Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 5
Feiticeiras, acalmem-se!


Notas iniciais do capítulo

Essa é minha primeira fic e nesse capítulo temos a primeira situação em que coloco muitos personagens em cena, espero que gostem. Chegou a hora de conhecermos uma galera que vai dar muita dor de cabeça aos nossos heróis.



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A carroça não sacudia mais, sinal de que os guardas também resolveram dormir. A madrugada é fria e Nicolas se vira de um lado para o outro. De repente ele sente algo mexer seu ombro. Era Serena.

—Nick! Nick me diz uma coisa: você quer mesmo fugir?

—Garota, você ainda tá acordada? - Nicolas nota que ela e Lucius o observavam - O que vocês têm?

—Eu pensei que você quisesse ir para os navios, para bem longe. Sabe como é! Muitos como nós preferem esconder o que são. Alguns acham que terão uma vida melhor em outro lugar. - diz Lucius.

—Do que você tá falando? - Nicolas se senta. - Você disse... ‘Nós’?

—Existe magia dentro de você. - diz Serena, com uma expressão no rosto de quem descobriu uma boa surpresa. Nicolas fica alguns segundos sem reação e depois ele lhe dá um sorriso sem graça balançando a cabeça negativamente, mas ela continua. - Eu vi suas mãos brilhando!

          O rosto de Nicolas empalidece. O episódio das mãos brilhando já aconteceu várias vezes, mas ninguém tinha visto, até aquele momento. Mesmo assim ele decide desacreditar a garota.

—Que é isso, você estava sonhando...

—Nesse caso eu também tive o mesmo sonho. - diz Lucius.

            Os três trocam olhares, calados. Serena quebra o silêncio.

—Pessoas como nós, com o dom mágico, sentem quando estão perto de pessoas com o mesmo dom.

—’Nós’ de novo! – Nicolas muda o tom de voz. - Por que você não para de inventar coisas?

          Serena e Lucius se intimidam. Ele sai em defesa dela.

—Ela não inventou nada, você não devia falar assim.

—Por que é que vocês não vão dormir e me deixam em paz?

—Eu não consigo dormir direito desde que vi minha mãe pela última vez. Por isso, qualquer coisa me acorda. Então eu vi suas mãos...

—Então é isso, teu mal é sono. - Nicolas fica mais rude com ela.

          Um som inesperado vindo do fundo os assusta.

—Por que vocês não calam a boca e vão todos dormir, droga! - era John, que depois da bronca, vira para o outro lado e volta a dormir. - O dia nem amanheceu...

          Em silêncio, os três se acomodam para dormir.

****

          Algumas tochas iluminam as ruas desertas do vilarejo de Devlon, no Condado de Oxford, por onde cai uma neblina gélida e espessa. Mas nem todos estão dormindo. Um vulto negro atravessa o vilarejo, silencioso, quase imperceptível. Usava um chapéu pontiagudo, de aba larga e cor escura e um manto também escuro, cobrindo todo seu corpo e com uma gola alta e bem larga que fazia um conjunto harmonioso com o chapéu, ocultando quase toda a face daquela pessoa, deixando a amostra apenas os olhos e a parte superior do nariz. Seu caminhar é silencioso e rápido, desaparecendo ao entrar numa rua e aparecendo no começo de outra. E assim ele segue até chegar ao orfanato local. Ele bate três vezes na porta. Não demora muito e uma pessoa vem recebê-lo. Ela abre uma portinhola na parte superior da porta e olha diretamente para o visitante.

—Que bom que chegou, pensei que não vinha. - responde uma voz feminina.

—Se não fosse hoje demoraria muito para eu poder voltar aqui. E não quero que falte nada para as crianças.

—Por favor! Entre, Senhora! - a proprietária abre a porta para a visitante, pelo visto uma velha amiga. - Eu me esqueci, Sra. Victória! Amanhã é dia de receber os novos alunos, não é mesmo?

—O que é isso, Kate? Deixe de formalidades! Pode me chamar de Vick. - a mulher desabotoa parte do manto, deixando aparecer as mãos brancas, e tira o chapéu, revelando um rosto pálido, já envelhecido pelo tempo. Tem os cabelos grisalhos cacheados cobrindo até os ombros e olhos esverdeados. - Não posso me demorar muito, terei um dia agitado amanhã.

—Eu entendo minha amiga!

          As duas se cumprimentam com um abraço e vão para as instalações do orfanato. Kate leva o chapéu da amiga. Elas conversam durante o caminho. Atravessam o pátio e outras áreas até chegarem à cozinha. Vick olha demoradamente ao redor.

—Ah, Kate! Sinto tantas saudades desse lugar. Eu era feliz aqui.

—Você sempre gostou de crianças, Vick, e pode voltar a ser feliz aqui de novo. Deixe o castelo e volte.

—Eu não posso, minha amiga! Eu fiz um juramento. Prometi a minha mentora que cuidaria de tudo.

—Eu sei, mas quanto tempo faz... Sete anos? Você estava na flor da juventude, tinha dezesseis anos, uma vida inteira pela frente... Pare de assumir tanta responsabilidade, menina!

— “Responsabilidade”, essa é a palavra! E que me lembra “despensa”. Não vou deixar faltar nada para os pequenos.

          Vick muda de assunto e percorre a cozinha até chegar a uma porta ao fundo, a despensa. Ela examina o local - as prateleiras estão quase vazias - e em seguida fecha a porta. Ela permanece de frente para a porta, se afastando um passo para trás. Depois, levanta um pouco os braços e faz um movimento circular com as mãos abertas, tão rápido que Kate se surpreende. Vick abaixa os braços e lentamente vira-se para a amiga.

—É a minha missão, Kate! - ela a olha com o semblante triste, mas depois se anima e estende a mão direita pegando de volta seu chapéu. - Espero que isto dure os próximos nove meses.

—Talvez até sobre, não tem aparecido muitas crianças por aqui.

—E nem no castelo... Infelizmente! Adeus, minha amiga!

Com a mão esquerda Vick repete o movimento circular, como se espantasse um inseto, e desaparece num piscar de olhos. A cena não surpreende a proprietária, que parece está acostumada. Kate reabre a porta da despensa e se depara com as prateleiras cheias de mantimentos.

—Obrigada, querida amiga! E boa sorte com as crianças.

****

Enquanto Victoria faz uma pequena visita ao orfanato, a floresta de Northwood, nos arredores de Devlon, recebe nove estranhos visitantes. Todos trajavam chapéus pontiagudos e mantos escuros de gola alta e larga. Parece não se importarem com o frio e o sereno da madrugada. Quase simultaneamente, eles saem da floresta e caminham em direção a um grande muro. Ao se aproximarem, fazem um semicírculo diante dele. Após todos se acomodarem, uma voz feminina vinda do centro do grupo começa a reunião.

—Estão todos aqui?

—Ué! Basta contar, oras! Quem não estiver não responde. Eh! Eh! - diz uma voz masculina na ponta direita. Logo ele cessa o riso. A mulher que fez a pergunta o encara e ele tenta se corrigir – Desculpa Sopro da Morte! É que... “Comparecer as conclaves sempre que for convocado” é um dos mandamentos dos Medievais. Por que não haveríamos de vir?

—Principalmente quando a penalidade para aquele que descumprir qualquer um dos mandamentos dos Medievais é a morte. – reforça uma voz feminina, ao lado daquele que acabara de falar.

—Tem razão, Erva Daninha! Mas eu ainda não vi o corpo de Samantha queimado em nenhum lugar desse reino ou fora dele. - diz outra voz feminina, na ponta esquerda.

—Calma Pena Viva! Isso é apenas uma questão de tempo. - comenta uma mulher do lado dela. - Aliás, eu preferiria que os comuns a punissem em vez de nós.

—O que foi Chama Explosiva? Tá com peninha dela? – pergunta a voz masculina na ponta direita, ao lado de Erva Daninha.

—É que ter sido nomeada a líder da nossa sociedade foi um fardo muito pesado para ela. E quer saber, Senhor dos Portais, eu gostava daquela garota. Foi uma lástima Endora não ter acabado com ela.

—Se a encontrar, você será capaz de eliminá-la, Chama Explosiva? – dessa vez pergunta uma voz masculina do lado esquerdo de Sopro da Morte.

—É evidente que sim, Fio da Navalha!

          Uma figura sai do semicírculo e caminha impaciente até o muro. Depois se vira para os outros e irritado começa a falar.

—Dagmar! Nomear Samantha para líder dos Medievais fazia parte do plano. Chega dessa lenga-lenga e vamos fazer logo o que viemos fazer. Estou com frio, cansado e não podemos perder muito tempo aqui, podemos ser vistos.

—Se o problema é o frio, eu posso esquentá-lo, Mago do Tempo! - Dagmar entende sua mão direita na direção dele.

—Não me venha com seus feitiços, Chama Explosiva! Não é isso que eu quero. Mas você pode me esquentar de outra maneira...

—Hunf! Velho tarado! - ela recolhe o braço rapidamente e silencia.

—Mago do Tempo prepare o feitiço...

—Nós já sabemos o que fazer, Megami! Não precisa ficar dando ordens - interrompe Pena Viva aquela chamada inicialmente de Sopro da Morte.

          De repente Pena Viva começa a emitir gemidos. Todos olham para a feiticeira, mas ninguém se manifesta ou deixa sua posição. Seu corpo estremece como se estivesse sendo espremido. Ela tenta se mexer, mas não consegue.

—Pare com isso, Sopro da Morte! - diz Fio da Navalha.

          A pressão exercida sob o corpo da feiticeira cessa e ela vai ao chão. Com a queda, seu chapéu cai, revelando seu longo cabelo loiro e sua pele jovial. Irritada, ela se levanta e encara Megami.

—Ora, sua...

—Se falar o meu nome de novo farei com você o que estava planejando para Samantha.

—Feiticeiras, acalmem-se! - intervém Mago do Tempo – Sopro da Morte, controle seu demônio interior. E, Pena Viva! Você sabe que ela não gosta de ser chamada pelo nome. Afinal tem um motivo para usarmos pseudônimos. Vamos nos respeitar, está bem? Seremos facilmente percebidos se usarmos magia aqui. Estamos perdendo muito tempo, vamos fazer logo o que viemos fazer. Depois de anos procurando pelas Pedras do Caos não vamos deixar que pequenas desavenças acabem com nossos planos, nossos objetivos, nossos sonhos... 

—O Mago tem razão. – se manifesta uma voz feminina do lado esquerdo de Sopro da Morte. - Passamos muito tempo vasculhando castelos, moradias, orfanatos e várias entidades de ensino, das pequenas até as de grande porte, e finalmente temos algumas pistas com a provável localização delas. Ou seja, nossa busca ainda não acabou, Medievais! E apesar de ser uma vampira, não quero perder mais tempo com outra busca, que é o que vai acontecer se o Conselho da Magia descobrir que estamos tão perto das pedras.

          Depois de alguns segundos de silêncio, Sopro da Morte fala novamente:

—Vocês estão certos, Mago do Tempo e Feiticeira Vampira! - diz a Medieval, que se vira para Pena Viva e inclina o corpo à frente. - Me desculpe, Pena Viva!

—Também peço desculpas, Sopro da Morte! - responde a feiticeira, retribuindo a reverência, segurando as laterais do manto com as mãos e dobrando levemente os joelhos, abaixando um pouco a cabeça para frente.

—Eu não vejo a hora de quando tiver meu território no Reino da Magia. Vou ficar rica só com os impostos, ah! – comenta uma voz feminina ao lado de Erva Daninha. - O lema do meu reino será “Reino de Clarice Marshal. O que se move paga imposto”. Ah! Ah! Ah!

—Do jeito que você é gananciosa, Dominadora, eu diria que será “O que respira paga imposto”. – lhe diz Erva Daninha.

          O comentário provoca algumas risadas. Com o clima harmonioso estabelecido, Megami retoma a palavra.

—Cada um terá seu quinhão no reino que criaremos. E aqueles que tentarem nos impedir sofrerão mais do que altos impostos. Muito bem, Medievais! Três irão vasculhar o castelo em busca da Pedra do Caos enquanto uma equipe de apoio ficará do lado de fora. Qualquer pista, por menor que seja, sobre o paradeiro das pedras, usem arautos e informem os outros. Cuidado com os professores, principalmente com Victória. Ela não tem muita experiência, mas tem muita magia. E caso encontrem o local da pedra nos informem imediatamente. Não podemos deixar que a transfiram para outra entidade de ensino, senão teremos que começar uma nova busca que poderá durar anos. Não falhem! E faço as recomendações do Mago do Tempo as minhas. Quando encontrarem os filhos de feiticeiros que não lhe agradam, mantenham a calma e não os matem... Por enquanto.


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Notas finais do capítulo

Novos personagens aparecem na trama e muita coisa ainda está por vir. E Nicolas encontra 'pessoas como ele'. Quem são e os que elas querem?



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