A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno escrita por Nan Pires


Capítulo 5
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Hoje é quinta-feira e como o previsto, aqui está, mais um capítulo para vocês :)
Por favor, comentem e me digam o que vocês estão achando!! Obrigada e boa leitura!!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/714759/chapter/5

O humor de Elizabeth não estava dos melhores quando ela chegou ao Hopkins. Ainda mais depois de constatar que o caminho para o novo hospital era bem mais longo que o que estava acostumada. Mas mesmo assim, ela respirou fundo e vestiu um sorriso simpático antes de adentrar a sala do administrador do hospital, o sr. Collins.   

— Bom dia, sr. Collins. Eu sou Elizabeth Bennet, a sra. Wilson me mandou aqui.

O administrador era um homem não muito alto, com feições normais. Ele parou o que estava fazendo para encará-la por uns instantes e então, sorriu. Seu sorriso não era bonito, ou talvez fosse pura implicância de Lizzie, ela não sabia dizer.

— Srta. Bennet! É um prazer conhecê-la! A sra. Wilson deu ótimas referências de você. Disse que era dedicada e sensata e é isso que esperamos de nossos intérpretes aqui no Hopkins – ele deu uma breve pausa, e continuou em seguida. – Sabe, alguns administradores não levam tão a sério o trabalho dos intérpretes, não sei se você já percebeu. Mas aqui, nós valorizamos muito porque temos uma alta demanda de imigrantes e até mesmo uma ala especial só para refugiados. Não que nosso governo seja tão sensível assim a causa deles, mas...

E o tal Collins continuou por vários minutos. Elizabeth forçou um sorriso e logo de cara já percebeu que ele era o tipo de homem que gostava (e muito) de falar. Infelizmente, não era o tipo favorito de pessoa dela. Só que ela estava ali, trabalharia para ele e isso não tinha mais jeito. Então, se fosse preciso ela vestiria sua melhor máscara de fingimento e o aturaria. Lizzie precisava do emprego, pois não gostava nem de pensar na possibilidade de voltar permanentemente para o seu país.

Depois do longo falatório, ele mesmo a levou para conhecer todas as áreas do hospital. Apesar de não ter simpatizado muito com ele, Liz achou bem legal o gesto. No geral, os administradores eram seres que passavam tanto tempo trancados em suas salas ou em reuniões que ela sempre se surpreendeu que pudessem estar à frente de tanta gente que eles mal conheciam. Ela procurou focar nos pontos positivos do novo local de trabalho. O hospital era maior e aparentemente a demanda de não falantes da língua do país também, o que significava mais trabalho para ela. Algo que de maneira nenhuma a deixava desanimada, muito pelo contrário, o que Liz mais odiava era não ter nada para fazer. Ela preferia mil vezes um dia lotado, que ela mal tinha tempo para o almoço, que um dia de completo marasmo.

Collins a apresentara para algumas pessoas, e apesar de apressados ou concentrados em seus trabalhos, a maioria pareceu bem legal. Por fim, ele mostrou a sala onde ela poderia deixar suas coisas e a conduziu para uma pequena sala de atendimento.

— Aqui é um dos consultórios da clínica. O médico desse horário já deve estar chegando, pode esperar aqui.

Dito isso ele se colocou à disposição para tirar qualquer outra dúvida que surgisse e disse que ela também podia contar com os colegas de trabalho e foi embora. Lizzie se colocou a observar a saleta em que fora deixada. Ela tinha as paredes claras, uma mesa com duas cadeiras logo na entrada e uma cortina com uma maca na parte de trás. Era uma sala de atendimento usada por vários médicos, a julgar pela falta de objetos pessoais no local.

Não demorou muito para que a porta se abrisse e para o espanto e desagrado de Lizzie, uma figura conhecida entrou, o sr. Darcy. Ele estava todo imponente com seu jaleco e seu ar superior. De todos os médicos naquele hospital, Liz pensou, por que ele?

— Oi? – A voz dele soou confusa. Aquele simples oi era uma clara indagação do tipo, “mas o que é que você está fazendo aqui? ”.

— Elizabeth Bennet. – Lizzie respondeu estendendo a mão para cumprimenta-lo. – Nos conhecemos outro dia na festa, sou intérprete comunitária. Fui transferida para o Hopkins hoje.

— Ah, eu me lembro bem. Foi você quem derrubou vinho na minha camisa. – Sua voz não soava tanto como uma acusação, e sim como quem acaba de lembrar de algo.

— Sobre aquilo, acho que eu já te pedi desculpas. – Ela respondeu um pouco corada.

— Sim, claro. Então você será minha acompanhante nas próximas duas horas?

— Oito, nas próximas oito horas.

— Não vou ter o prazer de ficar aqui todo esse tempo. – Ele disse sério, enquanto começava a ajeitar suas coisas na mesa. – Tenho coisas mais importantes para fazer.

Lizzie bufou baixinho. Como aquele cara conseguia ser tão insuportável?

— Mais importante que atender pacientes, sr. Darcy? – Ela perguntou em tom de acusação.

— Sim, – Ele respondeu tranquilo enquanto fazia qualquer outra coisa que não olhar para ela. – Salvar vidas. Sou médico traumatologista.

— E aqui você faz o que? – A voz de Elizabeth estava cheia de sarcasmo.

— Perco tempo enquanto meus pacientes de verdade estão lá na emergência nas mãos de médicos não tão qualificados quanto eu. – Ele respondeu com desinteresse.

— Escuta, sr. Sou Bom Demais para tratar dos estrangeiros, eu não estou nem aí para a sua opinião sobre nós. Já estou te avisando que o fato de eu ser nova aqui não vai me impedir de reportar você, caso sua postura não seja adequada aos pacientes. Eles podem não falar a mesma língua e podem não ter nascido no seu tão querido país de 1º mundo, mas eles são gente e merecem respeito!

Darcy encarou-a durante seu discurso e por fim deu um quase sorriso que apesar de Elizabeth ter odiado, no fundo ela achou um pouco sexy, o que a deixou mais irritada ainda.

— Calma aí, não coloque palavras na minha boca, sra. Intérprete que acha que sabe tudo sobre todo mundo. – Ele respondeu em tom de zombaria. – Eu nunca disse que não acho eles importantes, disse?

— O fato de não querer atendê-los já diz tudo. – Elizabeth já estava perdendo a paciência.

— O fato de eu não querer atendê-los não quer dizer que eu não quero que médico nenhum os atenda.

— Ah, menos você, o sr. Bonzão que tem muitas outras coisas para fazer, muita gente para salvar. – Ela continuou de maneira sarcástica até ele suspirar de resignação.

— Não sei se você percebe que esse não é o comportamento adequado para alguém em seu primeiro dia de trabalho. – Sua voz saiu baixa e calma, sem qualquer tom de ameaça, embora Lizzie soubesse que fora exatamente aquilo que ele tinha feito.

— Tem razão. Não é porque você não é profissional que eu devo descer do salto. Peço desculpas. – A última frase saiu de sua boca ardendo, ela não devia desculpas a ele, só que mais uma vez o medo de voltar para casa a fez dizer coisas e aceitar situações que ela não queria.

O dr. Darcy deu mais um de seus meios sorrisos e nada respondeu, o que fez com que Elizabeth quisesse esganá-lo. No entanto, ela o assistiu abrindo a porta e chamando o primeiro paciente, então soube que era hora de agir menos por impulso e fazer seu trabalho da melhor maneira possível. Ela agradeceu que não seria ele o médico a atender durante todo seu período de trabalho e pensou que enfrentar só duas horinhas seria fácil. E até que foi. Quando os pacientes começaram a entrar, eles cortaram qualquer relação e Elizabeth só se dirigia a ele quando estava traduzindo a fala de seu cliente. Apesar de direto e contido, ao fim das duas horas de clínica dele, Liz não tinha nenhuma reclamação, todos os pacientes foram levados a sério e tratados com respeito. Ela se perguntou se a ameaça que deixara subentendida havia funcionado, porque ele definitivamente se achava superior a todos e aquilo fazia com que ela quisesse dar um belo soco naquela cara linda dele.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!! Deixem que eu saiba a opinião de vocês. Dicas, críticas e elogios serão muito bem-vindos :)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Intérprete - Orgulho e Preconceito Moderno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.