Reino da Magia escrita por semita13


Capítulo 22
A ruína completa dessa família.


Notas iniciais do capítulo

O Ministério da Boa Leitura alerta: o autor pretende postar capítulos regularmente nas sexta-feiras, de preferência quando a Internet ajudar e São Pedro permitir. Eis mais um capítulo. Aprecie sem moderação! n_n



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       As crianças olham assustadas, e ao mesmo tempo extasiadas, para aquelas pequenas criaturas agitadas e velozes que sobrevoam suas cabeças em um vaivém frenético da frente para o fundo do recinto, dando rasantes que pareciam atingir suas cabeças, mas sempre desviavam no momento certo. Logo os mais espertos percebem que elas estão sendo controladas pela aprendiz.

—Minha nossa, são criaturas vivas! - se espanta Lucius.

—De onde será que elas vieram? - diz Serena.

—Puxa, queria ter um estilingue agora... - lamenta Nicolas.

       Com um estridente assobio, ela chama as aves que se juntam numa só e esta pousa no braço de Anna. Ao abrir o punho direito ela cessa o feitiço e a ave desaparece como fumaça.

—Maravilhoso! - diz Victoria, aplaudindo e logo percebendo a respiração ofegante da garota, mas a curiosidade era tanta que a diretora mal deixa a menina respirar - Essa é uma magia muito avançada. Quem te ensinou?

—Bem... - a garota começa a recuperar o fôlego - Meu pai realiza invocações com frequência... Ele trabalha no sistema de comunicações internas das tropas imperiais, em Paris.

—Ah, um militar... - interrompe Mark - Geralmente os Comuns usam aves como meio de comunicação. Você deve ser da mesma classe que a do seu pai.

—Exatamente! Mas... O que eu quero dizer é que sou melhor em identificar magias. Por isso... De tanto observar meu pai acabei aprendendo o feitiço.

—E a andorinha é sua ave guardiã? - pergunta Victoria, recebendo um aceno afirmativo com a cabeça da garota.

—Espere! Quer dizer que você consegue destrinchar qualquer feitiço, analisando-o e assim podendo até mesmo realizar o feitiço? - Hilda também se mostra curiosa.

—É quase isso. Ainda não tenho muita habilidade em decifrar feitiços, mas consigo descobrir magia onde quer que ela se manifeste.

—Nossa... excelente! - diz Flora.

—Muito exibida, isso sim! - diz Munique, mas os outros estão mais interessados nas explicações da garota e ninguém lhe prestou atenção.

    Anna caminha de volta ao seu assento. O teste a deixou mais confiante, mais decidida e de nariz mais empinado do que quando foi chamada. Ela percorre o corredor em meio aos olhares admirados de uns e invejosos de outros. Até parece mais alta do que quando saiu do assento. Nicolas a observa desconfiado, vendo o brilho na testa da garota, o suor escorrendo pelo pescoço e o relaxamento dos ombros ao sentar-se. “Mesmo exausta ela não perde a pose. Por que essa garota se esforçou tanto pra realizar um feitiço? Isso é apenas um teste... Não é?”.

       Logo seus pensamentos cessam quando o garoto ao lado de Anna se levanta e começa seu trajeto até a mesa de testes. Sua postura e seu ar de indiferença fazem Nicolas deduzir que ele parece ser mais arrogante que Ricardo. Se não fosse pela idade, de longe, poderia ser confundido com um lorde, devido a sua altura. Sem dizer uma palavra, apenas com o olhar sério, ele abre passagem entre os que estão sentados na mesma fila até o corredor. Mas Nicolas não quer perder a oportunidade de provocá-lo enquanto ele ainda está ao alcance.

—Olha só, outro 'Pó de arroz'! Não abre a boca nem pra pedir licença.

       O garoto para por um instante e apenas vira o rosto na direção de Nicolas.

—E que atributos você tem para julgar uma pessoa? Não atire pedras para o alto, garoto, elas também podem atingi-lo.

     Nicolas e aquele estranho trocam olhares por alguns segundos. Depois ele dá as costas para Nicolas, que continua observando-o, desconfiado. Após percorrer o caminho, ele cumprimenta os professores educadamente com sua voz grave, o que revela as mudanças da idade sobre seu corpo. Inclina a cabeça à frente para facilitar o acesso de Hilda ao seu cabelo, um gesto desnecessário já que ela é mais alta.  

—Esse Pó de arroz é mais pó de arroz que o Pó de arroz. - solta Nicolas.

—Cale-se, Sr. Nicolas! - repreende Victoria.

—Pelo jeito não serei o único a ser chamado assim. - diz Ricardo.

        Seu comentário chama a atenção do garoto, que o encara.

—É justamente o contrário, Ricardo Berker, pois ao que parece o senhor é o único que se incomoda com as palavras vindas da ralé. Verdadeiros aristocratas não se deixam abalar com as ofensas de gentinha como o... Nicolas.

—Ei, eu ouvi isso, grandão!

—Que bom! Quem sabe ambos, já que estão na escola, não aprendem alguma coisa.

—Que insolente! - se enfurece Ricardo.

—John Kane, idade 15 anos, classe: herborita. - anuncia Flora

—É a mesma classe de Ricardo. - comenta Lucius.

—Eu sabia! - diz Nicolas - Pó de arroz é tudo igual...

       Apesar das provocações, John permanece calmo. Mark percebe isso, mas decide não comentar. E antes que haja mais interrupções inicia o teste do garoto.

—E então, Sr. Kane, deseja algo?

—Um vaso com uma flor será suficiente, Professor.

      Mark olha para John e depois para Victoria. Ele se aproxima da mesa, levanta seu braço esquerdo até a altura do outro e faz um movimento rápido com a mão, quase um círculo, que antes de completar o giro faz aparecer o objeto pedido pelo garoto no centro da mesa. John apanha o vaso e o coloca perto da borda, próximo a ele.

—Não é ele que devia fazer aparecer uma planta ou algo assim? - pergunta Allison.

—Psiu! Vamos ver o que ele vai fazer... - diz Sidney.

      Antes de começar o feitiço, o garoto fala com a plateia, mas suas palavras pareciam atingir mais Ricardo.

Herbarium não é apenas um feitiço para invocar plantas ou algo parecido. Um bom feiticeiro pode elevar um simples feitiço a níveis inimagináveis... ou até onde sua capacidade alcança.

       Ele invoca o feitiço, fazendo o gesto e pronunciando as palavras. As crianças olham fixamente para o vaso e por alguns segundos nada acontece. John inclina seu rosto na direção do objeto e como se fosse vomitar sobre ele, expele uma densa fumaça verde escura que envolve a planta e depois se dissipa sobre a mesa.

—Desde quando mau hálito é feitiço? - comenta Nicolas do fundo da sala, mas dessa vez não houve risadas.

—Veja e aprenda, criatura insignificante. - responde John.

       Em questão de segundos a flor começa a perde sua cor e a murchar. E no mesmo instante em que se encolhe, a terra na superfície fica seca e rachada, e as rachaduras se espalham ao redor do vaso, que se quebra. Em seguida é a madeira da mesa que se racha e um buraco é feito no centro do móvel, deixando cair ao chão os restos do vaso. O espanto das crianças é interrompido pelas palmas que se iniciam.

—Ele modificou o Herbarium. - deduz Sidney.

—O que ele produziu? Ácido? Isso é possível? - pergunta Renan.

—Acho que foi uma nuvem tóxica. - diz Clara, ainda em dúvida.

—Não é nada disso! - diz Ricardo, com raiva - Ele apenas reproduziu uma variante do Herbarium.

—É um nível avançado de Herbarium. Você já alcançou esse nível, Ricardo Berker? - lhe diz John, recebendo um olhar irado - Provavelmente não!

—Não é algo inalcançável, idiota!

—Que bom... para você.

      John iria falar algo mais, mas Victoria o interrompe cumprimentando-o pela aprovação no teste e pedindo para regressar ao seu lugar. Os outros professores se aproximam dela. Mark é o primeiro a falar.

—É minha cara, eles podem ser poucos, mas possuem muitas qualidades.

—Eu diria que algumas são impressionantes. - diz Hilda.

—Eu diria excepcionais. - acrescenta Flora.

       Empolgada, Victoria olha para os colegas entusiasmados.

—Ah, meus amigos... Parece que teremos um pouco de desafio esse ano, hein? Vamos mostrar para os incrédulos o que essa entidade de ensino pode oferecer aos jovens aprendizes. Formaremos os melhores feiticeiros e mostraremos ao Reino da Magia que o Castelo de Merlin é e continua sendo uma das melhores escolas de magia do mundo, mantendo a reputação de séculos. - animada, a diretora vira-se para os alunos, sorridente. - O próximo?

       Seu olhar aponta justamente para Nicolas. O sorriso dela aos poucos se desmancha. “Ah... era para ser aquele garoto agora. Que bom que já foi sua vez”.

—Eu já fui.

—Já sabemos Senhor Nicolas...

       Sem ser mencionada, Serena se levanta. Finalmente chegou a sua vez. Ela passa por Nicolas e não o olha, apesar dele não tirar os olhos dela. Lucius também a observa, receoso. Ao chegar ao corredor, ela levanta a cabeça e segue o percurso concentrada, focada, mas ainda sem saber o que fazer no teste. Ela pensa em usar a mesma magia que fez na carroça, mesmo sabendo que pode ferir suas mãos, como das outras vezes. Mas não importam as queimaduras, ela tem que passar no teste de qualquer jeito. A escola seria o primeiro passo para recomeçar sua vida, já que não tinha ninguém e nem onde ficar. Logo começam os comentários, e pelo tom das conversas seu sobrenome chama mais a atenção do que sua aparência.

—Que bom que já está acabando! Essa não é a...

—É ela mesma. - responde Sidney antes mesmo de seu amigo Allison terminar a pergunta. Ele observa atentamente cada passo de Serena.

—Uma Fitcher... Todos já sabem qual é a classe dela. - diz Munique.

—Será que ela vai passar? - pergunta Lucius.

      Nicolas vira-se para ele e volta a observar a garota, ignorando as palavras de Lucius, cruzando os braços com uma expressão série no rosto e olhando para frente. À medida que Serena se aproxima, Victoria passa a observá-la como se procurasse algo. A diretora caminha em sua direção e Serena nota que ela a examina de cima a baixo, o que a deixa mais nervosa e sem graça. A garota finge não dar atenção, mas sabe que é impossível demonstrar se sentir bem trajando roupas sujas, faixas chamuscadas cobrindo suas mãos e exalando um odor nada agradável para uma mulher. Ela se sente como se tivesse perdido a confiança pelo caminho. Frente a frente, Victoria lhe faz uma proposta:

—Querida, antes de começar o teste, não gostaria de tomar um banho, se perfumar e vestir roupas mais apropriadas?

      Serena está tão nervosa que só depois de alguns segundos reage às palavras da diretora com um suspiro seguido de um leve sorriso. Realmente não está apresentável para o teste. Então ela acena afirmativamente com a cabeça. Victória esboça um leve sorriso e levanta os braços calmamente até a altura do tórax. E com as mãos abertas na direção da garota, rapidamente ela gira duas vezes os pulsos para frente. Antes de completar o terceiro movimento, a magia se faz. Serena sente algo estranho percorrer seu corpo. Primeiro era como se uma rajada de vento a atingisse, empurrando seu corpo para trás com o impacto, mas ele não se mexia, estava ali, imóvel, apreciando a sensação. Depois, um arrepio passa velozmente pelo seu corpo, subindo pelos pés até a raiz dos cabelos que a faz fechar os olhos por dois segundos. Ao abri-los, sente um leve calor e percebe um brilho sobre seu corpo que logo desaparece. Ao ver os braços nota que sua pele está clara, limpa e exala um cheiro agradável. Até suas unhas estão pintadas de um vermelho vivo brilhante. Ao mexer o pescoço percebe a maciez do seu cabelo tocando a nuca. Estão penteados, sedosos, o tom castanho parecia brilhar a cada volta de mecha e sua face clara demarcava com perfeição seus lábios róseos e o brilho de seus olhos. Um vestido vermelho cobria seu corpo. Para os que assistiam foi como se outra pessoa tomasse o lugar de Serena numa fração de segundo. Instantaneamente Nicolas, Lucius e Sidney saltam de suas cadeiras quase que ao mesmo tempo.

—VIXE MARIA! Que é isso?

—Se-Serena... É você mesma?

—Minha nossa, que coisa mais... Linda!

       Com um sorriso, ela olha para Nicolas e Lucius, ainda com caras de bobos demonstrando uma enorme surpresa. Allisom olha para Sidney e percebe que ele batia freneticamente o pé esquerdo no chão. Ele pede para o amigo se sentar, mas Sidney parecia hipnotizado. Então ele se levanta e passa a mão direita aberta em frente do rosto do garoto, mas não adianta.

—Homens, Hunf! - diz Margot.

—Ela é linda! - finalmente pronuncia Lucius.

—Linda? Cabelo de fogo você tá bonita demais! - complementa Nicolas.

       É a vez de Serena fechar a cara para ele e voltar-se para a diretora. Seu movimento girando o corpo e balançando os cabelos faz os garotos terem a visão de que aquele gesto era algo inesquecível. Até que Victoria chama a atenção da garota e todos se recordam de que aquilo ainda é um teste.

—Sua mãe gostava de vermelho. Espero que você também tenha gostado.

—Se eu gostei? Eu adorei... Obrigada!

—Bem, agora vamos ao que nos interessa!

        Serena segue Victoria até o local da mesa. Enquanto isso os garotos se acomodam em seus lugares, com certeza os mais atentos ao teste do que o resto da plateia. A garota se posiciona ao lado do objeto. Os procedimentos se repetem e Flora anuncia o início do teste.

—Serena Fitcher, idade: 13 anos, classe: piropta.

—Muito bem minha cara, faça o que sua mãe lhe ensinou. - pede Victoria.

—Como sabe que...

—É costume dos pais sempre ensinarem algo aos filhos e tenho certeza que alguma coisa ela lhe mostrou.

     Serena se mostra insegura, olhando para as mãos, com medo de queimá-las diante de tanta gente. Afinal, sempre que fazia algum feitiço com fogo seus dedos saiam feridos. Depois ela junta as mãos esfregando-as e fecha os olhos procurando pensar em alguma coisa, em uma lembrança dos momentos com sua mãe, mas nada vem em sua mente.

—O que ela está esperando? - pergunta Sidney, impaciente.

—Ela está nervosa, ih! - diz Paula, não ajudando a melhorar o estado emocional do amigo.

—Qual o problema dela? É só botar fogo na mesa. - Margot.

—Se não fizer alguma coisa será reprovada. - Clara.

—A ruína completa dessa família: mãe condenada, tia criminosa e uma Fitcher que não sabe fazer feitiço. - conclui Munique.

     Quanto mais Serena demora mais aumentam os comentários. Mark pede silêncio. Todos obedecem, exceto uma voz vinda do fundo...

—Há! Deixa de besteira! Faça o que você fez com a carroça. - manifesta-se Nicolas quase gritando.

      Muitos não entenderam aquelas palavras e vindo de Nicolas acharam melhor não dar importância, mas Lucius e principalmente Serena compreendem seu significado. Afinal, são testemunha e a autora do incidente. Ela se aproxima do móvel e coloca a mão direita aberta a poucos centímetros sobre a mesa. Serena está concentrada olhando fixamente para as costas da mão. Um tom avermelhado começa a cobri-la e a se espalhar. Ela se anima e se esforça mais para que as chamas se revelem logo antes de feri-la. Ao ver as primeiras chamas, ela se alegra, mas de repente Victoria agarra seu braço com força e o feitiço se desfaz.

—O que pensa que está fazendo? - pergunta a diretora.

      Serena a olha, assustada.


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