" A névoa era densa. Ao longe, uma voz feminina chamava por ele. Guiado por ela, ele se pôs a correr a procura de sua dona. Depois de algum tempo viu a delicada silhueta ao longe. A pequena fada estava envolta em um tecido fino quase transparente que lhe deixava angelical e ao mesmo tempo sedutora. Ela o chamava , suas mãos em um floreio no ar pedindo para que ele a seguisse. E ele quase como enfeitiçado, partiu ao seu encontro. Mas quando estava quase a alcançando, a fada se contraiu de dor e num piscar de olhos, se desfez em vários fachos de luz."  

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Jareth acordou sobressaltado. Olhou ao redor, não reconhecendo onde estava ate se lembrar que havia ficado na casa de Milla,  a seu pedido. Levantou-se desnorteado e olhou pela janela, constatando que ainda estava escuro lá fora. As árvores não possibilitavam ver o céu por completo, mas ainda assim permitia ver algumas estrelas. Jareth então se pegou pensando no sonho. O que seria aquilo? O que significava? Milla estaria em perigo?   

Uma pontada no peito o fez se preocupar com a fada. A conhecia a tão pouco tempo, mas seu jeito doce e infantil o cativaram. Suspirando, decidiu procurá-la. De certo sabia que a mesma estava dormindo mas isso não importava. So queria vê-la.  

Saindo do quarto, foi pelo corredor ate parar de frente a porta. A mesma era diferente de mesmo modo. Havia entornos de flores e algumas vigas incrustadas na madeira. Delicada, assim como a pessoa que dentro estava. Colocando a mão na maçaneta, se deteve. Sabia que não era uma postura correta um rapaz entrar no quarto de uma donzela,  mesmo se estivessem prometidos. Mas a necessidade de conferir se estava tudo bem se fez maior, e com muito cuidado, ele abriu a porta e entrou. 

A luz da lua entrava pela janela, banhando a silhueta adormecida. Milla dormia tranquila,  alheia ao seu visitante noturno. Seus cabelos se espalhavam pela cama, desgrenhados e revoltos mas nunca tirando sua beleza. Jareth soltou um pequeno suspiro de alivio, se aproximando mais da cama e observando-a melhor.  

Seu rosto sereno parecia tão macio ao toque, sua boca rosada levemente aberta tão convidativa. O príncipe franziu um pouco a testa,  odiando tais pensamentos impertinentes mas não podia evitar admirar a beleza daquela fada. Tão singela, por vezes tão infantil e ao mesmo tempo tão mulher. Se aproximando mais, tirou lhe uma mecha de cabelo que teimava em cair sobre seus olhos. Ela estremeceu um pouco ao toque, o deixando alerta. Sabia que estava errado, não devia se deixar levar por essas sensações estranhas que lhe tomavam o peito perto dela. Então, caminhando ate a porta,  olhou mais uma vez e saiu.  

Os raios de luz entravam pela janela, intimidando os olhos da morena. Se espreguiçando demoradamente, Milla se sentou na cama tentando acordar de fato. Olhando os papeis na escrivaninha, lembrou-se que tinha que ir no mercado comprar mais mantimentos. Mal pusera os pés pra fora da cama, ouviu o ''crack'' vindo da cozinha. 

 Sobressaltada, correu ate lá. Será possível que seu irmão não podia ser menos desastrado?  Qual foi sua surpresa ao constatar que,  ao em vez de seu irmão,  Jareth estava agachado recolhendo ao cacos.  

—Oh. B-bom dia majestade. Er.....Jareth. Não precisa. Pode deixar que eu mesmo apanho.- ela falou se aproximando para pegar os destroços, suas mãos esbarrando no caminho.  

"Ela cheira a flores"- Jareth pensou  

—Me perdoe minha cara, não tive a intenção de lhe causar prejuízo. Apenas tentava expulsar um esquilo traiçoeiro que roubava o estoque de nozes.  

Milla sorriu, respondendo: -Ah, eles são costumeiros aqui. Não são um problema entende?  São todos amigos das fadas. - lá falou colocando o resto do prato num cesto de palha e encostando na mesa de madeira. Ficaram se encarando por um tempo até Jareth sorrir maroto pra ela, que lhe devolveu um sorriso confusa. 

—Devo dizer Milla, que você fica completamente adorável quando recém acordada.  

A pequena fada demorou só alguns segundos para entender o que o maior lhe dissera, ficando logo tão vermelha quanto um tomate, cobrindo o rosto em vergonha. 

—O-oh céus!!! P-perdão, vou subir e-e me trocar. Com sua licença. - com uma mesura pra lá de desajeitada ela correu escada acima, morta de vergonha com sua própria falta de noção.  

. . . . . . . . 

Depois de acalmá-la dizendo que estava tudo bem, e que ela não lhe devia desculpas, tomaram café e se puseram a caminhar um pouco pelo vilarejo em direção a floresta. Jareth devia retornar para seu reino, pois seu velho pai já devia ter arrancado os poucos cabelos que lhe restavam. Caminharam calmamente, conversando e sorrindo. Ainda pararam para cumprimentar alguns cidadãos e Milla apresentava Jareth aos moradores. Pareciam tão íntimos que Jareth custava a admitir, mas sentiria falta da fada ao retornar para seu castelo.  

O reino dos duendes não tinha a mesma beleza e vivacidade do das fadas, por mais que seu pai fosse um soberano sábio e justo e que tudo fizesse para que seu reino crescesse bem. Quando finalmente chegaram no portal de entrada e saída, Jareth se sentio vazio. 

—Bem, acho que aqui nos despedimos Jareth. Seu reino o espera caro príncipe. - Milla lhe falou sorrindo. 

Ele a encarou, devolvendo um meio sorriso. Mas ficou  a contemplar-lhe o rosto infantil e delicado. Ficaram apenas se olhando um pouco, num silêncio compreensível. Ele tomou-lhe a mão, beijando os nós de seus dedos sem deixar que seus olhos se apartassem dos dela. Milla ruborizou de leve ao sentir os lábios do príncipe tocar-lhe a pele, despertando uma sensação de calor no peito. 

—Até breve, bela Milla. Creio que ainda nos veremos outras vezes. - Ele voltou a endireitar-se e com um floreio fez surgir um cristal. - Sempre que precisar de companhia, pode conversar comigo através dele.  

Lhe estendendo a pequena bola, ela aceitou maravilhada o pequeno presente. Após uma mesura vinda de ambos, Jareth se virou para seu caminho. Mas nem tinha dado dois passos, ela foi até ele, depositando um beijo em sua bochecha. 

—Esperarei ansiosa por nosso próximo encontro, meu príncipe. -ela falou, levemente corada. Jareth ainda estava absorvendo o que acontecera quando ela abriu graciosa suas asas e alçou voo para casa. Inconscientemente, levando a mão até onde seus doces lábios pousaram, o jovem não pôde evitar sorrir. 

—Ah, Milla..... 

De longe, aquela não seria de fato a última vez que a veria pois mesmo sem querer, a doce fada havia conseguido derreter um coração de gelo.

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