela respondeu, agora com as duas mãos acariciando a cabeça dele.

— Eu estou tão confuso… Aconteceram umas coisas com a minha família e eu não sei o que pensar, como agir… o que fazer.

— Coisas… ruins? — indagou sem querer parecer enxerida.

— Coisas que eu queria enfiar dentro de uma caixa e nunca mais ter de abrir.

— Entendo… Mas, olha, não se preocupa… Por mais que essas as coisas aparentem serem complicadas no início, depois você vai perceber que elas vão se acalmar e se resolverem sozinhas.

— Espero que seja assim — ele a olhou e sorriu sem muita força, lhe pegando pela mão e fazendo com que ela sentasse ao seu lado — Obrigado por ter vindo.

— Não agradeça. Pare de bobagens… Jamais deixaria você só. Pareceu tão triste quando me ligou.

— E estou… É tudo muito confuso. Eu estou me sentindo perdido…

— Quer conversar sobre isso ou apenas companhia para esse momento? — ela o olhou profundamente, Jung inalando aquela sensação reconfortante que emanava dela.

— Meu pai foi internado… — falou de uma vez olhando um ponto qualquer à sua frente — Tem um câncer terminal e estava escondendo da gente por um bom tempo.

— Sinto muito… Sinto muito, mesmo. Como ele está? Eu posso fazer algo?

— Obrigado… Mas não tem muito o que fazer além de esperar. Ele está na UTI, estável… Mas o estado é crítico. Ele ficou pior depois que tivemos um problema na empresa, com o lançamento de um carro novo…

— Que tipo de problema?... Se quiser, pode me contar — ela incentivou quando ele parou de falar, embora já tivesse visto na internet as fofocas sobre o caso.

— Nosso projeto foi roubado — um suspiro pesaroso — Outra empresa o apresentou como se fosse deles.

— Uau… Isso me parece um grande problema realmente…

— E é… Meus irmãos estão desesperados com toda a repercussão. Nossa empresa acabou tendo problemas, mas o pior ainda está por vir — ele continuou — Gun acusou Shin de ter liberado as informações e teve muita briga na minha casa, foi bem difícil ver meus irmãos se voltarem um contra os outros daquele jeito… Foi pior do que todas as outras vezes...

— Mas esse seu irmão Gun é realmente um sem noção — ela falou irritada, lembrando-se de Na Na — Ele tem prazer em prejudicar as pessoas?

Jung a fitou com atenção. Mi Ok, corando de leve, temeu ter falado demais com sua grande boca que nunca se calava. Estava prestes a pedir desculpas pelo modo desrespeitoso como as palavras saíram quando ele comentou:

— Não sei por que ele é assim… Às vezes acho que mamãe mimou ele em excesso ou criou meu irmão de uma forma que não deveria… Ela mesma faz coisas que não compreendo…

— Pode ser, mas tem uma pontinha de maldade nele também — Mi Ok, você simplesmente não consegue se calar, não é?!

— Sim… Não discordo. Diante disso tudo, meu pai afastou Shin da empresa mesmo depois de todos esses meses que ele se dedicou… De verdade, ele se entregou na fábrica…

— Isso foi bem injusto… Lembro que você sempre falou bem sobre isso, mesmo que tivesse sua birra contra ele…

— Não posso fechar os olhos ao que ele fez. Ele estudou dia e noite para fazer tudo bem feito… e a parte mais chocante vem agora…

— Ainda tem mais?

— Sim… Para defender Shin, a governanta da casa disse para todos que ele é seu filho.

— O que? — Mi Ok, em sua conhecida expressão de choque - boca aberta e olhos arregalados - sobressaltou-se.

— Eu estou me sentindo perdido porque cresci sabendo que ele era meu irmão legítimo, filho da minha mãe, mas consigo compreender agora porque mamãe sempre o tratou tão mal e como a governanta Nyeo sempre o tratou bem. Eu estou triste por ele, estava irritado porque Ha Jin se interessou por ele, até mesmo me afastei, mas isso… Isso é realmente algo muito sério, bem maior do que uma paixão boba sem retorno…

— E ele deixará de ser seu irmão apenas por isso? — Mi Ok foi certeira em sua pergunta, não se importando, agora, com o tom sério utilizado.

— Claro que não! — Jung respondeu de uma vez, enfático — Shin é um bom irmão, mesmo que sempre estivesse distante e calado.

— E por que está confuso? — ela continuou — Não importa quem é a mãe dele, ele continua sendo seu irmão, continua sendo um bom homem como você já me disse outras vezes que ele é. Nada muda.

— Nada muda…

— Absolutamente nada — ela pegou a mão do rapaz e a segurou com firmeza — Se você está se sentindo confuso, imagine como deve estar a cabeça dele. Ele precisa de apoio.

— Você tem razão…

— Sim, eu tenho — ela sorriu com carinho — E também não quero te ver triste. Já falei várias vezes para você parar de tratar seu irmão com frieza. Ele não tem culpa se Ha Jin gosta dele…

— Eu sei.

— Também já te falei para não ficar se iludindo quanto a ela…

— Também sei disso. Já parei faz um tempo, você sabe.

— Então simplesmente pare e ajude seu irmão, ou… Você acredita que ele tem culpa?

— Não… Nenhuma culpa. Ele não parece ser esse tipo de pessoa. Tenho certeza que criaram isso para acusá-lo.

— Então faça a sua parte e o ajude.

— Como? Não quero me meter no meio disso… O outro suspeito é Gun. Como posso defender um e acusar o outro?

— É… realmente é complicado… — ela parou, parecia refletir — O que seus irmãos estão fazendo sobre isso?

— Investigando… Querem a verdade. Eu também quero, mas não ao custo de acusar um deles.

— Então não se envolva diretamente, mas também não seja indiferente. As coisas serão explicadas, mais cedo ou mais tarde e tente não se entristecer quando a verdade aparecer...

— Eu ainda tenho esperança que não seja culpa de nenhum deles…

— Vamos esperar que sim…

— Me arrependo das coisas que fiz… da forma como eu tratei meu irmão… Queria me desculpar e agora nem mesmo sei onde ele está.

— O que? Como assim não sabe onde ele está?

— Ele sumiu faz dois dias e não conseguimos contato com ele. Não sabemos onde ele foi, como está, se está precisando de alguma coisa… Eujin procurou por ele em alguns hospitais hoje de tarde mas não o encontrou. Também temos ligado. Antes o celular chamava até cair na caixa de mensagens, agora está fora de área…

— Provavelmente ele quer ficar só. Imagino que não deve estar sendo nada fácil digerir todas essas coisas. Pense, Jung, ele foi acusado injustamente de algo que pode prejudicar muito a empresa de vocês e logo em seguida soube que o que sempre acreditou ser sua vida não era verdade. Ele precisa de um tempo e de compreensão. Dê um tempo para ele. Tenho certeza que ele vai voltar em algum momento, só não desista dele.

— Eu fui tão imaturo, tão idiota com ele e eu tenho certeza que ele percebeu. Ele foi compreensivo comigo como um bom irmão e eu agi como um bebê chorão irritado e mimado… Tenho vergonha das minhas atitudes…

— Você não fez nada de mal, apenas se afastou e evitou conversas. Não se culpe por isso, tenho certeza que seu irmão entende e não vai guardar mágoas. Se reaproxime e o recompense tudo. Agora sim ele precisa do seu apoio.

— Você está certa — o rapaz concluiu, o semblante mais ameno — Obrigado por sua amizade, Mi Ok.

— Aigoo… — ela ficou encabulada e levemente entristecida pela referência — Ninguém agradece amizade, Jung. Para com isso…

— Tá bom. Então vou fazer diferente — se levantou e olhou para ela, assustada. Lhe estendeu a mão em seguida — Vamos!

Mi Ok mordiscou o lábio inferior enquanto olhava alternadamente entre a mão e os olhos de Jung. Por algum motivo o rapaz achou aquele gesto doce e delicado, estranhamente sensual. Mi Ok tinha belos olhos, eles não eram tão pequenos e sempre brilhavam intensamente. Seus lábios possuíam um desenho delicado e agradável, tão uniforme com o seu rosto que parecia ter sido simetricamente talhado. Ela fez um bico e semicerrou os olhos antes de sorrir e lhe dar a mão, Jung sentindo um aperto esquisito no peito, mas a ajudando a levantar e caminhar ao seu lado até uma barraca ali perto.

— Vamos comer!

Jung, ao lado da garota, conseguia se sentir tão à vontade que parecia estranho. Depois de tudo o que descobriram, da doença do pai e a verdadeira mãe de Shin, era nela que ele pensava, era com ela que ele queria conversar. Por isso, na tentativa de prolongar o tempo dos dois juntos, propôs o convite para comerem e assim, ficarem perto o máximo de tempo que ele poderia ter.

Ele, sentando perto do balcão, vendo o menu e pedindo poções de tteokbokki ao atendente, não reparou o brilho permanente nos olhos da jovem que dividia aquele momento com ele. Mi Ok, ao seu lado, falando amenidades, feliz que ele a procurasse para compartilhar seus problemas, feliz que fosse ela, mesmo que nos pensamentos dele ainda pairasse a sombra que havia criado sobre Ha Jin.

 ***

Gun acordou atordoado com o telefone tocando estridentemente sobre o criado-mudo ao lado da cama. Com a cabeça rodando – havia bebido uísque demais na noite anterior antes de pegar no sono – tateou o móvel e agarrou o fone para se livrar do som infernal.

— O que é…? — rosnou para o ser humano do outro lado da linha — Não disse que não queria ser incomodado por nada?

— Desculpe Sr. Wang, mas é uma urgência — uma voz muito educada e polida se adiantou a argumentar — Sua mãe é a Sra. Yoon Min-joo?

Ao escutar o nome familiar, o herdeiro coçou os olhos para afastar a sonolência e confirmou cauteloso:

— Sim…

— Então, senhor… Ela estava bastante preocupada porque o senhor não a atendia em seu celular e… e achamos melhor liberar sua subida. Ela está indo até o seu quarto…

— Puta merda, por que vocês deixaram?! — Gun acordou de vez, exclamando alto. Muito irritado e com um movimento de brusco, jogou as cobertas para longe e levantou-se da cama — NUNCA MAIS ME HOSPEDO NESSA MERDA DE HOTEL! — gritou para o recepcionista e bateu o aparelho com força sem esperar por resposta.

Paz e Gun eram duas coisas que não se aliavam. Se não era a concorrência dos meio-irmãos, as constantes revezes envolvendo a família a qual pertencia ou as responsabilidades na empresa, era sua mãe, cercando-o, sufocando-o, monitorando-o a vida inteira, desde que ele se entendia por gente, pedindo relatórios completos de Hansol, das suas esposas, do que acontecia na mansão, do que acontecia na empresa e etc.

Ele estava precisando apenas de alguns dias para absorver a doença do pai e a traição de Nam Seong. Longe de tudo e de todos, apenas ele e sua raiva por ver Taeyang agindo como uma raposa, subindo ao cargo de CEO pelo aval dos irmãos.

Ainda estava tentando se localizar no quarto, a visão turva e os sentidos torpes, procurando suas calças pelo luxuoso quarto em que estava hospedado, quando a campainha começou a tocar furiosamente na sala de estar. Enfim encontrou a peça de roupa, escondida entre a cortina blecaute e os pés de uma poltrona, e tratou de vesti-las o mais rápido que conseguiu para se livrar daquele barulho agudo de sineta, que somente fazia sua dor de cabeça duplicar.

— Que diabos está acontecendo que não me atende nesse celular por nada? — Empurrando-o para o lado, Min-joo passou por ele como um furacão e entrou no recinto encarando tudo com ar de desprezo e desgosto. Seus saltos vermelhos tilintavam pelo piso encerado enquanto deixava a bolsa de mão em cima do sofá — Estamos no meio da semana, é quase meio-dia e meio e você está enfiado dentro desse quarto de hotel fazendo o quê?

Gun bufou no limite da paciência e caminhou para o mesmo sofá em que a mãe havia deixado a bolsa, jogando o corpo molemente sobre as almofadas. A mulher, inquieta, andou para as janelas do cômodo e escancarou as cortinas num movimento só. Ele levou a mão no rosto, a claridade do dia ferindo seus olhos.

— O que é isso? — Min-joo identificou uma garrafa de bebida quente quase no fim e um copo vazio sobre a mesinha de centro — Espere aí… — desconfiada, ela aproximou-se do filho e, puxando sua camisa sem delicadeza nenhuma, cheirou-o para confirmar sua suspeita.

— Para… — ele tentou afastar a mão dela de sua roupa.

— Não foi para empresa nem ontem e nem hoje para passar os seus dias se embebedando nesse quarto? Que droga é essa, Gun?

— Estou precisando de um descanso. Como descobriu que eu estava hospedado aqui?

— Descanso? Não há descanso nesse momento. Você não viu o que está acontecendo com seu pai? Essa é justamente a ocasião em que as crias daquelas cadelas vadias vão se apoderar de tudo. Você…

— Arrg… Minha cabeça está doendo… — reclamou por cima do sermão da mãe, massageando as têmporas com as pontas dos dedos.

— E por que está aqui, escondido como um foragido, em vez de ir para a mansão? Não quer estar presente quando seu pai voltar do hospital? Quer que ele te esqueça? Te exclua do testamento?

— Eu quero é que tudo se exploda! — vociferou ficando em pé e conferindo se o restinho de bebida que sobrara na garrafa afundaria de vez sua cabeça e o faria dormir por um mês inteiro. A mãe deu-lhe um tapa na mão antes dele alcançar o frasco caro de uísque importado.

— O que é isso?! Você não está me ouvindo? — disse histérica — Hoje liguei para a Wang S.A. e me informaram que o CEO interino era Taeyang, o filho daquela puta brega! Por que não é você? Por que você não está naquela cadeira? Por que não foi competente o suficiente para tomar o seu lugar na empresa? Por que vem fazendo eu perder meu tempo todos esses anos, me levando a investir em você, se no fim vai virar somente um riquinho bêbado num quarto de hotel? QUE MERDA É ESSA?!!!

— A senhora está abalada por que o amor da sua vida está com os dias contados, mamãe? — Gun revidou após conceder uns segundos de silêncio para os dois, onde absorveu cada palavra da progenitora. Então, reservando um olhar cínico para a senhora à sua frente, prosseguiu numa voz fria e paciente — Acho que sou eu que preciso de explicações aqui… Algum dia me daria a notícia de que Shin não era meu irmão legítimo ou esse seria seu segredo sórdido para carregar para o túmulo?

“Sabe… Eu nunca imaginei que a poderosa Min-joo se sujeitaria a criar o filhote da empregada durante todos esses anos, como se fosse o seu… E eu sempre me perguntei por que você tinha tanto ódio do meu irmão mais velho, sendo que ele também era seu filho. Acabou que me acostumei a somente te seguir e odiar aquele imbecil na mesma frequência, ao invés de, um dia, parar e pensar: Por quê? Por quê? E veio o estalo!

"Eu fiquei decepcionado ao descobrir que a senhora é só uma tola carente da atenção do meu pai que aceitou qualquer coisa para não se separar dele, que, já para lá de velha, engravidou do Jung e se transformou na outra no desespero de voltar para os braços de Wang Hansol. Pelo jeito, não adiantou….”

Gun não teve tempo para prever aquela agressão. Sua bochecha esquerda já estava dolorida do soco que Shin havia lhe inferido três dias antes, mas Min-joo o acertou uma, duas, três, quatro vezes; tapas fortes e consecutivos, naquele mesmo lado do rosto. Quando terminou, a mulher tremia inteira por fora, e o rapaz, por dentro. Ódio era o sentimento latente entre mãe e filho naquele momento.

— Me arrependo daquilo todos os dias, assim como estou me arrependendo de ter parido você e seu irmão.

Agarrando a bolsa, ela saiu sem olhar para trás. Gun desmontou no sofá novamente e, terminado um longo suspiro, ficou espantado por sentir uma lágrima intrusa escorrendo do olho.

***


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Notas finais do capítulo

Glossário:

Concubina Oh - Nyeo Hin Hee
Hae Soo - Go Ha Jin
Hwangbo Yeon-hwa - Wang Yun Mi
Imperatriz Hwangbo - Woo Ah Ra
Ji Eun Tak (OC) - 4ª esposa de Wang Hansol
Khan Mi-Ok (OC)- amiga de Ha Jin
Lady Hae - Kim Na Na
Li Chang Ru (OC) - 1ª esposa de Wang Hansol
Park Soon-duk - Doh Hea
Park Soo-kyung - Doh Yoseob
Park Sun Hee (OC) - Esposa de Sook
Sung Ryung (OC) - empregada/amiga de Ha Jin
Taejo - Wang Hansol
Wang Baek Ah - Wang Eujin
Wang Eun - Wang Sun
Wang Yo - Wang Gun
Wang Ha Na - filha de Wang Sook
Wang Jung - Wang Jung
Wang Mu - Wang Sook
Wang So - Wang Shin
Wang Wook - Wang Taeyang
Yoon Min-joo - Imperatriz Yoo
Nahm Hye - Woo Hee



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