Instintivamente, salvar a vida do seu irmãozinho se tornou mais importante do que zelar pela sua. O ato de jogar-se sobre ele na iminência do teto desabando foi tão natural quanto escovar os dentes ou dormir. No banal tempo que se seguiu da certeza que os escombros a acertariam até a resolução final, Rose se concentrou em deixar a mente suspensa num vazio profundo para não sucumbir ao medo. Ela era a mais velha, poderia suportar e compreender a dor física, Hugo não. Não era justo para ele.

    Toneladas de entulho desprenderam de cima e se espatifaram contra o piso de concreto, levantando poeira e estremecendo o chão. Nenhum pedaço da estrutura encostou neles. Rose olhou por cima do ombro, mantendo seu corpo como escudo protetor para o caçula, e em meio a poeira branca que se erguia e ao lamento de dezenas de pessoas feridas, escutou o som agudo, o alerta mortal dos Tripods segundos antes de cuspir seu laser exterminador vindo de algum lugar muito perto.

  Hugo se mexeu debaixo dela e começou a levantar. Mais um barulho alto ecoou pelo galpão fazendo a adolescente puxar o garoto para perto de si novamente. As pessoas que conseguiam se locomover em meio aquele pandemônio por não terem sido acertadas pelo teto, correram pressurosas em direção a porta de saída, que acabava de ser arrombada.

ー Graças a Deus, vocês estão bem! ー Hermione apareceu subitamente entre os filhos e agarrou-os pelos ombros depositando uma força exagerada no abraço ー Ainda bem, ainda bem.

ー Está tudo bem? O teto não caiu sobre vocês? ー Rony quis saber, analisando o corpo das crianças para ver se não encontrava nenhuma lesão.

ー A Rose me protegeu ー Hugo informou rapidamente.

   Uma balbúrdia sem fim, que incluía disparos e sons mecânicos estranhos estourou do lado de fora estremecendo outra vez o abrigo em que os Weasley se encontravam. Rony pegou Hugo no colo e disse em tom urgente para Rose e Hermione.

ー Precisamos sair daqui imediatamente.

   A família aceitou a proposta do patriarca e, em fila indiana, seguiram para a saída, contornando a multidão frenética. Vendo a dificuldade de locomoção da mãe, a garota ruiva sugeriu que ela se apoia-se nela e assim continuaram traçando uma linha reta para a porta destruída.

   Do lado de fora, plena madrugada, uma guerrilha entre homem versus Tripods se desenvolvia dramaticamente. Um tanque do exército investia solitário contra duas naves assassinas que vinham avançando para o pátio, enquanto o pelotão responsável pela base armava um cerco entre os aliens e os civis para evitar um massacre.

      Rose e o restante da família se concentrou na fuga, observar o combate só os deixaria mais apavorados, acatando ao comando de dois soldados de rostos muito assustados que os mandavam seguir para o outro lado e atravessar a ponte que ligava a base à uma floresta através do rio. Tudo que eles podiam fazer era dar tempo das pessoas se dispersarem porque os disparos de canhão contra os objetos não surtia grandes efeitos.  

 ー CORRAM! CORRAM! ー um soldado berrava incentivando os fugitivos a cruzarem a ponte de madeira o mais depressa que conseguissem.

  ー Essa coisa não é segura… ー comentou Rose, tendo uma leve vertigem ao encarar as águas escuras por cima do corrimão e sentindo a estrutura de madeira tremer sob o peso de muitos corpos.

  ー Só não olhar para baixo, querida ー a mãe a confortou, tentando afastá-la de sua fobia por grandes porções de água. Hermione ainda olhou de esgueira para trás, de certo avaliando o quão longe se encontravam do perigo.

  ー Venham! ー Rony incentivou, passos a frente, empurrando algumas pessoas com a mão livre a fim de não perdê-las de vista.

 ー Sim. Rose, vamos ー Hermione reforçou e Rose fez um grande esforço mental e físico para não olhar para baixo novamente. Nada tirava da sua cabeça, entretanto, que a ponte tremia de um modo pouco confiável, o caminho até a outra ponta parecendo longo demais com tanta gente na frente.

       ー Certo ー ela engoliu em seco se inflando de coragem. Um passo atrás do outro. Um atrás do outro e estaria salva… daquela provação ao menos.