De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 46
Todos de pé: a corte está em sessão!


Notas iniciais do capítulo

Postando na correria aqui, então espero que me perdoem (e avisem) se encontrarem algum grande erro XD



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Um policial gentil deu um ursinho de pelúcia a Rin pouco antes de a audiência começar, mas a visão dele ali a deixou extremamente nervosa, e se ele estivesse ali para prender seus avós? Ou então Sesshoumaru-Sama? Ou todos eles?

Rin havia cumprimentado e abraçado Kagome, Sango, Tio Inuyasha, Miroku, vovô InuTaisho, vovó Izayoi, vovó Arina, Keiko-san, e até vovô Myuga e o senhor Jaken, mas em nenhum momento conseguira juntar coragem o suficiente para ir falar com os pais de Mariko, pois sentia-se terrivelmente culpada por estar “rejeitando-os” tão abertamente, mesmo que fossem seus parentes de sangue.

—Vai ficar tudo bem Rin! — Shiori lhe garantiu segurando suas mãos entre as delas — Tenho certeza!

—Shiori está certa! — Hiten a apoiou, fechando os punhos com firmeza.

Por fim as duas haviam vindo acompanhadas pela mãe de Shiori e não por Abi-sensei, mas então por que a professora estava ali?

Rin tinha um mau pressentimento… não, não! Ela só estava nervosa demais e cheia de pensamentos negativos! Ela tinha que pensar positivo, tinha que pensar que Shiori tinha razão: ia dar tudo certo.

Isso! Talvez Abi-sensei só estivesse ali para pagar uma multa de trânsito!

—Bem, então esse é o caso dos Kimura VS Taisho pela guarda da menor Kimura Rin. — começou a juíza, aquela mulher de antes que era conhecida de Sesshoumaru-sama, assim que se sentou. — Suponho que nenhuns dos lados queiram desistir da causa?

—Não meritíssima. — responderam os advogados.

Tudo ali parecia tão sério que as mãos de Rin já haviam começado a suar, e ela as secou no pobre ursinho de pelúcia, aquela era a pessoa que decidiria seu destino.

A juíza continuou:

—As testemunhas de ambos os lados já se encontram presentes?

—Sim meritíssima. — responderam novamente os advogados.

—Muito bem. — ela assentiu, e então seu olhar fixou-se em Rin, que enrijeceu imediatamente, mas se surpreendeu quando a juíza sorriu-lhe. — Rin-chan, você se sente bem? Tem fome ou sede?

Mesmo ela sendo tão gentil, Rin sacudiu a cabeça exasperadamente.

—Não senhora! Hã… Merí… Meríti…

—Apenas Hibiki-san está bem para você, Rin-chan, já ganhou seu ursinho da justiça?

—Sim senhora! — mostrou-lhe o urso branco.

—Ótimo. — a juíza reassumiu sua expressão séria. — Então comecemos. Esse parece ser um caso bem interessante e um pouco complicado, admito, eu li e ouvi várias coisas sobre o assunto, mas antes de tomar minha decisão gostaria de ouvir ambos os lados, então… — baixou os olhos para sua papelada — Taisho Inuyasha.

De terno e com cabelos penteados para trás e mantidos no lugar com uma quantidade impressionante de gel, tio Inuyasha aproximou-se rigidamente da juíza e sentou-se no lugar indicado.

—Segundo me foi informada, você é o meio-irmão mais novo de Taisho Sesshoumaru, filho da segunda esposa do pai de ambos. Isso procede?

—Sim alt… Meritíssima! — tio Inuyasha respondeu nervoso, corrigindo-se rapidamente.

Rin ouviu um som estranho, como se alguém tivesse batido palmas uma vez, mas quando olhou a volta, percebeu que fora Sesshoumaru-Sama que, na verdade, havia batido na testa, e agora seu advogado estava cochichando-lhe algo ao ouvido.

Será que aquilo havia começa mal?

—Eu também fiquei sabendo que, por razões de trabalho, seus pais foram morar no exterior quando você estava no último ano do ginásio e desde então tem estado sob a tutela de seu irmão mais velho. — continuou a juíza sem dar muita atenção ao equívoco — Como é sua convivência com ele?

Uma rápida situação de flash backs passou diante dos olhos de Rin, nos quais seu tio e seu pai discutiam na maior parte, em outros, tio Inuyasha reclamava sobre todas as vezes que Sesshoumaru-Sama sumia sem dar satisfações ou então as semanas que tio Inuyasha passou dormindo no sofá até ir parar no hospital, e como Sesshoumaru-Sama reagia a pessoas doentes… definitivamente as coisas tinham começado mal!

Engoliu em seco.

—Nós nos damos bem.

—Se dão bem… — refletiu a juíza — O quanto?

O suficiente para Sesshoumaru-Sama não tentar realmente fazer com tio Inuyasha o que escrevia talvez…? Claro, às vezes eles tentavam socar um ao outro e Sesshoumaru-Sama ameaçava jogar tio Inuyasha por alguma janela…

—Nós moramos juntos há uns três anos, eu acho. — tio Inuyasha coçou a cabeça — Então é óbvio que não nos odiamos, mas também não estou dizendo que somos afetuosos ou algo assim.

—Discutem?

O tempo todo.

—Ás vezes. É normal, certo? Irmãos brigam.

Rin engoliu em seco, mesmo a despeito do quanto ela poderia estar nervosa, parecia que seu tio estava respondendo tudo certo até agora.

—Claro que sim… — a juíza avaliou tio Inuyasha — E como você descreveria a tutoria de seu irmão? O quão bem ele cuida de você?

Uma vez tio Inuyasha dissera que Sesshoumaru-Sama já sumira por semanas depois de deixar apenas algum dinheiro para uma pizza.

Antes de Rin chegar, os dois se alimentavam de ramen e barrinhas de cereais vencidas.

—Feh, eu não sou uma criancinha, não preciso que cuidem de mim!

Alguém gemeu. Kagome talvez? E Rin teve certeza que tio Inuyasha havia dito alguma idiotice.

—Então está me dizendo que mesmo sendo seu responsável legal desde que tinha quatorze anos…

—Quinze.

—Ele o deixou por sua conta desde então?

Tio Inuyasha congelou, parece que só agora havia percebido que dissera besteira.

—Hã… ah… não, quer dizer, eu nunca passei fome e… nem fiquei sem um teto.

Claro, porque barrinhas de cereais e pizza eram muito nutritivas e às vezes Sesshoumaru-sama trancava tio Inuyasha do lado de fora, mas aí ele podia dormir na casa de Sango ou Kagome.

Rin tentou conter uma careta.

—O tutor do ano. — ironizou a juíza — E quanto à escola?

—Não me deixa faltar! — tio Inuyasha respondeu prontamente, como se estivesse feliz por finalmente acertar uma pergunta para a qual havia estudado — Ele é muito rígido para que minhas notas não caiam, é claro.

E quanto mais tempo tio Inuyasha ficasse na escola, menos tempo ele incomodava Sesshoumaru-Sama em casa… que bom que a juíza não lia mentes.

Mas então a juíza olhou para Rin, e ela assustou-se começando a duvidar dessa hipótese.

—E quanto à vida social de seu irmão?

Tio Inuyasha fez uma careta como se precisasse de um dicionário para decifrar aquela pergunta.

—Sesshoumaru e vida social?

—Sim, é claro. — a juíza folheou sua papelada — Pelo que me consta ele é um homem solteiro e sua renda é baseada em sua ocupação de escritor.

—E é isso. — tio Inuyasha concordou — Vida social zero, ele é basicamente um eremita trancado em casa e a única que o faz sair voluntariamente costuma ser a Rin.

A juíza parecia estar fazendo varias anotações sobre cada palavra de tio Inuyasha, e ela arqueou uma sobrancelha.

—Namoradas?

—De jeito nenhum. — tio Inuyasha quase se engasgou — Desculpe. — ele cobriu a boca, os ombros tremeram por alguns segundos, e então respirou fundo — É só que Sesshoumaru e “namorada”… nem sei se alguma vez ele teve uma, quer dizer, não que ele seja um eremita celibato completo, ele já conheceu algumas mulheres, mas…

Rin não sabia ao certo, mas a expressão corporal de Sesshoumaru-sama, balançando a cabeça com o rosto oculto entre as mãos, dizia-lhe que tio Inuyasha não devia estar falando tanto.

—Tudo bem, pare aí! — a juíza o deteve erguendo uma mão, mas seus olhos estavam fixos em Rin — Você está me dizendo que Taisho-san tem várias amigas é isso?

—Ah… ah. — tio Inuyasha olhou rapidamente de Sesshoumaru-sama para Rin — Não tantas como à senhora talvez esteja pensando, é… hum… desde que moro com ele… duas talvez? Isso é bom, certo?

—Determinarei o que é bom ou não mais tarde. — ela tamborilou com a caneta — Com que frequência o Taisho-san recebe visitas de amigas?

Dessa vez tio Inuyasha demorou a responder, e seu olhar agora definitivamente estava em Sesshoumaru-sama, talvez tivesse aprendido a controlar a língua ou então só estava com dificuldades de lembrar mesmo, Sesshoumaru-sama não recebia muitas visitas afinal…

—Uma vez a vizinha pediu para usar o telefone, ela saiu em cinco minutos. — tio Inuyasha deu de ombros.

Mas até Rin sabia que Serov-san havia visitado mais algumas vezes, como quando Rin adoeceu, e que Kagura-sensei havia morado lá por um tempo antes de ela chegar também.

—Fala-me de Rin-chan. — mas a juíza pareceu aceitar aquela resposta e passou para o tópico seguinte — Como a receberam?

—Ficamos surpresos, Sesshoumaru pensou que fosse uma pegadinha e hã… bateu a porta na cara dela, mas ela não foi embora e… a coisa parecia séria, então Sesshoumaru a deixou passar a noite.

Kagome-chan foi quem a deixara entrar, e ela praticamente obrigara Sesshoumaru-Sama a deixá-la ficar também, mas aquela versão dos fatos parecia melhor.

Que bom que tio Inuyasha havia estudado direitinho, ou melhor, “sido bem adestrado” como dissera Sesshoumaru-sama, ela evitou rir ao se lembrar disso.

—Então o Taisho-san deu abrigo a uma criança desamparada, e suponho que não a deixou passar fome e foi rígido com seus estudos também. — a juíza continuou com seu tom irônico. — Pela mera bondade de seu coração, estou certa?

—Bondade… acho que não, mas ele não sabia o que fazer, não dá para só jogar uma criança sozinha na rua. — até porque Rin iria voltar — Na verdade estava bem irritado. — tio Inuyasha contou — Tentou levá-la a uma delegacia, mas ela voltou.

—Tudo bem, entendi, foi quando ele decidiu fazer o exame de DNA?

—Não sei direito. — tio Inuyasha admitiu — Ele não falou para ninguém sobre o exame e Rin só… ficou morando conosco.

—Fale-me da convivência de vocês três.

—Sesshoumaru estava sempre trabalhando, então quando morávamos só nós dois era fácil esquecer que ele estava em casa, e era sempre frio lá, porque ele gosta do frio, mas desde que Rin chegou é diferente, lá no apartamento Rin e eu dividíamos o quarto, às vezes eu acho que ela é uma menina estranha, ela adora limpar tudo o que vê pela frente, e ama cozinhar, mas é muito fácil gostar dela mesmo sendo tão irritante, talvez… — tio Inuyasha seguiu falando enquanto a juíza ouvia atentamente — seja impossível não gostar dela, deve ser por isso que Sesshoumaru a quer tanto com ele, ele até parou de fumar por causa dela. — ele coçou a cabeça parecendo um pouco envergonhado ao continuar: — Ela me chama de tio, e eu faria tudo para continuar sendo o tio dela.

Rin achou que começaria a chorar, mas ela fungou e abraçou o urso, por algum tempo todos ficaram em silêncio, a juíza estava pensativa também.

—Isso é tudo, volte para seu lugar. — determinou — Torihime Abi.

Ah… Abi-sensei realmente não havia ido até ali para pagar uma multa de trânsito.

Rin suspirou tremula e se surpreendeu quando, ao passar por ela, tio Inuyasha passou a mão em sua cabeça.

—Torihime Abi-san. — repetiu a juíza quando Abi-sensei assumiu o assento onde antes estava tio Inuyasha — Você é a professora de Rin-chan na escola, estou correta?

—Sim meritíssima. — Abi-sensei confirmou muito mais calma e composta do que estivera tio Inuyasha.

—Você conheceu Kimura Mariko?

—Brevemente. — admitiu.

—Então comece por aí, me fale sobre Kimura Mariko e a vida escolar de Rin-chan antes e depois de perder a mãe.

—Muito bem. — Abi-sensei assentiu — Eu sou professora de Rin-chan desde o primeiro ano do primário, e ela sempre foi uma aluna bastante esforçada embora tivesse dificuldades para conseguir interagir com as outras crianças devido à sua situação familiar. Sua mãe… Mariko-san não era uma responsável muito presente na vida escolar de Rin-chan, mesmo que ela fosse sua única filha, dificilmente comparecia às atividades escolares, e muitas das vezes quando comparecia chegava tarde ou estava dispersa, ela só compareceu uma vez ao dia de “visita dos pais à escola”, e mesmo assim apenas nos últimos dez minutos, porém também era comum que ela passasse essa responsabilidade à sua mãe. — Rin prendeu a respiração, isso era porque Mariko estava sempre trabalhando! Não era, de jeito nenhum, porque ela era uma mãe que não se importava! Que tipo de coisas horríveis Abi-sensei achava que estava falando sobre sua mãe?! Ela não sabia de nada! — Ainda assim Rin-chan sempre teve uma frequência exemplar na escola e nunca teve uma falta não justificada, e sempre se apresentou bem asseada também.

—O que você está querendo falar aí?! Mariko era uma ótima mãe! — Keiko-san se exaltou de algum lugar atrás de Rin — O que você sabe sobre Mariko?! O que sabe sobre o quanto ela amava Rin?! Como ousa sugerir que ela foi ruim ou ausente…?!

—Silêncio! — a juíza ralhou batendo o martelo — Acalme-se senhorita ou serei obrigada a expulsá-la, você terá sua vez de falar também!

Sesshoumaru-sama suspirou apoiando o rosto na mão, enquanto parecia que uma onda de murmúrios havia se iniciado na sala quase vazia da audiência, mas o sangue rugindo nos ouvidos de Rin era tão alto que ela praticamente não era capaz de escutá-los.

Duas batidas firmes do martelo da juíza ressoaram novamente.

—Ordem! — a juíza exigiu, e só depois de vários segundos de silêncio desconfortável, seu olhar se suavizou e ela dirigiu-se a Rin: — Rin-chan, você está se sentindo bem? Gostaria de um copo de água? Quer fazer uma pausa?

Abraçando ao ursinho de pelúcia e mordendo o lábio inferior Rin sacudiu a cabeça, não tinha certeza do que aconteceria se tentasse falar: começaria a chorar ou gritar com sua professora? Talvez os dois?

—Tem certeza?

Rin começou a acenar com a cabeça, mas hesitou.

—A-acho que quero água. — aceitou.

Com apenas um aceno da juíza, um policial ali perto trouxe um copo de água para Rin e, enquanto ela bebia, o testemunho de Abi-sensei foi retomado:

—Esses foram os dias escolares de Rin-chan enquanto sua mãe estava entre nós, mas e depois? — inquiriu a juíza.

—Certamente que quando a escola foi informada sobre o falecimento da mãe de uma de nossas alunas nós ficamos chocados e, compreensivamente, Rin-chan tomou duas semanas de folga da escola, eu também, como sua professora, fui prestar minhas condolências em seu funeral e mais tarde fui enviada à sua casa para certificar-me de suas condições.

—E…?

Abi-sensei balançou a cabeça.

—É sempre muito duro quando se perde a mãe, para uma criança então… é claro que o senhor e a senhora Kimura estavam devastados também, eu lhes sugeri que Rin-chan poderia retornar a escola apenas no semestre seguinte e levaria pessoalmente suas provas para que fossem feitas em casa, mas Rin-chan regressou à escola ao final daquelas duas semanas de dispensa e obviamente seu rendimento escolar caiu muito na época. — Abi-sensei suspirou dando de ombros — Quando o semestre seguinte começou, fiquei aliviada ao notar Rin-chan mais animada, no entanto fui obrigada a lhe chamar a atenção por diversas vezes, devido a seus cabelos desalinhados.

A juíza ouvia tudo com bastante interesse.

—E? — indagou — Algo mais que queira relatar?

—Eu mandei recado por Rin-chan diversas vezes, para falar a respeito de seus cabelos com seu atual responsável, mas ele demorou bastante a me atender, também só compareceu a um único evento escolar: o dia esportivo. Mas em outros eventos, como o dia dos pais na escola e o dia do festival escolar, ele esteve completamente ausente. — sua professora concluiu.

Rin arregalou os olhos e, antes que soubesse o que estava fazendo, colocou-se de pé com um salto.

—Isso foi…!

Calou-se, e se a juíza a repreendesse como havia feito com Keiko-san? Rin não queria irritar a pessoa que estava decidindo seu futuro.

Mas, ao contrário de seus temores, o olhar da juíza foi bastante gentil e paciente em sua direção.

—Sim? — perguntou delicadamente — Tem algo que queira acrescentar, Rin-chan?

Rin sentiu-se queimar de vergonha por toda aquela atenção agora estar concentrada nela, mas ainda assim obrigou-se a falar:

—Não foi assim, eu… não contei para Sesshoumaru-sama sobre esses eventos, porque ele estava muito ocupado trabalhando e eu não queria incomodar…

—E o senhor Taisho lhe disse para não incomodá-lo com esses assuntos? — a juíza perguntou seriamente.

—Não! — Rin negou de imediato, arregalando os olhos — De jeito nenhum! Eu só… pensei que poderia atrapalhar.

Ela sentou-se novamente, puxando o ursinho de volta para o colo, sem ter mais nada para dizer e com medo de ter piorado tudo.

A juíza esperou mais um pouco, como se quisesse ter certeza de que Rin já havia dito tudo o que queria, e quando ela não voltou a falar, assentiu e voltou-se novamente para Abi-sensei.

—Torihime-san, você tem mais uma última declaração para concluir antes que eu chame a próxima testemunha?

—Sim, claro. — Abi-sensei pigarreou. — Eu acho que me expressei mal, não quis dizer que Mariko-san foi uma mãe ruim ou relapsa. Eu só quis dizer… é claro que Mariko-san amou a filha e fez tudo o que podia por ela, mas… ela era uma pessoa bastante ocupada, como posso ver que Taisho Sesshoumaru é também, e talvez fosse melhor para Rin-chan se ela tivesse alguém… que pudesse lhe dar mais atenção.

—Muito bem, isso é tudo, pode voltar ao seu lugar. — a juíza assentiu. — Kinoshita Keiko.

Ao passar por ela, Keiko-san estendeu a mão e segurou momentaneamente a de Rin.

—Então você é prima da falecida mãe de Rin-chan?

—Sim, meritíssima. — Keiko-san pigarreou — Nossas mães são irmãs.

—Entendo, e eram próximas, você e Mariko-san?

—Muito próximas. — Keiko-san confirmou — e eu também sempre estive próxima a Rin… bom, quase sempre.

O tom no final de sua frase pareceu um pouco culpado.

—Por que “quase sempre”? — pontuou a juíza — Por favor, comece por aí senhorita.

Keiko-san respirou fundo.

—Desde que posso lembrar Mariko-nee-san e eu sempre estivemos juntas, ela era minha melhor amiga e minha irmã, mesmo que eu achasse que ela era muito teimosa e tinha um péssimo gosto para homens. — começou a falar lentamente — Eu estava junto com ela quando Rin nasceu, e continuei próxima durante todos esses anos, mas… depois que Mari-nee-san morreu, Rin começou a me evitar. — suspirou passando a mão pelos cabelos — Eu estava muito abalada e perdida na época, por isso achei que o melhor seria não tentar forçar nada, e esperar até que Rin me procurasse novamente, mas… isso não é uma desculpa de forma alguma, Rin também estava abalada e perdida, foi sua mãe quem morreu e ela é somente uma garotinha… mas graças a esses meus pensamentos egoístas, acabei deixando-a ainda mais solitária. Foi como se eu a tivesse abandonado também.

—“Também”. — a juíza ecoou — E quem, além da senhorita, abandonou Rin-chan?

Keiko-san encolheu-se com as palavras da juíza, mas respondeu mesmo assim:

—Em primeiro lugar meus tios.

—Absurdo! — o avô de Rin protestou imediatamente — Isso é uma completa besteira, jamais abandonamos nossa…!

—Silêncio! — a juíza bateu o martelo firmemente — Não lhe dei permissão para falar senhor, então mais uma palavra e ordenarei que seja retirado daqui! — ameaçou tão irritada que inclusive Rin se assustou — Keiko-san. — chamou pigarreando e lançando um último olhar de advertência ao avô de Rin — Prossiga.

—Eles a abandonaram! — Keiko-san reafirmou agora mais segura de sí, olhando irritada para os avós de Rin — Quando Mari-nee-san morreu foi um grande choque para todos, mas meus tios…! Ambos voltaram seus olhos contra Rin, eles acharam que era culpa dela e a abandonaram!

—Mentiras! — vociferou o avô de Rin.

Porém, apesar de suas palavras anteriores, a juíza simplesmente o ignorou e manteve sua total concentração em Keiko-san.

—Isso foi uma acusação de maus tratos e negligência? — perguntou seriamente.

Keiko-san enrijeceu, pois, assim como Rin, embora ela quisesse ajudar Sesshoumaru-sama na causa pela guarda, ela não queria trazer problemas aos tios.

—Não! Não foi que o que quis dizer…! — ofegou — Talvez a negligência…

—Então me esclareça senhorita, o que exatamente, a senhorita quis dizer. — a juíza pressionou, inclinando-se na direção de Keiko-san.

Mais uma vez Keiko-san tentou respirar fundo, sua respiração estava trêmula e ela levou as mãos fechadas em punho ao peito.

—Eles nunca a maltrataram, nem, até onde eu saiba lhe disseram nada diretamente. — negou. — Mas Rin sempre foi uma criança muito inteligente, é claro que ela notaria a forma como seus avós a olhavam, como agiam… e tudo isso a fez sentir-se sufocada, então quando ela pediu para passar um tempo comigo, eles não fizeram mais perguntas, só a enfiaram em um táxi e a mandaram! Mas eu… eu também tive culpa, quando Rin não apareceu, e como já vinha me evitando há tempos, simplesmente concluí que havia mudado de idéia e sequer liguei para averiguar.

—Sem dúvidas houve negligência então. — a juíza folheou algumas folhas de papel diante de si e, com uma caneta, pareceu anotar algo aqui e ali — Mas segundo suas próprias palavras, Keiko-san, você mesma estava afastada da família nessa época, como então sabe qual era o clima em volta de Rin-chan na casa dos Kimura?

—Isso foi o que aquele homem… quero dizer, Sesshoumaru… san, contou-me.

—E preferiu acreditar nas palavras desse estranho vil à sua própria família?! — a avó de Rin se opôs com tom magoado — Keiko como pôde se voltar contra o próprio sangue dessa maneira?! Eu juro…!

—Silêncio! — a juíza bateu com o martelo — Se não ficar em silêncio senhora eu serei obrigada a mandar que a retirem. — com uma nova e decidida martelada, ela baixou o tom de voz, tornando-o dez vezes mais sério e assustador. — E eu preferia não ter que fazer isso, pois ainda pretendo lidar com a senhora pessoalmente daqui a pouco.

Um silêncio glacial se espalhou pela sala de audiência, na verdade era como se a temperatura de fato houvesse caído naquele instante, e nem sequer o som da respiração dos presentes podia ser escutado e o único som remanescente era… Rin piscou, alguém estava comendo?!

Mas quando ela se virou surpresa todos pareciam quietos e compostos, inclusive seu tio e Miroku que, do ponto de vista dela, eram os principais suspeitos e, quando a perceberam olhando, Kagome e Sango acenaram timidamente e ela acenou de volta antes de virar-se para frente novamente.

—Então continuando, Keiko-san, eu não estou colocando a palavra de Taisho-san em dúvida ainda, mas somente isso foi o bastante para convencê-la?

—Não, claro que não. — Keiko-san suspirou — No começo, quando descobri tudo, eu quis imediatamente levar Rin comigo, mas então percebi… se Rin preferiu correr para um estranho ao invés de mim… então talvez eu realmente não seja a mais adequada para ficar com ela. E se tudo o que Sesshoumaru-san me disse fosse realmente uma mentira absurda, como eu queria acreditar que era, então não haveria razão para Rin se agarrar tão firmemente a ele enquanto lutava para não ser levada de volta, eles haviam ficado mais ligados do que eu imaginava possível. Por isso resolvi confrontar meus tios.

—Eles confirmaram a versão do Taisho-san?

—Minha tia disse que a morte de Mari-nee-san a deixou doente de dor e ela não sabia o que estava fazendo quando deixou Rin com um completo estranho, e meu tio estava muito ocupado se preocupando com ela para dar-se conta do que se passou com a própria neta. E também foram palavras ditas da boca de minha tia, “quando estava doente de dor”, que Mariko-nee-san morreu por culpa de Rin, mas nenhum dos dois esperava que ela estivesse escutando.

A sala começou a girar, uma onda de burburinhos passou por ela e se perdeu no silêncio novamente.

A juíza tamborilou com os dedos.

—Então falemos agora de Taisho-san. — sugeriu — O que você tem a me dizer sobre a guarda de sua prima ficar com ele, Keiko-san? Pelo que a senhorita mencionou, Keiko-san tinha um “péssimo gosto para homens” e, segundo o que me consta, Taisho-san foi um desses homens.

Keiko-san se mexeu desconfortável.

—Estou sob juramento aqui?

—Não. — a juíza folheou mais um pouco as folhas de papel diante de si — Mas confio que quer o melhor para sua priminha.

De novo Keiko-san mexeu-se desconfortável e encolheu-se mordendo o lábio inferior.

—Falando francamente, meritíssima, Mari-nee-san sempre foi reservada a respeito de seus namorados, mas ainda assim na época eu consegui captar o bastante para perceber que como namorado ele era frio, insensível e desinteressado. E quando o conheci pessoalmente há um mês e meio, não mudei muito minha opinião dele como em pessoa em geral. — admitiu — Mas ainda assim sua preocupação com Rin parece genuína, eu não consigo pensar em nada que ele pudesse ganhar mantendo Rin consigo, muito pelo contrário, ele parece exatamente alguém que tentaria se livrar de uma criança o quanto antes. — ela enrijeceu e seu olhar voou direto para Rin. — Desculpe Rin. — pediu-lhe com as mãos juntas diante do rosto, logo antes de se recompor — Mas ainda assim ele está lutando com todas as forças para que não a tirem dele e a chama de filha. — pigarreou — E é por isso, meritíssima, que confio que Taisho Sesshoumaru será o melhor pai que Rin poderá ter.

Rin levou ambas as mãos à boca sufocando um gritinho de euforia e precisou se conter para não correr e abraçar Keiko-san após ouvir suas palavras.

—Obrigada. Isso é tudo Keiko-san. — a juíza a dispensou com um aceno de mão. — Nobuko Kokoro.

Nobuko-san?!

Rin assustou-se sentindo o coração descompassado.

A senhora Nobuko era uma senhorinha idosa com idade para ser bisavó de Rin, que morava há duas casas da casa de seus avós e sempre se aproximava dela quando ela estava sozinha, com um sorriso estranho e palavras cruéis disfarçadas como gentilezas.

Eram sempre coisas como;

“Oh Rin-chan querida, está brincando sozinha de novo? Deve ser difícil crescer sem um papai”;

“Olá, Rin-chan querida, você parece estar tão magrinha e pequena, tem comido direito? Deve ser difícil para Naoko-san criá-la sozinha já que aquela garota, Mariko, nunca está em casa, não é?”;

“Bom dia Rin-chan, veja só você já tão grandinha e responsável ajudando na faxina! Que bom que ao menos você está crescendo madura e comportada, sem dar problemas a Naoko-san…”.

Por que seus avós haviam escolhido aquela pessoa?

Rin cerrou os punhos e mordeu o lábio inferior, e aguardou em silêncio.

—Então senhora Nobuko, segundo me consta aqui, a senhora é vizinha dos Kimura.

—Há muitos anos, meritíssima. — confirmou. — Eu os conheço desde que compraram a casa, quando a adorável Mariko-chan era só um bebezinho.

A adorável Mariko-chan, não é? E mesmo assim estava sempre dizendo coisas maldosas sobre ela.

—Sim, certo, e como é a relação de Rin-chan e seus avós?

—Excelente, eu diria. — Nobuko-san fungou — É claro, afinal eles praticamente a criaram, já que Mariko-chan nunca estava em casa.

E lá vamos nós de novo…

Rin contorceu-se, remoendo em silêncio.

—Sim, ouvi dizer que a senhorita Mariko era uma mãe muito esforçada e trabalhadora. — a juíza acenou ainda folheando os papéis diante de si.

—Claro, “esforçada”, é uma forma que podemos dizer. — Nobuko-san concordou retirando um lenço da bolsa e fungando novamente.

A juíza tamborilou com os dedos.

—E… de que outras formas nós poderíamos dizer?

—Oh bem, desde pequena Mariko-chan sempre foi uma menina muito inteligente e gentil, era bastante comportada também, a doce Rin-chan me lembra dela nessa idade, é claro, mas conforme foi crescendo… ah. — suspirou afetadamente — Ela foi ficando rebelde, a adolescência eu acho, os rapazes viraram sua cabeça e ela já não ficava mais em casa, todos os dias estava na casa desse ou daquele garoto e às vezes passava até a noite fora.

Rin engasgou-se, seus olhos encheram-se de lágrimas, ela estava tremendo.

—Sua bruxa velha! — Keiko-san gritou irada — Você está adorando tudo isso, não é?! Como ousa?! Mari-nee-san amava crianças, ela era babá!

Uma martelada.

—Já terminou Kinoshita-san? Então agora se sente, não penso em tolerar mais interrupções. — embora firme, o tom da juíza parecia mais paciente do que das vezes anteriores — Naoko-san continue.

—Obviamente ninguém ficou surpreso quando a garota apareceu grávida. — continuou Naoko-san, como se nunca tivesse sido interrompida — Uma mãe solteira, que vergonha para os pais, mas eles não a expulsaram de casa, muito pelo contrário, eles praticamente criaram a criança enquanto a mãe continuava passando a maior parte dos dias fora de casa. Rin cresceu direita e comportada por um tempo… mas temo que o sangue fale forte e, infelizmente, ela também está se rebelando, tal como a mãe, e muito mais cedo do que ela também. Abandonar os próprios avós assim e ir morar com um homem estranho…! Oh céus!

Uma martelada ressoou tão forte e ruidosa como se quase pudesse quebrar a bancada da juíza.

Mas então… Rin percebeu que não havia sido a juíza com seu martelo novamente: Sesshoumaru-sama estava de pé com o punho fechado sobre a mesa, olhando para a velha senhora Nobuko como se estivesse a ponto de estrangulá-la com a própria língua, de tal forma que a idosa ficou branca como cera, embora ele não tenha dito nenhuma palavra.

De alguma forma a juíza ignorou aquele comportamento.

—Isso é tudo Nobuko-san? — perguntou sem erguer os olhos, fazendo mais algumas anotações em sua papelada, e como não houve resposta, simplesmente a dispensou: — Então pode retornar ao seu assento. E Taisho-san, sente-se também. Agora Nomi Myuga, aprox…

—S-s-senhora juíza. — Rin gaguejou erguendo a mão trêmula — D-desculpe, mas eu a-acho que preciso de uma pausa p-para ir ao b-banheiro.

Finalmente erguendo os olhos a juíza encarou-a e, sem desviar o olhar, bateu o martelo.

—Declaro um recesso de trinta minutos.

Rin não sabia onde ficava o banheiro, mas saiu correndo mesmo assim, pode ser que alguém a tenha chamado.

A juíza? Sesshoumaru-Sama? Seus avós? Tio Inuyasha? Kagome?

Ela não parou para descobrir, só queria ficar um pouco sozinha.

—As coisas realmente ficaram bem tensas agora há pouco. — Miroku comentou sentando-se ao seu lado quando a encontrou algum tempo depois — Se você não tivesse pedido por uma pausa pode ser que tudo tivesse se transformado em um julgamento por homicídio.

Sentada encolhida e abraçando os joelhos, Rin balançou a cabeça sem levantar o rosto para que ele não visse que ela estava chorando.

—Sesshoumaru-sama não faria isso… — negou com voz abafada — na frente de tantas testemunhas.

—Sim, tem razão, depois de escrever todos aqueles livros não tem como ele não ter aprendido alguma coisa! — ele riu brevemente, e quando Rin o espiou pelo canto dos olhos, viu que Miroku estava digitando algo no celular, mas então ele parou de repente e ficou subitamente sério — Acho que Kagome deve ter lido uns dois ou três deles, sinceramente não sei como ela consegue dormir a noite. — Rin achou graça ao vê-lo estremecer com uma expressão tão séria. — Eu também estava procurando o banheiro, sabe? — comentou se levantando e estendendo a mão para ela enquanto guardava o celular no bolso — Então é melhor irmos logo, porque o tempo de intervalo está quase no fim.

Em silêncio Rin concordou e aceitou a mão que Miroku lhe estendia.

Então ele a acompanhou até o banheiro e a esperou do lado de fora enquanto ela lavava o rosto e as mãos, e depois voltaram ainda de mãos dadas para a sala de audiência onde quase todos — com exceção da juíza — pareciam já estar os esperando.

—Não acredito que você realmente estava comendo amendoins durante a audiência. — Sesshoumaru-Sama estava reclamando com Serov-san quando Rin entrou.

—Ah, por favor, Sesshoumaru. — ela girou os olhos cruzando os braços — Eu não comi nada no desjejum, lembra? E ninguém reparou também, então eu sou o menor dos seus problemas, por isso não venha descontar em mim só porque está com os nervos a flor da p…

Ambos pararam de falar quando repararam nela e Rin os cumprimentou com um aceno de cabeça, pelo menos sabia que ela não era a única nervosa ali… Miroku a acompanhou até metade da sala, onde soltou sua mão para que ela seguisse sozinha até seu lugar.

E ali ela sentou-se, temendo — ou esperando? — que seus avós viessem lhe pedir desculpas sobre o que havia acontecido, mas a juíza retornou antes que isso acontecesse.

—Todos de pé, a corte está em sessão! — anunciou o mesmo policial que havia dado o ursinho de pelúcia a Rin.

—Sentem-se. — ela ordenou arrumando sua papelada. — Rin-chan, se sente melhor?

—Sim, obrigada.

—Gostaria de um copo de água?

—Não, eu estou bem. — balançou a cabeça.

—Muito bem. — ela pigarreou — Então continuando de onde paramos: Nomi Myuga.

A sala estava fria, mas vovô Myuga estava suando quando se sentou em seu assento, secando o suor da careca e do rosto com um lenço que guardou no bolso do paletó.

—Aqui, ao seu dispor meritíssima.

—Obrigada. — ela acenou — Então você é editor na editora, na qual Taisho-san publica seus livros.

—Completei trinta anos de carreira nesse outono. — vovô Myuga concordou pigarreando.

—Meus parabéns. — a juíza respondeu indiferente — e há quanto tempo conhece Taisho-san?

—Ah, desde que ele era um garotinho! — ele respondeu rapidamente. — Eu e o pai dele somos bons amigos.

—Ótimo, e já que o conhece tão bem, o que pode me dizer a respeito da pessoa de Taisho Sesshoumaru? E, como seu chefe, o que pode me dizer a respeito de seu senso de responsabilidade?

—Hum, bem… eu diria que Sesshoumaru é uma pessoa bastante… reservada. — vovô Myuga afrouxou a gravata — Ele não gosta de se intrometer em assuntos alheios e prefere que façam o mesmo por ele também. — Sesshoumaru-sama sempre estava evitando e deliberadamente ignorando vovô Myuga, e não ligava se isso dificultava o trabalho do pobre homem. — Mas ele certamente nunca perdeu um prazo, se diz que vai entregar o trabalho naquela data, então certamente ele o entregará.

—Um homem de palavra então. — a juíza observou vovô Myuga que mais uma vez puxava o lenço do bolso, agora para secar o suor no pescoço. — Então falando sobre seu trabalho, Rin-chan mencionou que mesmo sem nenhuma ordem explicita ter lhe sido dada a esse respeito, ela preferia evitar falar com Taisho-sama a respeito de atividades escolares, com receio de que isso pudesse atrapalhá-lo. Então em sua opinião, Nomi-san, o senhor diria que Taisho-san é alguém obcecado com trabalho? Ao ponto, por exemplo, de perder a noção e chegar à exaustão?

Exatamente como Mariko…

—Ah não, de forma alguma. Digo. Mesmo na época em que o trabalho parecia ser a maior e talvez até única coisa com a qual se importava na vida, quando tinha costume de passar noites em claro a base de café, eu creio que Sesshoumaru nunca excedeu seus limites.

—Mencionou uma época passada. — a juíza observou — Há algo mais que importa a Taisho-san agora, suponho.

—De fato, é a menina! — vovô Myuga se entusiasmou de repente — Tem sido muito mais fácil fazê-lo trabalhar desde que ela chegou!

—Perdão? — a juíza arqueou uma sobrancelha — Pensei que tivesse dito que até pouco tempo não havia nada que importasse a Taisho-san além de seu trabalho.

—De fato. — vovô Myuga tossiu em seu lenço — Mas Sesshoumaru só escreve o que quer e quando quer.

—Ele é o escritor, suponho.

—Sim meritíssima, mas os escritores tendem há ouvir um pouco mais seus editores, e Sesshoumaru… nunca me escutava, eu tentava lhe apresentar algum trabalho ou proposta e ele simplesmente declinava sem dar-me oportunidade de falar meia dúzia de palavras! Sempre foi um rapaz muito inflexível. — finalizou bufando, parece que estava se deixando levar e esquecendo o nervosismo. — Mas agora, desde que Rin chegou tudo o que preciso dizer é: se fizer isso o pagamento que receberá poderá ser bom para a menina, você tem uma filha para criar agora.

Em tempos passados, Rin teria acreditado que o pequeno e breve sorriso da juíza havia sido fruto de sua imaginação, mas após mais de um ano convivendo com Sesshoumaru-sama e suas sutis mudanças de expressão, ela sabia perfeitamente que não havia imaginado.

—Parece que ele está se dedicando bastante ao trabalho então.

—Ele até concordou em comparecer com mais frequências a sessões de autógrafo! — vovô Myuga confirmou orgulhoso.

—Então farei uma última pergunta antes de liberá-lo senhor.

—É claro meritíssima! — vovô Myuga concordou entusiasmado.

—Que gêneros de livros Taisho-san escreve?

Vovô Myuga se engasgou.

—Oh bem… a senhora sabe… — Ele tossiu mais um pouco com o lenço sobre a boca — Terror e suspense psicológico.

É claro que uma reação daquelas fez a juíza arquear a sobrancelha.

—Ah sim? — a caneta girou entre seus dedos — Está certo, muito obrigada por seu depoimento Nomi-san, pode voltar ao seu lugar.

—Obrigado meritíssima. — vovô Myuga inclinou a cabeça levantando-se.

E ao passar ele fez o impensável e inesperado gesto de sinalizar um “joinha” para Sesshoumaru-Sama!

Rin piscou surpreendida.

—Shimada Hidetaka. — a juíza convocou.

Rin lembrava-se de Shimada-san, ele também era um vizinho, tinha dois cachorros e morava na casa onde antes Sesshoumaru-Sama e a família haviam morado.

Às vezes ele pagava a Mariko para passear ou dar banho em seus cães.

—Shimada-san, pelo que me consta o senhor é vizinho dos Kimura.

—Há sete anos meritíssima.

—Bom. Então o que pode me contar a respeito do senhor e da senhora Kimura, sua falecida filha e a neta?

—Sim é claro, os Kimura sempre foram um casal muito querido e visivelmente amavam muito sua filha e neta, Mariko-chan era um moça esforçada e é claro que também foi nítido para todos o quanto os Kimura sofreram com sua morte precoce…

E assim, o depoimento de Shimada-san resumiu-se, basicamente, a um longo monólogo de quase quinze minutos de duração sobre os quão adorados e corretos eram os avós de Rin, com poucos espaços para as perguntas da senhora juíza e que a Rin pareceu-se bastante com as apresentações de trabalhos que ela fazia na escola, quando decorava as suas falas inteiras cerca de dez ou quinze minutos antes da apresentação e esquecia-as imediatamente depois.

—Muito bem, pode se sentar Shimada-san, e com isso dou por encerrado o depoimento de nossa última testemunha. — a juíza organizou sua papelada — Portanto agora devo informá-los que, por ordem da corte, um psicólogo infantil, visitou a menor duas vezes por semana durante sua estadia no lar provisório, e tenho aqui o relatório de suas conclusões.

Ela bateu com as costas das mãos no maço de folhas de papel no qual vinha mexendo e escrevendo desde o inicio da sessão.

Rin enrijeceu, pensando nas visitas do psicólogo infantil, todas as quartas-feiras e sábados.

—Não há nada para ficar nervosa e nem para ter medo, Rin-chan não fez nada de errado. — ele garantiu-lhe, tentando tranquilizá-la, logo depois de se apresentar. — Muitas pessoas se importam com você e nós, do juizado, estamos preocupados em qual pode ser a melhor decisão para a felicidade e o bem estar de Rin-chan, por isso eu estou aqui para conversar e fazer algumas perguntas, você entendeu, Rin-chan? — Rin assentiu silenciosamente — Ah, mas se não quiser conversar nem responder nada, pode só ficar em silêncio, tudo bem? Realmente não há porque ficar nervosa.

Rin assentiu novamente.

—Tudo bem, então vamos começar, Rin-chan, você pode me contar por que fugiu da casa de seus avós?

Mas ela havia ficado nervosa sim! Quer dizer, ela não queria falar nada de ruim sobre Sesshoumaru-sama ou seus avós, mas… também seria ruim se ela simplesmente ficasse em silêncio, não é?!

É claro que Rin sabia que ele também relataria tudo ao tribunal depois, mas durante aquele julgamento inteiro havia se esquecido completamente disso! Agora se sentia tão nervosa que estava a ponto de estrangular seu pobre ursinho de pelúcia.

—Portanto, levando em conta as informações que recolhi e as conclusões que tirei, eu gostaria agora de falar brevemente diretamente com as três partes envolvidas: o casal Kimura, Taisho-san e, é claro, Rin-chan. Não, fiquem onde estão. — ela os deteve erguendo a mão quando Sesshoumaru-sama e os avós de Rin fizeram menção de se levantar. — Primeiramente, Kimuras, quais suas razões para querer a guarda de sua neta agora?

—É… é claro que é porque Rin é nossa neta! — o avô de Rin respondeu desconcertado com a pergunta. — Ela tem que ficar com a família!

—Com a família, entendo. — a juíza repousou o queixo sobre os dedos entrelaçados — Eram nisso que estavam pensando quando deixaram à menor morar com um homem estranho, somente porque ele era supostamente o pai biológico?

—I-isso…! — gaguejou o avô. — As coisas não foram dessa forma, eu tentei arduamente…!

—Eu não sabia o que fazia na época! — a avó de Rin argumentou de repente — Estava doente de dor!

—Sim, já ouvi essa história. — a juíza concordou — E por que seria sensato de minha parte conceder a guarda de uma criança a um casal que não sabe o que faz?

—Meritíssima, por favor! — suplicou a avó de Rin — Minha querida neta é tudo que nos restou de Mariko!

—Meus pêsames pela sua perda. — A juíza inclinou a cabeça em direção aos avós de Rin, e então voltou-se para Sesshoumaru-sama — Taisho-san, quais suas razões para querer a guarda de Rin-chan?

—No inicio tive pena, creio, achei que Rin precisava de mim e vi-me incapaz de desfazer-me dela, mas depois percebi que era meu próprio desejo mantê-la junto a mim. Ela tornou-se minha filha e é natural a um pai querer proteger sua filha, creio.

—Ah sim? — a juíza arqueou uma sobrancelha — E por que seria sensato de minha parte conceder a guarda de uma criança a um homem solteiro de reputação e moral duvidosa?

—Se o problema é que eu seja solteiro, meritíssima, há um cartório a poucas quadras daqui onde certamente eu poderia resolver o assunto em minutos.

Sesshoumaru-sama declarou absurdamente, fazendo vários presentes, incluindo Rin, se engasgarem e o olharem com os olhos arregalados.

A juíza, no entanto, manteve-se impassível.

—E o que? Pegaria uma pessoa ao acaso na rua durante o caminho? — Sesshoumaru-sama deu de ombros, e a juíza voltou-se para Rin. — Rin-chan, o que tem a dizer? Sei que ama Taisho-san.

—Amo sim senhora! — respondeu prontamente.

—E também ama seus avós.

—Amo sim senhora! — repetiu.

—Muito bem. — a juíza anuiu e, após um instante de ponderação, pegou o martelo — Todos de pé. — ordenou batendo o martelo. — Darei agora meu veredicto.

Foi como se o salão inteiro prendesse a respiração, Rin sabia que pelo menos ela estava prendendo.

A juíza analisou todos os presentes friamente.

—Após tomar conhecimento de todos os aspectos desse caso e as partes envolvidas nele, eu estive mergulhada em longa reflexão a respeito do que seria melhor para Rin-chan e assim cheguei a minha conclusão. — uma pausa agonizante — Portanto, declaro agora que minha decisão é…

A juíza ergueu o martelo mais uma última vez, para decidir o destino de Rin.


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Notas finais do capítulo

E é isso, agora temos uma "pausa agonizante" como disse Rin, antes do veredito da juíza, então até a próxima pessoinhas ♥



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