De Repente Papai escrita por Lady Black Swan


Capítulo 28
Homem insensível.


Notas iniciais do capítulo

Todo mundo preparado? Por que olha... Hoje o caldo vai engrossar!

GLOSSÁRIO:

Natto: é um alimento tradicional japonês feito de soja fermentada, popularmente degustado no café da manhã.

Obentô: semelhante a nossa marmita, porém na versão japonesa. É normalmente uma porção para uma pessoa, servida em uma bandeja com repartições. Com vários tamanhos e formatos, há modelos caseiros simples ou elaborados ou modelos prontos vendidos em lojas de conveniência.

Onigri: Bolinhos de arroz com formato triangular.



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Tio Inuyasha achava que ultimamente Sesshoumaru-Sama andava um pouco estranho, a começar pelo dia em que ele sugerira a ela chamar Soten para dormir em casa.

Nessa noite Rin ficara tão feliz que sequer conseguia dormir.

Ela nunca antes havia dormido na casa de uma amiga ou convidado alguma para dormir em sua casa, e com certeza nunca pudera imaginar que uma ideia como aquela partiria de Sesshoumaru-Sama! Ele inclusive havia parado na loja de conveniências perto de casa — a mesma na qual comprara chocolate quente e café na noite de ano novo — para que Soten pudesse comprar roupa de baixo, uma escova de dente e “o que mais achasse necessário para passar a noite”. Talvez se tudo tivesse acontecido um pouco antes, ela poderia ter chamado Shiori para vir junto também. Mas quem sabe em outra ocasião?

—As duas podem dormir na cama de Inuyasha, são pequenas o bastante para caberem de forma confortável lá. — Sesshoumaru-Sama disse mais cedo a elas, quando chegavam ao apartamento.

Sango-chan havia se despedido de todos ainda no elevador e seguido para seu próprio andar.

—Tudo bem! — Rin concordou de imediato.

Tio Inuyasha, porém, não ficou satisfeito com o arranjo.

—Espere um pouco, Sesshoumaru! — ele protestou passando por elas — E onde eu vou dormir?!

Sesshoumaru-Sama parou com a chave na fechadura da porta do apartamento, por um momento, Rin achou que ele mandaria tio Inuyasha de volta para o sofá e esteve prestes a dizer algo, quando ele respondeu:

—Pegue o futon de Rin e leve-o para o meu quarto.

Tio Inuyasha parou.

—Você quer que eu durma no seu quarto? — estranhou — Você nem sequer abre a porta quando queremos falar com você.

—Eu preferia que você voltasse para o sofá. — Sesshoumaru-Sama respondeu com descaso — Mas tenho a impressão de que Rin não seria capaz de estar tranquila se eu fizesse isso. 

Ele olhou para Rin, parada ao lado de Soten logo atrás de tio Inuyasha no corredor, e então abriu a porta e entrou no apartamento.

—Espere Sesshoumaru! Espere um pouco! — tio Inuyasha o seguiu logo depois, tirando os sapatos às pressas — Você não estava escrevendo a história de um homem que matou o próprio irmão e escondeu os restos atrás de uma parede?!

—Estou no capitulo três. — Sesshoumaru-Sama confirmou — Ele matou-o enquanto dormia.

Ao seu lado Soten arregalou os olhos, mas Rin já estava acostumada com os tipos de história de Sesshoumaru-Sama.

—Prefiro voltar para o sofá. — tio Inuyasha afirmou pálido.

—Faça como quiser. — ele então se voltou para as duas — Rin. Você e sua amiga podem ir tomar banho, eu farei o jantar. — O jantar provavelmente seria carne de hambúrguer. — Empreste um de seus pijamas a ela.

—Claro Sesshoumaru-Sama. — Rin pegou Soten pela mão — Vamos Soten!

No fim das contas o jantar não foi carne de hambúrguer… ao invés disso Sesshoumaru-Sama ligou para um restaurante que fazia entregas a domicilio e pediu quatro porções de ramen.

Bem, pelo menos não era ramen instantâneo.

—Rin. — Soten a chamou aos sussurros na calada da noite — Você já está dormindo?

—Não estou. — Rin respondeu, embora não soubesse por que elas estavam sussurrando.

—O seu pai parece um homem assustador. — Soten lhe confessou.

Rin encarou o teto por algum tempo.

—Parece. — concordou — Mas ele é muito gentil.

A gentileza de Sesshoumaru-Sama podia até ser difícil de notar, mas ela estava lá, ele sempre comprava pudim e sorvete para ela, ele a levava e a buscava na escola todos os dias, ele fora ao hanami e ao seu evento esportivo mesmo odiando esse tipo de coisas, ele a deixava dormir em sua cama quando ela tinha pesadelos, ele segurava sua mão ou a carregava para que ela não se perdesse em locais com muitas pessoas, ele sempre deixava tudo cortado e limpo na geladeira para facilitar o trabalho dela, ele nunca a deixava carregar coisas muito pesadas, ele sempre fazia questão de levar ele mesmo as roupas para lavar, ele arrumava seus cabelos todas as manhãs e havia comprado vários broches, fitas e prendedores coloridos para isso, e dava a ela jogos, bonecos, e pelúcias sem a menor razão.

Ele dera aquele medalhão para Mariko.

E ele nunca dissera que sua mãe morrera por sua culpa.

—Realmente não tem problema eu estar aqui? — Soten perguntou depois de algum tempo. — O seu tio...

—Ele vai ficar bem. — Rin garantiu — Não se preocupe Soten, Sesshoumaru-sama e tio Inuyasha são sempre assim um com o outro, mas Sesshoumaru-Sama não mataria tio Inuyasha.

—Hã… certo. Obrigada. — Rin sentiu Soten remexer-se um pouco ao seu lado — Mas ainda assim ele parecia bravo, não parecia? Digo… ele teve que sair do quarto por minha causa...

—Está tudo bem Soten, não precisa se preocupar com isso, é só por uma noite. — Rin prometeu — Além do mais, pelo menos dessa vez ele pôde ficar em um quarto com um futon.

—O que quer dizer?

Rin bocejou.

—Tio Inuyasha esteve dormindo por quase meio ano no sofá depois que cheguei. — contou sonolenta. — Boa noite, Soten.

—Eu estou feliz de ter vindo. Meu irmão e eu vivemos em um apartamento de um quarto só… e às vezes quando ele trabalha até muito tarde eu fico assustada e não consigo dormir. — Soten confessou baixinho — Obrigada Rin, boa noite.

Tio Inuyasha nunca acordava cedo aos domingos, mas daquela vez ele havia feito uma exceção porque o frio no quarto de Sesshoumaru-Sama era muito intenso e ele não conseguira dormir direito… ou porque ele fora acordado com um chute nas costelas, tudo dependia de em qual versão você escolhia acreditar.

—Você é realmente incrível Rin! — Soten a elogiou, sentada à mesa ao lado de tio Inuyasha que ainda massageava as costelas, ela mesma havia acordado no instante em que Rin tentara sair da cama. — Prepara o desjejum, o próprio obento e o jantar todos os dias!

—Obrigada. — Rin agradeceu encabulada. — Mas realmente não é nada demais...

—É sim! — Soten insistiu e, parecendo um pouco sem jeito admitiu — Eu não consigo sequer fazer onigris decentes para o meu irmão.

—Não se preocupe, é apenas uma questão de pratica. — Rin sorriu-lhe trazendo o bule de chá até a mesa.

Naquele dia ela havia decidido fazer um desjejum mais simples, e prepara uma porção de arroz na panela elétrica para que todos comessem com natto, acompanhados de sopa misô e chá verde, Soten havia se oferecido para ajudá-la, mas Rin havia preferido que ela se sentasse e esperasse junto com seu tio, afinal ela era a visita ali, mesmo porque originalmente o seu objetivo era já ter a mesa posta para todos quando eles acordassem, mas então Soten e tio Inuyasha, por um motivo ou outro, haviam se levantado inesperadamente cedo.

Ela não sabia se Sesshoumaru-Sama viria comer, mas havia posto seu lugar à mesa mesmo assim.

—Rin. — Sesshoumaru-Sama a chamou chegando à cozinha.

E assim que ela olhou, foi surpreendida pelo flash da câmera do celular dele.

 —Para que foi isso? — perguntou piscando surpresa.

—Inutaisho e Izayoi estão me enchendo por uma foto sua há semanas, acho que querem uma prova de que ainda está viva. — respondeu já indo embora novamente, enquanto mexia no celular.

Aquilo talvez tenha sido um pouco estranho, mas ninguém deu atenção.

—Sãos os meus avós. — explicou para Soten.

E então o Senhor Porteiro ligou para avisar que o irmão de Soten, Hiten-san, estava ali para buscá-la, e ao invés de Sesshoumaru-Sama a mandar se trocar e arrumar suas coisas para descer ou, no máximo, a acompanhar até a portaria, ele disse que Hiten-san podia subir.

Isso sim foi muito estranho.

Tão estranho que, quando Sesshoumaru-Sama foi atender à porta, Rin e seu tio correram para espiá-lo, Soten acabou indo junto também, provavelmente muito mais por estar apenas seguindo-os do que realmente por curiosidade.

—Muito obrigado por ficarem com minha irmãzinha. — eles ouviram Hiten-san dizer — Me desculpe pelo incomodo.

—Não foi incomodo algum, Rin ficou feliz. — Sesshoumaru-Sama respondeu — Gostaria de entrar?

Rin ficou tão surpresa que pisou no pé do tio, mas se um dos dois o ouviu reclamando de seu dedinho, ignoraram.

—As meninas ainda não terminaram de comer, entre e espere um pouco. — Sesshoumaru-Sama o convidou — Prefere chá ou café?

Quando os três perceberam que Hiten-san e Sesshoumaru-Sama estavam vindo eles voltaram correndo para cozinha o mais rápido possível e tentaram agir da forma mais natural possível, mas Rin acabou sentando no lugar de tio Inuyasha — que já havia praticamente terminado de comer —, tio Inuyasha sentou-se no lugar de Soten, e Soten sentou no lugar de Sesshoumaru-Sama — que nem sequer fora servido ainda.

—Escute Rin, você não acha que Sesshoumaru tem andado estranho? — seu tio lhe perguntou muitas horas mais tarde, quando os dois faziam compras no mercado.

—Não. — Rin respondeu sem hesitar ao seu lado.

—Nem um pouquinho?

—Não.

—Certo. — seu tio concordou lentamente, e estalou a língua — Tudo bem. Passe aquele pacote de batatas? Não, o maior. O maior. Isso, esse aí.

—O senhor sabe que um pacote maior só quer dizer mais ar dentro, não é? — ela entregou as batatinhas ao tio.

Seu tio deu de ombros.

—Me deixe sonhar pirralha. — e jogou o pacote no carrinho.

Rin hesitou.

—Tio Inuyasha… o senhor acha mesmo que Sesshoumaru-Sama está agindo estranho?

—Talvez um pouco, essa manhã foi bizarra. — Tio Inuyasha deu de ombros — Mas e daí? Se os alienígenas que o levaram quiserem ficar com ele, que fiquem, ao menos a cópia que eles deixaram não tentou me matar enquanto dormia.

Rin olhou zangada para o tio.

—Tio Inuyasha, eu estou falando sério! — repreendeu-o.

—Tudo bem, tudo bem. — ele suspirou — E que tal assim: quando voltarmos, nós o amarramos e o arrastamos para o hospital, para ele fazer uma tomografia.

Uma tomografia? Isso era um exame de cabeça, não é? Tinha alguma coisa errada com a cabeça de Sesshoumaru-Sama? Sesshoumaru-Sama estava doente?

—Sesshoumaru-Sama vai morrer? — Rin perguntou com os olhos enchendo-se de água.

De repente tio Inuyasha arregalou os olhos.

—Oh droga! — ele afastou-se as pressas do carrinho de compras e esfregou a ponta da camisa no rosto dela, tentando desajeitadamente secar suas lágrimas — Rin eu estava brincando, ok? Foi só brincadeira!

Ele olhou de um lado para o outro quase parecendo em pânico, e a segurou firmemente pelos ombros, ajoelhando-se para olhá-la nos olhos.

Rin fungou.

—Sesshoumaru-Sama não vai morrer?

—Ele está bem, não há nada de errado com ele. — garantiu — Está tudo bem Rin, no máximo ele só deve estar planejando alguma coisa.

Rin estava aliviada pelo pai não estar prestes a morrer, mas ela não gostou de pensar na possibilidade de ele estar planejando alguma coisa, e só estar “se comportando” para fazer com que todos baixassem a guarda para que ele pudesse se livrar dela quando menos esperassem.

Era mentira. Rin irritou-se. Sesshoumaru-Sama não queria se desfazer dela.

Ela abriu a boca, pronta a defendê-lo.

—Inuyasha? — uma moça com uma cesta de compras chamou aproximando-se deles.

Tio Inuyasha levantou-se praticamente com um pulo.

—Kikyou! — exclamou. — Você também faz compras nesse mercado?

Rin mordeu o lábio inferior, onde ela já tinha ouvido aquele nome antes?

—Ás vezes. — Kikyou deu um sorrisinho — Que mundo pequeno, não é?

—Com certeza! — Tio Inuyasha concordou de imediato.

Rin inclinou a cabeça de lado, bem, quem estava agindo estranho agora?

—E essa é a sua irmãzinha? — Kikyou perguntou e Rin voltou sua atenção novamente para ela.

Ela sabia que já havia ouvido esse nome em algum lugar antes, mas onde?

—Essa é minha sobrinha, Rin. — tio Inuyasha apresentou — Rin, essa é Kikyou, nós estudamos juntos.

Kikyou estendeu-lhe a mão.

—É um prazer conhecê-la, Rin.

Foi quando Rin viu a pulseira com pingente de flor em seu pulso, e finalmente deu-se conta de onde conhecia aquele nome, Kikyou era a outra garota para quem tio Inuyasha entregara uma pulseira idêntica à de Kagome-chan no dia branco.

—Essa pulseira...

—Ah. — Kikyou sorriu — Foi seu tio quem me deu, ele não é uma graça?

Rin viu seu tio ocultar um sorriso por detrás da mão, e cerrou os olhos.

—É um grande idiota. — afirmou.

Kikyou arregalou os olhos, tio Inuyasha engasgou-se.

—R-Rin por que você não vai… pegar uns mashmallows?! — seu tio adiantou-se a empurrando pelos ombros para longe.

Rebelde Rin virou-se novamente, pondo as mãos nos quadris e batendo o pé.

—Porque estamos aqui para fazer compras para casa, e não para nos enchermos de besteiras!

Tio Inuyasha gemeu.

—Então vá… pegar alguns ovos!

—Produtos refrigerados só devem ser pegos no final das compras para conservar o frescor. — o contradisse — Eu vou pegar espaguete.

—Céus! — ouviu seu tio suspirar ao passar por ele.

—Ela é uma criança muito inteligente, não é? — ainda ouviu Kikyou elogiá-la — Quantos anos ela tem?

—Tem nove...

Mas logo Rin começou a sentir-se envergonhada e culpada por ter agido daquela maneira, Kikyou não parecia uma má pessoa afinal, e ainda assim Rin havia sido muito grosseira com ela sem motivo algum. Se Mariko estivesse ali ela a teria feito curvar a cabeça e pedir desculpas, o avô também, ele a arrastaria de volta e arrancaria um pedido de desculpas seu de qualquer jeito.

Mas seu avô não estava ali, e tampouco Mariko, e Rin era teimosa demais para voltar e pedir desculpas na frente do tio, porque ainda estava brava com ele.

No entanto, uma semana depois ela já havia se esquecido disso, até que ouviu Sesshoumaru-Sama dizer:

—Inuyasha fique com Rin, eu vou sair.

E isso poderia significar que ele iria até a loja de conveniências e voltava logo ou que iria até Kyoto e deveria voltar talvez no mês que vem, mas como Sesshoumaru-Sama havia prometido que não viajaria mais sem avisá-la, ele provavelmente não iria a nenhum lugar tão longe dessa vez.

—O que?! Droga Sesshoumaru eu não posso ficar com Rin! — ouviu tio Inuyasha responder — Eu vou sair agora também!

Atraída pelas vozes, Rin abriu a porta e espiou para fora do quarto.

—Leve ela junto, seus amigos gostam mais dela do que de você. — Sesshoumaru-Sama solucionou facilmente.

Seu pai estava no corredor, logo em frente à porta do quarto, enquanto tio Inuyasha estava em frente ao banheiro, só de toalha e ensopando tudo aos seus pés, Rin fez uma careta, era melhor ele secar aquilo depois!

—Não...! Eu não vou sair com eles.

Tio Inuyasha reclamou entre os dentes, tirando a atenção que Rin mantinha no chão molhado e de volta para a discussão.

Mas se ele não ia sair com Kagome-chan e os outros então com quem ele ia sair?

Rin olhou para Sesshoumaru-Sama, esperando que ele perguntasse isso, mas ou ele não acreditou, ou simplesmente não deu à mínima, o que era mais provável ainda, e simplesmente deu meia volta e começou a se afastar.

—Droga Sesshoumaru eu estou dizendo que não posso ficar com Rin hoje! — tio Inuyasha o seguiu irritadamente, deixando um rastro molhado onde passava.

Rin os seguiu.

—Não se atreva a deixá-la só em casa, ou eu acabo com a sua raça. — Sesshoumaru-Sama parou para calçar os sapatos.

—Mas que droga, a filha é sua! — tio Inuyasha gritou indignado quando Sesshoumaru-Sama saiu fechando a porta atrás de si

Rin parou ao lado do tio.

—Aposto que o senhor gostaria que agora mesmo já fosse verão, quando o Sesshoumaru-Sama não sai de casa nem por ordem divina, não é tio Inuyasha? — comentou — Então… o senhor vai secar tudo depois, não é?

Tio Inuyasha a olhou e passou a mão em sua cabeça.

—Você já é grandinha o bastante para ficar sozinha um pouco, não é Rin?

—Acho que sim. — Rin deu de ombros. — Mas o Sesshoumaru-Sama disse que...

—Ótimo! — tio Inuyasha virou-se e correu de volta para o banheiro, segurando a toalha, e só por um milagre não escorregando e caindo. — Se você ficar com medo pode subir até o apartamento de Sango!

Rin foi atrás

—Mas aonde o senhor vai que não pode me levar? — perguntou desconfiada.

—Boliche!

—E por que não...?

—Maldição! Eu vou me atrasar! — ele fechou a porta do banheiro com um baque.

E no fim saiu de casa sem secar o chão também.

Rin secou tudo e depois colocou também seu futon na varanda para pegar um pouco de sol.

Ela não sabia se algum dos dois voltaria para o almoço, mas decidiu fazer o bastante para todos, se sobrasse ela poderia aproveitar para o jantar, o que acabou descobrindo ser a decisão correta quando, ainda enquanto a comida estava no fogo, alguém bateu na porta.

—Eu já vou! — respondeu saltando de seu banquinho e correndo até a porta, mas deteve-se com a mão a centímetros da maçaneta, e recuou um passo — Quem é?

Era muito importante lembrar de que ela estava sozinha em casa, segurança era importante.

—Sou eu Rin-chan. — Kagome-chan respondeu do outro lado — Eu perdi minhas chaves.

—Kagome-chan! — Rin abriu a porta no mesmo instante — Ah, o tio Inuyasha não está.

—Eu sei, e Sesshoumaru também não, não é? — Kagome-chan sorriu entrando — Inuyasha me mandou uma mensagem, ele me disse que Sesshoumaru saiu e a deixou com ele, mas ele precisou sair também, e como você provavelmente seria teimosa demais para subir e ficar com Sango, ele pediu-me para vir ficar com você um pouco.

—Tio Inuyasha me disse para subir se eu ficasse com medo. Eu não estou com medo. — Rin contou. — Eu estava fazendo o almoço agora.

—Que ótimo, podemos comer juntas, e eu trouxe meus esmaltes então depois podemos pintar as unhas uma da outra também.

—Eu nunca pintei as unhas antes! — Rin exclamou animada.

Rin e Kagome-chan almoçaram juntas, e depois ela a ajudou guardar novamente o futon, mas quando Rin lembrou-se de que unhas pintadas eram contra o regulamento da escola, Kagome-chan sugeriu que elas pintassem apenas as unhas dos pés, porque assim os sapatos as esconderiam e elas não teriam problemas. Assim Rin pintou as unhas dos pés de Kagome-chan de verde, enquanto Kagome-chan pintou suas unhas com um brilhante tom de laranja.

Uma leve chuva havia começado a cair e as duas ainda estavam esperando o esmalte secar quando tio Inuyasha chegou.

—Mas o que vocês duas estão fazendo? — ele perguntou ao vê-las sentadas nos sofá com os pés sobre a mesinha de centro.

—Tio Inuyasha! Nós pintamos as unhas! — Rin sorriu-lhe.

E Kagome-chan, virando-se com um sorriso maior ainda, disse:

—Inuyasha, eu acho que o vermelho combinaria com você!

Tio Inuyasha arregalou os olhos.

—O que? Não! Nem pensar!

Mas antes que ele pudesse fugir, Rin e Kagome-chan correram até ele e o capturaram, agarrando-se, cada uma, a um de seus braços e em meio a risadas arrastando-o até o sofá sob protestos.

—Rin, lixe as unhas das mãos eu vou passar a base nas unhas dos pés. — Kagome-chan ordenou.

Rin fez uma continência.

—Sim capitã!

—Mas que droga! — tio Inuyasha reclamou já rendido — Mas tirem tudo antes do Sesshoumaru chegar!

—Não se preocupe Inuyasha. — Kagome-chan sorriu — Eu vou tirar uma foto para mostrar a ele.

Tio Inuyasha ficou com o rosto vermelho de raiva.

—Kagome sua...!

—Essa é uma ótima ideia! — Rin apoiou animada.

—O que? Não Rin! Nada de fotos...!

—Fique quieto Inuyasha! — Kagome-chan ordenou.

E tio Inuyasha congelou como uma estátua enquanto Kagome-chan e Rin pegavam os vidros de esmalte e começavam a pintar as primeiras unhas.

—Que droga Kagome, por que você tem dois vidros de esmalte vermelho?!

—Não são o mesmo vermelho Inuyasha. Este. — ela indicou o vidro em sua mão — É vermelho escuro. E o de Rin é vermelho cereja.

—Feh. É tudo vermelho!

Tio Inuyasha virou a cara.

—Então, tio Inuyasha, o boliche foi divertido? — Rin puxou conversa depois de alguns instantes.

—Foi. — seu tio respondeu sem mover um músculo sequer além dos da face — Kikyou conseguiu fazer um strake e...

Mas então, por alguma razão, ele parou de falar de repente e olhou para Kagome-chan.

Kagome-chan ergueu os olhos lentamente.

—Kikyou? — repetiu suavemente. — Você estava com ela?

Rin achou ter visto seu tio engolir em seco.

—Sim, mas...

—Então foi um encontro? — Kagome-chan perguntou ainda com aquele mesmo tom suave de antes, mas que agora estava começando a parecer meio assustador também, e inclinou a cabeça levemente de lado.

—Kagome se eu puder explicar...

—Ah Inuyasha, está tudo bem, você não me deve explicação alguma. Não somos nada um do outro afinal. — aos ouvidos de Rin as palavras de Kagome-chan pareciam soar cada vez mais vazias enquanto ela começava a recolher e guardar suas coisas, embora parecesse ter esquecido o vidro de esmalte que ainda estava com Rin. — Você tinha um encontro com Kikyou e precisava de uma babá para Rin. Então me chamou. Simples assim.

Rin fez uma careta.

—Eu não preciso de babá, não sou um bebê! — protestou.

Mas nenhum dos dois pareceu escutá-la. E, de repente, Kagome-chan colocou-se de pé.

—Eu vou para casa. — anunciou solenemente, para o espanto de Rin e seu tio.

Afinal Kagome-chan nunca havia anunciado tão repentinamente que iria para casa, ela sempre ligava antes para virem buscá-la e então esperava até que o carro chegasse.

—Você não precisa ir! — tio Inuyasha levantou-se e saiu atrás de Kagome-chan — Kagome se você me escutar...! Droga Kagome espere!

Rin correu atrás do tio.

—Eu vou para casa. — Kagome-chan repetiu ainda usando aquela mesma voz monótona enquanto calçava as sandálias sem tomar qualquer cuidado com as unhas recém-pintadas. Mas antes de ir embora, ela ainda virou-se uma última vez — Da próxima vez chame Sango. Ela mora apenas três andares acima.

E então fechou a porta com tanta força que, na cabeça de Rin, foi como se o prédio todo houvesse estremecido.

Tio Inuyasha sentou-se no chão, apoiando a cabeça entre as mãos e dando um longo suspiro. Rin aproximou-se e tocou seu ombro cautelosamente.

—Tio Inuyasha?

Seu tio levantou-se tão repentinamente que Rin pulou para trás com o susto e, sem dizer nada, ele também calçou os sapatos e saiu.

Mas a chuva havia ficado mais forte lá fora… e nenhum dos dois havia levado um guarda-chuva então Rin, preocupada, pegou o guarda-chuva preto de Sesshoumaru-Sama — que era o maior e mais pesado no porta-guarda-chuva ao lado da porta — e correu atrás de ambos.

Mas ainda assim ela só conseguiu alcançá-los já na rua.

Rin ainda ouviu o tio chamar por Kagome-chan, mas ou ela não o ouviu ou simplesmente o ignorou. Ambos eram possíveis, a chuva era barulhenta e Kagome-chan estava muito irritada.

—Mas que droga! Por que sempre tem que estar chovendo nessas horas?! — seu tio praguejou e, erguendo ainda mais a voz tentou novamente, ao mesmo tempo em que esticava a mão para alcançá-la: — Kagome espere! Você não entendeu!

Dessa vez, tendo seu braço sendo segurado, Kagome-chan parou e virou-se:

—Então me explica!

Com o susto tio Inuyasha a soltou na mesma hora, por causa da chuva Rin não tinha certeza se Kagome-chan estava chorando, porém seus olhos estavam muito vermelhos, mas ela respirou fundo e começou a falar calmamente:

—Eu estou apaixonada por você Inuyasha. — imediatamente Rin sentiu as faces se aquecerem com o rubor que se espalhava e soube que não deveria estar ali ouvindo aquilo — E eu sei que isso não é problema seu e que nós nunca tivemos nada realmente, mas eu achei… eu achei que você também gostasse de mim. Você sempre procurava por mim antes de todos, reclamava nos dias em que eu não vinha à sua casa, me ligava e mandava mensagens todos os dias, a todo instante, por qualquer mísero motivo que fosse, sempre implicava com Kouga quando ele se aproximava de mim… mas acho que entendi os sinais de maneira errada, não foi?  Fui uma tola, me desculpe. — ela deu um sorriso triste — O que você quer de mim afinal Inuyasha? Apenas que eu esteja sempre disponível, vinte e quatro horas por dia para atender cada uma das suas vontades? Sango mora somente três andares acima do seu, e eu sei que ela está livre hoje, por que teve que chamar justamente a mim para ficar com Rin enquanto você ia a um encontro? E se realmente acha que não fez nada de errado, por que tentou esconder? E por que veio atrás de mim agora? Afinal qual é a sua?!

Ela bateu o pé no chão, e tio Inuyasha deu um passo à frente.

—Kagome...

Mas Kagome-chan ergueu a mão e balançou a cabeça.

—Você sempre chamou Sesshoumaru de idiota insensível, não foi? Bem, parece que vocês são realmente irmãos. — ela suspirou, afastando para trás os cabelos ensopados e grudados no rosto, mas por que ela estava falando de Sesshoumaru-Sama? — Tudo bem Inuyasha, eu só preciso de um tempo.

Dessa vez tio Inuyasha não tentou a impedir de ir embora e enquanto se afastava Kagome-chan ergueu o abraço e começou a acenar, primeiro Rin achou que ela estava chamando um táxi, até que reconheceu o carro de Sesshoumaru-Sama descendo a rua que, ao avistá-la, diminuiu a velocidade, encostou ao lado de Kagome-chan e baixou o vidro para falar com ela, enquanto Rin e o tio assistiam ainda parados no mesmo lugar debaixo da chuva, assim Kagome-chan inclinou-se e falou por um instante com Sesshoumaru-Sama e logo depois abriu a porta de trás do carro e entrou para que ele fizesse o retorno e a levasse embora dali.

Rin teve a impressão de que a chuva estava começando a fraquejar agora, e sem dizer nenhuma palavra, tio Inuyasha enfiou as mãos nos bolsos e deu meia volta para retornar ao prédio. Ele nem a notou ali.

Quando se estava ensopado e tremendo de frio não havia nada melhor do que um bom banho quente, mas aparentemente seu tio teve a mesma ideia, pois quando Rin voltou ao apartamento ele já havia se trancado no banheiro, ela cogitou a ideia de esperar até que ele saísse, mas estava molhada e tremendo então, ao invés disso, foi para o quarto se secar e trocar, e como seus cabelos estavam pingando — e o secador estava trancado no banheiro — ela enrolou uma toalha na cabeça. E ainda gelada e tremendo enfiou-se na cama do tio, onde se encolheu de frio e acabou adormecendo.

E só acordou horas mais tarde quando a toalha foi puxada de sua cabeça.

—O que faz dormindo com essa coisa molhada na cabeça? — Sesshoumaru-Sama perguntou asperamente — Está doente?

Ele, no entanto, não fez absolutamente nenhuma menção de aproximar-se e medir sua temperatura encostando a testa à sua — como Mariko sempre fazia — ou mesmo de simplesmente tocá-la e, ao invés disso, afastou-se dando um passo para trás.

—Não estou. — negou sentando-se.

—É hora do jantar. — Sesshoumaru-Sama a avisou.

Rin acenou ainda sonolenta, e sentiu como se a cabeça oscilasse leve sobre seus ombros.

—Tudo bem, eu já vou cozinhar...

—O jantar já está pronto, Rin. — Sesshoumaru-Sama a avisou — Apenas venha comer.

Logo ela descobriu porque Sesshoumaru-Sama havia feito o jantar: seu tio não estava em casa.

Mas Sesshoumaru-Sama não o mencionou e tampouco ela perguntou por ele, queria perguntar sobre Kagome-chan, se ela ainda estava muito triste e se deixaria de visitá-los de novo, como antes, mas teve medo.

E sua garganta estava coçando.

Kagome-chan estava apaixonada por tio Inuyasha, Rin sentia o rosto quente só em lembrar-se de ouvi-la dizendo isso, e ela achava que seu tio gostava de Kagome-chan também, e que um dia ele diria isso a ela e os dois se tornariam namorados, e depois se casariam e seriam felizes… então por que ele a fizera chorar e ficar tão triste?

Aquela expressão machucada… Rin nunca vira Kagome-chan fazer uma cara como aquela… era porque seu coração estava triste? E ela havia dito que tio Inuyasha era um idiota insensível assim como Sesshoumaru-Sama, então… Mariko também havia feito esse tipo de cara quando Sesshoumaru-Sama foi embora?

Rin agarrou o medalhão em seu pescoço e apertou-o com força.


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Notas finais do capítulo

Hellou! Como vão vocês? Aposto que pensaram que o "homem insensível" do título era o Sesshoumaru, não é?! XD

CURIOSIDADES DO JAPÃO!

Konbini, as lojas de conveniência do Japão:
Muito populares por todo território (há praticamente uma em cada esquina) pode encontrar de tudo um pouco nas lojas de conveniência do Japão, desde comida (de pratos prontos (obento) a enlatados) até todo tipo de bebida incluindo alcoólica e bebidas quentes enlatadas ou engarrafado. Também é possível encontrar sorvetes, cigarros, artigos de higiente, cosméticos, medicamentos básicos, guarda-chuvas, revistas, mangás… em fim a variedade de coisas é enorme! Também é possível comprar selos, postar cartas, ou enviar encomendas. Além de ser possível pagar várias contas nas Konbinis (água, luz e gás) e, através de caixas eletrônicos, realizar saques, depósitos e transferências bancárias. Algumas também oferecem serviços como venda de ingressos para cinemas, shows, parques de diversão e até passagem de ônibus. Tudo isso as fazem um serviço indispensável na terra do sol nascente!



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