Acordei mais cedo que de costume, olhei pela janela e fitei durante alguns instantes o modo com o sol iluminava os edifícios de Jacksonville .Hoje é o último dia para me despedir do aglomerado de pessoas , prédios e comércios barulhentos , e mergulhar nos pântanos de Nova Orleans , pode parecer uma mudança drástica mas é preciso, nesse momento é necessário respirar um pouco  fora dessa vida agitada ...

Desço os degraus pela ultima vez , a mudança já esta no caminhão fretado e logo após o café , eu ,mamãe , Ron -Sinceramente não consigo chama-lo de pai agora- e Lauren -minha irmã mais nova- iremos para outra casa, outra casa , uma que não é a que eu cresci , aprendi a andar de bicicleta na calçada da frente e ralei os dois joelhos,  outra casa que não seja a que soube que eu seria irmão mais velho mesmo sem saber o que era extamente isso , seria outra casa , menos aminha.

—Mãe! Mãe! Cadê meu moletom cinza do The Smiths ?

—Não sei, querido , deve estar onde você deixou a duas semanas -Se eu não a conhecesse diria que estava sendo sarcástica -.

—Filhão , vem aqui, olha só as fotos da casa nova ! Não é uma beleza?

—É, se você diz -Meu pai tenta recuperar a normalidade das coisas mesmo sabendo que não será tão fácil ,  Lauren é muito pequena para entender o que esta havendo mas eu sei e não vou deixar esse assunto desaparecer-.

Saímos e após algumas horas estávamos entrando no estado de Louisiana  e então destino final : Nova Orleans . Logo nas primeiras ruas que passamos havia muitos bares e pequenas festas ao ar livre , dobrando a esquina ficava um clube de Jazz com Piscina que dava saída para uma pequena praia , o ar parecia puro e por alguns minutos eu consegui esquecer da realidade em que vivo , mais algumas ruas estreitas então chegamos a um bairro cheio de casas antigas , sobrados com detalhes do Século XIX , provavelmente restaurados a mão porque pareciam perfeitos- A parte ruim de ser perfeccionista é reparar ate em uma lasca de madeira no acabamento dos telhados - Nossa casa ficava mais ao fundo da rua, era uma casa de dois andares , e o que parecia um sótão estava meio desbotado , havia janelas grandes e uma varanda arredondada , a casa parecia precisar de pintura nova já que o vermelho escarlate parecia mais uma mancha de vinho velha ...até que a casa não era tão  ruim , eu curto o estilo antigo dessa cidade, tudo parece tão novo e ao mesmo tempo tão velho que chega ate ser excitante para o cérebro pensar nas bizarrices que espreitam essas ruelas.

Entro no hall de entrada e vejo uma lareira ao fundo , uma escada a direita em espiral dourada e a esquerda um portal levando a cozinha , aquela casa parecia demais pra nós , quer dizer, a outra casa era boa mas nem tanto ! Logo subo as escadas para escolher meu quarto e acabo percebendo que a casa possui 4 quartos , ou seja , um será o quarto para os parentes chatos da minha mãe que provavelmente virão nos visitar assim que descobrirem o endereço novo. Entro então no ultimo quarto do corredor , ele tinha paredes pintadas de um azul escuro com detalhes de madeira formando desenhos que se assemelhavam a uma flor-de-lis , piso de tacos de madeira e quanto aos móveis , digamos que parecia que a própria Maria Antonieta teria os usado , jogo a minha mala num canto e começo a tirar minhas coisas das caixas; meu notebook, meus livros , meus CD's do Marylin Manson muito desgastados ,meus óculos que nunca uso desde que aderi as lentes de contato -que destacam carinhosamente meus olhos verdes- eu tiro tudo das caixas e coloco nas prateleiras de madeira que ficavam a direita da porta , é quase 23h00  quando  vou ate a varanda e sento num pequeno banco de madeira - tudo aqui parece ser de madeira- Fito a rua calma por um tempo , ao fundo da pra ouvir a musica alta do clube da esquina anterior , ate os grilos parecem estar calmas , meu "silencio" parece ser quebrado quando ouço uma voz :

—Oi , você se mudou hoje a tarde , não é?

—Oi... é , sim , sim - uma garota de cabelos castanhos e olhos redondos me sorria , vestindo um moletom preto com jeans e tênis , ela parecia entusiasmada em falar comigo  -.

—Eu sou Dominique ,sua vizinha do outro lado da rua e você é...?

—Ah, sim , sim , eu sou Allan -eu me levantei e apertei a mão dela-.

—Então...Allan , como se pronuncia ? Állan? ou Allan ?

—Állan , como se tivesse acento agudo no A- eu ri das tentativas como ela pronunciou meu nome-.

—Então, Állan , como se tivesse acento agudo no A, boa noite .

Ela saiu tão rápido que nem me ei conta que não havia respondido, meio sem jeito eu aceno e entro em casa.

Holly...um nome muito bonito. 

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