Black: Conhecendo a Escuridão escrita por Heitor Magno


Capítulo 12
Eu Já Sei...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714859/chapter/12

— Magno! – Magno ouviu alguém chamar o seu nome em meio as diversas pancadas que eram dadas na porta e que começavam a ceder.

“Será que estou começando a enlouquecer? Tenho quase certeza de que ouvi alguém dizer o meu nome”.

— Magno, você está ai dentro?

“Não estou ficando louco. Eu conheço esta voz. É o Rikimaru. Eles conseguiram sobreviver”.

— Magno?

— Estou aqui dentro. Que bom saber que vocês conseguiram sobreviver.

— Não ficaria tão feliz se fosse você. Ainda estamos de pé, mas não sabemos por quanto tempo, ainda. Dá pra você sair daí de dentro e nos ajudar aqui?

— Sério que vocês estão precisando de ajuda?

— Vem logo seu idiota, antes que a gente morra!

— Pode deixar. Já estou saindo!

Magno já ia saindo de dentro do farol, quando lembrara de que estava com suas mãos transformadas. Não podia sair daquela forma, pois isso revelaria o ato cometido na noite anterior.

Antes de sair, pesarosamente, desfez suas garras, mesmo sabendo que elas lhe seriam totalmente úteis naquela ocasião.

Usou a força sobrenatural que possuía em si para empurrar as portas com toda a força sobre os zumbis que as empurravam sem parar.

Com a força do ataque, os zumbis foram arremessados, caindo em cima dos que estavam atrás. Logo em seguida, Magno conjurou oito tentáculos a sua frente, numa espécie de barreira protetora.

Ao sair, viu Rikimaru, Stella e Lorraine lutando bravamente. Estavam deveras debilitado, ainda assim pareciam estar melhor do que ele antes de sugar o seu último oponente.

Podia ver seu amigo Rikimaru, numa velocidade fora do normal, atacando aqueles zumbis que não tinham a menor possibilidade de se defender.

Com as suas duas espadas em mãos, Rikimaru ia de um lugar a outro, com extrema facilidade, cortando, rasgando, dilacerando os seus oponentes.

Stella, da mesma forma, agia com uma habilidade fora do normal. Ainda muito agressiva, mas sobretudo, incisiva, eficaz em seus golpes. Diferentemente dele e de Rikimaru, que despendiam força desnecessária em cada ataque, cansando-lhes rapidamente.

Lorraine, diferentemente dois três, era mais cautelosa em seus ataques, mas não menos eficiente. Cercada também por três tentáculos que a cercavam, não somente para se defender, mas também para atacar. Utilizava-se dos seus punhos com extrema precisam.

Não atacava aleatoriamente, mais precisamente, a ponto de não precisar atacar mais de uma vez cada oponente.

Magno havia ficado muito feliz ao poder vê-los novamente, não somente por estarem ali para salvá-lo, mas principalmente por não ter certeza de que eles pudessem sobreviver.

Apesar da confiança que tinha em cada um deles, a sua recente experiência com aqueles inimigos, fez com que ele desacreditasse de si mesmo e deles.

Vê-los novamente, lhe trouxe mais energia e coragem para acreditar e lutar também. Assim como Lorraine, Magno fez com que três de seus tentáculos ficassem ao seu redor, para se defender de possíveis ataques surpresas.

Os outros que lhe sobraram, fez com que fossem ajudar a Stella e a Rikimaru que lutavam desguarnecidos.

Aquela visão lhe estimulou, lhe encheu de alegria. Estava novamente ao lado dos seus amigos e lutando com eles.

Seguiu na direção deles enquanto atacava os zumbis que estavam mais próximos. Ainda sem muita habilidade como Lorraine, mas com toda a vontade que possuía.

Reparou que o número de zumbis era, ao menos, o dobro do que havia, quando ainda estava do lado de fora do farol. Muitos deles, contudo, já haviam sido eliminados pelos seus amigos.

Uniu-se a eles no centro dos zumbis. Os quatro ficaram de costas uns para os outros. Lorraine e Magno fizeram com que seus tentáculos ficassem ao redor do grupo, a fim de não serem atingidos.

Os tentáculos os guardavam e também atacavam os mortos que se aproximavam. Isso permitiu que eles pudessem descansar e relaxar.

Lorraine, inesperadamente, se jogou nos braços de Magno e o beijou. Ainda perplexo com o repentino ato, apenas esqueceu por um momento tudo o que estavam vivendo e se entregou aos seus sentimentos.

Até ali, aquela havia sido a melhor coisa que lhe ocorrera até então, desde que havia ido parar naquele lugar. Tudo o que havia em sua mente havia desaparecido. Restavam apenas ela e ele, mais ninguém. Tudo era muito bom, prazeroso, reconfortante.

— E você Stella, não vai me beijar não?

— Venha cá Rikimaru! – disse Stella para ele.

— Agora sim eu vi vantagem! – Rikimaru aproximou-se de Stella com os olhos fechados e levou um forte soco no rosto.

— Puta merda, Stella! Que porra foi essa?

— Gostou queridinho? Agora acorda porque não estamos em casa. Se ainda não percebeu estamos cercados aqui.

— Sim eu notei, mas é que eles...

— Eles são eles, Rikimaru e outra, os dois pombinhos podiam deixar para se pegar em casa depois? Não é por nada não, mas ainda temos acompanhantes.

— Está certa Stella. Me desculpe!

— O que houve contigo Magno? Por que está coberto de sangue? Ele é seu?

— Uma longa história. Depois eu explico.

— É melhor mesmo. Depois sentamos pra tomar café e você nos conta. Agora vamos prestar atenção aqui? Ou pretendem ficar papeando no meio do clipe do Michael Jackson?

— Gostei da piada! Será que ele está aqui também?

— Cala a boca idiota.

— Não dá pra te entender, até quando faço um elogio você briga comigo. Tá louca viu!

— O que faremos para sair daqui?

— Precisamos acabar com todos eles o quanto antes. Logo estará amanhecendo. Não podemos ficar aqui, do contrário, seremos exterminados pelo sol.

— Disso já sabemos. O que precisamos é de uma saída.

— Vocês estão ouvindo isso?

— Ouvindo o que?

— Eu não estou ouvindo nada.

— Parece o barulho de um carro, ou melhor, de vários carros.

— Eu acho que você está pirando de vez Magno. Não estou ouvindo, nem vendo nada.

— Confie em mim. Eu tenho certeza de que há mais de um carro vindo nesta direção.

— Como pode saber disto?

— Não sei explicar, simplesmente sei.

— Ele sempre foi assim meninas. Não sei como explicar, mas se ele disse que está ouvindo eu acredito.

— Só faltava essa agora. Quem será que está vindo para cá?

— Só podem ser mais inimigos. Ninguém sabia que estávamos aqui.

— Preparem-se! Qualquer movimento suspeito reajam e ataquem.

Passados alguns instantes, puderam ver quatro furgões pretos se aproximarem dos zumbis que os cercavam.

Aflitos, os quatro amigos não sabiam, ao certo, o que esperar dos recém-chegados. Seriam eles mais inimigos prontos a atacar?

Os furgões se dirigem com extrema velocidade em direção ao grupo de zumbis que estavam logo a sua frente.

— Fodeu! Agora que a gente tá na merda!

O furgão chega atropelando tudo o que estava pela frente até se aproximar deles. Ele derrapa e para ao lado deles com a porta aberta.

Lá dentro puderam ver uma figura muito querida. A visão daquele rosto os reconfortou. Era Joseph.

— Entrem logo, temos de partir.

Sem pensar duas vezes, os quatro amigos entram rapidamente no furgão. Joseph fecha a porta e o motorista acelera apressadamente.

Os zumbis que não haviam sido atropelados pelo furgão e que estavam mais próximos achegaram-se até ele, tentando impedir a sua saída.

Magno e Lorraine fizeram com que seus tentáculos atacassem os zumbis mais próximos para abrir caminho.

O motorista consegue espaço para acelerar e parte. Muitos zumbis ficavam para trás, enquanto aos que estavam à frente foram sendo atropelados.

Agora dentro do furgão, mais aliviados, os quatro amigos se assentam, procurando relaxar.

— Ainda bem que você chegou Joseph.

— Ainda bem mesmo. Se não fosse por você, não sei o que poderia ter nos acontecido naquele lugar.

— Muito obrigado por ter nos resgatado, Joseph.

— Por nada, meninos.

— Como conseguiu nos localizar?

— Pelo celular?

— Como pelo celular?

— Pelo GPS do celular. Como não conseguiram ligar para mim, presumi que estavam sem sinal, então procurei vocês pelo GPS do celular da Stella.

— Muito bem pensado.

— Devíamos ter pensando nisso antes.

— Ainda bem que pelo menos o Joseph pensa.

— Já vai começar?

— Não! Ninguém vai começar nada aqui.

— Isso mesmo. Precisamos relaxar.

— Isso mesmo. Estamos todos acabados.

— Precisamos nos recompor e o Magno precisa urgentemente de um banho!

— O que foi?

— Isso mesmo, Magno, não sei o que passou enquanto estava sozinho, mas você precisa urgentemente de banho. Está pior do que esgoto!

— Ah! É mesmo!

— O que aconteceu contigo, pra ficar fedendo deste jeito?

— Deixa para uma outra hora. Não estou muito a fim de conversa.

— Fala aí, o que houve?

— Não estou muito bem. Depois nos falamos e eu conto tudo a vocês.

— As coisas não saíram como esperado. Não estou afim de conversa. Quero esquecer que esta noite existiu.

— Como assim?

— Ela deu totalmente errado.

— Como pode dizer isso? Não estamos todos vivos?

— Conseguimos escapar, Magno. Isso é ótimo!

— O que é que pode ter acontecido de tão ruim?

— Eu encontrei o homem que encomendou o nosso assassinato.

— Sério! Você conseguiu ver o rosto dele?

— Sabe o nome dele?

— É um senhor de idade, o nome dele é Giovanni.

— Giovanni? – perguntou Joseph abruptamente.

— Sim, por quê?

— Este é um dos vampiros mais inescrupulosos que existem nos dias de hoje. É um homem sádico, excêntrico, que se diverte fazendo com que as pessoas sofram até a morte.

— O que será que ele quer conosco?

— Com certeza não é nada bom. Ainda assim, não entendo porque estaria atrás de vocês. Ele te disse alguma coisa, Magno?

— Até demais. Aquele maldito. Quando nos vermos novamente, eu o matarei.

— O que foi que houve, Magno! O que ele te fez para que ficasse assim?

— Aquele homem é um ser desprezível e merece a morte.

— O que foi que houve entre vocês, Magno? O que vocês conversaram?

— Ele queria me comprar. Achava que eu iria me vender. Passar para o lado dele.

— Ele quis que ficasse do lado dele?

— Sim. Queria que eu virasse as costas para todos vocês e o seguisse, como seu capacho.

— E por que ele iria querer que você o seguisse?

— Disse que vê um grande potencial em mim.

— Provavelmente ele conheça a profecia. Quer que fique ao lado dele, pois assim, conseguirá alcançar tudo o que almeja.

— Ele conhece a profecia sim, mas não acredita nela.

— Então por que ele iria querer que você ficasse ao lado dele?

— Também não sei, mas estou começando a acreditar que esta profecia é uma furada.

— Como?

— Essa profecia é uma mentira. Vocês estavam enganados.

— Não estamos, Magno! Temos certeza de que ela realmente exista e que vai se cumprir. Temos certeza de que vocês são os descendentes diretos de Caim.

— Como pode ter tanta certeza assim?

— Fizemos todos os testes possíveis. Tudo indica que são vocês.

— Então se enganaram. Ou não somos nós, ou ela realmente é uma farsa.

— Por que tem tanta convicção de que estamos errados?

— Eu vi o Júnior. Estavam com ele. Era seu prisioneiro.

— O Júnior?

— O que houve? Onde ele está?

— O Giovanni o levou?

— Não! Ele está morto!

— Não!

— Como assim?

— Ele está morto. O Giovanni mandou matá-lo na minha frente, simplesmente para me provar que a profecia é uma farsa.

— Não é possível. Deve haver uma explicação.

— Eu já te dei a explicação, Joseph. Não existe profecia. Não somos filhos de Caim. Vocês se equivocaram.

— Não! Deve haver outra explicação. Talvez ele não tenha morrido.

— Fala isso porque não viu seu amigo ter o peito perfurado por uma estaca e depois, enquanto ainda tinha seu sangue escorrendo, viu um troglodita brincar com o corpo dele. Como se ele não fosse nada e, por fim, ser arremessado no oceano, como um saco de lixo.

— Isso não é possível. – diz Joseph, não querendo acreditar no que estava acontecendo.

Lorraine abraça Magno, tentando consolá-lo, enquanto todos dentro do furgão, ficam com cara de incredulidade. Rikimaru, que até o momento da notícia transmitia um ar de alegria e superação, fecha o seu semblante e abaixa a cabeça, aparentemente em luto.

Ninguém sabia ao certo o que dizer naquele momento, todos pensavam, mas não verbalizavam os seus pensamentos. Afinal, ninguém poderia imaginar que uma coisa como aquela fosse acontecer. Não podiam esperar que Júnior viesse a falecer.

Apesar de terem sobrevivido àquela noite, não haviam conseguido voltar para casa vitoriosos. O sentimento de dever cumprido nem ao menos lhes passou pela cabeça. Por mais que tivessem descoberto quem os atacou, conseguiram isso a duras penas.

Perder Júnior neste momento, ao menos aparentemente, tirara todas as expectativas daquele grupo, que, até então, estava cada vez mais confiante em alcançar os seus objetivos.

Tinham a esperança de o encontrarem vivo e dar prosseguimento ao plano que já havia sido traçado, porém esta notícia colocou todo o plano por água abaixo.

Com a sua morte, a certeza e a convicção dada por Joseph sobre a profecia e sobre a função deles naquele lugar, também caíam por terra.

Será que realmente existia mesmo uma profecia? E se houvesse, ela seria verdadeira? Será que eles eram mesmo os filhos diretos de Caim?

Todas estas dúvidas rondavam as suas mentes enquanto seguiam o trajeto para casa.

Magno, que ainda continuava pesaroso e contristado, recebeu, nos braços de Lorraine, o afago e o carinho que muito precisava naquele momento.

Rikimaru, por outro lado, não parecia querer demonstrar o que estava sentindo. Sabia-se, pois era visível, que havia ficado abatido com a notícia, contudo não quis demonstrar que estava abalado.

Stella tentou consolá-lo, mas foi impedida por ele, que sem falar nada, apenas acenou, dizendo estar tudo bem.

Joseph, além de desconsolado, parecia também inconformado, pois não podia acreditar que errara. Não podia acreditar que aquela profecia era uma mentira. “Alguma coisa deve ter saído errado! Não é possível que esta profecia esteja errada. Nós que erramos, mas no que erramos?” pensava ele consigo mesmo, sem externar aos outros as suas preocupações.

O caminho até a casa de Joseph foi marcado pelo silêncio e pelo pesar de todos que ali estavam. Ninguém ousava falar nada, nem argumentar, nem se lamentar. Se o fizeram, o fizeram em suas mentes.

Ao chegarem em casa, já havia amanhecido e por este motivo não podiam sair do furgão. O portão da garagem se abriu e eles puderam entrar.

Lá dentro, pela primeira vez, repararam que o motorista que estava dirigindo era um dos homens que faziam parte do rebanho de Joseph.

Ele deu um tapinha nas costas dos dois rapazes, num gesto de pesar, demonstrando que realmente estava abatido pelos acontecimentos desta noite. O que fez com que Magno e Rikimaru estranhassem tal atitude. Ainda assim, acenaram para ele em forma de gratidão.

Subiram, em silêncio, a escada que dava acesso a sala de estar. Joseph e as meninas se instalaram na sala, enquanto Rikimaru e Magno rumavam em direção aos seus quartos. Quando estavam no meio do caminho, foram interrompidos por Joseph.

— Meninos, esperem!

— ... – ainda sem pronunciar uma palavra sequer, os dois rapazes se detiveram na escada, todavia, não se viraram para falar.

— Eu sei que este momento é muito delicado para vocês e o que estão sentindo...

— Você sabe o que estamos sentindo? Você não tem a menor ideia do que estamos sentindo.

— Vocês estão chateados pela morte do amigo de vocês, mas este é o preço que muitas vezes temos de pagar em um guerra.

— Vocês só sabem dizer isso. Que temos que pagar o preço pela guerra. O que vocês esquecem é que não nos alistamos pra ela, fomos obrigados a entrar, sem nem ao menos ter nos perguntado se queríamos ou não.

— O coitado do Júnior não soube nem o que havia acontecido. Não sabia que havia uma guerra, nem onde estava. Por que ele teve de pagar por uma guerra que ele nem ao menos sabia que existia?

É fácil dizer isso quando não foi você quem perdeu um amigo em batalha. Quando não o viu morrer diante dos seus olhos. Não o viu ser zombado, chacoteado e lançado no mar. Isso tudo numa mesma noite e ainda ter sido acusado de ser o culpado pela sua morte.

— O que quer dizer com isso? Nós não te acusamos de nada, Magno!

— Não foram vocês. Foi o Giovanni. Ele fez questão de matá-lo na minha frente, simplesmente para me mostrar que sou impotente e que não seria capaz de defendê-lo.

— Você não devia se martirizar tanto, Magno! Não foi sua culpa. O que poderia ter feito?

— Eu tinha uma escolha. Eu poderia tê-lo salvado, mas não o salvei.

— Como assim? O que quer dizer com isso?

— O Giovanni me disse que se ficasse do lado dele, permitiria que o Júnior sobrevivesse, mas como eu preferi ficar do lado de vocês, ele o matou.

— Você é mesmo um tolo se acredita que aquele homem permitiria que o Júnior sobrevivesse. Você não o conhece bem. Ele é um sádico. Ele ama brincar com os sentimentos dos outros. Faz isso de uma maneira tão convincente que consegue enganar a qualquer um.

— Já você o conhece muito bem, não é mesmo Joseph?

— O que está querendo dizer com isso?

— Antes de sumir, me pediu para te mandar lembranças.

— Que história é essa?

 - Isso não vem ao caso agora.

— Como não vem ao caso? Ele acabou de matar o nosso amigo e você está querendo guardar segredos?

— Isso não vem ao caso, porque não é a coisa mais importante a ser pensada agora.

— E o que pode ser mais importante do que isso?

— Tenho sérias motivações para acreditar que o Júnior não era um dos filhos de Caim.

— Como é que é?

— Pensando em tudo o que aconteceu até aqui. Só posso ter esta inclinação.

— Explica isso direito!

— Bom. Não tenho como afirmar com certeza, mas tudo me leva a acreditar que erramos com relação ao Júnior.

— Como assim erraram?

— Com relação a você e Rikimaru, não tínhamos a menor dúvida. Isso porque não somente todos os testes nos indicaram isso, como também a própria aptidão pessoal e sobrenatural que vocês demonstraram até aqui. Já com relação ao Júnior, não tivemos como atestar estes pontos tão importantes, entendem?

— Quer dizer que vocês o trouxeram para cá, sem ao menos terem certeza de que ele era um escolhido?

— Não necessariamente. Tínhamos convicção do potencial dele, porém não tínhamos completa certeza, como temos com vocês.

— Então vocês condenaram um jovem a morte porque simplesmente queriam ter certeza de que era a pessoa certa? Ou seja, não faziam a menor ideia do que estavam fazendo?

— Como quer que acreditemos em vocês desta forma? Me pergunto até que ponto vocês escondem as coisas de nós.

— O que está querendo dizer com isso?

— Desde que chegamos aqui, vocês apenas nos contam o necessário sobre a guerra. Não nos falam de onde vieram, o que faziam antes.

— Isso porque não é relevante.

— Não é relevante? Vocês sabem tudo sobre nós porque nos vigiavam, mas não sabemos nada de vocês. Nem ao menos sabemos se os nomes que nos dizem são verdadeiros ou não.

— Você está preocupado com os nossos nomes? Em meio a uma guerra, você está preocupado com nomes?

— Não sabemos nem ao menos o básico sobre vocês. Me questiono se realmente fiz a escolha certa.

— Está me dizendo que preferiria estar ao lado de alguém sanguinário do que estar ao nosso lado?

— Pelo que vi até o momento, sei mais dele do que de vocês. Por que não escolheram um lado até hoje? Por que preferem ficar neutros numa guerra com proporções continentais? Por que nos esconderam a garagem e tudo o que nela havia? Entendeu o que quero dizer? Não sei nada sobre vocês. Como posso confiar?

— Também não tínhamos certeza se podíamos confiar em vocês ou não. Por este motivo, escondemos muitas coisas. No momento em que estamos, podemos ser traídos até mesmo pelos nossos melhores amigos. Não podíamos correr o risco de sermos traídos por vocês. Ainda assim, admito que eu possa ter errado.

— O que está querendo dizer com isso?

— Giovanni e eu éramos amigos. Desfrutávamos dos mesmos pensamentos e das mesmas visões.

— Como é que é?

— Fomos transformados, praticamente, na mesma época. Quando nos conhecemos, éramos neófitos. Compartilhávamos de uma visão muito semelhante de como deveria ser o mundo vampírico. Fomos transformados contra a nossa própria vontade e queríamos mudar o comportamento dos vampiros do nosso período.

Queríamos que houvesse uma ordem, um estatuto, um código de honra.

Batalhávamos para defender a nossa visão e começamos a reunir outros vampiros, que assim como nós, não concordavam com o sistema.

Conseguimos reunir um grande grupo e estávamos prestes a confrontá-lo e acabar com tudo aquilo que estava sendo feito.

— E o que houve?

— O Giovanni se corrompeu e eu não percebi. Quando descobri já era tarde demais. Ele conseguiu convencer quase todo o grupo, que havíamos reunido, a segui-lo.

Quando íamos começar uma revolução. Ele nos apunhalou pelas costas. Nos deixou sozinhos no campo de batalha e perecemos.

Muitos de nós morreram no mesmo dia, outros vieram a ser caçados posteriormente e também morreram.

— E por que ele fez isso?

— Ele havia se tornado ambicioso, ganancioso. Acreditava que havia outra forma de conseguir esta revolução.

— E que forma era essa?

— Acreditava que, se conseguisse reunir mais e mais vampiros gananciosos como ele, mais poderoso se tornaria. Com isso, juntaria apenas os melhores ao seu lado e conseguiria acabar com o sistema.

— E isso adiantou?

— Isso foi apenas no início. Quando percebeu que ganharia mais com a guerra e com o sistema, deixou de combatê-lo e passou a controlá-lo.

— Como assim?

— Ele percebeu que a guerra que existe entre a Camarilla e o Sabá poderia lhe render muito dinheiro e poder. Com isso passou a prestar favores para ambos os lados.

— E como isso é possível?

— Este motivo eu ignoro, o que sei é que ele tem os dois lados nas mãos. Fornece lacaios, mercenários, rebanho, tudo o que possa imaginar. Acredito que tenha sido assim que tenha obtido toda a sua riqueza e poder.

— Então foi por isso que me disse que, não importa quem ganhasse a guerra, continuaria existindo e dominando livremente?

— Provavelmente.

— E por que ele tem tantos seguidores?

— É fácil se conseguir seguidores quando se tem o poder que ele tem. O que o dinheiro dele não puder comprar, a ganância pelo poder comprará.

— Não entendi.

— Além de possuir muito dinheiro e ter as duas facções praticamente em suas mãos, ele também consegue agregar ao seu hall de liderados, todos aqueles que anseiam por poder.

— Mas de que forma, mais precisamente?

— Ele é conhecido por incentivar o diablerie. Com isso, muitos dos que o procuram, o fazem para adquirir poder além do normal.

— Mas por que ele incentiva?

— Porque, desta forma, terá ao seu lado, somente aqueles que realmente querem ser os mais fortes, independentemente do que tenham que fazer para isso.

— Então quer dizer que ele está montando o próprio exército?

— Possivelmente. Após esta revelação de que ele estava em busca de recrutá-lo, Magno, temos de nos acautelar. Principalmente nos dias de hoje, em que todos os vampiros estão tendo de tomar partido, muitos preferirão se esconder nas asas dele.

— Por quê?

— Pelo visto, ele apoiará um dos dois lados, ou até mesmo os dois. Para ele não fará diferença alguma, contudo, para o andamento da guerra, sim. A sua participação será fundamental para decidir o vencedor.

— Como ele conseguiu adquirir tanto poder?

— Ótima pergunta. Não saberia dizer como conseguiu chegar tão longe. Muito provavelmente tenha praticado diablerie inúmeras vezes para chegar a este nível em que está. Seja como for, é muito difícil saber.

— Mas por que diz isto?

— É muito difícil dizer com precisão a este respeito, pois ele quase nunca é visto, muito menos em batalha. De uns tempos pra cá, ninguém mais teve notícias dele.

— Como assim?

— Não sabemos ao certo, contudo, ninguém consegue saber onde ele está, ou quando irá aparecer. Quando quer, simplesmente aparece e depois desaparece sem deixar rastros.

— Acredito que sei como explicar isso.

— Como?

— Enquanto ainda falava com ele, uma espécie de portal se abriu ao seu lado e ele simplesmente desapareceu. Não saberia dizer pra onde foi, mas disse-me que tinha um compromisso e foi embora.

— Esta informação é nova. Acredito que nem todos saibam disto. Podemos utilizar isso a nosso favor, entretanto, ainda precisamos entender como isso funciona e para onde ele vai quando entra neste portal.

— Seja como for. Ele se demonstrou ser um adversário muito difícil de ser batido. Como acredita que possamos derrotá-lo?

— Já disse, rapazes. Quando se derem noção do poder que flui dentro de vocês, não mais questionarão.

— Como não questionar? Não questionamos da primeira vez e pagamos com a vida de um inocente.

— Eu sei que errei com relação ao Júnior, mas deve haver uma explicação para tudo isso.

— E qual é?

— Ainda não tenho certeza, quanto a isso, contudo, se ele não é o terceiro. Outro deve ser, mas quem?

— Boa pergunta! Se você não sabe, como poderíamos nós, sabermos?

— Tenho que analisar tudo o que aconteceu. Somente assim poderei definir com exatidão o erro que cometi e tentar encontrá-lo.

— E quanto tempo levará?

— Também não sei. Foi muito difícil achar vocês três da primeira vez, agora não será diferente.

— Enquanto isso o que fazemos?

— De preferência tome um banho primeiro, Magno. Depois vão descansar. A noite não foi nada gentil com vocês.

— Não foi mesmo!

— Repousem bastante! Amanhã, tornaremos a nos falar. Quem sabe não conseguimos maiores informações sobre o paradeiro do terceiro.

— Esperamos que sim.

— Torçamos para que tudo dê certo!

— Dará! Bom dia – disseram todos.

Magno e Rikimaru subiram para os seus respectivos quartos, assim como Lorraine e Stella. Joseph demorou-se ainda um pouco na sala, buscando respostas a todas as perguntas que haviam surgido naquela noite.

Fora vencido pelo cansaço e como estava, assim dormiu, ali mesmo no sofá.

Antes de dormir, Magno ouviu a recomendação de todos e lavou-se antes de dormir. Notara que estava deveras sujo e fedido. O cheiro dos ratos e dos mortos vivos ainda continuava em sua pele.

Mais do que isso, algo que não podia ser lavado ou extraído, continuava em sua mente e em seus lábios. O gosto da derrota, da perda do seu amigo, da vingança que um dia chegaria.

Depois de lavar-se, deitou-se e dormiu!

Ainda de dia, Magno começa a revirar-se na cama. Aparentemente estava tendo outro pesadelo como os que tivera desde que havia cogitado jogar.

Percebia-se um medo, um pavor, expresso em sua face. Não se sabia qual era o pesadelo, mas o que era notável era a face de preocupação.

Os movimentos iam se intensificando, ficando mais sérios, agressivos. Estava realmente apavorado com o que estava rondando a sua mente naquele momento.

Era preciso acordar. Livrar-se daquele sonho. Libertar-se daquela prisão que agora o arrebatava, o tomava com força e o fazia estremecer de medo.

A tensão é intensificada. Não consegue suportar a pressão do sonho. A sua mente, vítima do pesadelo, pede socorro e busca acordar e sair daquela prisão.

Ela consegue reagir e o faz acordar desesperado. Com o rosto apavorado e o coração batendo aceleradamente, Magno desabafa, aliviado:

— Eu já sei... eu já sei quem é o terceiro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Black: Conhecendo a Escuridão" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.