A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês, estou mais ansiosa pelo da semana que vem :P



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A semana passou de forma lenta e dolorosa, como Elizabeth previra. Mas ela já havia aprendido que primeiros dias ou semanas eram sempre assim, seja de um trabalho ou de um curso novo, por exemplo. Ela nunca fora aquele tipo de pessoa que se animava com tudo e com todos logo de cara como sua irmã, Jane. Lizzie sempre agia com desconfiança e demorava um pouco para sentir que estava pisando em terreno seguro. Por isso que ela prometera a si mesma que só daria opinião sobre algo após um mês, já que antes desse período, nada do que ela dissesse poderia ser levado em conta. Ela mesma tinha plena consciência disso e era exatamente daí que vinham suas esperanças. Na maior parte das vezes, passado esse período de adaptação, ela se jogava de corpo e alma e passava a amar o que quer que estivesse fazendo.

A pior hora do dia, tirando aquelas que ela passara junto de Darcy na segunda-feira, o que graças a Deus não havia acontecido novamente, era a hora do almoço. O hospital Hopkins tinha uma área com geladeiras e micro-ondas para quem tivesse trazido comida de casa, e uma espécie de cantina em que eles podiam comprar suas refeições. Até agora Lizzie só tinha usado a segunda opção, já que era um desastre na cozinha. Uma vez ela conseguira alagar o apartamento tentando fazer um pacote de macarrão instantâneo, então, depois do incidente, ela decidiu não se arriscar a fazer nada além de sanduíches ou pizza congelada. Geralmente, quem a salvava das comidas nada saudáveis era sua irmã, só que naquela semana, Jane estava na maior correria com seu projeto, então Lizzie tinha que se contentar com a comida estranha do refeitório.

Após enfrentar a fila, ela colocou um pouco de arroz branco no prato e ficou na dúvida sobre uma gororoba amarelada. Acabou pegando um pouco, caso contrário comeria arroz puro, já que nenhuma outra coisa ali lhe interessou.

Enquanto equilibrava sua garrafa de água e seu prato na bandeja, ela passou os olhos pelo salão, mas como de costume, não encontrou nenhuma mesa livre. Estava prestes a perguntar para qualquer estranho se poderia se juntar a ele ou ela na mesa quando viu alguém conhecido acenar para ela. Um pouco envergonhada, ela deu uma olhada ao redor pera ver se o aceno não era para outra pessoa, mas acabou concluindo que era ela mesma que estava sendo convidada para dividir a mesa com o jovem Bingley, que ela tinha conhecido na festa.

— Esse horário é péssimo, nunca tem mesa vaga. – Ele observou assim que Elizabeth se aproximou e perguntou se poderia juntar-se a ele.

— Ah, é, percebi. E o pior é que aparentemente meu horário de almoço é fixo, sempre vai ser esse.

— Sinto muito. – Ele respondeu de uma maneira que parecia ser tão sincera que Lizzie não pode deixar de sorrir ao se lembrar de alguém que sempre reagia da mesma forma, Jane. – Mas me conta, como está sendo sua primeira semana?

— Acho que como todas as primeiras semanas. – Ela respondeu meio incomodada, preferia evitar o tópico, mas não teve chance ao perceber que ele havia arqueado a sobrancelha como quem não entendeu a resposta. – Você sabe, muita coisa nova para aprender, ainda estou me sentindo um peixe fora d’água. Mas tenho certeza que logo estarei adaptada.

— Entendi, se precisar de qualquer ajuda pode contar comigo.

— Muito obrigada. – Ela respondeu com sinceridade. – É só que mudanças não são muito fáceis para mim. Eu estava acostumada com o jeito e com as pessoas do Mercy, vou levar um tempo para me acostumar com tudo aqui, mas acho que é normal.

— Sei como é, – Ele não parecia saber. Estava na cara que ele era o tipo de pessoa que se ajustava a qualquer lugar em menos de uma hora. – Conheço alguém assim, que odeia mudanças.

— Não é que eu odeie mudanças, eu só levo um tempo para me acostumar com elas. – Lizzie sorriu enquanto mexia na coisa amarela em seu prato, ela queria muito saber o que era antes de se arriscar a comê-la.

— Menos mal, porque o Darcy odeia mesmo. – Bingley disse mais para si mesmo do que para ela, mas Lizzie não pode deixar de sentir uma pontada de curiosidade sobre o que ele havia dito.

— Darcy, você quer dizer aquele cara da festa? – Sua pergunta soou despretensiosa, mas ela queria induzi-lo a continuar falando, claro.

— Esqueci que você teve o desprazer de conhece-lo em uma semana nada boa para ele. – Ele sorriu de maneira amigável e continuou. – Se tem alguém que não se sente confortável com mudanças é ele.

Lizzie desistiu de tentar adivinhar o que era o alimento não identificado e colocou-o na boca de uma vez. Bom, era algum tipo de purê e estava gostoso, mas não pergunte de quê, aquilo continuou sendo um mistério para ela.

— Ele trabalha na traumatologia. A maior parte dos pacientes que chegam para ele estão bem... – ele pareceu procurar a melhor palavra para descrever a situação, mas não encontrou, no entanto continuou seu raciocínio. – Bem, ele acaba não tendo que interagir muito com o paciente, se é que me entende. Acho que lidar com a pessoa ali, acordada e falando sem parar, as vezes angustiada e tal... Ele não tem muito jeito com as pessoas, acho que é isso que quero dizer.

— Percebi. ­– Lizzie não quis soar sarcástica, mas assim que a palavra saiu de sua boca percebeu que não tinha conseguido disfarçar. – Quer dizer, não posso dizer que ele tenha sido legal comigo na festa, mas entendo que ele estivesse em um dia ruim.

Na verdade, ela não entendia. Sempre achou que destratar os outros e depois usar a desculpa de que não estava em um bom dia era covardia, só que obviamente não diria isso a Bingley, porque além de ela ter percebido que os dois eram bem amigos, ela também não queria ser considerada alguém que fica fazendo intrigas e falando mal dos outros por aí.

— Ele está acostumado a tratar as pessoas e ponto, então clinicar deve estar sendo um desafio e tanto para ele. Está sendo até para mim, fazia muito tempo que eu não fazia isso.

— Então, vocês não atendiam antes? – Lizzie ainda estava confusa com o que ele tinha dito.

— Não, eu sou cirurgião. Era muito raro eu ficar na clínica, tão raro quanto Darcy ficar, mas aí o sr. Collins decidiu que seria legal que todos os médicos, independente da especialidade, atendessem um pouco. Acho que para reaprendermos a lidar com essa questão médico-paciente, sabe?

— Claro, parece legal o sr. Collins ter pensado nisso. – Ela estava realmente surpresa.

— E agora praticamente todo mundo está passando no mínimo umas quatro horas por semana em uma das clínicas do hospital.

— E é por isso que cada hora eu estou com um médico diferente. – Ela disse, mais para si mesma do que para Bingley. Uma das coisas que ela estava estranhando era essa troca de médicos. No St. Mercy, era sempre o mesmo, ou pelo menos, na maior parte do dia.

Isso. – Ele sorriu, satisfeito de tê-la ajudado a entender algo. – Nossa conversa está muito boa, mas tenho que voltar ao trabalho. – Ele disse e já foi logo levantando e tirando a bandeja da mesa.

— Claro, vai lá, bom trabalho!

— Obrigada, e não se esqueça, se precisar de algo é só me procurar.

Ele saiu apressado e Lizzie ficou feliz pela sua primeira conversa de verdade naquele lugar. Ficou o tempo inteiro se segurando para não pedir o telefone dele para a irmã, mas não achou que fazer isso durante a primeira conversa dos dois seria apropriado. Disse para si mesma que se o nome de Jane surgisse na conversa, ela daria um jeito de pedir, ou então, passaria o da irmã para ele, mas como a oportunidade não surgiu, preferiu ficar quieta. É claro que logo mais ele mesmo se renderia e viria falar com ela sobre Jane, o interesse dele por ela estava mais que visível na festa, mas ele com certeza, era tímido nesse quesito e levaria um pouco mais de tempo para ir atrás da irmã. Mal sabia ela que o destino estava prestes a dar uma mãozinha, mas que as circunstâncias daquele encontro não seriam das mais felizes.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, comentem para eu saber e até semana que vem :)



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