Familias diferentes escrita por Erin Noble Dracula


Capítulo 3
Terapia




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P.O.V. Klaus.

Ele estava sempre apressado, toda terça feira ele se arrumava e saia.

—Onde você vai com tanta pressa?

—Eu estou fazendo terapia Niklaus. Vou ver a minha terapeuta.

P.O.V. Elijah.

Eu cheguei ao consultório e ela estava vestindo o cachecol.

—Nem sente. Hoje vamos fazer terapia ao ar livre.

—Terapia ao ar livre?

—Isso. Vamos com o seu carro ou com o meu?

—Com o seu. Você é a terapeuta.

—Tudo bem.

Nós paramos em frente a um Volvo prateado.

—Quer dirigir?

Disse ela com um sorriso sapeca, chacoalhando a chave na minha frente.

—Eu sei que você quer. Esse é especial, meu pai e eu turbinamos o motor. Trezentos e sessenta cavalos de potência.

—Impossível!

—Olha o velocímetro. É o meu bebê.

Inacreditávelmente lá estava trezentos e sessenta era a velocidade máxima do carro.

—Não é tão rápido quanto correr, mas é muito legal.

Dirigir aquele carro foi incrível.

—Para. Pisa no freio!

O carro deu um tranco e freamos.

—Ai. Vamos descer.

Nós caminhamos por entre as árvores e ela ia fazendo perguntas.

—Estar em um ambiente como esse, te trás alguma memória?

—Me lembra de quando eu era moleque, de caçar com o meu pai.

—Legal. Uma memória boa. É a sua primeira memória boa. E o que mais?

—De brincar de pega pega com meus irmãos. Nós corríamos por entre as árvores, pulávamos troncos caídos como se fossem obstáculos.

—Como você se sentia quando caçava com o seu pai e brincava de pega pega?

—Feliz. Mas, agora o meu pai tá morto. Nós matamos ele.

—Isso é pesado. Mas, é bom. Ta colocando pra fora.

—Colocando pra fora.

—E de um jeito saudável.

—Eu ouvi que você faz terapia de imersão. O que é isso?

—Eu não recomendo isso pra você. Você ia ficar pancada com terapia de imersão.

—Tem algo a ver com água?

—Não. Basicamente, nós visitamos as lembranças da pessoa para que ela veja as coisas de outro ângulo, como um espectador assistindo a um filme. Mas, se você for espectador das suas próprias memórias você vai surtar e não há camisa de força que segure um Original.

—Porque acha isso?

—Eu não acho. Eu tenho certeza. Isso se a você tiver um pingo de humanidade. Quer dizer, você já perdeu a conta de quanta gente você matou e se fizéssemos terapia de imersão você iria quer se matar. Ou pior, desligar.

—Acho que morrer é pior que desligar.

—No seu caso, discordo. Original, imortal, indestrutível sem moral, sem consciência, sem emoções isso seria pior que qualquer coisa, pior que uma bomba, pior que uma epidemia de gripe espanhola, pior que tudo. Vocês não tem freio com a humanidade ligada, com ela desligada, seria um trem bala descarrilhado batendo contra um vulcão, gerando um tsunami.

—Uau! Isso é ruim.

—Você nem faz ideia.

—Você já fez terapia de imersão em alguém?

—Já. Mas, a pessoa tem que estar preparadas e não pode ter a cabeça tão... zoada quanto a sua.

—Zoada?

Ela apontou para a própria cabeça e virou o dedo.

—Louca.

—Basicamente. Você é muito traumatizado. É como uma ferida aberta e ambulante.

—Isso é honestidade demais.

—Todo mundo ao seu redor vai mentir pra você, vai falar o que você quer ouvir menos eu. É pra isso que me pagam filho. Vamos. É hora de ir embora. Eu dirijo.

—Quero ver se é boa pilota.

—Querido, eu arraso.

Ela realmente era uma ótima pilota.

—Pronto. Ta entregue.

—Devíamos sair pra tomar um café um dia desses.

—Eu vou pensar. Tchau.

—Até terça feira que vem.

—Até.


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