Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Vamos lá!



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Sexto Capítulo ❣️

– Eu sabia que você estava tramando alguma coisa, Jéssica, mas confesso que reservar um restaurante francês foi um truque de mestre. - Felipe disse, enquanto entregava a chave de seu carro para um dos valetes, encarregado de estacioná-lo no estacionamento privativo do restaurante "Bistrô de Paris".

Jéssica sorriu, triunfante, se apoiando com as duas mãos no ombro do noivo.

– Ah francamente, Felipe, nem vem com implicância porque eu sei muito bem o quanto você adora comer nesse restaurante. - Jéssica rebateu.

– E eu adoro mesmo. - confirmou Felipe. - Mas eu sei muito bem que a sua intenção em nos trazer aqui essa noite não foi pra me agradar não, foi pra humilhar a Shirlei, né?! Por que você deve imaginar que ela nunca deve ter comido num lugar como esse.

– Então, nada melhor do que começar agora. Ela não é namorada do Henrique? Vai ter que se acostumar a frequentar esse tipo de lugar mais cedo ou mais tarde...

Felipe estreitou o olhar, fuzilando-a.

– E é claro que você, Jéssica, com sua imensa generosidade e compaixão, resolveu adiantar o processo, né?! - Perguntou ele, sarcástico.

Jéssica deu um sorriso fingido.

– Exatamente, amor. - respondeu ela, naturalmente. Em seguida, segurou na mão dele, que segurou sem vontade. - Agora vamos entrar ou você quer passar o resto da noite aqui fora discutindo?

– Não, vamos entrar sim e acabar logo com isso. - Felipe respondeu, e ambos caminharam juntos em direção à porta de vidro, que foi aberta pelo maître.

– Boa noite. - O maître os cumprimentou. - Os senhores têm reserva?

– Sim. - Jéssica respondeu. - Pode procurar pelos senhor e senhora Miranda, por favor? - Felipe virou em direção à Jéssica com a testa franzida e a cara fechada, enquanto o maître procurava em sua prancheta o sobrenome Miranda.

Alguns segundos depois, o olhar do maître se deparou com o sobrenome e ele pode finalmente se voltar para o casal.

– Ah sim, aqui está. Vou levá-los agora mesmo à mesa que reservamos para os senhores. Queiram me acompanhar, por favor? É por aqui. - O maître saiu na frente, enquanto o casal, de mãos dadas, vinha logo atrás, discutindo baixinho.

– Que história é essa, Jéssica, de senhor e senhora Miranda, posso saber? - Felipe questionou, indignado.

– Ai amor, isso são só meros detalhes. Daqui a pouco a gente vai casar mesmo. Qual o problema de usar o seu sobrenome antes?

Felipe expirou, impaciente. Que jeito de pensar. Será que Jéssica não conseguia enxergar o que estava bem na frente do nariz Dela?

– Jéssica, tenta entender uma coisa, eu não sei se a gente tá mesmo preparado pra...

– Chegamos. A mesa dos senhores é aquela ali à direita. - o maître anunciou, interrompendo Felipe, que lançou um olhar para o lugar.

O Bistrô de Paris era realmente um restaurante muito elegante que possuía detalhes parisienses tão perfeitos que ao entrar lá era como comprar uma passagem para França. O salão principal trazia poltronas de estofado vermelho com suas típicas barras de latão, um majestoso bar e vitrais entremeados por pequenos abajures duplos, além de gravuras originais das décadas de 1920 e 1930. Havia também ainda uma série de fotografias exclusivas de bistrôs parisienses icônicos. Já no terraço, mesinhas adornadas por ombrelones e uma esplendorosa adega lhe conferia um certo charme.

– E como os senhores podem observar, a maioria de seus convidados já chegaram. - continuou o maître, tirando Felipe de seus devaneios.

– A maioria dos nossos convidados? - perguntou Felipe, sem entender porque até então, ele ainda não tinha se dado conta a que mesa o maître estava se referindo. Até que ao seguir com o olhar para onde o maître estava apontando, ficou atônito com o que viu, pois ao redor da mesa reservada tinham cerca de oito pessoas. Felipe virou em direção à noiva com os dentes trincados. - Jéssica, o que tá acontecendo aqui? Quem são essas pessoas?

Antes de responder, Jéssica deu um sorrisinho cínico.

– Ah, Felipe, vai dizer que você não sabe? São os nossos amigos, amor? A Solange, a Carla, o Edgar, o Ernan, a Lorena, o Danilo, a...

Felipe segurou o braço da noiva, claramente irritado.

– Seus amigos, você quer dizer. Porque que eu me lembre, eu nunca vi essas pessoas em lugar nenhum.

– Viu sim, amor. No aniversário do Edgar, você não se lembra? Foi há uns oito meses, lá naquele Hotel super elegante da Alameda Santos.

Felipe arqueou as sobrancelhas.

– Ah, aquele que eu passei quinze minutos e fui embora porque não aguentei o papinho medíocre e preconceituoso deles? - Pausou, esperando a reação da noiva. - Acho que acabei de me lembrar, né?!

– Ai, Felipe, será que dá pra você tentar ser um pouquinho menos desagradável? Porque, meu amor, hoje você está bem chatinho, viu?!

Felipe bufou, chateado.

– Chatinho? Eu?! Sério, Jéssica? Você arma esse circo todo e eu sou... chatinho?

Nesse instante, para piorar a situação que já não estava das melhores, uma moça alta, esbelta, e altamente elegante, como que voltando do toalete, se sentou à mesa junto com os outros. Felipe a reconhecendo de longas datas, fuzilou a noiva com o olhar.

– Eu num tô acreditando que você teve coragem de convidar a Laura para vir nesse jantar, Jéssica! - Felipe estava possesso.

– E por que não teria? Ai, Felipe, só porque a menina é ex namorada do Henrique, tá proibida de andar com a gente? Que coisa mais ridícula! Ela é minha amiga. Qual o problema?

– Jéssica, a Laura nunca foi sua amiga. Vocês nunca se deram bem. Ah, pelo amor de Deus! - Felipe passou as mãos pelos cabelos, agoniado - Isso tudo que você tá fazendo é só pra implicar com a Shirlei. Caramba, Jéssica, deixa a menina em paz! O que foi que ela te fez?

Jéssica ficou sem saber o que responder. Em vez disso, fez um aceno amigável para Laura, que correspondeu. Felipe revirou os olhos, indignado.

– Então, Felipe, tá todo mundo olhando pra cá. - Jéssica comentou, sorrindo em direção à mesa, disfarçando. - Vamos logo pra mesa cumprimentar nossos amigos... Porque imagina o que eles já não devem está pensando da gente.

– Jéssica, se você não percebeu ainda... Eu tô pouco me lixando para o que os seus amigos estão pensando da gente, portanto, se quiser, vai você cumprimentar os SEUS amigos porque eu tô indo ali fazer uma ligação...

– Felipe!!!! - Jéssica quase gritou, entretanto quase não foi ouvida pelo noivo, que já tinha dado às costas para ela, se dirigindo até o lado oposto do restaurante. - Felipe, volta aqui!!!!

Sem remédio, Jéssica teve de se dirigir sozinha até a mesa para cumprimentar os convidados, forçando um sorriso e dando a desculpa de que o noivo tivera de atender uma ligação urgente do trabalho.

– Atende, Henrique! - Pediu Felipe, com o celular no ouvido, que só chamava. - Atende! Mas que droga, Henrique! A Shirlei não pode vir a esse jantar. A Jéssica tá disposta a tudo e eu não sei do que eu sou capaz, não sei. - Felipe desabafou, falando para si mesmo. Depois discou de novo. - Atende, droga! Atende!

Dez minutos depois de algumas tentativas frustradas, Felipe resolveu voltar para mesa. Por educação, cumprimentou a todos para em seguida sentar-se ao lado da noiva.

– Por que demorou tanto, posso saber? - Perguntou Jéssica no ouvido do noivo.

– Tava tentando falar com o Henrique, mas num consegui.

– E pra que você queria falar TANTO - revirou os olhos - com o Henrique?

– Pra ele prevenir Shirlei da palhaçada que você armou!

Jéssica revirou os olhos novamente.

– Outra vez isso? Cê num acha que tá dando muita importância pra essa... - Felipe a olhou de lado, fuzilando-a, pois sabia que ela estava prestes a dizer "garçonetezinha". - Shirlei.

– Eu não estaria se você, Jéssica, tivesse se comportado como convém, mas agora que o seu showzinho tá completo, aguente as consequências porque eu não vou permitir que você humilhe a Shirlei assim... Cê tá me entendendo?

Jéssica fechou a cara. E para acalmar os nervos, deu um gole generoso em seu vinho. Mas foi nesse momento que o celular de Felipe vibrou, anunciando a chegada de uma mensagem.

Discretamente, Felipe abriu a caixa de entrada e leu a mensagem.

– Vem, Jéssica. - Felipe falou, segurando a mão da noiva. - A gente precisa ir lá fora rapidinho.

Jéssica franziu a testa.

– Fazer o quê? Tá maluco, Felipe?

– A gente vai buscar o Henrique e a Shirlei que acabaram de chegar.

Jéssica soltou uma risada meio misturada com o vinho.

– Como é que é? A gente vai buscar o Henrique e a Shirlei? Eles não têm pernas não?

Felipe deu um suspiro profundo, impaciente. E sem delicadeza nenhuma, puxou a mão da noiva, fazendo-a levantar a força.

– Vem logo, Jéssica, para de discutir!

Então para não passar mais constrangimento do que já estava, Jéssica obedeceu ao noivo, seguindo-o a passos largos até o lado de fora do restaurante.

Chegando lá, Felipe logo avistou Henrique e Shirlei. Eles estavam de costas para o restaurante, conversando, e pareciam bem animados, principalmente Shirlei que ria muito como se Henrique houvesse acabado de lhe contar uma piada. Ao vê-la, um sorriso involuntário surgiu nos lábios de Felipe, mas começou a morrer aos pouquinhos quando ele a viu segurar o ombro de Henrique. Tudo bem. Aquele gesto poderia ser um gesto amigável, mas e se não fosse? Afinal, Henrique era um cara boa pinta, bem humorado, qualquer mulher poderia cair aos seus pés... Até Shirlei - pensou Felipe com ciúmes.

Parou próximo a eles com as mãos nos bolsos, a cara fechada.

– Henrique. - Felipe chamou a atenção do amigo, que se virou juntamente com Shirlei.

E o sorriso de Felipe voltou. Mais luminoso do que nunca. Por que... como resistir àquela garota? Que naquela noite, ao seu ver, estava impressionante. Vestida com um vestidinho simples de cor rosa, realçado por um cintinho marrom e um cardigan com rosas vermelhas. Nos pés, sapatilhas vermelhas de boneca.

– Cê tá linda, Shirlei. - Felipe disse, encarando-a, fascinado. Jéssica quis matá-lo com o olhar.

Shirlei sorriu um pouco ruborizada.

– Obrigada. Mas eu tô me achando tão simplinha pra um restaurante assim tão chique.

– Caramba, Shirlei, então não adiantou de nada eu ficar dizendo o tempo todo no carro que cê tava bonita, né?! - Henrique disse e cruzando os braços, fingiu ter ficado ofendido.

Imediatamente, Shirlei segurou os braços cruzados de Henrique, tentando descruza-los. Felipe engoliu a seco, morrendo de ciúmes. Que intimidade era aquela?

– Ai não, Henrique, desculpa! Eu... Ai meu Deus! Eu acredito em você. Mas a culpa é sua por não ter me dito que o restaurante era chique. Lembra? Você me disse que o restaurante era simples e que eu ia me sentir bem a vontade com a minha roupa.

Henrique se estourou numa risada e Shirlei o acompanhou, ja Felipe não achou Graça nenhuma.

– Tô brincando, Shirlei. E você tá ótima sim. O problema aqui é que certas pessoas - Henrique fuzilou Jéssica com o olhar - só avisam onde é que a gente vai jantar meia hora antes. mas eu sei porque... né, Jéssica?

Em resposta, Jéssica fez uma careta pra ele.

– Mas fala aí, Felipe - continuou Henrique - que surpresinha foi essa que a Jéssica nos preparou pra você ter mandado um SMS pedindo pra gente esperar vocês aqui fora?

Felipe olhou para Jéssica de esguelha.

– É que a Jéssica fez a gentileza de convidar um bando de amigos DELA pra jantar com a gente. Mas sabe o que é pior? A Laura também foi convidada.

Henrique arregalou o olhar.

– A Laura? Minha ex? - Felipe assentiu com a cabeça. Mas Henrique em vez de ficar indignado, começou a rir e a bater palmas, surpreendendo a todos. - Caramba Jéssica, eu até já tinha idéia que cê tava fazendo mestrado pra bruxa, mas que você tinha dado entrada no doutorado é novidade pra mim oh!

Diante daquilo, Shirlei e Felipe tiveram de conter o riso, enquanto Jéssica só faltou pular no pescoço de Henrique.

– Rá, rá, rá, muito engraçado! - Jéssica disse, fazendo careta.

– É mesmo, eu também achei. - Henrique rebateu em provocação. - Mas, olha só, Jéssica, só pra você ficar sabendo... Seu tiro vai acabar saindo pela culatra, sabe por quê? - de surpresa, Henrique segurou a mão de Shirlei, entrelaçando seus dedos aos Dela, o que não agradou em nada Felipe, que fechou a cara. - Porque a Shirlei e eu estamos muito bem, né, amorzinho? - levou a mão de Shirlei até os lábios e tascou um beijo. Felipe teve até de desviar o olhar para não pular em cima de Henrique. E Shirlei forçou um sorriso para Henrique completamente sem graça com o gesto. - A Laura não significa mais nada pra mim. - Henrique completou.

– Vamos ver até quando. - Jéssica desafiou.

Agoniado com aquela conversa, mas principalmente com os exageros do amigo para com Shirlei, Felipe resolveu propor que todos voltassem para mesa. Ao concordarem, Jéssica e Felipe saíram na frente enquanto Shirlei e Henrique vieram logo atrás, de mãos dadas, para desespero de Felipe, que não conseguia dar um passo sem que não desse uma espiada neles.

Ao chegarem à mesa, Shirlei sentiu que todos a olharam com desdém, principalmente a que parecia ser a tal Laura. Mas não se importou, afinal, aquilo tudo era um fingimento, que se danasse o que aquelas pessoas metidas a besta pensavam Dela!

Henrique fez questão de cumprimentar a todos com um aperto de mão. Mas sua ex namorada fez questão de lhe tascar um beijo no tosto, mas mal sabia ela, que não estava atingindo ninguém com aquilo, estava apenas fazendo um papel ridículo na frente dos amigos.

Depois disso, Henrique fez questão de apresentar Shirlei a todos, pois ele sabia, era exatamente isso que Jéssica achava que ele não teria coragem. E claro que provocar Jéssica era sua maior diversão.

– Pessoal, pra quem não conhece, essa aqui do meu lado - Henrique passou o braço ao redor dos ombros de Shirlei - é a minha namorada, Shirlei Rigoni di Marino.

Todos forçaram um sorriso falso, ao mesmo tempo em que se iniciou um burburinho entre os casais. Shirlei sorriu, mas sua vontade era sair dali correndo. Felipe era o único que a encarava com carinho e solidariedade. Por ele, levava-a dali ele mesmo.

Apresentações feitas, os dois casais se sentaram, um casal de frente para o outro.

Para começar a noite, Jéssica se aproximou um pouco da amiga, Solange, que estava do outro lado, discretamente, e sussurrou:

– Você já sabe o que tem que fazer, né? - A amiga assentiu com a cabeça, enquanto bebericava um pouco do vinho. - O objetivo é humilhar essa garçonetezinha de subúrbio!

– Pode deixar comigo. - Solange disse com uma expressão perversa no olhar. Para em seguida se dirigir para Shirlei, que estava entretida conversando com Felipe e Henrique.

– Nossa, quantos talheres e copos! - Shirlei comentou, espantada, para Felipe e Henrique. - Acho que eu só tinha visto essa quantidade de utensílios em filmes! - Felipe ouvia tudo que ela dizia, sorrindo, fascinado. - Eu até vi em um desses filmes que a gente deve começar a utilizar de fora pra dentro, né?! Mas nos filmes eles nunca mostram como que faz, então pra mim dá quase que no mesmo.

Henrique e Felipe riram, achando divertida aquela conversa quase inocente de Shirlei, mas Felipe estava quase que hipnotizado por ela. Henrique percebendo, ofereceu um guardanapo para Felipe, que quando perguntou o porquê daquilo, Henrique respondeu por meio de gestos que era pra limpar a baba que estava escorrendo. Felipe quis matá-lo. Henrique caiu na gargalhada e Shirlei não entendeu nada.

– Então, Shirlei, - Solange começou a falar, atraindo a atenção de todos - porque você não nos conta onde você trabalha. Estamos muito curiosos pra saber. - deu um sorriso cínico.

Shirlei engoliu a seco. Não esperava por aquela pergunta. Seu tórax começou a subir e a descer, afinal todos os olhares estavam voltados para ela, mas um único dentre todos aqueles ela procurou, o de Felipe, que lhe passou tanta tranquilidade, que, ela soube naquele instante, não precisava mais ter medo. E quando ele meneou a cabeça e sorriu para ela com ternura toda sua força voltou, então de cabeça erguida, ela respondeu:

– Eu sou garçonete. Trabalho na Cantina da Tancinha, um restaurante italiano que fica lá na Zona Leste.

– Ah, eu já ouvi falar dessa Cantina, dizem que o filé a prmeggiana de lá é de lamber os beiços! - elogiou Danilo.

– Eu também já fui lá com a Gabi e comemos um carpaccio que... Shirley, né, seu nome?

Shirlei sorriu.

– É Shirlei. - Corrigiu.

– Shirlei. Desculpa. Mas falando no carpaccio, o que era aquele carpaccio? - ele se virou para o amigo ao lado - Ernan, cara, a gente precisa ir lá qualquer dia desses e...

Então após isso toda a conversa da mesa girou em torno do quanto a comida da Cantina da Tancinha era maravilhosa, deixando Jéssica completamente furiosa e Shirlei imensamente feliz e orgulhosa.

– Ei, psiu! - Henrique tentou chamar a atenção de Jéssica , que estava emburrada. Então quando ela olhou. - Ponto pra Shirlei! - e deu uma gargalhada, fazendo Jéssica bufar de ódio.

Dois minutos depois, um garçom se aproximou de Shirlei.

– A senhorita vai querer beber alguma coisa?

Shirlei olhou para mesa e percebeu que todos estavam bebendo vinhos franceses.

– Moço, você pode pedir para Shirlei um... - Felipe começou a falar, tentando tirá-la do apuro, mas Jéssica foi mais rápida e segurou o ombro dele, impedindo-o.

– Amoooor, deixa que a Shirlei mesmo escolhe, ela deve saber escolher, não é, querida?

Felipe olhou a noiva de esguelha, fuzilando-a. Outro plano para deixar Shirlei em maus lençóis.

– Eu... Eu vou querer um... Château Brane Cantenac, por favor. - Shirlei disse em um francês perfeito, deixando todos boquiabertos, exceto Jéssica que franziu a testa, indignada.

– É um de nossos melhores vinhos, senhorita. Trarei em um minuto. - O garçom disse e fazendo um reverência saiu para buscar o vinho.

– Olha só, Shirlei, não sabia que falava francês. - Felipe falou, os olhos brilhando de orgulho.

Shirlei deu uma risada.

– Mas eu não falo. É que tem um cliente lá da Cantina que é francês e sempre que ele vai lá, fica horas comparando o vinho francês e o vinho italiano aí de tanto escutar acho que eu acabei decorando um dos nomes.

Felipe sorriu, quase dizendo para si mesmo que precisava daquela mulher para ele. Viver com Shirlei era ter motivo para sorrir e ser feliz todos os dias.

Vinte minutos depois, o prato escolhido a dedo por Jéssica chegou à mesa. Escargot. Esse era o nome. Prato nunca visto, nem comido por Shirlei.

– Henrique, desculpa, mas... - Shirlei sussurrou no ouvido de Henrique, depois de se deparar com os moluscos em seu prato e arregalar os olhos. - eu devo ser uma caipira mesmo porque eu nunca tinha visto esse tipo de comida. - ela segurou o alicate e o garfo de duas pontas como se fosse algo de outro planeta - Eu num sei nem como se pega nisso.

Henrique deu uma risadinha solidária, mas ao encarar Jéssica e a amiga sorrindo com deboche para Shirlei, teve uma ideia extremamente maldosa.

– Relaxa, Shirlei, que eu te ajudo. Primeiro... pega o alicate. - Shirlei obedeceu. Mas mal sabia ela que estava o tempo todo sob o olhar atento de Felipe, que estava se roendo de ciúmes com o jeito carinhoso com que Henrique estava ensinando Shirlei. - Isso. Agora aperta ele e pinça um dos moluscos. - Shirlei assim o fez e percebeu que conseguiu segurar um. - Pronto. Agora vira ele devagar com o buraco virado para direita, não tanto, isso, assim... Agora balança ele bem forte, o mais forte que você puder.

Shirlei franziu o cenho.

– Balançar? Tem certeza?

Henrique se virou em direção a Jéssica e mirou seu alvo, então se voltou outra vez para Shirlei.

– Absoluta. Confie em mim. Pode balançar com o máximo de força que você puder.

Shirlei virou a cabeça de lado sem entender. Mas se ele estava dizendo quem era ela para discordar, por isso, sem mais delongas, balançou, mas balançou forte, muito forte mesmo. Tão forte que o conteúdo que estava dentro do molusco voou longe, indo parar na camisa de Jéssica.

– AAAAAAAAAAAAAA! - Gritou Jéssica, se levantando de supetão e derrubando a cadeira no chão. - SUA LOUCA! OLHA SÓ O QUE VOCÊ FEZ! - Jéssica continuava gritando, enquanto tentava limpar o conteúdo da blusa com um guardanapo, repleta de nojo.

– Desculpa, Jéssica, eu não queria... eu juro que não foi minha intenção e... - Shirlei falava, atropelando as palavras.

– Claro que foi de propósito! É óbvio que foi! - Jéssica acusava a plenos pulmões.

– Chega, Jéssica! - Pediu Felipe. - Olha o escândalo que cê tá fazendo. Você agora deu pra ser barraqueira, foi? Cê num era assim.

– Felipe, você é o meu noivo e nem pra me defender!!!

– Jéssicaaaaaa! Para com isso! Foi você quem inventou esse jantar nesse restaurante francês sabendo que a Shirlei não conhecia escargot. Sabia que isso poderia acontecer, então, aprende a aguentar as consequências das suas armações.

A respiração de Jéssica ficou ofegante de tanto ódio, então rugindo, saiu batendo os pés para se limpar no toalete. Sua amiga Solange saiu correndo para ajudá-la.

– Desculpa o mau jeito da Jéssica, Shirlei, mas é que às vezes ela consegue ultrapassar todos os limites da razão.

– Às vezes??? - Henrique questionou.

Felipe não conseguiu nem repreender o amigo, pois no fundo sabia que ele tinha razão. Por fim, deu um suspiro profundo.

– Acho melhor a gente ir embora, já tá ficando tarde e... - Shirlei disse, envergonhada.

– Não, Shirlei, nada disso. - Henrique rebateu. - Cê ainda nem comeu. O que aconteceu com a Jéssica foi só um... pequeno contratempo. Vem! Você ainda tem que aprender a comer o escargot, eu te prometi, não prometi? - Felipe fechou a cara pela terceira vez naquela noite. Henrique percebeu. - Mas... agora que eu me lembrei que eu tenho de fazer uma ligação urgente. Felipe! - Felipe levantou o olhar, a sobrancelha arqueada. - Será que cê pode ajudar a Shirlei com esse probleminha, enquanto eu vou lá fazer essa ligação?

– Posso, claro. - Felipe falou um pouco sem graça.

– Ótimo. Já volto. - Henrique agradeceu e se despediu, indo embora, mas antes ainda arriscou dar uma olhadinha rápida por cima do ombro a tempo de ver quando Felipe se sentou ao lado de Shirlei. Henrique sorriu. Pois sabia que aquele casal tinha sido feito um para o outro.

– Tá, como é que é? Me ensina. - Shirlei pediu com um certo ar de inocência.

Felipe deu um sorrisinho de lado, feliz, por estar finalmente no lugar de Henrique.

– Oh, é assim: com a sua mão esquerda , cê vai segurar o alicate.

Shirlei obedeceu.

– Assim?

– É, assim. Agora, com a sua mão direita, cê vai segurar o garfo. - Shirlei segurou, e sorriu tal qual uma criança. - Bom, agora cê vai pinçar o molusco com o alicate, segurando bem, e com o garfo, retirar o conteúdo de dentro.

Shirlei fez tudo do jeito que ele disse, mas quando foi para retirar o conteúdo, foi um desastre.

– Ah, Felipe, eu bem que tô tentando oh, mas não sai nada, num prende no garfo. É muito mole.

Felipe deu uma risadinha, mas não de deboche.

– Espera, eu te ajudo... - Felipe disse e segurando a mão Dela que segurava o garfo, retirou o conteúdo do molusco, conseguindo. Então para finalizar o feito, foi levando o garfo até a boca de Shirlei, que esperava o conteúdo com os lábios entreabertos.

Quando Felipe se deparou com a visão dos lábios de Shirlei, seu coração disparou, e seu olhar acabou por se encontrar com o Dela cheio de desejo. Então, em vez dele levar o garfo até a boca dela, ele levou os próprios lábios entreabertos, ávidos por um beijo. E eles ficaram assim por um bom tempo nessa troca de olhares, se aproximando, até que...

– Felipe, eu quero ir pra casa agora! - Jéssica quase gritou, enfurecida. - Para mim, esse jantarzinho já deu tudo o que tinha de dar!

Felipe e Shirlei se viraram quase que no automático e ninguém saberia dizer quem estava mais sem graça.

– Jéssica, o jantar agora que chegou e...

– Garçom, a conta, por favor!!!! - Jéssica levantou o braço, encerrando qualquer argumento de quem quer que fosse.


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Notas finais do capítulo

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