Quando o Amor acontece escrita por Lizzy Darcy


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Vamos ver o que aconteceu com nosso casa depois do primeiro encontro...



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Segundo Capítulo ❣️

– Baby bofe, achei que tivesse me dito que aquele seu amigo gostosão era um gentleman? - disse Daniel para Henrique ao entrar nos bastidores da boate.

Henrique estava acabando de desligar o celular, que tinha tocado exatamente no momento de maior confusão na boate, ou seja, Henrique, até então, não estava sabendo de nada do que tinha acontecido com Felipe.

– E ele é. Conheço o Felipe desde moleque. Aquele ali, se duvidar, tá até fazendo doutorado pra príncipe. Mas por que cê tá perguntando isso?

Daniel arqueou as sobrancelhas, incrédulo, e após abrir com habilidade um leque lustroso, respondeu:

– Se é assim, acho melhor você ir lá no palco pedir ao seu príncipe para parar de fazer escândalo antes que a polícia venha bater aqui e mande fechar o meu estabelecimento que eu me sacrifiquei tanto para conseguir abrir.

Henrique arregalou os olhos. Nunca em seus piores pesadelos, ele imaginou Felipe em uma situação como aquela.

– Espera... Tem certeza que é mesmo o Felipe quem tá fazendo o escândalo, porque...

Mas o olhar que Daniel lançou para Henrique não precisou nem de resposta, fazendo com que o mesmo saísse correndo em direção ao palco o mais rápido possível.

Chegando lá, Henrique mal pôde acreditar no que estava vendo. Felipe estava sendo segurado por dois seguranças. E se fosse apenas isso até que dava para aguentar. O problema era que Daniel tinha razão, Felipe estava mesmo fazendo um escândalo, além de estar se debatendo contra os dois brutamontes.

– Felipe, Felipe - Henrique chamou o amigo já tentando acalmá-lo - qual foi, meu irmão? Quê que deu em você?

– Henrique, a moça... ela... ela não teve culpa... o cara levou ela e... - Felipe falava uma frase atrás da outra, atropelando as palavras, claramente desesperado.

Henrique segurou os ombros do amigo. E olhou bem no fundo dos olhos dele.

– O quê? Que moça? Do que você tá falando, cara? - ele perguntou, mas percebendo que Felipe iria repetir a mesma coisa, resolveu tentar outra coisa. Virou-se em direção aos seguranças. - Soltem ele! Ele é meu amigo. Pode deixar que eu mesmo me encarrego dele daqui por diante.

Os seguranças se entreolharam, desconfiados e hesitaram em soltá-lo de início. Mas bastou um meneio de cabeça de Daniel para que os seguranças obedecessem sem pestanejar.

Agradecido, Henrique segurou o braço de Felipe, que ainda continuava vestido apenas com a sunga e o levou para os bastidores.

– Agora dá pra me explicar o que deu em você, cara? Nunca te vi reagir desse jeito antes!

Antes de responder, Felipe passou a mão pelos cabelos, depois apoiou as duas mãos na cintura.

– Cara, nem eu sei te explicar. Só sei que uma moça subiu no palco e...

– Uma maluca você quer dizer.

Felipe balançou a cabeça em negativa. E lembranças do rosto de Shirlei lhe vieram a mente como um flash.

– Não. Nada disso. Ela não me parecia maluca. Henrique, eu sei que você vai me achar meio louco, mas... ela era diferente de todas as mulheres que eu já conheci. Sei lá, ela tinha os olhos tão expressivos, sabe? E um sorriso que chegava a ser... Puro.

Depois daquela descrição, um silêncio pairou nos bastidores. Henrique ficou mirando o amigo, que olhava para o nada, parecendo fascinado com a moça misteriosa.

– Ih, amigo - Henrique quebrou o silêncio - pelo que deu pra perceber aí, teu noivado acabou de dançar, né?!

– É... - Felipe respondeu sem pensar, até que a realidade tomou conta de sua mente. E ele arregalou o olhar, arrancando uma risadinha discreta do amigo. - Caramba!!!!! Meu noivado! A Jéssica! Henrique, a Jéssica! Do jeito que aquela lá é, ela deve tá a essa hora planejando minha morte.

Henrique esticou o braço e segurando o ombro do amigo, o olhou, solidário.

– Uma morte lenta e dolorosa, meu amigo. - Debochou, para em seguida, dar uma risada gostosa.

Felipe o fuzilou com o olhar.

– Para de deboche, Henrique! Não vê que a coisa é séria! Eu tenho que correr agora mesmo pra minha casa. Os pais dela já devem estar lá, os convidados... todo mundo.

– Calma, Felipe! Veste a roupa que em quinze minutos eu te levo lá!

Felipe concordou com a cabeça. Mas logo um pensamento romântico lhe sobrevoou à mente... A moça do palco.

– Não, Henrique, mudança de planos. Você não vai.

Henrique piscou duas vezes, sem entender.

– Como assim eu não vou...? Fui desconvidado por causa da travessura que eu fiz com o meu amigo? - questionou, divertindo-se.

– Não. Em relação a travessura outra hora a gente conversa porque o que é teu tá guardado. Mas... o que eu tô querendo pra agora é que você descubra pra mim o que aconteceu com a moça do palco.

Henrique franziu a testa.

– Cara, eu nem sei quem é essa maluca. Como cê acha que eu vou fazer isso?

Felipe chegou perto do amigo e bateu no peito dele de forma amigável.

– Te vira! Mas só aparece na minha festa de noivado com notícias Dela! Do contrário, melhor nem aparecer.

Henrique deu um suspiro profundo. Mirou o amigo e soube de cara, ele estava falando sério. O melhor era obedecer, afinal, quem mandou inventar despedida de solteiro antes do tempo.

*****************

– Calma, Jéssica, pra tudo tem uma explicação. - Felipe argumentou. Os dois estavam dentro do quarto de Felipe, enquanto os convidados se divertiam na sala sem nem imaginar o que se passava com os noivos.

Jéssica estava enfurecida.

– Que tipo de explicação se pode ter, Felipe, para um atraso de quase duas horas para o seu próprio jantar de noivado, posso saber? - ela perguntou quase gritando. - Heim, Felipe? Responde!

Felipe passou a mão no rosto, impaciente, pois, por mais que estivesse errado, o cansaço também o consumia de uma maneira que...

– Jéssica, será que dá pra gente deixar essa conversa pra depois?

Jéssica franziu a testa quase sem acreditar no que ouviu.

– O quê? Deixar pra depois? Felipe Miranda, o errado aqui é você, sabia?

– Sabia, Jéssica. Mas é que realmente, eu não estou muito animado para este tipo de discussão. Não hoje. Não essa noite. Mas se você quiser, a gente pode adiar o nosso jantar de noivado e conversar, é isso que você quer?

Jéssica arregalou o olhar.

– Felipe, o que deu em você? Você nunca falou desse jeito comigo.

– Talvez seja esse o problema. E esteja na hora de começar, antes que seja tarde demais.

Jéssica parou no tempo e olhou para o noivo como se estivesse diante de um et. Em seguida, chegou bem perto dele, e apontou o dedo, em sentido de ameaça.

– Olha aqui, Felipe, seja lá o que você tenha aprontado, eu prefiro nem saber. Mas lá fora tá cheio de gente esperando que a gente oficialize o nosso noivado. E é exatamente isso que a gente vai fazer nesse momento. Ouviu bem? Então, trate de colocar um belo sorriso no rosto e pelo menos fingir que estamos bem!

Felipe franziu a testa, incrédulo.

– Está bem. Se é isso que você quer... Vamos lá. Jéssica. - Falou, mas sua voz saiu mais irritada do que desejava.

Então, mesmo só na aparência, os dois saíram de mãos dadas para sala a fim de cumprimentar os convidados e oficializar o noivado como tanto desejava a noiva.

Quarenta e cinco minutos mais tarde, finalmente tudo estava resolvido, e Felipe estava fitando sua aliança com expressão de arrependimento, quando alguém se aproximou.

– Aconteceu alguma coisa, Felipe?

Logo que reconheceu a voz, Felipe tratou de forçar um sorriso, não queria que sua irmã caçula se preocupasse com ele.

– Nada. Só estou aqui perdido em pensamentos. - respondeu, ao mesmo tempo em que abraçou a irmã e tascou um beijo no alto de sua cabeça com carinho.

Cris sorriu com ternura.

– E eu posso saber em que o meu irmão lindo está pensando?

Foi só aí que pela primeira vez naquela noite, um sorriso sincero se desenhou nos lábios de Felipe, pois o sorriso de uma certa moça lhe veio direto à mente.

– Digamos que eu estou pensando que a vida às vezes pode nos surpreender quando, e da maneira que a gente menos espera.

Cris franziu a testa sem entender nada.

– Como é que é? Não entendi nada.

Mas em vez de responder, Felipe deu um sorriso bem aberto e passou o dedo indicador pelo nariz da irmã com todo carinho como sempre fazia com quem amava de verdade.

– Talvez um dia você entenda, irmãzinha. Porque até eu tô tentando entender ainda.

Cris continuou confusa, mas achou melhor encerrar o assunto. Seu irmão estava muito misterioso naquela noite e ela sabia que não adiantaria arrancar nada dele. Um dia descobriria e esperava que fosse rápido. Nunca havia visto seu irmão sorrir tão lindamente como o fez em determinado momento da conversa.

– Henrique?! - Felipe exclamou, retirando Cris de seus pensamentos. - Desculpa, irmãzinha, mas eu preciso ir ali falar com ele. Já volto!

E antes que Cris pudesse falar qualquer coisa, Felipe já se dirigia até a porta onde Henrique se encontrava.

– Então, descobriu alguma coisa? - Felipe perguntou, agoniado, a voz baixa e disfarçada para que ninguém pudesse ouvir.

– Descobri. - respondeu ele com o mesmo tom de voz. - mas acho melhor a gente ir para o seu quarto. A coisa é bem mais séria do que você imagina.

Aquela última frase acabou por assustar Felipe que tratou logo de arranjar um jeito de levar o amigo para o quarto, mesmo sob o olhar atento e furioso da noiva.

– Vai, Henrique, fala! O que aconteceu com a menina? - Felipe perguntou, as mãos apoiadas na cintura.

– Levaram ela para delegacia.

Felipe franziu a testa, indignado.

– Como é que é? Levaram ela pra delegacia?! - O susto foi tão grande que Felipe não mediu as consequências do que fazia e segurou o colarinho do amigo - Henrique, cê tem que dá um jeito de tirar ela de lá! Essa menina não pode ser presa só porque...

Henrique tirou as mãos do amigo de seu colarinho.

– Calma, cara, eu disse que ela foi pra delegacia. Não disse que ela foi presa. Eles só levaram ela pra lá pra dar um susto, mas logo a irmã e a mãe dela apareceram e eles soltaram ela. Além disso, pelo que me falaram, a menina tinha bons antecedentes criminais então... fica frio, irmão... tua princesa a essa hora deve tá em casa sã e salva.

Felipe deu um suspiro de alívio, apesar da palavra "princesa" ter ecoado dentro dele. Ela não era a princesa dele, claro que não! Ele só estava preocupado porque ela era, bom, ela era... uma menina indefesa e... enfim... era só isso. Só isso. Tentou se convencer com todas as suas forças.

– Mas e o nome dela...? Conseguiu descobrir? - Henrique deu um sorriso sugestivo. - Que foi? Só tô curioso.

– Nada. É que... - antes de continuar, Henrique segurou o ombro do amigo - Felipe, na boa, cê tá interessado nessa mina, num tá?!

Felipe arregalou o olhar e para disfarçar, olhou de lado.

– Claro que não! Eu só fiquei preocupado. - Felipe se justificou, mas logo um sorrisinho sugestivo se formou em seus lábios e ele acabou soltando algo sem querer - Mas que ela é linda, é.

Então os dois riram com a cumplicidade de grandes amigos que eram.

– Melhor deixar pra lá, amigão. - Henrique aconselhou - Porque sabe se lá quando cê vai ver essa mina de novo. E olhe que eu fiz de tudo pra obter informações sobre ela, mas tudo que eu consegui foi saber que ela não tinha sido presa e que a mãe dela era uma tremenda de uma barraqueira.

Felipe deu um suspiro de frustração.

– Cê tem razão. O melhor que eu faço é esquecer que essa noite existiu e tocar pra frente. - Henrique concordou com a cabeça. - Eu vou ao banheiro. Cê me espera aqui ou vai indo lá pra fora?

– Eu te espero aqui porque o meu celular descarregou, daí... será que eu posso usar teu telefone fixo pra fazer uma ligação urgente?

– Claro, cara. Fica a vontade aí. Já volto.

Então, enquanto Henrique fazia a ligação, Felipe foi ao banheiro.

Chegando lá, Felipe começou a desabotoar a calça e tal não foi a sua surpresa quando de repente algo branco em sua sunga lhe chamou a atenção. Retirou-o de lá com cuidado para não rasgar. Tratava-se de um guardanapo dobrado. Abriu-o, e ao se deparar com o conteúdo, arregalou o olhar. Então, esquecendo-se até do que tinha ido fazer ali, saiu do banheiro apressado.

– Henrique!!!!

Henrique se virou assustado para o amigo.

– Que foi, cara?!

– Olha isso! - Felipe entregou o guardanapo na mão do amigo, que leu com atenção.

– Certo. Aqui tem o nome de uma mulher e um telefone. E?

– E... Esse é o nome e o telefone dela. - Henrique franziu a testa ainda sem entender. - Da moça do palco, cara!

Henrique arregalou o olhar.

– Espera... isso quer dizer que você agora não só sabe o nome dela como também sabe o número do celular Dela, é isso? - Felipe balançou a cabeça concordando - Caramba! Isso é que é uma garota de atitude! Gostei! Então, meu amigo, o que cê tá esperando? Pega o celular e liga pra essa tal de... Carmela.

Um sorriso feliz se formou nos lábios de Felipe, mas logo em seguida foi morrendo aos pouquinhos.

– Não, cara. Eu não posso fazer isso com a Jéssica. Eu acabei de ficar noivo Dela. É a família Dela que tá lá fora agora. Eu sei que... a Jéssica não é um poço de qualidades, mas... eu sempre fui um cara fiel e não é agora que vou deixar de ser, só por causa de uma garota que de certa forma conseguiu mexer comigo. Não. Isso não tá certo. - Concluiu e amassou o papel, jogando-o no lixo.

Henrique deu um sorrisinho sugestivo.

– Ah, então quer dizer que você admite que essa garota realmente mexeu com você?

Felipe demorou um pouco para responder, mas após um suspiro, resolveu confidenciar de um vez.

– Como nenhuma outra. E eu nem sem sei porque, já que a gente nem chegou a se falar direito.

– E mesmo assim, você vai preferir esquecer?

– Vou. Porque é o certo a se fazer.

Henrique jogou as mãos para cima como que se rendendo.

– Ok, amigão. Você quem sabe. Mas posso ser sincero? - Felipe meneou a cabeça. - Eu não acho que a Jéssica seja a mulher certa pra você. Porque você, meu amigo, merece uma verdadeira princesa de conto de fadas. - Fez uma careta - Caramba! Eu não acredito que eu disse isso! - E gargalhou dele mesmo.

Felipe deu uma risada asmática e acabou abraçando o amigo, que retribuiu dando tapinhas nas costas dele.

– Valeu, Henrique. Vou me lembrar disso no dia que eu encontrar uma. Se é que existe. Por enquanto, vou me contentar com a Jéssica. Vamos voltar lá pra sala?

Henrique ficou calado por um instante como se estivesse perdido em pensamentos.

– Não. Vá indo que daqui a pouco eu vou. Preciso fazer outra ligação.

– Tá certo. Mas vê se não demora porque daqui a pouco vai ser a hora do brinde e quero meu futuro padrinho comigo.

– Não perderia isso por nada. - Henrique respondeu e piscou para Felipe, que foi embora, satisfeito.

Quando Henrique se viu sozinho, discretamente, foi até o lixo onde Felipe tinha acabado de jogar o guardanapo.

– Eu tenho certeza que você ainda vai me agradecer muito por isso, amigão! - E retirou o guardanapo do lixo, guardando-o no bolso.

Depois saiu do quarto como se nada tivesse acontecido.

*************
No outro dia, Felipe estava na Peripécia terminando de rever um trabalho importante. E já era horário de almoço, quando Henrique bateu na porta.

– Entra - gritou Felipe do lado de dentro de seu escritório.

– Tá muito ocupado? - Henrique perguntou com a porta entreaberta.

– Mais ou menos. Só tô terminando de rever aquele trabalho que eu deixei pendente da semana passada. Por quê? Alguma problema?

Henrique entrou e fechou a porta.

– Não. Só vim te chamar pra almoçar.

Felipe deu uma última conferida nos papéis e levantou o olhar para o amigo.

– Vamos sim. Só vou ligar aqui pra Jéssica e...

– Não! - Henrique quase gritou, interrompendo-o. - Pra que chamar a Jéssica, cara? Num tô muito a fim de bancar a vela hoje não, pode ser?!

Felipe deu um risinho de lado. E já ajeitando os papéis, pegou as chaves do carro.

– Pode sim. Mas isso é o que dá querer ser esse solteirão convicto.

Henrique fez uma careta pra ele, abrindo a porta para dar passagem ao amigo.

– Eu não quero, meu amigo. Eu sou. Agora vamos porque já estamos bem atrasados.

Felipe arqueou uma sobrancelha, estranhando.

– Atrasados?!

Henrique praticamente empurrou o amigo porta afora.

– Não faz pergunta e anda logo!

Então sem mais delongas, ambos se dirigiram até o estacionamento.

Vinte minutos depois, os dois estavam entrando no restaurante, quando o maître se aproximou e os conduziu até a mesa reservada por Henrique para aquele dia em especial.

Chegando lá, o prato também já tinha sido escolhido, então tudo que restava a Felipe era esperar.

– Quem cê tá esperando, cara? - Felipe perguntou para Henrique quando o viu esticar o pescoço e olhar para porta de vidro da entrada do restaurante.

Henrique lançou um sorriso sugestivo para o amigo bem no momento em que o maître se aproximou.

– Senhor Henrique, sua convidada acaba de chegar. - avisou o maître, quase que só para Henrique escutar. O mesmo sorriu, agradecido.

– Convidada? - Felipe quis saber. - Que convidada? Henrique, cê pode me dizer o que tá...

Mas antes que pudesse fazer mais alguma pergunta, Henrique saiu em direção à porta de vidro, deixando Felipe "a ver navios".

Cinco minutos depois, Henrique voltou, mas não estava sozinho. Do lado dele havia uma moça, que digamos, seria considerada bonita se não fosse seu não tão bom gosto para roupas.

Henrique estava com o braço em volta dos ombros da moça, e ambos estava sorrindo abertamente. Por que estavam tão felizes? Pensou Felipe, confuso. Então se levantou para cumprimentá-la. Seja lá quem fosse, tinha de ser educado. Vai que finalmente seu amigo resolveu arranjar uma namorada... mas logo aquela?!

"Felipe, deixa disso, a moça até que é... enfim... ela deve ter uma conversa boa." - Pensou ele.

– Não tá reconhecendo, Felipe? - Henrique perguntou, quebrando o silêncio constrangedor.

Felipe arqueou a sobrancelha e mirando a moça dos pés à cabeça, voltou a olhar para o amigo, com expressão de "quê?"

– Deveria?

Henrique olhou pra ele, como que dizendo: "é óbvio"!

– Essa é a Carmela. - Felipe franziu a testa, então Henrique insistiu - A moça do palco, cara. Lembra?

Mas antes que Felipe pudesse dizer que aquela não era, nem nunca poderia ser a moça do palco, uma risada estrondosa saída da boca de Carmela fez com que a atenção dos dois se voltasse para ela.

– Desculpa. - Pediu Carmela em meio ao riso. - Mas é que... essa situação tá muito engraçada. - Felipe cruzou os braços, irritado. Não gostou nenhum pouco do deboche. Henrique, ao contrário dele, não estava entendendo nada. - Desculpa. Deu nome é Felipe, né? - Felipe concordou com a cabeça - Desculpa. Mesmo. Acho que eu devo uma explicação aos dois. Enfim... Meu nome é Carmela, prazer. Mas a pessoa que subiu no palco não fui eu, foi a minha irmã, Shirlei.

– Shirlei? - Henrique perguntou, repetindo o nome para ver se tinha ouvido direito.

– É. - respondeu Carmela - Com "i" no final. Nosso pai italiano errou no registro e se pronuncia assim mesmo. Coisa de quem mora na ZL. Mas pela pinta de vocês - apontou com o dedo para a roupa dos dois - Cês num devem nem ter idéia do que eu tô falando, né?!

Felipe deu uma olhada discreta de lado para Henrique. Não gostou nem um pouco do modo como Carmela se referiu a eles.

– Então se foi a tal Shirlei que subiu no palco porque é o seu telefone que tá escrito no guardanapo? - quis saber Henrique.

– Porque fui eu quem se interessou pelo gogoboy aí. - Carmela respondeu sem pestanejar, "comendo" Felipe com os olhos. - A minha irmãzinha só me fez um favorzinho.

– Um favorzinho que quase custou a liberdade Dela. - Felipe falou, preocupado. - Perigoso isso, sabia?

Carmela notou a preocupação. E percebeu que Felipe poderia ter nutrido pela irmã mais do que só preocupação. Resolveu ser rápida no gatilho.

– Pois é. Mas a culpa foi toda minha. Também quem manda usar logo o maior ponto fraco Dela. - Felipe olhou pra ela, curioso. Que era tudo que Carmela mais queria - O noivo dela. - algo dentro de Felipe morreu ao ouvir aquilo e nem ele entendeu o que era - É. Ela estava doida pra ir embora dali porque tinha prometido ao noivo ligar pra ele - aqueles dois são um grude só - aí eu chantageei dizendo que só iria se ela fizesse aquele favorzinho... Bom, o resto vocês já sabem.

Felipe olhou para Henrique, decepcionado. O mesmo desejou nunca ter tido a ideia de ligar para essa tal de Carmela.

– Felipe, se eu soubesse que... - Henrique tentou se justificar.

Felipe fingiu olhar a hora no relógio de pulso.

– Tudo bem, cara. Mas... você entende que eu preciso ir agora, né?! Senão vou acabar me atrasando para o almoço que combinei com a Jéssica.

Henrique sabia que aquilo era uma mentira de Felipe para escapar de Carmela, por isso, resolveu ajudar o amigo.

– Com certeza, meu amigo. Vai lá.

Felipe estendeu a mão para Henrique, que bateu com a dele e os dois deram um abraço rápido. Em seguida, Felipe se dirigiu para Carmela.

– Desculpe não poder ficar, mas é que eu já tinha combinado um almoço com a minha noiva. - ele deu bastante ênfase a palavra noiva para o caso Dela não entender. - Mas foi um prazer te conhecer, Carmela. A gente combina qualquer coisa... outro dia. - disse só por educação, depois depositando um beijo no rosto de Carmela, foi embora.

– Olha eleeeeeee! - Carmela disse para Henrique depois de ver Felipe atravessar o portão de vidro. - Fez questão de me dizer que está noivo. Será que você pode dar um recadinho meu pra ele? - Henrique meneou a cabeça. - Diz pra ele que eu não sou nenhum pouco ciumenta.

Henrique deu uma risada alta.

– Você pode até num ser. Mas a noiva dele é o cão! Quer um conselho? Fica na tua! Porque eu conheço o Felipe e... sem querer ser grosseiro contigo, mas... cê num faz bem o tipo dele não.

Carmela fez uma careta para ele e aproximando bem o rosto do dele o desafiou.

– Isso é o que nós vamos ver, benzinho!

– Vem cá, esse desafio aí é no débito ou no crédito? Se for no crédito, a gente pode até parcelar em dez vezes, conforme for do agrado e das condições do cliente.

Carmela fuzilou-o com o olhar. E sem mais resposta, deu as costas para Henrique e foi embora, rebolando.

– Cuidado. Vai pela sombra, docinho. - Henrique disse, caindo na gargalhada. - Graças a Deus, essa aí não é a garota do palco porque eu vou te contar, viu?! Que sujeitinha! Enfim, acho que vou ter que almoçar sozinho agora. - Disse para si mesmo e levantando o dedo, chamou o maître.

*********************

– Ai, Felipe, num tinha um restaurante melhorzinho pra você me trazer não? Tinha que ser... - Jéssica retirou os óculos escuros, apoiando-os na cabeça e olhou o lugar com expressão de nojo. - Esse aqui.

– Jéssica, esse restaurante foi muito bem recomendado por uns amigos meus. Ele é italiano, sabia? E eu sei que você adora comida italiana.

Jéssica revirou os olhos, mas para não irritar o noivo, resolveu abrir mão de alguns artifícios que sempre funcionavam muito bem. Então chegando bem perto do noivo, enlaçou o pescoço dele com os braços e iniciou uma tortura de beijos ao redor do pescoço dele.

– A gente bem que podia ir comer naquele hotel lá na Alameda Santos. Lá só tem gente elegante. Nem parece com o Brasil. E depois dar um esticadinha por lá mesmo, quê que cê acha, amor? Desde ontem que a gente não faz... - baixou a voz para que ninguém escutasse. Mas Felipe tratou logo de interrompê-la, retirando os braços Dela do pescoço dele.

– Jéssica, se eu quisesse tá em outro país que num fosse o Brasil, eu estaria na Itália com meus pais, não na Alameda Santos. Além disso, eu num tô nem aí se o lugar tem ou não tem gente elegante, o que me importa de verdade é o sabor da comida e me disseram que aqui se come do melhor, por isso, se quiser pode ir você para o hotel, só que sem mim. Porque algo me diz que... - Felipe levantou a cabeça para ler a placa do restaurante que dizia: " Cantina da Tancinha" - Ainda irei voltar aqui... Muitas vezes.

Jessica revirou os olhos, irritada. Mas sabendo que não mais obteria vitória com tolos argumentos, resolveu ceder e segurando a mão do noivo, os dois entraram no restaurante.

Lá dentro, Felipe escolheu uma mesa que ficava do lado direito, uma bem aconchegante, que ficava ao lado de uma janela de madeira.

Jéssica se sentou, com ares de antipatia e pegou o cardápio. Felipe era só sorrisos.

– E esse garçom que não vem. Viu, Felipe?! A gente nem bem chegou já tá sendo mau servido.

Felipe apertou os olhos para Jéssica, irritado.

– Jéssica, não faz nem cinco minutos que a gente entrou aqui. Para de drama! Aposto que você nem escolheu o prato Ainda.

– Pois eu escolhi sim. Quero carpaccio. - Disse e gargalhou do nada. - Será que eles sabem o que é isso. - Voltou a gargalhar.

Felipe ficou ainda mais irritado.

– Claro que eles sabem, Jéssica. Aqui é um restaurante italiano. E eu pensei que você tinha lido o cardápio... tá precisando ir ao oftalmologista, amor?

Diante da piadinha, Jéssica fuzilou o noivo com o olhar.

– Grosso. - Foi só o que ela disse. E para disfarçar o riso, Felipe segurou o cardápio diante do rosto, fingindo estar escolhendo seu prato.

Foi aí que uma garçonete se aproximou. Ela estava de vestidinho amarelo, avental verde e tiara verde na cabeça, amarrada com um laço no alto. Além disso, o cabelo estava preso com um rabo de cavalo. E trazia em uma mão um bloquinho e na outra uma caneta para anotar os pedidos.

– Pois não, já querem pedir? - Perguntou a garçonete.

Felipe, ainda se escondendo por trás do cardápio, ao ouvir a voz da garçonete, seu coração disparou. Aquela voz não lhe era estranha. Conhecia de algum lugar... mas de onde? Tentou lembrar, entretanto nada lhe vinha a mente. Por isso mesmo, resolveu ir baixando o cardápio lentamente para descobrir a quem pertencia o rosto daquela garçonete. E tal qual não foi sua surpresa quando Felipe se deparou com os olhos de...

– Você?! - Felipe exclamou, espantado. E Jéssica olhou dele para garçonete sem entender. - Não, não pode ser...

A garçonete arregalou o olhar e engoliu a seco, pois só depois de ouvi-lo falar foi que o reconheceu também, afinal a última vez que o tinha visto, ele estava praticamente pelado. Ficou com o rosto corado, relembrando o episódio.

Felipe sorriu, pois pensou no quanto ela ficava ainda mais linda com as bochechas coradas.

– O que tá fazendo aqui? - Ela perguntou - Como me encontrou?

Mas foi Jéssica quem respondeu, ou melhor, se intrometeu.

– Alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui? - Mirou o noivo com ares de posse - Felipe, de onde você conhece essa garçonete, posso saber?

Mas Felipe parecia nem ter ouvido sua noiva, pois só tinha olhos para a moça a sua frente que coincidentemente era a mesma que na noite anterior havia arrebatado seu coração: "a moça que subiu no palco" e que agora ele sabia, atendia pelo nome de Shirlei e era garçonete da Cantina da Tancinha.


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Notas finais do capítulo

Se estiverem gostando, deixem comentários, só assim para ter vontade de continuar e ficaria feliz de saber que tenho leitores. Beijos!



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