Prólogo- Onde nascem as estrelas?

Era tudo vazio.

Vazio e entediante.

Desesperadamente, infinitamente entediante.

Ela pairava pelo vácuo com uma expressão de sono em sua face, quando se sentia cansada, parava e ficava ali inerte, flutuando enquanto brincava com a poeira espacial observando as estrelas que nasciam- e morriam- aos montes pelos recantos mais obscuros do universo, as mesmas estrelas que ela ajudara a criar com seu poder, ela quem dera de presente a energia para manter o universo belo e brilhante. A verdade é que ela sempre existira, antes mesmo dos deuses antigos, antes mesmo do próprio universo, ela já existia quando toda aquela poeira e gás formou as primeiras estrelas, quando a energia vital começou a percorrer pelo que antes era um imenso vazio.

De todas as entidades existentes, de todas as formas de vida superiores, ela era sem sombra de dúvida uma das mais poderosas, e também a mais enigmática. A verdade é que Stéa, a grande criadora de estrelas, a fonte de energia do cosmo, não estava nem aí para nada, ela só se interessava em uma coisa: o seu próprio divertimento. Existir por eras e eras a deixava entediada e ela detestava isso. E enquanto passeava pelo vácuo espacial, ela procurava algo novo para fazer.

— Óh grande mestra, me pareces tão apática- a voz doce de Myuk a despertou de seus pensamentos, ela encarou a criatura com um olhar de indagação- o que posso fazer para que teu dia seja o melhor de todos os já existentes?

— Ache algo que me divirta- disse lentamente e com uma voz sonolenta, bocejando logo em seguida como uma criança.

Myuk piscou os olhos brilhantes como se não tivesse entendido, era uma pequena criatura que Stéa havia criado nas primícias do universo para lhe fazer companhia. Se assemelhava a uma esfera colorida e peluda, com grandes olhos brilhantes como os núcleos de uma estrela e que cantava para que ela dormisse ou então brincava com ela pelo espaço. A deusa tomou a pequena criatura em mãos com um leve sorriso:

— Estou entediada, preciso de algo para passar o tempo. O universo está tão chato ultimamente.

— Acharei algo para o seu divertimento, grande deusa- e dizendo isso saiu flutuando pelo cosmos, sumindo naquela imensidão.

Stéa voltou-se a observar o local em volta, os grandes cabelos brancos flutuavam pelo vácuo, emanando uma luz intensa que cegaria qualquer mortal, pelo seu corpo passeavam diversas luzes coloridas, como se pequenas estrelas se formassem em sua pele, seus olhos negros pareciam um buraco negro sugando tudo que conseguisse, era como se ela fosse o próprio universo. Se perguntava onde estariam as outras entidades, há tempos que não via nenhuma delas, deveriam estar fazendo algo divertido, ela tinha certeza.

Foi quando Myuk reapareceu, rodopiando em volta dela, havia retornado mais rápido do que o de costume e parecia um tanto aflito. Ela o pegou no colo, acariciando seu pelo com um sorriso vitorioso. Ele se aconchegou em seu peito enquanto parecia tomar fôlego, logo que ele se acalmou encarou-a com seus olhos brilhantes:

— Encontrei algo mestra, algo que vai ser muito divertido- ao ouvir isso, a deusa abriu um sorriso largo de alegria.

° ° °

Stéa olhava entediada para o planeta em sua frente. Não entendia por qual motivo Myuk dizia que seria divertido trazê-la até ali. No entanto a criatura peluda pousada em seu ombro insistia para que ela olhasse bem para o planeta, após algum tempo ela finalmente cansou-se:

— O que tem de divertido nisso, Myuk? É só uma bola de lama desprezível no meio do universo, povoada com seres mais desprezíveis ainda.

— Observe bem minha mestra, não nota algo de “caótico” nesse pequeno planeta?

A deusa voltou a encarar o mesmo, era um planeta lotado de água, povoado por seres humanoides que assemelhavam um pouco a ela em aparência, via-os morrer de fome, via as guerras, os conflitos, cidades lotadas deles andando de um lado para o outro como uma colônia de insetos. E então ela viu, ela algo que não via a muitos anos, pairando sob os céus do planeta, quase invisível, havia uma marca que ela reconheceu de imediato:

— A marca do devorador? – Arregalou os olhos- o devorador voltou e está atrás desse planeta?

— Sim mestra, aquela entidade que foi sua inimiga a muito tempo atrás parece ter ressurgido e está devorando mundos para se fortalecer, esse parece ser o próximo em seu caminho. Achei que gostaria de saber disso, mesmo que não seja algo demasiado divertido.

— E quem disse que não é meu pequeno Myuk? – a pequena criatura a encarou curiosa- como se chamam esses insetos estranhos?

— Humanos, minha deusa.

— Humanos- sibilou essa palavra lentamente, enquanto um plano surgia em sua cabeça, ela iria enfim sair do tédio- eu tenho uma missão nova para você minha criaturinha. Vá até esse planeta e escolha doze desses humanos, coloque minha marca neles, que sejam jovens de preferência.

— Escolher doze humanos? Não estou compreendendo.

— Em breve você irá compreender, apenas obedeça.

— Devo escolher randomicamente?

— Não- ela abriu o sorriso mais largo que conseguia- eu possuo algumas exigências- e deu uma pequena risada, que ecoou por todo o universo de maneira macabra.

Estava na hora de um pouco de ação, estava tudo parado demais.