Adrien dormiu com a pulga atrás da orelha, mas quando acordou mal se lembrava da conversa da noite anterior. Tantas atividades programadas pelos professores, não teve tempo para pensar em mais nada ao longo dos dois dias que seguiram. Os alunos tinham que coletar amostras de sementes, fotografar espécies minerais e vegetais, além de catalogar animais encontrados. Até mesmo uma gincana em forma de caça ao tesouro os monitores organizaram, como forma de prender a atenção dos alunos e não os deixar desviar das tarefas. De noite, para aqueles que não queriam dormir cedo, tempo livre para música em volta da fogueira, histórias de terror e outros clichês de acampamento que não poderiam faltar. E nessas horas Nino e Alya nem deixavam Adrien ficar sozinho. Principalmente quando notavam que Chloé também tentava aproveitar um momento a sós com ele. E a loira tentou... muito! E assim, Adrien evitava pensar em Marinette.

Mas na quinta-feira, o último dia da viagem, enquanto fotografava algumas árvores, Adrien ouviu sem querer uma conversa entre Juleka e Rose. Como envolvia seu nome, decidiu se esconder atrás de uma moita e prestar atenção.

− Ai, achei tão romântico a Mari se declarar para o Adrien com um beijo. Foi como se ela fosse o príncipe encantado dele – dizia a loirinha com ar de sonhadora.

− Você notou como essa frase ficou estranha? Tipo, o Adrien seria um príncipe ou uma princesa? Ou um sapo? – ria a colega gótica.

− Ah, Ju, você me entendeu. Foi corajoso e eu acho que o Adrien deveria ficar com ela.

− A Mari é legal. Engraçado o Adrien nem notar nela. Essa menina faz um sucesso com os meninos. Nathaniel, Nino, aquele menino do segundo ano... E a boba atrás do Adrien. Tão óbvio e sem graça! Aff...

− Óbvio e sem graça? – sussurrava Adrien, ofendido.

− Cala a boca, que eu quero ouvir! – Plagg saltou de seu bolso, com seu sorriso felino. E Voltaram a atenção às meninas.

− Não importa. Qualquer menino que namore a Marinette é um sortudo. A Mari é bonita, é divertida, ajuda todo mundo!

 − Ela me ajudou a finalmente participar da foto da turma.

− Totalmente do bem. E todos gostam dela.

− Menos a Chloé...

− De quem a Chloé gosta nessa vida, Ju?

− Dela mesma. E do Adrien.

− É mesmo. Mas a Mari não tem medo dela. Esse ano ela não cedeu o lugar pra Chloé, e ainda desmascarou as mentiras e chantagens dela na eleição do representante de turma.

− Plagg, você precisava ver a Mari defendendo o tio-avô das ofensas da Chloé. Totalmente destemida! E ligeiramente provocante – sussurrou Adrien, enquanto sorria ao lembrar a cena. – Pena que quase estragou o concurso para Mestre Wang Cheng.

Adrien decidiu sair da moita. Incomodava-se em ouvir a conversa alheia. Mas não era só isso que lhe corroía. E o pior foi ter que ouvir Plagg novamente ser coerente.

− Viu, Adrien? As qualidades de Ladybug podem ser comuns a outras garotas.

− E elas não disseram nenhuma mentira, Plagg. A Marinette é mesmo uma garota sempre disposta a ajudar. Lembra quando ela abriu mão de participar do campeonato de Ultimate Mecha Strike III, só pra dar a vaga pro Max? E ela é ótima naquele jogo. Sabia que iria curtir e ganhar!

− Ah, mas você também abriu mão de participar. 

− É. Mas eu queria que a escola ganhasse e a Mari queria deixar o Max feliz.

− E aí, pelo menos se convenceu de que a Ladybug não é tão mais que outras pessoas?

− Plagg, a Ladybug é como muita gente, mas com algo a mais. Seu senso de justiça e sua coragem são elevados ao quadrado! Ela tem um coração do tamanho do mundo!

− E você, Adrien, é completamente diferente quando está mascarado. Já pensou que a Ladybug, sem a máscara, pode ser como qualquer uma dessas meninas que você conhece? Até mesmo... a Chloé?!?

− Aaaarrrggg!!! – ambos exclamaram, com asco.

− De qualquer forma, você não é tão corajoso nem tão ágil sem se tornar o Cat Noir. Mas está endeusando a Ladybug! A julga superior às outras garotas, se esquecendo de que pra ela também é mais fácil, sendo portadora de um miraculous e ganhando habilidades especiais. Acorda, Adrien! Nem Ladybug é uma super-heroína por 24 horas e deve ter seus defeitos. Dê uma chance para todas as outras pessoas do universo te surpreenderem! E me dá queeeeijo! – terminou exaltado o Kwami.

Adrien o encarou sério. Mas virou-se para sua bolsa e voltou-se rindo para o amiguinho, com sua fatia fedida de camembert. Plagg merecia, depois de finalmente se mostrar alguém (ou algo) cujos conselhos eram realmente úteis.