Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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Terceiro Capítulo ❣️

Felipe estava tão absorto com o fato de ter reencontrado Shirlei que nem notou o quanto sua noiva estava furiosa com a troca de olhares entre os dois.

— Caramba, é muita coincidência! - Felipe disse com um sorriso aberto, os olhos brilhando. - Com tantos restaurantes na Zona Leste, eu vim parar justo no que você trabalha! Eu juro que eu não acredito nessas coisas, mas... isso só pode ser coisa do destino! - Terminou a frase mais empolgado do que deveria.

Com aquela declaração, mesmo sem querer, Shirlei acabou sorrindo também.

— Mas o senhor se encontrou com a Carmela hoje, num foi? Ela não te disse onde eu trabalhava? - Shirlei perguntou com uma pontinha de desconfiança.

— Quem é Carmela? Alguém pode me dizer? - Jéssica perguntou, mas nenhum dos dois se virou para ela. Era como se a mesma estivesse invisível.

— Eu me encontrei com ela sim. - Felipe explicou - Mas ela não me falou nada. Eu até ouvi quando ela disse que morava na ZL, mas por aqui existem tantos bairros, ruas, restaurantes... Achei que te encontrar de novo era uma chance em um milhão, mas agora cê tá bem aqui... na minha frente... - Nesse momento, o olhar dele se encontrou com o dela, e sua respiração se tornou ofegante - ...De novo. - soltou um sorrisinho de lado.

Shirlei começou a se perguntar o porquê daquele homem olhá-la daquela forma, bem como o porquê de ela mesma não conseguir desviar o seu olhar do dele.

— Já chega! - Gritou Jéssica, enfurecida e já de pé, com as mãos na cintura - Felipe, eu exijo uma explicação agora mesmo! De onde você conhece essa garçonetezinha, posso saber?

Só assim para os dois se darem conta da presença da mesma. No mesmo instante, Felipe virou o rosto em direção à noiva. Engoliu a seco. Como explicar a história da despedida de solteiro sem irritá-la? Tinha que pensar em algo convincente. E rápido!

— Jéssica, a Shirlei... ela é... A gente se conhece... - De repente um estalo veio em sua mente - O Henrique!

Shirlei franziu a testa em direção à Felipe, sem entender. Quem era esse tal de Henrique, pelo amor de Deus?

— O que tem o Henrique? - Jéssica quis saber.

Antes de responder, Felipe fez uma careta, afinal, nunca em sua vida se imaginou mentindo para alguém. E sabia que dali sairia uma bola de neve.

— A Shirlei... Ela é... a namorada do Henrique.

Shirlei arqueou as sobrancelhas e arregalou o olhar, enquanto Felipe lhe pedia com uma expressão no rosto para que ela não o desmentisse. Já Jéssica só franziu a testa.

— O Henrique, namorado de uma garçonete de um restaurantezinho da ZL? Cê tem mesmo certeza disso, Felipe? - Jéssica perguntou, e uma risada sarcástica saiu quase que sem querer.

Felipe fechou a cara.

— Jéssica, por favor!

Jéssica colocou a mão na boca, tentando conter o riso.

— Ai, desculpa, Felipe, mas é que não dá pra imaginar o Henrique com essa...

— Jéssicaaaaa! - Felipe falou entredentes. - Será que dá pra parar?!

Shirlei começava a se irritar com aquilo. Seja lá o que estivesse acontecendo ali, ou em que rolo estava se metendo, estava na hora de sair dali o mais rápido possível.

— Olha só, eu ainda tenho muito o que fazer hoje, então... se não se importam, será que os dois poderiam fazer logo os pedidos pra que eu possa ir atender aos outros clientes?

Jéssica sorriu, demonstrando quase que satisfação pela rebeldia de Shirlei. Já Felipe ficou extremamente preocupado com aquela atitude repentina, temia que ela tivesse ficado com raiva dele.

— Eu já disse o que eu queria. - Jéssica falou primeiro. - Ah, e por favor, traga o seu melhor vinho.

Shirlei mirou Felipe, mas logo desviou o olhar, que se dirigiu ao caderninho de anotações.

— E o senhor o que vai querer?

Felipe se sentiu mal por ver que ela não o encarava mais.

— Um gnocchi, por favor.

— E pra beber? - Perguntou, ainda sem encara-lo. Felipe ficou ainda mais arrasado.

— Ele vai tomar um pouco do meu vinho, não é amor? - Jéssica foi quem respondeu, esticando o braço para segurar a mão de Felipe em cima da mesa.

Felipe forçou um sorriso e teve de concordar com a cabeça.

Shirlei levantou o olhar tempo suficiente para vê-lo concordar. Depois baixou de novo. Não queria encará-lo. O que ele fez não merecia perdão!

— Vou mandar que preparem os pedidos dos senhores agora mesmo. - Shirlei avisou com educação - Com licença! - e saiu depois de fazer um meneio com a cabeça.

— Oh, mas vê se não demora muito, tá bom?! - Jéssica quis ainda dar uma de inconveniente. Felipe fuzilou-a. - Que foi?

— Precisava disso?

— Ai, Felipe, vai me dizer agora que cê gosta quando a comida demora?

— Cê sabe muito bem que num é disso que eu tô falando. Eu tô falando do jeito como você tratou a Shirlei.

Jéssica revirou os olhos.

— Nossa, Felipe, quanto exagero! Só porque eu achei estranho que um cara rico e bem sucedido como o Henrique namore uma garçonetezinha da ZL... Me desculpa, meu amor, mas é quase impossível não achar isso estranho!

— Pois eu não acho isso estranho não. Vai ver a menina tem qualidades que o Henrique admira. Talvez... O caráter, a simplicidade, a pureza, a generosidade...

No início do discurso, Jéssica balançava a cabeça, parecendo concordar com tudo que Felipe dizia, mas depois que ele terminou, ela explodiu em uma gargalhada, pegando-o totalmente de surpresa.

— Sério isso? - Jéssica quis saber em meio ao riso - O Henrique? Ai, Felipe, só você mesmo pra achar que o Henrique tá procurando esse tipo de qualidade numa mulher. Aposto que essa aí deve ser uma tremenda de uma vaga...

Mas antes que Jéssica pudesse terminar aquela palavra, um espécie de ÓDIO ganhou o coração de Felipe, que faiscou pelo olhar.

— Olha só como você fala da Shirlei!

Jéssica ficou abismada com o que viu.

— Felipe, o que deu em você? Tá defendendo essa garçonete por quê? Por acaso ela também já te ofereceu...

— Não termina essa frase! - Felipe falou de forma ameaçadora. Mas no mesmo instante se arrependeu da grosseria - Desculpa, Jéssica, mas é que hoje, definitivamente, você passou de todos os limites!

Jéssica resolveu calar-se, pelo menos por enquanto, mas aquela garçonete teria muito em breve uma visitinha dela, prometeu para si mesma.

Meia hora depois, Shirlei retornou com os pratos prontos e o vinho. Primeiro ela fez questão de servir Jéssica, que a fuzilava com o olhar, além de conferir cada detalhe do que ela fazia ou deixava de fazer, como se a qualquer momento fosse fazer uma crítica. Depois foi a vez de Felipe, que a mirava com admiração, prestando atenção no modo como ela mexia as mãos, os dedos, os lábios e até mesmo o piscar dos olhos. Não. Ele não conseguia evitar. Tudo nela lhe chamava a atenção. Era como se houvesse um imã entre eles.

— Espero que tudo esteja conforme o gosto dos senhores. - Shirlei disse, como que ensaiado.

Felipe sorriu para ela. E por mais que ela quisesse evitar, aquilo não lhe passou desapercebido. Aquele idiota tinha o sorriso mais lindo que ela já tinha visto na vida, até mais do que o noivo dela.

"Shirlei tira isso da cabeça! Esse cara é noivo. Além disso, não tem caráter. Cê não viu como ele teve coragem de mentir para própria noiva?!" Pensou ela.

— Huuuuuuuum! - Felipe exclamou depois de ter provado o prato. - Shirlei, isso aqui tá muito bom! Assim eu vou querer comer aqui todo dia!

Jéssica revirou os olhos.

— Ai, Felipe, também num é pra tanto, né?! Conheço temperos, oh, que dão de dez a zero nesse aqui!

Shirlei sorriu, pois a paciência dela havia chegado ao limite, então...

— Não se preocupe, dona Jéssica, porque nem a sua crítica, nem muito menos o elogio do seu Felipe vão mudar alguma coisa aqui nesse restaurante, então... podem ficar com eles pra vocês. Agora... se me derem licença! - ela se virou de costas e já ia indo embora, mas acabou se lembrando de algo, então voltou - Ah, só mais uma coisinha, quando quiserem pagar a conta se dirijam até o caixa, por favor, porque o meu expediente acabou de acabar. Obrigada e tenham um bom almoço! - Desejou ela com um falso sorriso e retirando o avental, virou de costas e foi embora.

— Podia ir embora daqui sem essa, né, amor? - Disse Jéssica para Felipe, depois de dar um gole em seu vinho.

Quando Felipe viu Shirlei indo embora, ele não mediu as consequências de seu ato e quase que instantaneamente, ele se levantou da cadeira para ir atrás dela. Mas Jéssica foi mais rápida e segurou o braço dele, impedindo-o.

— Não, Felipe! Nem pense em ir atrás dela!

Felipe olhou primeiro para mão de Jéssica que segurava o braço dele. Em seguida olhou bem fundo nos olhos dela.

— Jéssica, me solta! Eu só quero pagar a conta pra gente ir embora daqui.

Por um segundo sem fim, Jéssica ainda o encarou, desconfiada, mas resolveu lhe dar mais um voto de confiança, então devagar foi soltando-o.

E Felipe cumpriu o que disse, indo até o caixa, mesmo com o coração ardendo por dentro de vontade de ir correndo atrás de Shirlei. Tudo bem. Isso ainda não havia acabado. Shirlei ainda ouviria sua explicação. E entenderia. Pelo menos era o que ele ansiava que acontecesse.

*****************

— Então quer dizer que o destino fez com que você entrasse justamente no restaurante onde a Shirlei trabalha. - Henrique falou para Felipe quando ele explicou a coincidência daquela tarde. Eles estavam no escritório de Felipe. - Caramba, meu amigo! É quase inacreditável isso! Tudo bem que o reencontro foi quase que completamente estragado pela presença ilustre de sua noiva, que não poderia ter sido mais desagradável com a menina, mas... Tudo bem, ainda assim, isso não deixa de ter sido obra do destino. Mas e aí? Me conta! O que você falou pra Jéssica? Porque com certeza ela deve ter querido saber de onde você conhecia a Shirlei. E é claro que você não contou sobre a minha, digamos, travessura, ou contou?

— Não. A Jéssica nunca entenderia uma coisa dessa. Aquela ali tem ciúme até da própria sombra.

— Então, como você explicou isso? Fala aí, cara! Tô mega curioso! - Perguntou Henrique, até um pouco mais animado do que o normal.

Felipe se levantou da cadeira e se virou de costas para o amigo, que estranhou.

— Ah, cara, eu só tive que inventar que a Shirlei era sua... namorada. - Felipe fez uma careta, sem olhar para o amigo, mas esperando o grito, que ele tinha certeza, vinha logo em seguida.

— Ah, claro... Você só teve que inventar que a Shirlei era minha namo... - Henrique pausou, pensativo - COMO É QUE É??? Felipe!!!! Tá maluco, cara??!!

Felipe se voltou para ele.

— E o que você queria que eu fizesse? Que eu contasse que o meu melhor amigo, no caso você, me levou para uma boate de mulheres e me jogou no palco para que eu tirasse toda a minha roupa pra elas. É, porque eu não sei se você se lembra, mas foi lá que eu conheci a Shirlei. - Pausou, esperando a reação do amigo, que não esboçou nenhuma - Tenho certeza que a Jéssica iria adorar saber disso!

Um grande silêncio pairou no escritório, até que foi quebrado por Henrique.

— Então quer dizer que a tal Shirlei a partir de agora passou a ser a minha namorada... - Felipe sorriu, Henrique definitivamente não existia - Ok. Se é assim... Acho melhor eu conhecer essa mina logo. Até porque a nossa querida Jéssica deve tá louquinha pra tirar essa história a limpo, então... mãos à obra, irmão! Faz aí uma busca nas redes sociais. Shirlei com "i" não deve ser muito difícil de encontrar não.

Mesmo achando aquilo tudo uma loucura, imediatamente, Felipe sacou o celular do bolso e passou a buscar o nome dela no localizador do IG. Henrique se aproximou dele, os olhos vidrados no celular do amigo.

— E aí, Felipe? Por acaso uma dessas aí é ela?

Havia dez nomes. Dentre eles uma lhe chamou atenção por ter sobrenome italiano. Apertou nele.

ShirleiRigoni. Tudo junto.

Era ela. Tinha que ser. Felipe não tinha a menor dúvida. A imagem do perfil a retratava perfeitamente. Os olhos sugestivos e o sorriso aberto. Então os lábios de Felipe se inclinaram em um meio sorriso, fascinado, e Henrique não teve absolutamente nenhuma dúvida de que tinham encontrado sua namorada fake. Então, para provocar, Henrique tomou o celular das mãos do amigo.

— Caramba, minha namorada até que é gata, hein?!

Felipe fechou a cara, já tentando reaver seu celular de volta.

— Henrique, será que dá pra você me devolver meu celular, por favor?

Henrique fez de conta que não ouviu. E continuou a rolar a barra do celular, olhando cada foto de Shirlei.

— Ih, cara, tô de coração partido. - Felipe franziu a testa - A minha namorada tem mais foto com o noivo dela do que comigo, olha isso! - devolveu o celular para que Felipe pudesse ver.

Felipe ficou de cara com o que viu. Eram muitas fotos mesmo. De todos os tipos. Shirlei parecia ter participado de muitas viagens com o noivo, já que as imagens eram em muitos lugares diferentes. E em muitas delas, para profunda decepção de Felipe, extremamente e aparentemente românticas.

Percebendo o clima pesado que se formou ali, Henrique se aproximou do amigo.

— Segue ela, meu amigo! - Henrique sugeriu. - O pior que pode acontecer é ela não te aceitar.

Felipe ficou pensativo. Mas ao se lembrar da expressão dela ao se despedir, achou melhor deixar pra lá. Porque tinha algo bem pior do que isso: Ela podia bloqueá-lo antes mesmo de ouvir qualquer tipo de explicação que ele pudesse querer dar.

— Não, Henrique. Melhor não. A Jéssica se comportou muito mal com a Shirlei hoje. Acho que... Devo fazer alguma coisa para me redimir, sei lá...

Henrique sorriu e dando dois tapinhas no tórax de Felipe, falou, animado:

— E aposto que você já sabe muito bem o que fazer, tô errado?

Felipe deu um sorrisinho de lado bastante sugestivo. Henrique realmente o conhecia como ninguém.

******************

— Desculpa a demora, Larissa, mas é que depois de almoçar, eu ainda tive que passar no banco pra resolver uns probleminhas que... - Shirlei pediu para a irmã de Apólo, que estava do outro lado do balcão. Mas parou de falar quando seus olhos se depararam com lindas orquídeas amarelas dentro de um jarro. - Quem deixou isso aqui?

Larissa sorriu, apoiando o cotovelo no balcão e a mão no queixo, o olhar encantado pelo gesto romântico.

— Isso eu não sei, amiga, mas são pra você?

Shirlei abriu um sorriso luminoso e suas mãos instintivamente se dirigiram ao seu peito.

— Pra mim? Tem certeza? Será que foi o seu irmão? Mas... Ele nunca foi disso.

— Pois é... Também achei estranho. Até porque se tivesse sido o Adônis, acho que ele tinha dito alguma coisa pra mim. - Shirlei virou a cabeça, pensativa. - Sabe o que eu acho? Que pode ter sido coisa de algum cliente seu. Porque eu já ouvi por aqui que você é a queridinha de muitos, sabia?

Shirlei sorriu e corou.

— Ai, Larissa, também não é pra tanto, vai...

— Não é? Tem cliente que já chega aqui perguntando: Cadê aquela garçonete baixinha? Ah, ela é tão boazinha e eficiente. Melhor garçonete daqui. Adoro ser atendida por ela.

Shirlei ficou ainda mais corada, nunca imaginou ser tão requisitado assim. Ficou feliz e orgulhosa de si mesma. Sinal de que estava fazendo um bom trabalho.

— Mas... - continuou Larissa - se você quer saber logo quem foi que te mandou, eu acho que vi um envelope na lateral do vaso.

Curiosa, Shirlei pegou o envelope e retirando um cartão de dentro, passou a ler o que estava escrito.

" Será que essas orquídeas servem como um pedido de desculpas? Se sim, gostaria que me desse uma chance de me explicar. Nem tudo que escutou hoje é o que parece... E quero ter a chance de te provar que sou uma pessoa em que pode confiar."

Aguardo resposta... ;) Felipe.

Quando terminou de ler, Shirlei deu Graças a Deus por ter lido o bilhete para si mesma porque aquilo era altamente confidencial e seu noivo jamais entenderia tal intimidade. Sorriu para Larissa, afinal, tinha de dar alguma satisfação para cunhada. E rápido, antes que a mesma viesse a desconfiar e pedisse para ler o bilhete.

— Er... - Shirlei teve dificuldade de mentir - Você estava certa, cunhadinha, as flores foram mandadas por um cliente.

— Não disse! - quase gritou se gabando por ter adivinhado, só que não. - Ficou toda fofa, hein?! Mas diz aí! Qual o nome do cliente pra eu ver se eu conheço.

Shirlei arregalou o olhar e forçou um sorriso. E agora? O que inventar?

— Não diz no bilhete. Acho que não quis se identificar. - respondeu, dando de ombros. - Fazer o que, né?!

— Ah, que fofo. Sinal de que não quer nada em troca. Gostei. Ou... que é um possível candidato a admirador secreto.

Shirlei arregalou o olhar outra vez, mas acabou forçando outro sorriso ao perceber que sua cunhada não estava falando sério.

— Ai, Larissa, só você mesmo pra pensar uma coisa dessa. E é melhor você nem brincar com isso, vai que teu irmão escuta!

Larissa soltou uma risada divertida, e amarrou o avental na cintura.

— É verdade. Até porque os clientes estão começando a chegar e a dona Francesca não vai gostar nada nada de ver a gente aqui de bate papo. Vamos trabalhar?

— Vamos sim. Mas... - Shirlei pegou o vaso com as orquídeas, tendo o maior cuidado. - Acho que eu vou levar isso aqui lá pra cozinha. É bem rapidinho. Já volto, tá?!

Larissa concordou com a cabeça e Shirlei saiu em direção à cozinha, que ficava nos fundos do restaurante.

Chegando lá, Shirlei se certificou primeiro de que estava completamente sozinha. Olhou primeiro na despensa, depois no depósito. Ninguém. Ótimo. Era tudo que ela queria para poder reler o bilhete e se certificar de que tinha lido aquilo mesmo. Colocou o vaso na mesa e se sentou em uma das cadeiras.

Dez segundos depois de ter relido o bilhete, Shirlei ficou pensativa. No fim do texto, ele tinha deixado bem claro que aguardava uma resposta. Mas... que tipo de resposta? Se ela não sabia como encontrá-lo. No bilhete não havia endereço, telefone, nada. Será que ele viria ao restaurante outra vez? E com a nojenta da noiva dele, que só de pensar, já causava em Shirlei uma espécie de arrepio insuportável.

Então foi aí que, em meio aos seus pensamentos, o celular de Shirlei vibrou em sua bolsa. Franzindo a testa, ela abriu a bolsa e depois de vasculha-la, pegou o celular, ficando surpresa com a mensagem da tela de início.

" FelipeMiranda pediu pra seguir você."

Mesmo sem querer, um sorriso se formou em seu rosto. Ela agora começava a entender... Felipe já tinha tudo planejado quando resolvera mandar aquelas orquídeas. "Danadinho"

Tudo bem, ela também sabia jogar. Por isso, sem mais delongas, colocou a senha no celular e abriu seu IG, aceitando o pedido dele logo em seguida, ao mesmo tempo em que pedia para segui-lo.

A resposta veio dois segundos depois, sinal de que Felipe já aguardava ansioso pela resposta dela. Shirlei soltou uma risada. Nunca imaginou aquilo. Achou até um pouco divertido aquele, digamos, flerte. Ok. Mas e agora? Ainda faltava a resposta, não era? Shirlei olhou de um lado para o outro, até que seus olhos se fixaram outra vez nas orquídeas e ela teve uma idéia um pouco arriscada, mas que talvez desse certo...

*******************

Felipe estava sentado, praticamente jogado, no sofá grande da sala de seu apartamento, as pernas abertas, celular em uma das mãos. Já fazia quase meia hora que tinha Shirlei no seu IG. Durante esse tempo, tinha aproveitado para ver e rever cada foto, imagem e frase que ela tinha postado. Sim. Ele já estava se achando meio obcecado por alguém que mal conhecia, mas o que ele podia fazer se ela não saia de sua cabeça.

— ...Juro que eu não consigo lidar com essa gente ignorante... Felipe? - Jéssica chamou, tentando chamar a atenção do noivo, que até então não estava prestando atenção em uma só palavra do que ela dizia. - Cê tá me ouvindo, amor?

Felipe balançou a cabeça e passou a mão no rosto para acordar dos devaneios.

— Hã...? Cê falou alguma coisa?

Jéssica fez uma careta, indignada e colocou as mãos na cintura. Ela estava de pé em frente ao sofá.

— Falei! Falei mil coisas! Mas parece que você não me escuta. Porque hoje parece que você resolveu ficar o dia todo grudado na porcaria desse celular!

Felipe revirou os olhos. E começou a falar com uma voz preguiçosa e sem paciência.

— Jéssica, se eu tava grudado no celular, como você diz, é porque era importante, tá bom? Agora se você tá achando ruim, eu acho melhor você ir...

Ele ia terminar a frase, mas seu celular acabou vibrando e isso acabou distraindo-o. Não que ele estivesse esperando mais alguma coisa dela, mas vai que a sorte estivesse ao seu favor hoje, não é? Por isso, olhou o visor.

" ShirleiRigoni acabou de postar uma imagem"

— Vai, Felipe, termina de falar o que você ia dizer! - Jéssica disse, impaciente.

— Pera só um pouquinho, Jéssica, que chegou uma mensagem aqui... - Felipe respondeu, tentando disfarçar e virando o celular para que Jéssica não pudesse ver do que se tratava. A mesma cruzou os braços, furiosa.

Contudo, Felipe não estava nem aí pra ela. Tudo que ele queria era saber o que Shirlei havia acabado de postar. Será que tinha a ver com ele? Seria muita pretensão já pensar assim? Enfim... seja lá o que fosse, saberia agora. Mas qual não foi a sua surpresa quando, ao abrir o IG dela, se deparou com a imagem das orquídeas que mandara para ela naquela tarde, com uns dizeres embaixo.

" São LINDAS. Essa frase serve como resposta?"

O sorriso mais lindo, capaz de derreter todo o Ártico surgiu no rosto de Felipe. Shirlei havia entendido bem o recado, tanto que brincara com as palavras. Felipe colocara no bilhete que aguardava resposta e ela escreveu se aquela imagem servia como resposta. Então agora só restava para Felipe uma coisa para fechar a conexão dos dois com chave de ouro: curtir a foto. E foi o que ele fez logo em seguida, sorrindo tal qual uma criança.

*****************

À noite, o movimento do restaurante, como sempre foi grande, então o último cliente saiu de lá muito tarde, quase meia noite. E naquele dia, Shirlei era a responsável por trancar todas as portas e baixar o portão principal da Cantina. O marido de Larissa ainda se ofereceu para ficar e ajudar, mas de última hora aconteceu um imprevisto com sua esposa e ele teve que correr pra casa, sendo obrigado a deixar Shirlei sozinha. Tudo bem. Aquela não era nem a primeira, nem a última vez que aquilo aconteceria, por isso, Shirlei arregaçou as mangas e tratou de começar o seu trabalho.

As janelas e portas eram de longe as coisas mais fáceis de trancar. O problema estava no portão, pois, por causa de sua altura, Shirlei sempre encontrava um pouco de dificuldade em alcançar a parte de cima dele para que assim pudesse baixa-lo. Mas... Fazer o quê se todo mundo já tinha ido embora? O jeito era começar a pular. E foi o que ela começou a fazer quando, de repente, sentiu alguém se aproximando. Olhou para trás e não viu nada. Ficou assustada. Voltou a olhar para frente e quase caiu para trás ao se deparar com o portão vindo em sua direção puxado pelo braço forte e musculoso de...

— Seu Felipe!!!! O que o senhor tá fazendo aqui? - Shirlei questionou, piscando os olhos como se estivesse diante de uma miragem. O coração Dela disparou e as pernas ficaram bambas.

— Te ajudando. Não posso? - Felipe respondeu depois de trancar o portão com cadeado e levantar, para ficar olho a olho com Shirlei.

— Mas... O senhor veio até aqui só pra me ajudar? - Shirlei queria entender. Aquilo era demais pra ela. Homens assim não existiam.

Felipe sorriu.

— Não. A verdade é que... Eu vim deixar a minha irmã aqui pertinho na casa de uma amiga aí como eu sabia que você trabalhava aqui, resolvi arriscar pra vê se ainda te encontrava por aqui e olha só... parece que a sorte está do meu lado hoje.

Shirlei sorriu e ficou corada. Mas, definitivamente, ela não sabia o que dizer. Então ela ficou olhando para os lados.

— Tá indo pra casa? - A sorte é que ele sempre sabia.

Shirlei assentiu com a cabeça.

— Eu te levo.

Shirlei arregalou os olhos.

— Não precisa. A parada de ônibus é aqui pertinho e...

— Eu faço questão. - Shirlei ia abrir a boca, mas Felipe foi mais rápido - Shirlei, pra mim não custa nada. Eu já estou aqui mesmo, e se você for ver, é bem melhor arriscar pegar uma carona comigo do que pegar um ônibus nesse horário, hum?

Shirlei olhou pra ele, como que analisando os prós e contra da carona até que o viu se dirigir até o carro e abrir a porta pra ela.

— Você vem? - Ele perguntou, parado com a porta aberta pra ela, parecendo um príncipe.

Ela deu um suspiro longo e criando coragem, resolveu ceder, entrando no carro. Satisfeito, Felipe fechou a porta com cuidado e arrodeando o mesmo, sentou no banco do motorista e deu a partida.

— Pode colocar o cinto, por favor?! - Ele disse, provocando-a em tom de brincadeira.

Ela deu um meio sorriso, enquanto puxava o cinto e afivelava.

— O senhor vai atravessar quatro quadras e pode virar à direita no terceiro sinal. - Foi só o que ela disse para explicar onde morava.

O restante do caminho, eles permaneceram em silêncio, até que ele esticou o braço para ligar o som, que àquela hora estava passando música de amor. Felipe deixou ali. Shirlei ficou incomodada. Tanto que deu um suspiro e o olhou de rabo de olho.

— O senhor sabe que sou noiva, né?

Ele deu um sorriso de lado que era um charme só. E virou o rosto pra ela.

— Sei. Eu também sou.

Ouvindo a resposta dele, ela virou o rosto pra ele, mas de arrependeu porque foi nesse momento que seus olhares se encontraram, e um frio na barriga foi sentido por ambos, que tiveram de virar os rostos automaticamente para frente ao ouvir o som agudo e estridente do latido de um cão sendo quase atropelado pelo carro de Felipe.

— Ai meu Deus, seu Felipe, cuidado pra não atropelar o cachorrinho! - gritou Shirlei, os olhos arregalados.


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Notas finais do capítulo

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