Abstrato escrita por roux


Capítulo 7
Uma Conversa Inesperada




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— Você viajou por quatro horas só para vir até a minha festa de escola? — Eu perguntei para Lucas que continuava sorrindo daquela forma sacana e alternava o olhar entre mim e Guilherme. — Eu não imaginei que você fosse tão maluco assim.

— E quem disse que eu vim só para a festa? Eu vim passar um mês aqui. As férias inteiras com você, e se não se importar... Achei que poderia ficar na sua casa, mas se for incomodo fico em um hotel. — Lucas disse me encarando.

— É claro que pode ficar lá em casa. Eu só não estava esperando isso. A minha mãe... — Eu comecei a dizer, mas fui cortado por Lucas.

— Ela adorou me conhecer pessoalmente, foi ela que passou o endereço da escola! Eu deixei minhas coisas no seu quarto, a câmera não mostra toda a sua bagunça. — Meu amigo falou rindo. — Mas quem é esse? É ele?

Eu o olhei com a cara feia. O que ele estava pensando em dizer. Mas era esse sim. Então eu balancei a cabeça em afirmativa e fiz uma careta feia que dizia mais ou menos “EU VOU MATAR VOCÊ SE VOCÊ FALAR QUALQUER COISA INDISCRETA AGORA” Ele pareceu entender.

— Esse é o Guilherme! — Eu disse para Lucas e apontei para o Gui que estava me olhando de cara feia. — Gui, esse é o Lucas o meu melhor amigo da outra cidade. Eu já falei muito dele, lembra?

Gui balançou a cabeça em afirmativa. Ele parecia mais bravo ainda agora. Eu sorri sem graça e virei para Lucas novamente. Eu suspirei fundo, pois a noite pelo jeito seria longa.

— E então podemos ir curtir a festa? O que vocês faziam aqui fora? — Lucas perguntou.

— A gente estava conversando, e seria bom continuar a conversa. — Gui falou sério encarando Lucas. Ele parecia mesmo bravo.

— E vocês não poderiam conversar lá dentro? — Lucas provocou. O que ele estava fazendo? Ele sabia da minha quase paixão pelo Gui. Ou da minha louca paixão. Eu tinha conversado isso com ele ontem. 

Eu o olhei feio. Gui estava a ponto de socar a cara do meu amigo então virou e saiu pisando duro voltando para a escola. Eu encarei Lucas e senti o vento bagunçar o meu cabelo.

— O que você está fazendo? — Eu exigi bravo. — Eu conversei contigo ontem sobre tentar me declarar para ele hoje. E então você estraga isso?

— Eu não estraguei nada. Eu estou tentando evitar que você cometa um erro. Esse cara não é o cara certo para você! Você acha que está apaixonado por ele, porque ele é o seu herói agora. Ele o ajudou a sair daquela depressão fodida que você estava e então você tá vendo isso e confundindo com amor! — Lucas disse me sondando, tentando avaliar nas minhas feições se tinha acertado.

Porém eu não sabia disso. Então como ele poderia saber. Eu fiz uma cara de deboche e balancei a cabeça em negativa. — Você não é psicólogo. — Falei sério e encarei meu amigo.

— Eu estou tentando ajudar. — Ele disse sério. — Você é o meu melhor amigo!

Eu senti um soco na cara. Aquelas palavras. Lucas sempre tinha sido meu melhor amigo. Mas... O Gui apareceu. E o Gui está sempre comigo. São os abraços do Guilherme que me acalmam. Antes eu contava tudo para Lucas, mas hoje em dia é para o Guilherme que eu conto primeiro. Eu...

— O que foi? — Ele perguntou sério e me encarando. — Por que está mordendo o lábio e fazendo essa cara de confuso culpado? Nós não somos melhores amigos? — Ele perguntou começando a ficar exaltado.

— Sim, nós somos! Mas com ele é algo diferente, vai além de amizade, Lucas! — Eu falei baixo e baixei a cabeça.

— Comigo também era quando nos conhecemos, lembra? A distância que impediu de ficarmos juntos. — Ele disse, eu olhei para ele. O olhar? Ressentindo, como se isso fosse culpa minha.  — Eu não estou falando disso. Esquece. Eu só não quero ver você se machucar.

— Eu sei, mas...

— Eu viajei por quatro horas e vim passar um mês aqui só para ver como você está. Eu estou muito feliz por você ter saído daquela depressão, porém estou preocupado. Você não é mais o mesmo. Em todas as nossas conversas você só falou nesse Gui e nas coisas que ele faz você fazer. — Lucas disse.

Eu olhei culpado para ele. Então tentei lembrar nossas conversas. Ele tinha razão, tudo que eu tinha feito nos últimos tempos era falar sobre o Guilherme. Em todas as coisas que eu e ele fazíamos. Ou nas coisas que ele me ensinava. Ele estava certo? Eu estava mesmo agindo errado? Será que eu via o Gui como meu salvador e estava confundindo as coisas?

Não.

— Eu sei que você está com ciúmes. — Eu disse encarando o Lucas.

— Isso vai além do ciúme. Estou mesmo preocupado. Você tem ido ao psicólogo? Você fala sobre esse tal de Guilherme com ele? — Lucas me perguntou.

Eu não iria brigar com ele. Não queria brigar com ele. Ele tinha vindo de outra cidade para uma festa. E eu só queria que essa noite fosse perfeita. E eu tinha as duas pessoas mais queridas para mim ao meu lado. Eu ia aproveitar.

— Lucas nós podemos conversar disso amanhã? Hoje nós temos uma festa para curtir, o que acha? — Eu perguntei baixo.

— Está bem, vamos lá! — Ele disse sério também.

— Você só precisa comprar o ingresso para ajudar a escola. — Eu disse sério como sempre dizia a qualquer outra pessoa.

 

 

Entramos na festa e eu procurei Guilherme pelo salão. Ele estava sentado num canto bebendo refrigerante e conversando com uma garota que provavelmente estava dando em cima dele. Eu não gostei de ver aquilo, estava pronto para ir lá quando uma sombra surgiu na minha frente.

— Onde você estava? — Perguntou Robson. — Eu fiquei lá no maldito carvalho até agora esperando você como você pediu no correio elegante. Quem é esse? — Ele perguntou bravo e indicou Lucas com a cabeça.

— Esse é o Lucas meu melhor amigo. — Eu respondi de forma seca e rude.

— E você quem é? — Lucas perguntou olhando feio para Robson. Os dois tinham a mesma altura.

— Eu sou o namorado dele. — Robson disse sério e inflou o peito como um galo tentando demonstrar poder sobre a sua galinha para outro galo.

Eu mordi o lábio inferior. Eu tentei não rir. Mas aqui já estava passando dos limites. Eu comecei a rir alto. Robson me olhou confuso e Lucas também. Eu encarei os dois.

— Robson. Você e eu não temos nada! — Eu disse sério. Estava cansado daquela noite. Eu estava cansando da confusão que estava acontecendo. Eu e o Gui estávamos tão próximos e agora tão distantes. Eu estava irritado com Lucas por vir sem avisar. Comigo por ter vindo a essa maldita festa. Com Gui por estar com aquela menina. E principalmente com Robson por achar que era meu dono. — Eu não gosto de você. Quer dizer. Eu gosto, mas apenas como amigo. Você é só um amigo. Nós ficamos algumas vezes, mas foi só isso.

Robson estava ficando vermelho. Estava começando a ficar com raiva como sempre fazia quando era contrariado.

— O que você está falando, cara? — Ele perguntou bravo e avançou para cima de mim. Lucas entrou na frente e segurou Robson que continuava tentando avançar em mim. — Aquelas bostas não foram apenas umas ficadas. Eu sou apaixonado por você.

— Ei porra, baixa a bola aí. — Lucas disse sério e eu percebi que meu amigo estava pronto para socar a cara de Robson. — Se você continuar me empurrando e tentando avançar no Edu eu vou quebrar a sua cara.

— Cala a boca seu merda. Você deve estar com ele, né? — Robson disse gritando. A essa altura todo mundo já estava prestando atenção na briga. Estavam todos me olhando. — Você disse para eu ir para a maldita arvore para ir se pegar com esse cara, né?

— Ei Robson baixa a bola aí! — Babi disse tentando puxar o Robson para longe de Lucas.

— Ei cara, para com isso! — Gui disse tentando puxar Robson também, eu não tinha percebido que ele tinha se aproximado.

— Cala a boca, vai tomar no seu cu Guilherme. Todo mundo sabe que você comeu essa putinha aquele dia. Dia esse em que ele ficou se esfregando em mim a noite inteira. — Robson gritou.

Eu senti meu mundo ir ao chão. O que ele estava dizendo? O que ele estava dizendo na frente de toda a minha escola? Eu olhei em volta as pessoas estavam começando a rir de mim. Estavam todos apontando o dedo e gargalhando alto. Eu comecei a sentir tudo girar.

Estavam todos rindo e gritando. Eu observei cada um e vi Guilherme dar um soco na boca de Robson. Os dois começaram a brigar ali mesmo no salão. Os outros continuaram a rir de mim.

Eles todos riam? Eles estavam mesmo rindo? Eu sentia minha cabeça girar. Comecei a correr. E corri para fora do salão.

Eu corri e corri, não sabia para onde estava indo. Eu só queria me manter longe daquele lugar. Eu corri por quanto tempo? Eu não sabia.

— Edu! Volta aqui.

Alguém estava me gritando, eu não queria saber quem era. Eu não estava nem aí para quem era. Eu nunca mais iria voltar na escola. As lágrimas estavam rolando pela minha face. Estava tudo dando certo, mas eu sempre soube que nada da certo na minha vida. Uma mão forte me segurou e me puxou. Eu continuei chorando. O cheiro que eu senti era o dele.

Guilherme.

Eu olhei para cima, ele tinha um corte no lábio que estava sangrando. Ele parecia nervoso. Estava tremendo e me segurando com força. Por que ele estava tremendo? Eu olhei em volta e ouvi o barulho das ondas. Eu estava no píer. Estava correndo para o mar o que eu ia fazer?

— O que você está fazendo? Onde você acha que está indo, porra? — Ele perguntou me prendendo em seus braços.

Como eu tinha vindo parar na praia? Eu fiquei olhando o mar. O barulho das ondas quebrando nas rochas. Fiquei em silêncio por um tempo.

— Eu não sei. — Eu sussurrei sendo sincero. — Eu não sei por que vim parar aqui! Não faço ideia.

Gui me abraçou mais forte nós ficamos ali, calados. Em silêncio por muito tempo. Até que ele beijou o topo da minha cabeça e me olhou.

— Precisamos voltar. Aquele seu amigo ficou na escola. Você tem que buscar ele. — Gui me disse e me olhou nos olhos. — Vamos?

— Eu não vou voltar na escola nunca mais. Eu nunca mais volto lá. — Eu disse sério e encarei os olhos azuis que tanto me encantavam. — Você poderia ir lá busca-lo? Eu vou pra casa.

Ele me encarou nos olhos.

— Está bem! — Foi tudo que ele disse então saiu me puxando dali. Nós caminhamos juntos pela areia e então eu me virei para ele. — Você ai para casa, eu levo o seu amigo.

Ele beijou minha testa mais uma vez e então me soltou. Ele saiu correndo em direção a escola, e eu caminhei para casa.

 

Eu estava sentado no sofá e minha mãe me fazia um cafuné. Meu pai estava falando no telefone. Estava tão bravo. Ele queria matar o Robson. Ele estava abrindo um b.o por telefone para pedir uma medida preventiva. Ele não queria que esse cara se aproximasse de mim nunca mais. Minha mãe chorava e me acariciava o rosto. Eu contei tudo para eles. Ouvimos buzina de moto na frente de casa.

— É o Gui e o Lucas. — Eu disse baixo. Então levantei do colo dela. — Eu já volto!

Caminhei e abri a porta. Eles estavam os dois em pé parados ao lado da moto me olhando. Eu fechei a porta atrás de mim e caminhei até eles. Meus olhos estavam inchados. Eu sorri sem jeito como sempre fazia. Lucas sorriu falso também. Era o que nós dois sempre fazíamos. Gui me olhou e sorriu também. Ele estava começando a aprender, eu acho...

— Obrigado por trazê-lo até aqui, Gui! — Eu disse baixo, minha voz mais rouca que o habitual. — Eu não sei como agradecer!

— Você sabe que eu faria qualquer coisa por você! — Guilherme me disse e sorriu. Ele caminhou até mim e beijou minha testa novamente. — Eu vou indo, mas eu te chamo no whatsapp. E amanhã cedo estou aqui não vou te deixar sozinho.

— A sua boca está inchada, cuida disso. — Eu disse baixo. E toquei seu rosto. Notei que Lucas ficou incomodado com isso. Fiquei na ponta dos pés e beijei o rosto de Gui.

— Eu vou cuidar. Até amanhã. — Ele disse e voltou para a moto. Antes de colocar o capacete ele disse. — Ele não vai se aproximar de você novamente.

— Eu sei, meu pai está cuidando disso. — Eu falei baixo. — Boa noite!

— Valeu pela carona cara. — Lucas falou baixo e relutante. Eu senti que ele não queria agradecer ao Gui.

Gui apenas acenou positivamente e partiu com a moto para a casa ao lado. Eu encarei Lucas. Meu amigo estava com os cabelos presos num coque samurai agora. Então notei um corte no supercilio. Eu caminhei até mais perto e olhei. Ele tinha levado um soco no olho.

— Ei, você se machucou. — Eu disse baixo e toquei seu rosto como eu havia feito com Guilherme. Lucas sorriu.

— Eu não ganho um beijinho por isso também? — Ele falou rindo. Eu não ri. Dessa vez nem suas brincadeiras iriam me animar. — Eu não ia deixar seu amigo brigar sozinho. Não sei o que aconteceu. Mas todo mundo lá na escola começou a se pegar. Foi difícil conter todo mundo. Pelo jeito aquele babacão lá que chamam de Robson é querido por aqui. Uma galera veio defender ele.

— Eu sei. Eu sei... — Eu falei lembrando que Robson tinha muitos amigos, inclusive caras da escola. — Você não deveria ter brigado.

— Eu não deveria é ter deixado você sozinho. — Lucas disse baixo e me abraçou. Ele tinha um abraço tão bom. — Eu só não fui atrás de você porque não sabia para onde ir, apenas sabia voltar para sua casa.

— Eu sei tudo bem. — Eu falei e passei a cariciar seu peito com minha mão direita. — Ele disse coisas horríveis sobre mim, mas é tudo mentira.

— Eu sei que é mentira. Você é o meu melhor amigo, você teria me contado se por acaso tivesse tido sua primeira vez com alguém, não é mesmo? — Lucas perguntou e eu me arrepiei e tremi. Primeira vez, sexo. Não era um bom assunto. Eu fechei os olhos. — Você vai ficar bem agora. Estou aqui.

Eu continuei de olhos fechados e ouvi a porta de casa abrir. Alguém deveria ter vindo nos chamar, mas viu a cena e fechou a porta, porque ela bateu devagar novamente.

— Lembra que a gente vivia prometendo isso? — Lucas perguntou e riu baixinho. — Nas nossas conferências a gente sempre dizia que iria se abraçar e não soltar mais.

Eu beijei seu peito e fiquei quieto.

— Eu fiquei com ciúmes hoje. — Lucas disse e eu balancei a cabeça em afirmativa. Eu sabia que ele tinha ciúmes da minha amizade com o Gui, mas eu queria que ele entendesse que mesmo que eu e o Gui ficássemos juntos nada mudaria. — Não, você não entendeu. Não foram ciúmes de amigo. — Ele completou.

Eu abri os olhos e olhei para cima. Encarei seu rosto. Ele sorriu sem jeito.

— Não é o momento. — Ele começou.

— Não é o momento mesmo. — Eu disse tentando manter a calma.

— Eu te amo. Eu te amo desde sempre. — Ele falou baixinho.

Não. Você! Não... Oh céus. O que está acontecendo essa noite? Essa coisa toda.

— Não vou insistir nesse assunto. Eu só quero que saiba disso, Edu. — Lucas falou baixo. — Eu vou te proteger de tudo e todos agora. Eu prometo.

Ele me abraçou com força novamente e eu fiquei em silêncio pensando no que ele disse.


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