A árvore dos sentimentos mortos escrita por Walker


Capítulo 1
Primeiro ato.


Notas iniciais do capítulo

Olá~

Espero que gostem~ ♥



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Prefácio

 

Donnie nunca foi um homem violento. Até aquele dia.

Capítulo um

Aquilo estava errado, como pode fazer planilhas com aquela velha incomodando? Isso era o que pensava Donnie, que tentava se concentrar em seu trabalho. Ele levanta de sua cadeira de madeira levemente bamba e segue rumo até seu telefone empoeirado, já fazia quanto tempo que não usava aquilo? Tateia no escuro da sala até achar as teclas mal iluminadas de seu telefone. Seria possível que tudo era velho naquela casa? Disca o número da senhora no apartamento apressadamente, fazendo-o ter que repetir a sequência por no mínimo duas vezes.  

— Alô? – Diz a voz trêmula no telefone.

Ele suspira e diz:

— Sua televisão me incomoda. Faz muito barulho, senhora. Poderia abaixar por favor?

— Claro, claro. Me desculpe.

— Certo, obrigado. – E desliga.

Foi isso. O máximo de socialização que Donnie havia tido naquele dia inteiro era uma conversa com menos de um minuto falando sobre uma televisão que incomoda com uma velha que incomoda. Não era exatamente isso que ele planejava para seus vinte e cinco anos. Voltou-se a escuridão da sala, com os braços apoiados na cintura e percebeu que não come a horas. Apoia a cabeça na parede, com medo de se mover. Tomado pela fome, levanta a cabeça de supetão e dirige-se a cozinha, abrindo a geladeira ainda no escuro. Vazia, apenas alguns ovos que serviriam muito bem fritos. Uma pontinha de felicidade enche o coração de Donnie, bem, o máximo que pode encher. Ele pega os ovos e os quebra direto na frigideira, mexendo-a com habilidade até que seu deslumbrante jantar ficasse pronto. Quando terminado, os ovos são brutalmente jogados em um prato e devorados rapidamente, com Donnie em pé apoiado na parede. Tinha sido um longo dia.

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— Você precisa achar uma namorada, filho.

— Namorada para que? Eu estou bem, mãe. – Dizia Donnie.

— Claro que não, você precisa de uma mulher na sua vida.

Ele suspira e passa as mãos no rosto, tentando convencer a si mesmo que aquilo vai passar. Ele ainda vai ter uma vida digna, uma vida que ele merece.

Saindo da casa da mãe, ele se depara com uma rua deserta e silenciosa, ótima para pensamentos ruins adentrarem sua cabeça como uma faca. Suicídio seria a solução? Talvez, ele pensa. Talvez seria melhor se tudo acabasse. Mas, e o futuro? E a vida digna que ele merece? Eram tantas perguntas que, mesmo odiando multidões barulhentas, ele preferia mil vezes estar no meio delas do que sozinho em sua cabeça. Ele anda desviando dos buracos daquela cidade imunda, por que a prefeitura não faz nada? Parece que Donnie consegue colocar defeito em tudo. A calçada esburacada e o tempo nublado não ajudam em sua perspectiva de vida para aquele momento. O que deveria pensar? O que deveria sentir? Odeia aquilo, odeia tantas perguntas. De onde elas surgem? Quem as faz? Ele mesmo? Nisso, já conseguiu mais três. Sua cabeça é sempre cheia de tudo, sempre cheia de caraminholas e coisas ruins. Talvez fossem os sentimentos, talvez fosse o vazio em seu coração que assola seus dias e destrói seu corpo. Talvez isso esteja ficando muito filosófico. Mas, talvez, seja assim que ele se sinta. A rua está completamente deserta, sem nenhuma alma viva. O que mais as pessoas têm para fazer além de andar por uma rua fazendo barulho?

Ele chega em casa, agradecendo a Deus que sobreviveu por mais um dia com sua mãe. Donnie não é católico praticante, mas acredita em deus, respeitando todas as religiões. Pelo menos é o que pensa de si mesmo, uma das únicas coisas boas que acha de si. Decide não acender a luz, gosta de viver ás escuras. Anda até o sofá no caminho decorado já feito tantas vezes e se joga, enfiando seu rosto na almofada, no exato lugar onde deixou. Seu corpo treme, seus músculos retraem e contraem ao respirar, suas pernas parecem gelatinas. Seriam gelatinas de morango ou uva? Seu corpo todo parece em estado de choque, sem se mexer. Tenta buscar sua paz de espírito, mas algo começa repentinamente. Aquela maldita televisão. Seus punhos se fecham, morde seus lábios com força, a raiva fervilhando em suas veias. Em um salto, ele corre até a porta, abrindo-a bruscamente. Bate com força no apartamento ao lado, ao que sai uma senhora de mais ou menos oitenta anos de idade, cabelos brancos e camisola.

— Sim? – Sua voz fina pergunta ao rapaz, um pouco assustada.

— Sua televisão está alta demais. – Ele responde rispidamente. – Abaixe o volume.

— Ah...me perdoe, meu jovem. Sou meio velha e não escuto direito. – Disse a senhora, que voltou para dentro e abaixou o volume de sua televisão. – Assim está bom?

Donnie deu as costas a senhora e voltou para seu cubículo que insistiam em chamar de apartamento. A raiva ainda circulando em seu corpo, pega uma almofada, enfiando seu rosto e gritando, liberando toda a raiva que tinha. Ele se acalma um pouco, deita no sofá novamente e espera o relaxar vir de novo. Está com um pouco de medo que alguém venha reclamar, mas com aquela televisão eles não tem nada a falar. Ele adormece, pensando que amanhã será um novo dia.

Sua manhã já começa ruim, ele estava atrasado. O despertador havia tocado como de costume, mas seu corpo não acordou e agora Donnie corria contra o tempo. Levanta correndo e decide que vai usar a mesma roupa que estava quando adormeceu, então só precisa pegar suas coisas e correr para o trabalho. Se ele perdesse o emprego, perdia tudo. Donnie corre como vento em campo solto, tentando de algum jeito que suas pernas andem mais rápido, porém era impossível. Avista a porta do prédio e sorri, ainda correndo feito um lunático. Entra como um foguete desajeitado pela porta da frente e vai direção ao elevador. Para seu desagrado, não estava funcionando. Tudo estava dando errado. Já sem fôlego, Donnie cai de joelhos no chão, sentindo tudo desabar. As lágrimas, o cansaço, a tristeza, a solidão. Tudo. Tudo por causa de um maldito elevador.


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Notas finais do capítulo

Oioi~
Gostaram? Espero que sim, vejo vocês no próximo capítulo ♥



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