Nephilim: A Profecia Do Céu escrita por Emily Neubaner


Capítulo 2
Capítulo 1




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                              Heidelberg, nos dias de hoje.
 

— Que droga! - Aislynn resmungou, enquanto tentava fechar o zíper de sua calça jeans preferida.

— O que foi? - Enid saiu do closet do seu quarto vestindo uma jaqueta que combinava com seu vestido vermelho escuro.

Ela encarou a amiga, estupefata pela a sua beleza. Enid era magra e tinha altura mediana para uma garota de 17 anos, era incrivelmente pálida, seu cabelo negro caía nos seus ombros em perfeitas ondas e seus olhos eram grandes em um tom azul celeste. Aislynn desviou seu olhar derrotado para o seu reflexo no espelho, sua jeans preta não entrava mais em seu corpo, ela parecia mais alta do que o normal e aparentemente havia ganhado mais cintura.

— Acho que engordei - ela franziu a testa. - Está calça servia em mim até semana passada!

Aislynn viu Enid revirando os olhos atrás dela pelo reflexo do espelho.

— Francamente, Aislynn - a amiga foi em sua direção. - Você ainda está querendo usar uma jeans surrada em uma festa?

Ela deu de ombros.

— É confortável.

Mais uma vez Enid revirou os olhos, ela definitivamente devia parar com aquela mania. Aislynn observou a amiga entrar novamente no closet e puxar um vestido preto que tinha uma grande possibilidade de ficar super curto em seu corpo.

— Veste. - Enid jogou o pedaço de pano para ela.

Aislynn balançou o pequeno vestido preto em sua mão e lhe lançou um olhar sarcástico:

— Você sabe que isso vai ficar extremamente curto em meu corpo, não é?

Enid se jogou na cama de casal e fitou a amiga, fazendo um sinal batendo dois dedos no pulso:

— Alô, Cinderela! Sua tia falou que você tem que estar em casa meia-noite em ponto.

Aislynn bufou ao lembrar do acordo que havia feito com tia Jane, seus pais haviam morrido um mês após seu nascimento em um acidente de carro, então sua tia havia ficado com o dever de criá-la e em algum meses ela iria para a faculdade e ainda tinha a independência de um recém nascido. Se dando por vencida, Aislynn abaixou sua calça jeans com a mesma dificuldade que teve para colocá-la e vestiu o micro vestido preto da melhor amiga. Fazia pouco tempo que as férias de verão haviam começado e como Enid a fez prometer, elas iriam aproveitar o máximo possível, já que Aislynn iria se mudar para o sul dos Estados Unidos para cursar a faculdade.

Naquela noite as garotas iriam para uma boate que ficava no centro da cidade, Aislynn estava um pouco apreensiva, já que elas ainda eram menores de idade e iam entrar no local com identidades falsas. "É uma festa na casa de um amigo" foi o que ela havia dito para tia Jane. Aislynn odiava mentir para ela, mas as vezes sentia como se nunca tivesse se arriscado uma vez na vida, e graças a Enid que vivia a chamando de covarde, aquele sentimento só crescia.

Aislynn subiu o zíper do vestido com facilidade e checou mais uma vez seu reflexo no espelho, seu longo cabelo ruivo e cacheado quase parecia apresentável, era extremamente difícil domá-lo, mas naquela noite, havia feito o seu melhor com ele. Sua maquiagem era neutra e leve, Enid realmente havia feito um trabalho e tanto na amiga.

— Acho que estou pronta. - Aislynn falou, ainda se olhando no espelho. Nos últimos tempos as mudanças estavam sendo radicais, e não era só seu físico, ela estava mais rápida, forte, inteligente e seu humor oscilava entre extremamente feliz e pronta para cometer um homicídio. "São apenas os hormônios" foi o que Enid havia dito, ela esperava que realmente só fosse aquilo e nada de mais.

Enid se levantou na cama, se posicionando ao lado de Aislynn e abriu um sorriso de gato.

— Em uma escala de 0 a 10 de sensualidade - ela passou os braços ao redor do ombro da amiga - eu te daria 7.

Aislynn sorriu.

— Uau. Um 7! - falou sarcasticamente, sabendo que a amiga estava só brincando.

Elas deram uma gargalhada infantil e Enid puxou o braço da amiga, guiando para a porta.

— Vamos festejar, garota!

 

Depois de algumas horas dirigindo até o centro da cidade, Enid parou seu carro em uma vaga de deficiente que ficava a um quarteirão da balada onde ela planejavam ir.

— Acha isso uma boa ideia? - Aislynn perguntou pela milésima vez a Enid, enquanto pulava do banco.

Ela não sabia ao certo se perguntava aquilo em relação a estacionar ao carro em uma vaga de deficiente ou em entrar em uma balada com identidades falsas. Parecia que tudo o que elas estavam fazendo naquela noite era ilegal.

— Relaxa, Aislynn. - Enid falou - Nenhum policial vai se dar ao trabalho de multar um carro está hora da noite!

Ela suspirou tentando se acalmar e dizendo a si mesma que tudo sairia bem naquela noite. Caminharam até uma gigante fila para entrar na tal boate, ficaram cerca de 20 minutos em pé e Aislynn já estava começando a se arrepender de ter concordado em usar aquele vestido da amiga, já que a noite estava começando a esfriar. Quando finalmente chegou a vez delas de mostrar a identidade e pagar a entrada na boate, começou se sentir ansiosa e era um trabalho e tanto acalmar sua inquietação.

O segurança gorducho com uma expressão carrancuda olhou para a identidade falsas das garotas e logo desviou o olhar para elas, como se as analisasse, um calafrio passou pelo seu corpo e Aislynn desejou mentalmente nunca ter concordado com a ideia de ir para aquela boate.

— Podem entrar. A voz pesada do homem falou.

Aislynn finalmente conseguiu soltar o ar que segurava em seus pulmões e olhou para Enid que esbanjava confiança. Ela deve ter percebido o medo no olhar que a amiga a lançava, pois cruzou seu braço no dela e deu um sorriso tranquilizador.

— Eles percebem que nós não somos maiores de idade por esse olhar de cachorro sem dono que você está fazendo exatamente agora - sussurrou, enquanto passavam pelas enormes portas de metais.

Aislynn fechou a cara, detestando aquele comentário.

Assim que elas entraram na boate, as primeiras observações que Aislynn teve sobre o local foi que, ele era tão escuro ao ponto de conseguir se perder facilmente e que aquelas luzes que piscavam freneticamente a deixaria tonta em questão de minutos.

— Vamos pegar bebidas! - Enid gritou sobre a música para ela.

Aislynn assentiu, segurando a mão da amiga que a puxava em direção ao bar. Enid deu um sorriso sensual para o barman e pediu as bebidas, Aislynn não consegui ouvir o que ela havia pedido à ele por conta da música alta. Com extrema agilidade o homem que estava atrás do balcão preparou duas bebidas azuis e as entregou para a sua amiga, Enid estendeu um dos copos para ela pegar.

Aislynn cheirou o líquido azul antes de dar um pequeno gole, incerta se conseguiria disfarçar mais tarde, que havia bebido pra tia Jane. Sentindo o olhar da amiga sobre ela, Aislynn deu mais um grande gole na bebida tentando provar para Enid e pra si mesma de que não era uma covarde.

— O que achou? - A amiga sorriu.

Ela fez uma careta.

— Parece álcool puro.

Enid deu uma risada e falou:

— A intenção é bebermos o suficiente para você ter sua primeira ressaca amanhã - deu outro gole na bebida. - Vamos pra pista!

Aislynn estava prestes a concordar quando sentiu o seu celular vibrando dentro do bolso de sua jaqueta, na tela o nome da sua tia Jane brilhava. Ela levantou a mão que segurava o celular e o balançou, indicando que tinha que atender a ligação, Aislynn rolou os olhos pelo enorme salão escuro, em busca de um lugar silencioso e avistou uma grande porta de emergência nos fundos da balada, caminhou em sua direção em passos rápidos. Se sua tia tivesse um pequeno palpite de que ela não estava em uma pequena festa de um conhecido, provavelmente a noite não iria acabar bem.

Assim que empurrou a porta de emergência da balada, sentiu uma lufada de ar gélido bater em seu rosto, só assim se deu conta do quanto estava abafado lá dentro. Aislynn atendeu a ligação.

— Alô?

— Aislynn?! - a voz de sua tia Jane era desesperada - Aonde você está?

Ela mordeu os lábios com tanta força que sentiu o gosto de sangue espalhar pela sua boca.

— Na festa - respondeu vagamente. Tecnicamente ela não estava mentindo para sua tia - pelo menos naquele momento, apenas estava omitindo alguns fatos - ela realmente estava em um tipo de festa.

— Em qual festa, Aislynn? - Ela percebeu além do desespero em sua voz, também a impaciência.

Tudo bem, aquilo foi o suficiente para Aislynn temer o pior. Era melhor ela se entregar logo, e bem talvez, sua tia tivesse piedade de lhe dar só um castigo leve.

— Em uma boate, olha... - ela estava prestes a começar seu pedido de desculpas ensaiado quando sua tia a cortou no meio da frase.

— Saia daí agora. Avise para Enid que eles te encontraram e que vocês tem que sair da cidade.

Confusa, perguntou:

— Eles quem? - Aislynn estava começando a se preocupar com aquilo.

Quem havia encontrado-a?! E por que diabos ela teria de sair da cidade?

— Apenas faça isso, você me entendeu? - Tia Jane gritou do outro lado da linha.

Ela engoliu seco.

— Tudo bem. - murmurou, antes de desligar o celular.

Aislynn se virou para voltar para a boate, quando se chocou com a imagem de um homem grande e forte. Ela deu alguns passos falsos para trás por conta do impacto dos corpos se batendo, estava preste a cair no chão quando as duas mãos fortes dele envolveu seus braços, a segurando. Aislynn já estava fabricando um pedido de desculpas, quando levantou seu rosto para o homem e o medo tomou conta de seu corpo.

— Você não é muito nova para frequentar boates, mocinha? - um sorriso perverso estampou o seu rosto.

Um calafrio percorreu pelo corpo de Aislynn, só então ela se deu conta de que estava sozinha em um beco de uma boate com um desconhecido. Aquela situação não era nem um pouco reconfortante, ainda mais após a estranha ligação de sua tia.

Ela tentou manter a calma e agir casualmente.

— Se eu consegui entrar é por que tenho idade o suficiente. - Deu um sorriso forçado, torcendo para que aquilo não tivesse soado tão grosseiro o quanto queria.

O homem a soltou e deu um passo para trás, de certo modo, o fato dele ter se distanciado o mínimo possível a deixou um pouco mais calma. Só um pouco. Ele a olhava de cima a baixo, com um sorriso sarcástico. Aislynn aproveitou e o observou bem, ele vestia jaqueta, jeans escura e uma blusa cinza surrada, seus olhos eram verdes, o seu cabelo castanho claro estava levemente bagunçado e a barba era por fazer. Se ela não estivesse tão assustada, diria que o homem era bem atraente.

— Se você não fosse uma abominação, eu até a deixaria sobreviver por conta desse rostinho bonito. - falou o homem. Aislynn estava tentando entender o que ele queria dizer com aquilo, mas, só quando ele puxou das costas um tipo de arco, foi que Aislynn percebeu que o homem estava armado.

Corra, corra, corra.

O medo percorria pelo seu corpo. Deus, ela tinha que sair dali o mais rápido possível! Tinha um louco tentando a assassinar em um beco de uma balada, seria péssimo jeito de morrer. Aislynn apenas deu um passo para trás e fechou os olhos esperando pelo pior, foi o máximo que ela conseguiu fazer quando o homem mirou a flecha bem em seu rosto. Talvez aquilo era o universo lhe dando uma lição por mentir para sua tia, bom, definitivamente o carma estava pegando pesado.

— Ei, grandão! - Aislynn abriu os olhos novamente ao ouvir uma voz familiar vir de trás do homem - Por que não mexe com alguém do seu tamanho?

Antes que o Louco Da Flecha pudesse se virar pra ver quem havia se dirigido a ele daquele modo, seu corpo foi puxado para trás e bateu contra a parede do outro lado do beco. Aislynn viu Enid parada, encarando o homem caído no chão, foi questão de segundo para que então percebesse que os olhos da amiga estavam... em vermelho vivo. Da onde ela havia conseguido tanta força?! Dando mais um passo pra trás, sentiu seu corpo se chocar com a parede gelada. Aislynn desviou seu olhar para as mãos da amiga, logo notou algo de estranho. Enid tinha garras no lugar das unhas.

Ela engoliu seco. O que estava acontecendo?!

— Ah, fadinha... - o homem se levantou do chão, ainda segurando seu arco. - Você não devia estar brincando com forças divinas.

Forças divinas?!

Enid deu uma risada seca enquanto caminhava em direção ao homem. Algo dentro dela dizia que a amiga não estava achando graça nenhuma do que ele havia dito.

— Fadinha? - seu olhar se tornou sombrio. - Eu sou a prole da morte.

Aislynn estremeceu ao ouvir aquilo. Se aquilo era algum tipo de pegadinha da amiga para assustá-la, parabéns, havia conseguido! O medo percorria cada centímetro do seu corpo, ela sabia que devia estar correndo para longe dali, mas, algo a impedia de mover seus pés do chão.

Definitivamente, se pudesse fazer uma lista de coisas propensas a acontecer naquela noite, ver sua melhor amiga com garras e com olhos vermelhos, atirando um homem de dois metros de altura na parede estava fora de cogitação.

— Enid? - Aislynn escutou sua própria voz a chamar, o horror que ela sentia era palpável.

A sua amiga não pareceu lhe ouvir, pois continuou andando em direção ao homem. Com medo de algo acontecer com Enid, Aislynn correu até ela e segurou seu braço.

— O que esta acontecendo? - perguntou exasperada, tentando não encarar suas garras.

Enid finalmente pareceu perceber a presença dela, a boca da amiga se formou em um O, ela estava prestes a dizer algo quando o homem gigante a empurrou, pegando às desprevenidas. Seu corpo foi jogado a vários metros de distância e algo dentro de Aislynn disse que ele ainda nem havia usado toda sua força para tal ato. Ela desviou o olhar do corpo da amiga, que estava jogado no chão atrás dela para o homem em sua frente. Aislynn finalmente percebeu algo de errado, ele não se importava nem um pouco com Enid, apenas queria matá-la. Mas, por quê?! Ela repassou sua vida toda em sua mente, tentando encontrar algum motivo plausível pra alguém querer vê-la morta, mas, nada parecia fazer sentido.

O homem levantou o arco novamente, estava prestes a mirar a flecha em Aislynn, quando os dois ouviu um estalo vindo do fundo do beco. Logo depois um agonizante som de ossos sendo quebrado tomou conta do silêncio, olhando para trás, onde Enid havia sido jogada, viu a imagem de sua amiga curvada e algo saía de suas costas. Aislynn gritou de horror ao perceber que grande asas negras e esqueléticas se formavam por trás do seu corpo.


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