Corri em direção a sala ao ouvir o barulho de aparatação, e eu quase cai dura no chão ao ver Draco, Astoria e Scorpius Malfoy parados, no meio da sala da casa de meus avós. A toca, sempre extremamente barulhenta, mergulhou em um silêncio sepulcral e todos nós estávamos absolutamente em choque observando os três em nossa frente.

— Que porra é essa ? – Alvo sussurrou em meu ouvido

— Não faço a menor ideia, mas com certeza isso não vai dar – Sussurrei de volta, enquanto meu pai e tio Harry olhavam para o antigo colega de Hogwarts e ex comensal da morte, sem entender absolutamente nada.

— O que está fazendo aqui, Malfoy ? – Meu pai foi direto, mas sua voz ainda mostrava choque por conta do encontro inesperado.

— Acredite Weasley, eu também não queria estar aqui – Draco Malfoy devolveu, alterando seu olhar entre meu pai e meu padrinho – Mas eu preciso falar com vocês dois, urgentemente

— Na noite de natal ? – Meu padrinho perguntou cético, e o senhor Malfoy bufou, irritado. A Sra Malfoy demonstrava estar extremamente contrariada em estar ali, enquanto Scorpius parecia estar extremamente interessado em seus sapatos.

— Sim Potter, e quanto mais rápido resolvermos isso, mais rápido iremos nos livrar uns dos outros – O loiro disse e meu pai finalmente concordou, relutantemente, e então os três seguiram em silêncio até o andar de cima, com Astória e Scorpius Malfoy logo atrás e não demorou para que a aparição dos visitantes inusitados se tornasse o assunto principal pelas próximas horas.

Não demorou muito para que alguns gritos e xingamentos fossem ouvidos do local onde eles estavam, mas fora isso, não teve nenhuma briga séria ou pancadaria, o que deixou Fred II e tio George extremamente chateados, já que os mesmos estavam ansiosos por uma briga. Segundo tio Harry, o Sr Malfoy estava com sérios problemas de segurança em uma de suas lojas, já que alguns antigos inimigos de Lúcio Malfoy não se cansavam de depredar o estabelecimento ou algo semelhante, então ele foi pedir para que providências fossem tomadas em caráter de urgência.

 O resto da noite se passou normalmente, sem maiores intercorrências e no final da festa, eu e Lily dividimos o antigo quarto da tia Ginny. No dia seguinte todos almoçamos por ali mesmo e no final da tarde, cada um voltou para sua respectiva casa. Assim que cheguei em casa, encontrei mais um enorme bolo de cartas e as peguei cuidadosamente para ler em meu quarto.

Fechei a porta e me sentei na cama, enquanto organizava as cartas em um enorme bolo e parecia ter muito mais cartas do que no dia anterior, o que realmente me surpreendeu. Peguei a primeira carta e só pela forma como a mesma foi fechada e selada, eu já reconheci como sendo de alguém da comunidade bruxa, entretanto, ela não tinha remetente, apenas o meu nome escrito.

Quando abri a carta, percebi logo de imediato que ela havia sido escrita por uma pena de repetição rápida e isso me deixou ainda mais intrigada do que eu já estava. Porque essa pessoa não queria que eu soubesse sua identidade ?  Será que essa pessoa era uma das dezenas que me humilharam persistentemente durante meus anos escolares, e agora que eu havia conseguido me reerguer, queria arrumar mais uma forma de me deixar emocionalmente destruída ?

Um bolo se formou em minha garganta , o medo de começar a ler aquela carta me dominou e eu me forcei a respirar fundo e me acalmar.

— Não Rose, para, se acalma..você lutou muito para chegar até aqui, não é hora de fraquejar apenas por uma carta – Eu disse a mim mesma em voz alta, pausadamente. Céus, eu estou ficando louca – Nada do que te disserem agora vai conseguir te atingir da mesma forma de antes. – Respirei fundo mais uma vez, e comecei a ler a carta lentamente.

Rose Weasley

Sim, eu sou da comunidade bruxa e você deve estar se perguntando porque essa carta não tem remetente. Eu queria muito dizer pessoalmente tudo o que estou lhe escrevendo nesta casta, mas a verdade é que eu me envergonho muito do que fiz com você nos últimos tempos. Eu não sei como você está lidando com isso, se você conseguiu perdoar as pessoas que te fizeram mal durante os tempos de Hogwarts, não só lá mas fora da escola também, mas a verdade é que eu não consigo me perdoar pelo que fiz com você.

Acredito que eu devo ter feito tudo isso apenas para descontar toda a frustração que é, e sempre foi, a minha vida. Sim, eu sei que jamais vai justificar o que aconteceu e nem vai mudar nada do que aconteceu..mas enfim, eu nunca pensei nas consequências do que eu havia feito, mas a sua entrevista e todo o relato do que aconteceu, mesmo sem citar nomes, foi um verdadeiro tapa em minha cara.

Sinto muito por tudo o que fiz e por todo o inferno que fiz você passar.

Tive que ler aquela carta mais duas vezes, para me certificar de que não estava ficando louca. Aquela carta era um pedido de desculpas ? Um pedido de desculpas de alguém de Hogwarts e alguém que não queria se identificar ? Parecia até uma piada de extremo mal gosto. Soltei um suspiro irritado, deixei a carta de lado e me concentrei em ler e responder as outras cartas, enquanto pensava no que faria com aquela carta, que tinha o pedido de desculpas mais estranho que já ouvira na vida.

A quantidade de cartas de agradecimento que eu estava recebendo por conta da entrevista era simplesmente incrível. Era uma coisa que eu nunca pensei que fosse passar na vida, e a cada carta que eu lia, mais eu me dava conta que o meu caso não era isolado, muito pelo contrário. A obesidade estava aumentando em diversos locais do mundo, e o mais preocupante era que estava crescendo, principalmente, entre as crianças. Eram casos extremamente tristes. Enquanto eu lia e respondia as cartas, uma em particular me chamou a atenção, que era de uma menina chamada Emily Morgan.

Rose

Sei que você deve estar recebendo centenas de cartas e que provavelmente não vai conseguir ler a minha , mas resolvi tentar mesmo assim.

Meu nome é Emily Morgan,tenho 16 anos, sou uma bruxa assim como você e , apesar de ter nascido e vivido boa parte da minha vida na Inglaterra, fui enviada para Beauxbattons. Meus pais se separaram quando eu tinha 4 anos e minha mãe se casou novamente, alguns anos depois. Eu tinha 8 anos quando ele começou a abusar de mim diariamente até os 11 anos, quando minha mãe descobriu e, ao invés de ficar ao meu lado como eu esperava, ela me expulsou de casa e disse que eu havia provocado a situação.

Foi quando me mudei para a França, para viver com uma tia do meu pai e desde então eu, que sempre tive um peso normal, comecei a ganhar peso drasticamente. A comida era o meu consolo , então eu comia quando estava triste, feliz, irritada..cheguei a engordar mais de 30 kg em menos de 2 anos. Quando eu tinha 14 anos já estava com 150 kg, e não demorou muito para que as pessoas em Beauxbattons começassem a fazer brincadeiras pesadas comigo, afinal, aquela é uma escola que cobra a perfeição de nós 24 horas por dia.

Eu não conseguia mais andar, tomar banho sozinha..eu tinha praticamente voltado a ser uma criança, então não voltei para Beauxbattons naquele ano. Minha tia já estava cansada daquilo tudo, então eu acabei indo morar com meu pai e com a nova família que ele havia formado. Meu pai, ao contrário do que eu pensei, me acolheu de verdade e me forçou a começar a consultar um psicólogo. Além disso, fiz  diversos exames e levei uma bronca do médico, que também começou a me forçar a começar a perder peso. Com os meus relatos, meu padrasto foi preso e minha mãe processada por negligência.

Dizem que a coisa só começa a funcionar quando a gente decide mudar, mas acho que eu realmente precisava desse choque de realidade, faz poucos meses que as coisas começaram a mudar, mas estou começando a perder peso. As vezes eu tenho alguns momentos de fraqueza, e foi em um desses dias que eu li a sua entrevista, Rose e eu tenho muito a te agradecer, muito mesmo.

Ler a sua história só me deu ainda mais forças para continuar com tudo isso e persistir , e eu espero um dia conquistar minha vida , saúde e auto estima de volta, assim como você..

Obrigada

Emily