Abstrato escrita por roux


Capítulo 6
Baile de Inverno




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Três meses. Eu não podia acreditar. Eu sobrevivi muito bem há três meses. Isso nunca aconteceu antes. Eu nunca fiquei tanto tempo sem uma crise.

Isso me deixava tão feliz que eu até poderia cantar.

Está bem, mentira. Eu não poderia não.

A minha amizade com o Guilherme estava melhor que nunca. Estávamos cada vez mais próximos. Já fazia esses três meses que ele havia se mudado para a minha cidade, para o meu bairro e a nossa amizade só crescia. Eu me sentia feliz por isso. Gui era o amigo que eu estava esperando a vida inteira. Eu sabia que poderia confiar nele até de olhos fechados. Mas nem tudo ia tão bem com a minha vida, pequenas coisas me incomodavam, é claro. É claro que tinha algumas coisas também para me irritar. O Robson, por exemplo, era uma dessas coisas, ele é um porre na minha vida. Eu nunca imaginei que iria desejar que alguém parasse de falar comigo ou que simplesmente sumisse da minha vida. Mas nesse caso, bem, é, ele eu queria que acontecesse isso que acabei de dizer. Eu queria que ele sumisse. Ele era realmente chato. Desde aquela minha primeira festa nós ficamos mais algumas vezes. E agora ele acredita que somos namorados, ou ficantes, ou qualquer coisa que sua mente fantasiosa consiga pensar, ele até escolheu nome para os nossos filhos.

Não aguento mais!

 O Robson é dono de uma loja de tele mensagens, porra, sinceramente eu não aguento mais ouvir mensagens e declarações de amor pelo celular, ou com carros em frente a minha casa.

“Pensa em mim chore por mim liga pra mim. Não, não liga pra ele, pra ele, não chore por ele. Se lembre de que eu há muito tempo te amo te amo te amo quero fazer você feliz. Vamos pegar o primeiro avião com destino a felicidade a felicidade pra mim é você.”

Esse foi um das músicas que recebi de Robson. Eu estava em casa em uma conferencia de vídeo com o Lucas e simplesmente essa música assustadora começou a tocar em minha janela. Robson, bem, ele acredita que estou dando vários foras nele porque sou apaixonado por outro cara. Ele é mesmo maluco.

Eu não estou apaixonado por ninguém. Eu acho que não.

Hoje nós temos o baile de inverno da escola. Eu não iria a essa festa, geralmente não iria a nada relacionado à escola. Porém esse ano eu fiquei encarregado de organizar. Como eu fiquei me sentindo quando descobri isso? Querendo morrer novamente. Essa era uma babaquice sem tamanho. E eu sinceramente não faria questão alguma de participar. Porém quando eu soube que isso contribui para a nota, foi a minha chance de recuperar as notas. Eu andei faltando demais na escola, e a essa altura do campeonato qualquer coisa que puder me ajudar a passar será válida.

Eu convidei os meus amigos. É estranho dizer essa palavra. Porém graças ao Gui eu tenho amigos agora. E eles são legais.

O Lucas está irritado sobre isso, porque ele diz que agora passo menos tempo com ele mais tempo com esses novos amigos. Eu acho bem fofo esse ciúme dele, porém irritante. Outra semana ele ficou três dias sem falar comigo porque eu não pude jogar com ele para ir a uma festa de aniversário na casa de um amigo da Babi.

Ele ficou bravo por não ter sido convidado para a festa. E mesmo eu explicando para ele que ele mora em outra cidade e que seria muito difícil vir, nosso clima ainda está meio estranho. Eu nunca achei que o clima ficaria estranho entre mim e o Lucas. As cosias mudaram mesmo nesses três meses.

Eu chamei esses amigos e eles até chamaram outros amigos. Eles só irão precisar pagar uma taxa cobrada para ex-alunos ou comunidade que queira participar.

Estava tudo pronto agora e isso até me animou um pouco. Não foi tão horrível quanto eu achei que seria. Foi até divertido. Eu olhei para a quadra da escola. Estava tudo como eu tinha planejado a luzes as cortinas vermelhas na cor do emblema da escola. Eu pedi para colocarem uma lua gigante em neon branco no centro em cima do palco. Havia algumas estrelas da mesma cor também. Eu estava satisfeito com tudo, e tinha que admitir que algumas pessoas me ajudaram nisso. Outros alunos da minha sala. Eu me senti incomodado de estar com eles. Eu não os curtia, para ser sincero. Eles me fizeram odiá-los.

Eu Até me encolhi a primeira vez que um dos garotos da sala chegou perto de mim para me pedir o martelo.

— Ei cara! — Falou um garoto grande e alto que eu não notava muito, quer dizer quando ele não estava junto aos outros tentando me bater.

Eu me encolhi e quase acertei o martelo no meu próprio dedo. Eu me virei para ele.

— Eu te assustei? — Ele perguntou meio constrangido.

Eu fiquei encarando. Eles vinham me tratando bem desde que começamos a trabalhar juntos nesse projeto. Acho que algo estava em jogo. Algum professor deveria ter feito alguma ameaça. Eles queriam entrar para a faculdade, deveria ser isso. Bolsas nas universidades.

— Você poderia me emprestar o martelo? — Ele pediu.

Eu entreguei o martelo calado e então saí para supervisionar ou fazer alguma outra coisa.

Mas por sorte agora tinha acabado. Isso tudo tinha acabado, eu não teria mais que passar tardes com eles confeccionando decorações. Eu sorri vendo o meu trabalho. A decoração estava mesmo bonita agora que havíamos terminado.

Olhei no relógio. Já eram cinco e quarenta e cinco. Nós precisávamos ir. O baile começaria às vinte horas. E tinha muita coisa para fazer, principalmente para aquelas meninas.

— Pessoal. Nós fizemos um ótimo trabalho! — Eu disse. — Já está tarde e todo mundo quer se arrumar para o baile. Estão liberados. — Falei meio sem jeito e olhando o chão.

— Cara, valeu. — Falou alguém. Eu levantei e vi que se tratava de Paulo Júnior. O cara que mais implicou comigo durante a minha vida escolar. — Eu gostei de trabalhar com você nisso. E queria pedir desculpas. Você é um cara legal. Não merecia as coisas que eu fiz contigo.  

Eu fiquei encarando. Ele estava mesmo me pedindo desculpas? Eu fiquei nervoso, minhas mãos começaram a suar. Eu não estava pronto para isso. Paulo estava sorrindo e me encarando. Algumas outras pessoas também sorriam.

Eu fiz a coisa que me pareceu certa no momento. Apenas balancei a cabeça em afirmativa e então fiz o que fazia de melhor. — Vamos nos arrumar e voltar aqui, vocês merece curtir a festa depois de todo esse trabalho.

Eles todos gritaram. E juntos nós saímos da quadra de basquete carregando alguns poucos instrumentos que usamos hoje. Estávamos trabalhando naquilo a mais de uma semana. Eu estava orgulhoso de ver tudo tão bonito. Estava orgulhoso de mim mesmo por ter conseguido trabalhar ao lado de quem sempre me oprimiu. Na minha próxima visita na sexta feira ao Senhor Louis contaria isso. Ele iria ver que estava evoluindo, quem sabe até me liberar das sessões de terapia.

Eu estava subindo na moto de Guilherme. Ele estava sorrindo. Eu não sabia por quê.

— O que foi? Está sorrindo do que? — Eu perguntei sentando meu traseiro no assento estreito da moto. Eu segurei o capacete na mão e fiquei encarando seus olhos azuis. — E então...

— Você está lindo. E isso é estranho. Porque parece que eu estou vindo buscar a garota perfeita para o baile da escola! — Ele diz baixo e então gargalha.

— Não sou a garota. Mas ainda assim sou perfeito! — Eu falo sério e então o encaro.

Ele fica sem graça e vejo seu pomo de adão mexendo devagar. Ele engoliu em seco. Eu rio e bato nele.

— Estou só irritando você. — Eu falo sorrindo. — Vira para frente e vamos logo, zé mané.

Estou mesmo diferente. Eu não tenho problema algum em brincar com Gui. Eu não disse nada, mas ele também estava bonito. O estilo gala despojado tinha caído bem nele. Estava com uma calça jeans e botas de cano médio. Porém usava um smoking mais esportivo. Eu gostei. Sorri para suas costas e coloquei meu capacete. Ele colocou o dele.

— Segura! — Ele disse sorrindo e acelerando a moto só para me provocar.

Eu passei os braços pela sua cintura e segurei forte. Ele arrancou com a moto. Enquanto estava preso ali eu fiquei pensando. Fazia três meses que eu conhecia o Gui. E os meus sentimentos confusos tinham amenizados. Eu agora tinha certeza de uma coisa. Ele não era apenas meu melhor amigo. Ele era... Era o cara com quem eu queria estar essa noite. Era o cara que eu queria beijar essa noite.

Ele parou a moto no estacionamento da escola e eu desci. Olhei em volta. Muitos alunos bem vestidos estavam entrando na escola. Estavam todos muito bonitos. Eu fiquei esperando Gui estacionar a moto e senti mãos fechando os meus olhos. Eu senti vontade de gritar, mas ouvi a voz em meu ouvido.

— Oi bebê! — Robson disse. Ele estava literalmente me encoxando.

Eu senti vontade de socar ou chutar seu saco. Levei minhas mãos para as suas e tirei dos meus olhos. Eu me virei para ele. Ele me deu um selinho rápido nos lábios. Eu segurei o impulso de limpar com as costas da mão.

— O que você faz aqui? — Eu perguntei mais ríspido do que eu queria. Ele me encarou triste. Não me desculpei.

— Eu achei que você iria ficar feliz em me ver, gatinho! — Robson disse triste. Ele sabia mesmo fazer drama. Ele adorava fazer biquinho até eu ceder.

— Eu...

— Ele está mesmo muito feliz de te ver. — Guilherme disse com um sarcasmo na voz então passou o braço em minha cintura. — Mas hoje ele é o meu acompanhante.

— Isso é sério? — Robson perguntou realmente começando a ficar vermelho.

Eu olhei para Guilherme, meu amigo estava rindo. Eu tirei seu braço de mim e olhei para Robson.

— Não Robson, calma! Ele está apenas brincando não tem nada de acompanhante. Ele só veio comigo. Ele me buscou em casa. — Eu disse tentando me manter calmo. Nada dava certo para mim.

— Eu poderia ter ido busca-lo se você tivesse pedido. — Robson disse sorrindo.

— Eu não imaginei que você viesse, eu estava acreditando que você estava mesmo ocupado com a loja. — Eu disse sério.

— Ele deveria estar... — Gui sussurrou fazendo uma cara de deboche.

Eu bati nas costelas do meu amigo que riu alto. Eu encarei Robson forçando um sorriso. Eu não o queria aqui. Eu não queria ter de ceder a sua chantagem e ter que beija-lo só para que ele não fique triste. Era para ser a minha... O que? A minha noite com o Guilherme? Porra.

— Ei gente, eu espero que todos concordem que eu estou bonita. — Falou Babi chegando rindo. Eu me virei para ela. Estava... É muito bonita. A prima do Gui estava com um vestido longo e ligado totalmente preto, um estilo seria tomara que caia. Os cabelos soltos em cachos. A maquiagem tão perfeita que a deixou com cara de anjo. — Foi a Lara que fez tudo isso.

A namorada, Lara. Estava igualmente bonita. Eu sei que muitos caras diriam que era desperdício aquelas duas gostosas estarem se comendo. E eu sorri com isso. Elas estavam lindas.

— Você está uma gata, prima! — Guilherme falou sorrindo e segurando o braço da prima a fazendo girar.

Eu notei Gabriel. Ele estava mais quieto. Então ele sorriu para mim, piscou e eu sorri de volta. — Não vamos entrar? — Ele perguntou.

Ele estava certo. Era hora de entrar.

Robson me estendeu a mão.

Então Guilherme também me estendeu a mão.

Eu olhei para os dois e então bufei de raiva. Saí caminhando para dentro da escola.

O ambiente estava ainda mais bonito com todas as luzes acessas. Eu estava até recebendo parabéns dos professores. Eu estava feliz, mas não receberia o crédito sozinho.

— Não fiz tudo sozinho. Algumas pessoas ajudaram! — Eu disse para a professora de biologia.

— Não seja modesto. A ideia de tudo isso foi sua, não foi? — Ela perguntou sorrindo.

— É foi. — Eu disse envergonhado.

— Fico feliz que você está melhorando Eduardo. Eu fico feliz! — Ela disse me tocando no rosto e então saiu caminhando.

Fiquei sem graça e olhei para os lados. Não queria que ninguém tivesse visto isso, ninguém tinha visto. Eles estavam ocupados com outras coisas.

Eu sorri e então caminhei para os meus amigos que como sempre estavam todos juntos dançando em uma rodinha.

— É uma droga ter de beber refrigerante. Cadê as bebidas? — Lara reclamou.  

— É uma festa escolar. Aproveita. Eu já volto! — Eu disse rindo e caminhando até a sessão de correio elegante. Eu escrevi dois e marquei horas diferentes. Um era para Guilherme e o outro para Robson. Escrevi e então apontei para quem deveria ser entregue. Eles deveriam anunciar no microfone, porém pedi para as meninas quebrar o galho para mim e entregar o vermelho para Gui. Elas concordam, e eu voltei para a rodinha.

— Agora é a hora da dança dos casais! — Falou uma voz ao microfone e uma música lenta e romântica começou a toca.

Lara e Babi foram logo para a pista dançar. Eu encarei Gui. Ele parecia nervoso. Eu respirei fundo e dei de ombros.

— Dança comigo, amor! — Robson falou sorrindo. E sim, ele me chamou de amor. Eu fiquei quieto e passei a dançar com ele. Ele me segurou forte em seus braços e passou a balançar o corpo comigo. Eu olhei para Gui que apenas me encarou. Ele recebeu o bilhete e leu.

Ele me encarou e sorriu saindo do salão.

Eu sorri de volta.

Robson continuou me prendendo e balançando o corpo junto ao meu. Ele tentou me beijar na boca e eu comecei a tossir. Ele me afastou um pouco.

— Eu preciso ir ao banheiro. — Eu disse tentando me soltar dele.

— Eu te ajudo. — Ele me disse preocupado.

— Não, Robson. Eu sei ir ao banheiro da minha escola sozinho. — Eu disse irritado e não esperei para ouvir seus dramas. Eu saí.

Quando vi que estava longe da quadra eu comecei a correr em direção ao local onde tinha marcado com Guilherme. Eu saí pelo grande portão da escola. Ele estava de costas olhando a rua.

 — Oi! — Eu disse baixinho.

Ele se virou. — O que precisa falar comigo? — Ele perguntou meio receoso, mas sorriu.

— Eu não sei. — Eu falei rindo.

— Então apenas queria me tirar da festa? — Ele perguntou rindo.

A essa altura Robson já deveria ter recebido o correio e ter ido para os fundos da escola me esperar. Eu teria um tempo.

— É só que eu...

— Eu achei que você iria dançar comigo. — Ele disse e tirou o sorriso do rosto.

— Eu iria...

— Então dança agora! — Ele disse e me estendeu a mão.

— Aqui? — Eu perguntei olhando a rua. Alguns carros passavam perto.

— Sim... — Ele disse rindo.

Eu caminhei e segurei a sua mão. Ele me puxou para ele e nós começamos a dançar mesmo sem música. Podíamos ouvir a música da festa, baixa, mas era uma música dançante.

Gui me prendeu em seu corpo com força. E cheirou meu pescoço, então sussurrou em meu ouvido. — Acho que estou apaixonado por você! — Ele disse.

Eu senti meu corpo arrepiar. E sorri.

Eu encarei seus olhos e mordi meu lábio. Eu queria beija-lo.

— Gui. Eu também...

— Edu? — Falou uma voz atrás de mim.

Eu me virei assustado porque eu conhecia aquela voz. Era Lucas. Ele estava parando logo atrás de mim. Estava sorrindo. O sorriso mais bonito que eu já tinha visto na vida ali pessoalmente. Eu não estava entendendo, o que o Lucas estava fazendo ali? O meu amigo era ainda mais bonito pessoalmente. Alto e magro. Porém atlético. Os cabelos louros e lisos longos na altura dos ombros. Ombros largos por conta dos anos de natação assim como eu. Ele estava sorrindo e me encarando.

Estava vestido para a festa.

Eu sorri sem jeito. E me soltei de Guilherme. Esse me olhava sem entender. Eu o encarei e torci para que entendesse o meu olhar de “Eu explico!”.  

Lucas abriu os braços e sorriu de novo daquele jeito cativante. Eu nunca tinha reparado o quanto amava aquele sorriso. Eu corri para seus braços e o abracei. Ele era cheiroso e alto. Eu ri sem jeito, nunca tinha pensado nele tão alto.

— O que está fazendo aqui? — Eu perguntei rindo e olhando para cima para encarar seus olhos.

— Eu vim para a festa. Você convidou os seus amigos. Acho que o convite se estende a mim também. — Lucas falou sorrindo de forma sacana.


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Notas finais do capítulo

Oi, gente. E aí como você estão? Eu sei que nunca deixo notas e que nunca pedi nada para vocês. Porém hoje vou mudar as regras. Eu adoro escrever, e escreveria mesmo sem ninguém para ler. (Sim, eu tenho vários contos eróticos ou não no pc que eu nunca postei para ninguém.), mas estou mesmo adorando escrever Abstrato e sei que vocês que acompanham também gostam. E vocês sabem que eu posto capítulo todos os dias e me dedico a cada fã. Então eu gostaria que vocês favoritasse e divulgassem minha história para amigos, familiares, vizinhos, colegas de escola, e etc. São as histórias com vários favoritos ou comentários que chamam mais atenção de outros leitores. Então se vocês puderem me ajudar com isso serei grato a vocês. Obrigado. ♥



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