Hinata Hyuuga nunca foi uma pessoa sociável. Todos os moradores de Konohagure — até mesmo das outras vilas — sabiam esse fato. Não que fosse famosa, mas carregar nas costas o título de futura herdeira do clã mais poderoso do País do Fogo foi mais que suficiente para lhe render algum reconhecimento no mundo ninja. 

Claro, os hábitos recatados apenas revelavam sua excessiva timidez, fruto da educação rígida que recebera na infância; afinal, ser tratada como um fardo não é o melhor meio para deixar uma criança segura de si, contudo, Hinata conseguiu passar por cima disso tudo. Fez amigos, não muitos, todavia, sendo tão pouco sociável, era o suficiente para não se sentir tão sozinha.  

Ainda assim não se tornou uma pessoa conversadeira. Geralmente, em uma conversa, permanecia em um canto mais isolado e ria eventualmente apenas para não ficar muda feito uma porta. Poucas foram as vezes que conseguiu manter um diálogo sem gaguejar e, secretamente, desejava ser boa com as palavras — ao menos, boa o suficiente para não morrer de vergonha ou desmaiar com os comentários bobos de seus colegas de time.  

Certo dia, averiguou que sua timidez não poderia piorar. Suas deduções sempre foram certeiras, mas dessa vez errou feio.  

Era final de tarde, mês de Julho, início do verão em Konoha. Hinata andava pelos corredores da mansão de um lado a outro, os nervos formigando tamanha a excitação. Parou no pátio e recostou-se a uma das pilastras da varanda já cansada de toda a ansiedade que sentia. Aquela havia sido, sem sombra de dúvidas, a pior semana de sua vida e seu humor oscilava, variando entre pânico e alegria, conforme o tão esperado dia se aproximava.  

Sempre foi uma garota calma, no entanto, agora sequer tolerava os comentários maldosos da irmã ao seu respeito.  

O motivo de todo o estresse não poderia ser outro: Uzumaki Naruto, mais conhecido como o herói do mundo ninja, o grande amor de sua vida e seu mais novo namorado.  

Na semana anterior, posteriormente ao ocorrido com Toneri, foi convidada a um encontro. Tudo bem, ela sinceramente esperava pelo convite; a questão é que, até então, não havia pensado no fato de que nunca fora a um encontro. Nunca! Não sabia como se portar, muito menos o que dizer. Além disso, se estar junto dele já causava um misto de sensações simultâneas e para lá de extraordinárias, não poderia nem cogitar o que ocorreria caso saíssem juntos e, mais do que isso, sozinhos.  

Ficar a sós com a atual beldade da vila era demais até mesmo para o pobre Hyuuga. Foram tantas noites em claro relembrando seu primeiro beijo. Seu cérebro armazenou cada sensação e, sempre que fechava os olhos para rememorar esse momento tão mágico, conseguia sentir o toque dele em sua pele e o sabor de seus lábios.  

Suspirou como uma criança sonhadora e sacudiu a cabeça para afastar tais pensamentos. Precisava de foco, apenas foco. Sempre foi uma pessoa centrada, mas não fazia ideia do que seu corpo seria capaz caso Naruto se aproximasse demais.  

Corou fortemente.  

— Tendo pensamentos pervertidos de novo, nee-san? Nunca pensei que você fosse esse tipo de pessoa. 

— Hanabi! 

A Hyuuga mais nova gargalhou colocando a mão na altura do estômago. Ela sempre surgia assim, de supetão, nos momentos mais inconvenientes.  

— Credo, nee. É brincadeira.  

— Desculpa. Estou um pouco ansiosa. 

— É, o Clã inteiro percebeu. — Hinata olhou ao redor, aparentemente desesperada e a caçula riu baixinho. — Relaxa, mana. Não é segredo para ninguém que você e o Naruto-nii estão namorando.  

A primogênita estreitou o olhar, franzindo as sobrancelhas.  

— É claro, fofoqueira. Você fez questão de espalhar para a vila inteira sobre minha vida amorosa. 

— Para a vila inteira? Lógico que não! — defendeu-se, fazendo a ofendida, mas é óbvio que a expressão indignada em seu rosto era falsa; Hana tinha um talento incrível para a atuação. — Contei apenas para a Ino. 

— Como se fizesse diferença. A Ino sempre dá com a língua nos dentes, você sabe disso. 

— Tá, tá, mas você querendo ou não as pessoas descobririam em algum momento. — gesticulou com as mãos tentando a todo custo mudar de assunto. — Não sei porque se importa tanto. Naruto não repara nessas coisas, tapado do jeito que é. 

— Hana. — soltou entredentes, sentindo a paciência chegar ao limite.  

— Só espero que ele não repare em suas roupas. — continuou, fingindo não escutar. — Você devia se vestir bem, nee. É um encontro, não um passeio na feira. 

Hinata desceu o olhar para as próprias vestes, não vendo problema nelas. Um short jeans, uma blusa laranja, chinelos. Roupas civis perfeitamente comuns.  

— Mas eu não vou sair com o Naruto-kun usando isso. 

— Não? 

— Não. 

— E o que você está esperando? — segurou os ombros da outra, sacudindo-os. — Você ao menos sabe que horas são? Meu Kami-sama, eu que tenho que fazer tudo nessa casa? — a mais velha continuou com a expressão confusa. — Idiota. São seis e meia da tarde. Agorinha ele vem te buscar! 

Hinata petrificou no lugar, pálida como um cadáver. Nada mais precisou ser dito. Empurrou a caçula até o quarto, ignorando todos os seus protestos e resmungos. Enfiou-se no banheiro; enquanto isso, no cômodo, Hanabi vasculhou todo o armário da irmã em busca de qualquer peça elegante sem muito sucesso em sua procura.  

Não tardou para que a primogênita retornasse enrolada em uma toalha, penteando o cabelo e com uma escova de dentes na boca. A moreninha rolou os olhos diante da cena e atirou-se na cama, observando a figura feminina retirar um vestido florido do fundo do guarda-roupa.  

—  Meu Kami, onde guardou isso? — apontou, com os orbes arregalados, para o vestido. — Procurei algo bonito em todo canto, mas não encontrei nada. 

— É porque você não olhou as sacolas aqui no fundo. Sakura-san me ajudou a comprar algumas peças ontem. 

A caçula gargalhou com o rosto rubro da mais velha.  

— Quem te viu quem te vê. Nunca imaginei que um simples encontro faria você, logo você, sair de casa para comprar roupas e, o melhor de tudo, roupas bonitas. 

Hana só cessou as gargalhadas quando o vestido acertou seu nariz em cheio. Foi o suficiente para fazê-la parar de importuná-la — ao menos por enquanto.  

Lançou uma última olhadela ao espelho antes de terminar. Hanabi fitou-a com reprovação, mas Hinata não via problemas em seu visual. O vestido serviu perfeitamente, a sapatilha combinava e a maquiagem leve realçou os traços de seu delicado rosto. Ao contrário do que a caçula pensava, não via motivo algum para vestir-se de modo extravagante. Provavelmente sairiam para tomar um sorvete já que era verão e não havia eventos na vila.  

Caminhava até o hall de entrada, sentindo-se mais nervosa que nunca, quando escutou batidas soarem. Sabendo de quem se tratava, tentou controlar-se, respirou fundo e abriu a porta.  

O enorme sorriso de Naruto fez Hinata se derreter por um instante. Ele estava maravilhoso em suas roupas civis e deu para notar que havia se esforçado para deixar os fios loiros no lugar, obviamente, sem qualquer. Continuavam bagunçados, mas isso só o deixava ainda mais lindo.  

— Boa noite, Hina. — a jovem fez um esforço tremendo para manter-se em pé; a pernas bambearam diante daqueles globos tão azuis e intensos. 

— Boa noite, Naruto-kun. — respondeu quase que em um sussurro, descendo o olhar para os próprios pés. Céus, que vergonha. 

— Er... vamos? 

Hinata acenou com a cabeça, fechou a porta atrás de si e caminhou ao lado do amado em silêncio.  

Sendo final de tarde, as nuvens desapareceram tornando possível enxergar uma linha alaranjada no horizonte. Logo anoiteceria e, mesmo que o vento morno tornasse o clima reconfortante e familiar, era visível a tensão entre o recém-casal.  

Nessas horas, a morena só queria enfiar a cabeça em um buraco. Pensou em quebrar o longo e constrangedor silêncio com qualquer bobagem sobre o clima, mas Naruto conseguiu ser mais rápido.  

— Então... — fitou-a de esguelha, esfregando as mãos no bolso da calça. — faz um tempo que não nos encontramos. 

— É verdade. 

— Desde aquilo. 

Oh, sim. O grande beijo. Teve a certeza de que suas bochechas estavam mais vermelhas que um pimentão, mas resolveu ignorar esse fato.  

Silêncio de novo.  

Hinata novamente se preparou para quebrar o estranho clima mudando de assunto, porém emudeceu ao sentir os dedos dele envolverem os seus. Foi um toque leve, quente e amável que a assustou em um primeiro momento, fazendo-a fitá-lo de repente. Todavia, não viu seu rosto. Só que não precisava vê-lo para certificar-se de que estava tão vermelho quanto o seu, talvez até mais.  

Todos os toques repentinos e sentimentos era algo novo demais para os dois, não havia como não sentir vergonha. Naruto estava realmente se esforçando para não parecer nervoso, contudo, estar perto dela o deixava assim, vulnerável.  

— Senti saudades. 

A frase foi suficiente para abalar as estruturas dela. As pernas bambearam, o coração foi parar no pescoço, mas dessa vez não por vergonha ou timidez.  

Apertou os dedos dele de volta e o loiro voltou-se a ela, surpreso demais com a mínima — e significante — atitude. Embora fosse desinibido, entendia o quão difícil era para a jovem manter qualquer tipo de contato mais íntimo. Quando virou jurou que encontraria uma Hyuuga envergonhada, mas enganou-se.  

O sorriso dela brilhava como uma manhã ensolarada. Não havia insegurança em seus olhos perolados, apenas felicidade e algo a mais que não soube identificar, mas que lhe causou um ligeiro — e agradável — desconforto na altura de seu estômago.  

— Também senti saudades. 

Os dois sorriram para o outro, continuando a caminhada pelas ruas iluminadas de Konoha. Eventualmente, Naruto fazia palhaçadas apenas para escutar sua gargalhada doce e melódica.  

Nessa mesma noite de verão, Naruto percebeu que seu lugar era ali, ao lado da Hyuuga e de seu sorriso incrível. Se possível, para sempre.