O desconforto de correr com o tornozelo machucado se tornou um incômodo sem relevância comparado ao medo que assolava seu interior. Aquelas máquinas monstruosas avançavam contra sua família em um pesadelo digno de filmes medíocres de ficção científica, porém era tudo real. Os gritos sem esperança de quem, segundos depois, era acertado pelos raios pulverizadores atravessavam a noite e se transformando numa canção macabra que antecede o fim de sua frágil espécie.

     Entre empurrões da histérica multidão que percorria a ponte, Hermione buscava equilíbrio no corrimão, próximo de Rose, que sem saber nadar, olhava estarrecida para as águas escuras abaixo dos seus pés. Sua filha estava passando pelo momento de maior provação de toda sua vida nos últimos dias… Ela e Hugo. Duas crianças corajosas.

      Rose finalmente desgrudou os olhos do rio e achou por bem caminhar o mais rápido que conseguia. Hermione seguiu atrás dela, aliviada em ver a sua menina vencer o medo. Rony estava um pouco mais a frente, olhando por cima do ombro de segundo em segundo, não querendo perdê-las de vista enquanto carregava um Hugo perplexo nos braços. O garotinho observava a batalha se desenvolver entre o exército e as naves numa visão privilegiada, seu rosto sardento se iluminando a cada explosão.

   De repente, uma explosão mais forte que as demais assustou à todos. A morena acompanhou o barulho ensurdecedor vendo o tanque do exército ser destruído em centenas de pedaços após acabar pisoteado por um Tripods…  Não havia mais nada além de poucos soldados disparando a esmo contra o inimigo, que pudesse impedir os alienígenas de chegar até eles. Todos aceleram mais o passo da ponte. Rony gritou para ela e Rose correrem com todas as forças…

    Então um laser cruzou há poucos metros à direita de Hermione, acertando algum ponto na base da estrutura de madeira, que reclamou o peso de muitos corpos sobre si e estalou. Uma… Duas vezes… E todos os caminhantes ficaram intactos imaginando o que estaria acontecendo. Rose olhou para ela, pânico absoluto, e no próximo ato a ponte desconectava da rampa de acesso, derrubando famílias inteiras rio adentro.

    O berro de adolescente foi o único som que a morena escutou dentre tantos outros lamúrios de espanto. Seu corpo caiu de encontro ao rio escuro, submergindo metros abaixo da superfície. A audição lhe foi arrancada subitamente debaixo da água e seus pulmões arderam ao tentar buscar ar puro onde não havia. Ignorando a dor que a friagem do ambiente imprimia em seus músculos, ela refez o caminho até o topo, tateando o vazio e a penumbra. Quando encontrou oxigênio livre outra vez, respirou fundo e procurou, em frenesi, localizar os outros Weasley, após tirar o cabelo molhado dos olhos.  

  ー Mãe… ー uma vozinha falha a chamou e prontamente a mulher se virou para o dono da fala.

   ー Hugo! ー nadou em sua direção.

   O menino, que fora matriculado na natação desde os dois anos de idade,  deu suaves braçadas de encontro a mãe, agarrando-a forte pelo pescoço ao se reunirem. Ela o beijou com urgência na testa, para ter certeza de que não era uma miragem, e logo perguntou:

  ー Cadê seu pai? Viu a Rose?

   Hugo não precisou responder, foram os gritos da própria filha que atraíram sua atenção. A garota dava braçadas desajeitadas há muitos metros de Hermione, pedindo por socorro em histeria… quase afogando-se. As pessoas desconhecidas que também caíram no rio viviam seus infernos particulares e ninguém se importava em salvar a garota.

ー ESTOU INDO, ROSE! ー a morena berrou.

ーO papai! ー Hugo exclamou apontando para uma cabeça acabava de emergir, muito mais próxima de Rose.

ーRONY! RONY! ー ela gritou atraindo sua atenção e apontando ー SALVE A ROSE! ELA VAI SE AFOGAR! ー  Rony virou-se na direção onde a esposa indicava bem a tempo de ver a adolescente mergulhar novamente. De imediato ele emergiu outra vez…

     Acompanhando assustada o desfecho daquele drama, seu menino agarrou-a mais forte ainda pelo pescoço, sem sombra de dúvida compartilhando dos mesmos sentimentos que ela. Rony vai salvá-la, ela mentalizou confiante. Precisava ser confiante… Era cruel demais perder qualquer um deles.