Pov Beau

—Jules? - Olhei estupefato para a garota à minha frente. Céus, havia passado tão pouco tempo, mas ela estava tão diferente. Eu podia ver a diferença claramente, apenas de olhar para ela. 
Senti aquela pontada no peito familiar. Aquilo era arrependimento? Dor? Ou tristeza? Eu nem poderia dizer mais. Acredito que nem eu mesmo poderia reconhecer que sentimento era aquele. A garota hesitou em se aproximar, parecia assustada demais para fazê-lo, como se estivesse vendo um fantasma.
Ela havia cortado os cabelos negros. Aderido um corte curto, ela parecia... Mais forte do que antes. Usava uma regata, bermuda e estava descalça. Aquilo em seu braço era uma tatuagem tribal? 
Havia algo diferente e selvagem em seu olhar. Mas, ela ainda era a minha melhor amiga. Pelo menos pra mim. 
Não havia algum tipo de rivalidade entre vampiros e lobisomens? 
—Beau...? Beau, é você?! - Ela deu um passo à frente, mas hesitou e voltou para trás. Lágrimas invadiram seus olhos, ela os limpou rapidamente, parecia lutar contra a raiva e a tristeza.
—S-Sou... Sou eu, Jules. Beaufort, sou eu... - Gaguejei olhando pra ela. Ameacei me aproximar, mas aquilo deve ter sido uma escolha errada.
—Não, não. Você morreu! Você está morto! Eu vi você... Eu fui no seu enterro! - Ela aumentou o tom de voz.
—É-É complicado... Eu posso explicar, eu... - Gaguejei feito um idiota.
—Não precisamos explicar nada para essa garota. - Royal finalmente se pronunciou com uma voz dura. Lembrei-me que ele estava ali, havia me esquecido disso.
—Você não vai à lugar nenhum sem me dar uma boa explicação. Seus pais estão acabados, pensam que você está morto! Teve um enterro! Se você está aqui, quem foi que enterraram?! - Ela disparava às palavras uma atrás da outra desesperadamente. Engoli o seco e busquei tentar uma explicação plausível. Ela finalmente parou de falar e seus olhos lançaram de mim para Royal. - Por quê diabos você está com...
—Eu posso explicar o que aconteceu, Jules. Me deixe explicar e você vai entender o que está acontecendo.
Ela se mantinha em silêncio. De tristeza sua expressão foi para raiva. Ela se afastou e sua expressão se tornou ódio.
—Então... Todas aquelas estórias de terror Quileutes... Eram verdadeiras, não é? - Seus punhos estavam cerrados e ela mantinha um olhar feroz em seu rosto.
—Jules... - Dei um passo em sua direção e ela se afastou.
—Ela... A Cullen fez isso com você?! Foi ela que...?!
—Não! Edythe nunca! Jules, não foi isso que aconteceu! Bonnie não te contou?!
—Tudo o que eu sei é que da última vez em que te vi, você estava humano! Logo depois você está morto e agora está na minha frente! E você é como eles! - Ela apontou acusadamente para Royal, que mantinha uma cara feia. A mesma que costumava lançar para mim antes.
—Eu... Me deixe te explicar. Por favor, em nome da nossa antiga amizade. Jules, nós nos conhecemos há décadas. Eu continuo sendo eu. Só me dê cinco minutos. - Eu implorei à ela.
—Tudo bem. Cinco minutos.
...
Pov Edythe
—Edy, espere! - Eleonor saiu em disparada atrás de mim, enquanto eu saia da casa.
—Não ouse me parar, Eleonor! - Eu gritei sem mesmo me importar de virar para trás.
Senti a mão de aço de Eleonor em meu braço. Instintivamente parei.
—Edythe, eu já vi várias maneiras como isso acaba. - Archie em um segundo estava ao nosso lado com Jessmine. - Você não deve interferir!
—É claro que devo interferir! Estamos falando de Beau! Eu não posso deixa-lo sozinho nessa situação! - Soltei aquelas palavras sentindo a fúria escapar de minha boca.
Pude sentir Jessmine tentando amenizar a situação, o ambiente passou de tenso para amenizador. Mas, isso não mudou o que eu sentia.
Eu precisava ver Beau. Era só isso que eu precisava, vê-lo. Ele voltaria destruído depois desse reencontro inesperado.
Aquilo tudo era minha culpa.
—Me solte, Eleonor. - Trinquei os dentes. A mão de Eleonor permaneceu em meu braço.
—Edy...
—Me solte! - Gritei dessa vez, tentando me soltar dela.
—Edythe, não complique às coisas. Beau precisa resolver isso, e ele precisa resolver isso sozinho. - Archie se pôs na minha frente.
Pov Beau

—No final... Edythe me deu uma escolha. Nenhum de nós dois esperava por isso ou queria isso. A rastreadora me pegou, e quando Edythe chegou... Eu teria morrido, mas ela conseguiu me salvar. A rastreadora tinha me mordido, e-eu... Eu estava lá. No meu enterro, eu vi meus pais. Eu vi você, acredite... Eu penso neles todos os dias. - Umedeci os lábios e continuei. - Eu ainda estou aprendendo a levar a minha vida assim. Os Cullen me acolheram, me deram uma casa e me ajudam a entender o que eu sou e como me controlar.
Quando finalmente terminei, pude olhar para o seu rosto. A raiva havia dissipado, e em seu lugar havia apenas... Tristeza.
—Eu sinto muito por tudo o que aconteceu com você. Mas, agora... Você é como eles. - Ela rosnou olhando para Royal.
—Os Cullen são uma boa família, Jules. Eles não atacam pessoas, nem todos são iguais.
—São sanguessugas!
—Mas, não atacam pessoas! Carine ajuda elas, Earnest é um homem bom.
—O que fizeram com você?
—Eu ganhei uma nova chance de viver. Eu sempre vou ter um arrependimento, mas...
—Uma nova chance de viver...? Com ela? Pelo que eu sei os Cullen vivem em par cada, então você e ela...?
Fiz que sim com a cabeça.
—Beau... - Ela balançou a cabeça. - É isso o que você quer? Ficar com ela? Aquela garota frígida? Você nunca vai ter filhos!
—Foi... Foi um sacrifício que eu escolhi fazer. - Sussurrei e sabia que ela tinha ouvido.
—Sacrifício... E seus pais?
—Meus pais... Eu... Eu sempre vou amá-los e sempre vou pensar neles.
—Temos que contar para Charlie...!
—Não!
—Beaufort!
—Ele não pode saber!
—Você acha justo deixar ele sofrendo assim e você estando aqui?!
—Eu ainda sou novato nisso e eu não quero colocá-lo em risco! Os Cullen não violaram o tratado, a trégua ainda continua.
—Foi isso que ela falou para você?
—Edythe não tem nada a ver com isso! - Busquei defende-la.
—Ela tem tudo a ver com isso! Foi ela que te arrastou para esse mundo para começo de conversa!
—Ela nunca quis isso! Jules, você é a minha melhor amiga...
—Ainda somos amigos? - Ela me olhou com uma expressão duvidosa.
—Jules...
—Somos de mundos diferentes.
—Mas, eu continuo sendo a mesma pessoa.
Ela evitava olhar nos meus olhos.
—Por favor, você me conhece...
—Eu conheci um menino! Um garoto que era bom, e isso o que eu estou vendo... Talvez ainda haja um pouco dele ali, mas... Não é mais o mesmo.
Ela se afastou.
—Jules? - Me aproximei e ela se afastou com um olhar triste.
Antes que eu pudesse fazer algo, Jules desapareceu no meio das árvores. Pude ouvir o som de patas contra a terra se afastando rapidamente.
—Deixa ela ir. - Senti a mão de Royal em meu braço.
Me afastei dele e rumei em direção à casa.
...
Pov Edythe
—Archie, você não...! - Gritei com ele pela última vez, mas parei. Meus olhos rumaram para às árvores à nossa frente. Logo Beau surgiu, seus olhos foram até nos e ele logo desviou os olhos. Royal seguia atrás dele, parecia estar confuso com a situação toda.
—Beau... - Me soltei das mãos de Eleonor. Ele lançou um rápido olhar para mim quando toquei em sua mão.
—Eu... Eu preciso ficar sozinho um pouco, ok? - Ele deu um sorriso fraco, um olhar cheio de dor e sem dizer mais nada... Ele entrou dentro casa.
Aquilo era tudo culpa minha.