A árvore dos sentimentos mortos escrita por Walker


Capítulo 2
Segundo ato.


Notas iniciais do capítulo

Oir~
Espero que gostem ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714793/chapter/2

 

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Vinicius de Moraes

Capítulo 3

Assim que chega em casa, a primeira coisa que vê é um papel em sua porta. Donnie o pega do chão e lê. “Apenas anúncios e mais anúncios”, pensa ele. “Ache o amor da sua vida”, era um site de encontros. Ele senta no sofá desgastado e começar a divagar. Donnie nunca achou que precisava de alguém na sua vida, um “amor da sua vida”, como dizia o anúncio. Ele achava que ficaria bem sozinho para sempre, que nunca sentiria falta de ninguém. Mas a verdade é, que ele sente. Donnie sente um vazio em seu coração que não pode ser preenchido por nada além de amor. Ele precisava de amor e sabia disso. Não apenas amor romântico e clichê da mulher perfeita, mas sim, afeto. Ele precisava de algo para substituir sua dor, precisava de algo que o fizesse feliz.  Donnie realmente precisava de companhia, talvez ele enlouquecesse se não tivesse. Olha o papel mais uma vez. Já tentara várias vezes sair em encontros, mas nada deu certo. O sentimento de rejeição e medo assombravam sua alma como a sombra de um guarda-sol em dias ensolarados. Donnie tinha medo de viver.

O que ele sentia, na verdade, era mais do que um vazio. Era como se todas as partes do seu corpo estivessem preenchidas com medo, rejeição e culpa. Talvez a tristeza estivesse no pacote. A tristeza em sua vida era presente em cem por cento dos momentos, disso ele tinha certeza. Seu corpo parecia rejeitar qualquer tentativa de melhora, como se fosse inimigo do próprio dono.  Já tentou ter um bichinho, mas não foi bem o que ele esperava. Aquela sensação continuava, e ver seu cão correndo feliz de um lado para o outro apenas piorava sua situação. Talvez fosse inveja, ciúme? Donnie podia dizer que era bem invejoso, na verdade. Sempre queria mais, invejando tudo de todos. Sempre se comparando aos outros, comparando sua vida, suas roupas, seu caráter, seus sentimentos.

— Podemos concluir que sou um homem de vinte e cinco anos, fracassado na vida, sem amor, invejoso e depressivo. – Disse ele, em voz alta.

Donnie queria ouvir o som de sua própria voz, talvez assim não se sentisse tão sozinho. Falar, que coisa incrível. Linguagem, comunicação. “Como o ser humano pôde ser tão inteligente para criar tal coisa? ”, pensava ele. Donnie começa a fazer sons com sua boca, tentando quebrar a barreira do silêncio que cobria a casa toda. Para e pensa que apenas fica mais idiota fazendo isso.

— Eu sou um fracasso.

Uma voz em sua cabeça concorda. “É claro que você é fracassado, olhe onde está. Nesse lugar horrível, sozinho, triste e deprimido. Qual seu problema? ” Ele levanta rápido, com medo de ficar maluco se continuar ali. Abre a porta e encontra a senhora da maldita televisão entrando no apartamento.

— Olá. – Diz ela. – O barulho da televisão voltou a lhe incomodar, rapaz? Estou tentando controlar o volume que coloco.

— Sim, continua me incomodando. Você e essa merda de televisão continuam enchendo minha paciência. – Responde agressivamente e desce as escadas, não querendo olhar na cara da senhora.

Donnie não se arrepende, acha que fez certo. Aquela senhorazinha tem que colocar-se em seu devido lugar. Ele não sabe por quê sente tanta raiva da senhora, é algo incontrolável. Sente vontade de espanca-la toda vez que a vê. Isso parece meio cruel, mas é a verdade. Quem é ela para assistir televisão em tal volume? Seria isso mania de grandeza? Pensa novamente Donnie. Sua autoestima nunca foi boa, então não teria motivos para tal coisa. Ele odiava tudo em si. Bom, quase tudo. Achava-se magro demais, feio demais, cansado demais. Achava que seu corpo era algo horrível de se olhar. É verdade que Donnie tinha uma cara extremamente cansada, mas isso era em parte por falta de cuidados. “Reclamo tanto, mas não faço nada para ajudar”, ele pensa. Também era verdade que Donnie trabalhava muitas horas por dia, fazia hora extra e dormia pelos cantos quando podia. Mas, esse era o jeito de poder se sustentar. Apesar das reclamações da mãe, não muda seu jeito de ser. Seu relacionamento com a mãe não é dos melhores, a considera quase como apenas uma conhecida que o cobra diariamente. Donnie sentia falta do carinho, não queria mais cobranças. Parece que, quando virou adulto, sua mãe esqueceu do afeto e passou a apenas cobra-lo e cobra-lo. Ao menos era isso que pensava. Seu pai havia morrido dois anos atrás, mas também não era muito próximo dele. Vivia viajando e sendo feliz por aí. Donnie sentia um pouco de inveja dele, de suas aventuras, de seu jeito alegre de ser. A mãe trabalhava como costureira enquanto Donnie ficava em seu mundo, sozinho, desenhando e pensando no universo e nos planetas. Era uma criança solitária, considerada “estranha” por seus colegas de escola. Por isso, preferia se isolar do mundo. Seus passatempos sempre envolviam ficar sozinho. Optava por coisas que poderia fazer sozinho, e quanto mais sozinho, melhor era. Na infância, em momentos sentia falta de amigos, sentia inveja quando via as crianças brincando juntas. Mas estava tudo bem, ele tinha a si mesmo e isso era suficiente.  Quando era pequeno sonhava em ser astronauta, mas acabou nesse emprego que o custa a alma. Donnie ainda era jovem, mas achava que era tarde demais para recomeçar. Já não tinha mais esperanças, já não tinha mais nada.

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A árvore dos sentimentos mortos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.