A reserva possuía pouca iluminação própria, o que fazia o caminho ser mais complicado de se fazer durante a noite. Apesar disso, o garoto tinha feito tantas vezes o mesmo trajeto que conseguiria chegar ao destino mesmo de olhos fechados. Quando se aproximou, viu que todos os garotos continuavam festejando como se nada tivesse acontecido. Garrafas de cerveja e de outras bebidas vazias sujavam o chão, assim como várias bitucas de cigarro. Um rapaz estava deitado encostado em uma árvore, com uma poça de vômito ao seu lado.  Encostado em um tronco cortado estava um casal, uma garota magra usando uma roupa de couro apertada, encostada no ombro de um rapaz magricelo sem camisa e com a cabeça raspada. Ele possuía várias tatuagens em todo o corpo, uma delas, no peito, tinha uma caveira preta com um chapéu infantil, acompanhada de uma frase abaixo: “Daddy’s little psycho”. Em pé com uma garrafa de cerveja na mão estava o mais alto e forte de todos eles, de cabelo loiro bem penteado e roupas claramente de marca e extremamente limpas e novas. Parecia que tudo que ele estava vestindo tinha sido comprado no mesmo dia, já que nem o tênis que estava usando possuía marcas de desgaste. O lugar estava uma verdadeira bagunça, e quase não existia nenhuma planta que Lisa cuidava intacta, a maioria estava pisoteada ou coberta de bebida e vômito. Josh ficou triste pela amiga mas pensou que ela realmente poderia ter voltado pra casa. Quando estava quase dando meia volta, porém, a conversa entre as pessoas chamou a atenção dele.

—A gente teve que comprar mais bebida por causa daquela garota - reclamou o garoto mais forte, enquanto dava um gole na cerveja.

—Eu tomei um susto quando o chão virou lama e todas nossas coisas começaram a afundar- comentou a garota.

—É, mas ela não vai mais incomodar, demos um bom susto nela- quando o rapaz forte disse isso, o magricelo revirou os olhos e começou a beijar o pescoço da garota ao seu lado, que riu e acariciou a cabeça dele.

—Eu achei exagero cara, aquela casa nao é mal assombrada?- o garoto encostado no lado da poça de vômito voltou à vida e começou a falar.

—Você não acredita realmente naquilo né? Isso é invenção para assustar criança- o magricelo riu com um tom de escárnio depois de falar e voltou a se concentrar na namorada.

—Você diz que é invenção mas ninguém quis chegar perto, jogamos a garota de longe na janela quebrada.eu acho que- foi interrompido pelo próprio vômito, todos riram.

Josh ouviu a situação e começou a tremer, eles jogaram Lisa na cabana da asfixia? Lembrou de como se sentiu quando chegou perto de lá, de como quase perdeu a consciencia. Se ela entrou lá, ela estaria viva? Não estava pensando direito, mas não conseguiu acreditar no que ouviu, e correu na direção daquelas pessoas. Quando apareceu no meio delas, todos os olhares foram para ele.

—Mais uma criança? Se perdeu de casa?- disse a garota.

—O que vocês fizeram com a Lisa?

—quem é lisa?- perguntou o garoto mais alto. No momento em que olhou nos olhos de Josh, viu a expressão de raiva dele. Nunca admitiria, mas se sentiu um pouco intimidado, e reagiu agressivamente.- QUE CARA É ESSA MOLEQUE? QUER ARRUMAR BRIGA?

—Vocês machucaram a minha amiga, quero saber o que fizeram com ela.

—Você está falando daquela mini-hippie que estragou nossa bebida? Ela teve o que merecia, não é a primeira vez que ela nos incomoda.

—Vocês que estão incomodando ela, sabem quanto tempo ela passa cuidando dessas plantas?

—E você acha que eu ligo? Eu faço o que eu quiser! Meu pai é um grande político aqui na cidade, e ninguém mexe com a gente por causa disso. Eu nem sei quem é você e aquela garota mora em uma cabaninha escrota, vocês não são ninguém.- o garoto começou a rir, acompanhado da garota e do amigo vomitado, o rapaz magro continuou sério.

Josh sentiu muita raiva, como não lembrava de ter sentido antes. Antes de pensar saltou na direção do jovem e desferiu um soco no rosto dele. Ele próprio não percebeu, mas se moveu muito mais rápido do que uma pessoa da sua idade deveria, deixando o adversário sem tempo de reação. Todas as risadas pararam de repente, e o garoto, mesmo sendo mais alto e pesado que josh, caiu sentado no chão. Todas as pessoas olharam impressionadas para a cena, porque não era só a velocidade que era anormal, mas aquela criança nao deveria ter uma mão pesada o bastante para derrubar uma pessoa tão maior que ela. O jovem ficou claramente contrangido com o que aconteceu, parecia ser a primeira vez que alguém o acertava no rosto.

Em outra situação, Josh jamais faria isso, mas aquelas pessoas o tiraram tanto do sério que ele nem conseguia pensar direito.

—QUEM VOCÊ PENSA QUE É? NEM MEU PAI ME BATEU NO ROSTO!- Gritou, enquanto massageava o rosto avermelhado.

—Eu quero que você me diga o que fez com a minha amiga!- Josh nao percebeu, mas o garoto que estava junto com a menina havia se levantado. Logo depois que terminou a frase sentiu uma pancada muito forte na parte de trás da cabeça. Havia sido golpeado com um pedaço de madeira, e agora estava desacordado. A namorada do garoto olhou com uma cara de espanto para o que ele havia feito.

—não precisava ter feito isso,  ele é uma criança! Você pode acabar matando ele desse jeito.-no momento que ela terminou a frase o rapaz jogou o pedaço de madeira na direção dela, mas ele passou acima da sua cabeça.

—CALA A BOCA- ele estava claramente bêbado.- O rick falou que a gente pode fazer o que quiser, não é? Fala pra ela rick!- Rick era o rapaz golpeado por Josh, e assentiu com a cabeça, mas seus olhos mostraram que ele não esperava isso e nem se sentia confortavel. A garota encarou o namorado com um olhar de medo, aparentemente não havia sido apresentada à esse lado violento .Abaixou a cabeça e nao disse mais nenhuma palavra.

—A gente não pode deixar ele simplesmente aqui no chão mesmo, não é?- Rick ja havia se levantado, e parecia que estava se preocupando de verdade com a possibilidade de matar uma pessoa. Passou pela sua cabeça chamar uma ambulancia.

—Tem razão Rick- o homem magricelo se aproximou do garoto desacordado e ficou olhando para ele por um instante sem demonstrar nenhuma reação. De repente desferiu um chute no estômago dele - a gente tem que dar um fim nele.- quando terminou a frase tirou um estilete do bolso da bermuda. Sua namorada saiu correndo para fora da reserva, mas ele pareceu não perceber.

—O.... que....  voce vai fazer Chuck?- Rick foi se aproximando do amigo e da criança desacordada.

—O que eu deveria ter feito com aquela garota. Se ela não aprendeu com um soco na cara a gente já tinha que dar cabo nela. Você que veio com essa ideia de jogar ela naquela cabana velha.

— A gente não precisa matar ele né?- Rick se aproximou de Chuck segurando os braços dele- vamos largar esse estilete, tá?

—EU FAÇO O QUE EU QUISER- Chuck se soltou de Rick e fez um corte superficial em um dos braços do rapaz, que gritou de dor. O unico ainda ali era o rapaz encostado na árvore, que tinha voltado a dormir. Olhou para o amigo com um olhar de medo, mas depois olhou pro garoto no chão. Queria fugir mas não se sentia bem de deixar uma criança com uma pessoa como Chuck.

—Vamos fazer assim, eu te dou quinhentos dólares, mas nao mata esse garoto.- Chuck nem olhava mais para o amigo, apenas encarava o estilete sujo de sangue, com um sorriso sinistro no rosto.

—Seiscentos, mas eu nao vou deixar ele aqui.

—Perfeito!!!!!!, a gente joga ele na cabana junto com aquela menina. Depois do trauma eles não vão mais mexer com a gente, certeza.

Os dois seguraram o corpo desacordado de Josh e levaram até as proximidades da cabana da asfixia. No caminho, Chuck, que carregava Josh pelo ombro, derrubou propositalmente o garoto três vezes, se desculpando rindo alegando que tinha sido um acidente. Quando finalmente chegaram no mesmo lugar que tinham jogado a garota, o ar ja ficava rarefeito.

—Quem sabe a gente não deixa ele aqui mesmo, ele já aprendeu a lição- argumentou rick

—Não foi isso que a gente combinou

—Olha pra esse garoto, tá todo machucado- Josh ja estava sangrando no rosto e estava roxo por todo o corpo, sua cabeça estava inchada da pancada com a madeira e de todas as vezes que foi jogado no chão.

—eu não me importo com isso, por mim ele morre.

—Cara, como voce pode falar isso? Eu gosto de curtir contigo e também odeio quando me desafiam,mas voce sabe o que é matar uma pessoa?

—você acha que eu não sei?- Soltou de novo Josh no chão e tirou o estilete mais uma vez do bolso- ele não seria o primeiro.

—você...já matou alguém?- Rick engoliu a própria saliva ao terminar a frase.

—qualquer um que entrar no meu caminho, como o Joe

—O que tem o Joe? Ele tá bem, estava com a gente ali

—voce acha que ele bebeu tanto assim para ter ficado desacordado daquele jeito?- Chuck deu um sorriso malicioso e Rick ficou pálido.

—Você pôs algo na bebida dele

—Ontem eu vi ele olhando para as pernas da minha namorada, e não foi a primeira vez. Encarando como um porco!- as ultimas palavras da frase de chuck foram gritadas histéricamente- se ele quer ser um porco também tem que ser abatido.

—Você é doente- assim que rick terminou a frase chuck apontou o estilete para Josh. Ao perceber a intenção do rapaz, como reflexo soltou as pernas de josh e tentou segurar ele pelo braço. Se lançou contra o corpo dele e, como era mais pesado, jogou ele  no chão. Ficaram um tempo rolando no chão, Rick tentando imobilizar Chuck e o outro tentando se soltar para furar o rapaz com o estilete. Chuck mordeu o braço do rapaz com tanta força que fez com que ele soltasse. Levantou rapido e chutou o rosto do amigo, que ficou atordoado.

—Só nao te mato porque o teu dinheiro é muito conveniente- Disse enquanto voltava a se aproximar do corpo de Josh. Rick tentou se recompor mas nao daria tempo de salvar o garoto. Tentou se levantar mas Chuck ja estava ajoelhado ao lado do corpo deitado do menino, acariciando o pescoço dele com a parte sem corte do estilete. Depois de alguns segundos, afastou o braço para apunhalar o garoto. Antes que conseguisse chegar no pescoço dele, em um milesimo de segundo, uma onda de choque saiu de dentro da casa, e tanto Rick quanto Chuck desmaiaram. O corpo de josh começou a flutuar e vagarosamente se encaminhou para dentro da casa.