O Olho de Jade escrita por xPrimrose


Capítulo 19
Eve


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo saiu bem grandinho, espero que gostem dele ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/713746/chapter/19

Eve acordou com Shae chamando-a. Aparentemente o capitão havia dito que eles iriam para o navio em vinte minutos e ela precisava se arrumar.

Enquanto trançava seus cabelos, pensava no dia anterior. Agora que as coisas já haviam passado, não entendia o que a levara a agir daquela forma. Estava certa que um pouco era por conta do aviso de Cersey, mas havia outro sentimento envolvido, algo que ela não conseguia entender. Só sabia que não confiava naquele homem, de uma forma ou de outra sabia que ele as arrastaria para algo que mudaria a vida delas, algo que não as permitiria voltar ao que era antes. Ainda assim, tinha dito a Shae que fingiria que gostava dele e era isso que faria.

Enquanto tirava sua blusa para colocar outra, ela viu mais uma vez o presente que Kaylan lhe dera em seu pescoço. O pingente brilhava com a luz do Sol que se infiltrava pelas pequenas janelas. Novamente voltou a pensar no garoto, o que estaria fazendo?  Por um tempo ele estivera longe de seus pensamentos, mas agora ela ansiava novamente por estar em seus braços.

— Quando tudo isso acabar, eu vou voltar para você — ela sussurrou para si mesma, apesar de saber que era uma mentira, aquilo a confortou um pouco.

Quando tudo isso acabar... Ela nunca mais veria Shae, não era? Aquilo a entristeceu um pouco mais. Apesar de estarem sempre brigando e serem tão diferentes quanto possível, ela sabia que sentiria falta da garota e sairia desolada quando ela morresse.

Elas adentraram pela cidade, passando pela antiga hospedaria onde tinham passado a outra noite, esta estava completamente queimada. Fumaça ainda saia de alguns lugares. A porta principal, antigamente verde e alegre estava completamente carbonizada e havia sido arremessada para o outro lado da rua. A dona do estabelecimento ainda rondava por ali, os olhos vermelhos e o rosto marcado pelas lágrimas. Eve desviou o olhar daquela cena.

 — Você teve uma visão com isso? — Shae sussurrou de modo que mais ninguém ouvisse

Ela concordou, sem conseguir falar. Sua garganta estava fechada pelas lágrimas que teve que reprimir.

— Por que não me disse? Poderíamos ter tirado as pessoas dali.

Eve lembrou de sua visão. As chamas lambendo o corredor, uma criança correndo e tropeçando, sendo consumida pelo fogo logo em seguida. Uma mulher gritando enquanto o marido ficava trancado no quarto sem conseguir sair.

— Não posso intervir nas minhas visões, já disse.

— Alguém se machucou?

— Muitos morreram. — Sua voz estava fraca. As palavras de Shae pesavam e ela sentia a culpa se reunir em torno dela.

— Poderíamos ter salvo eles.

— Havia uma quantidade de pessoas destinadas a morrer aquela noite, se eu as tivesse salvo, a morte daria outro jeito de conseguir a mesma quantidade de almas e seria pior, acredite em mim. — Ela começou a andar mais rápido, ficando ao lado de Erickson, para encerrar a conversa.

Ainda assim conseguiu ouvir Shae reclamando sobre o porquê de ter visões se não podia salvar os outros. Eve se sentia da mesma forma e se sentiu mal ao perceber a ironia que pairava sobre a morena enquanto ela dizia aquilo.

Quando chegaram ao porto, Eve ainda pensava nisso. Mas sabia que se quisesse continuar precisava olhar para frente, para os objetivos de Shae e esquecer suas consequências.

O navio de Erickson era enorme. Inteiramente pintado de vermelho, por dentro e por fora. Era cheio de cabines e Eve entrou nele o mais rápido possível. Não aguentava mais ficar no Quarto Reino, só tinha lembranças ruins daquele lugar e queria se distanciar dali logo.

Não deu dois passos para dentro da embarcação e logo foi acometida por um súbito enjoo e desmaiou.

 

 Eve estava num quarto enorme. Havia uma cama com lençóis rosa e uma penteadeira branca, além de livros de histórias infantis. Um garoto estava sentado numa cadeira, Eve se aproximou e reconheceu aqueles olhos cinzentos: Ely. Sua pele estava mais pálida do que nas outras vezes em que ela o vira. Ele mantinha o olhar na cama.

Eve se virou para lá e percebeu o que ele tanto olhava. Sob os lençóis havia uma garotinha, não devia ter mais de dez anos. Os cabelos completamente negros estavam bem escovados. Seus olhos estavam fechados e a boca descorada, a pele era branca como papel. Eve se aproximou, a menina dormia um sono inquieto, se mexia de um lado para o outro e seus olhos, fechados e envoltos em grandes olheiras, também não paravam de se movimentar. Ela suava e parecia doente. Havia manchas amareladas e arroxeadas em várias partes de seu corpo.

Eve começou a ouvir um choro, voltou-se para Ely. Ele tinha se levantado e se aproximado da menina, segurando sua mãozinha.

— Anna, você vai ficar bem. Eu prometo. Estou fazendo todo o possível, você sabe que sim. Olhe o que eu estou fazendo para salva-la. Aguente mais um pouco, só mais um pouco.

Os olhos da menina se abriram de repente e ela se sentou. Começou a tossir e sangue saia de sua boca a cada vez que ela fazia isso, manchando os lençóis. Ela olhou para Ely, com o sangue escorrendo de sua boca.

— Eu sei. — Sua voz era fraca e rouca.

Eve estava assustada em ver aquilo. Finalmente percebeu que estava no meio de uma visão. Apesar de saber que Ely não sentiria isso, tocou em seu ombro, tentando amparar o garoto que a havia ajudado tanto.

Ela sentiu quase uma onda de energia passando sobre ela, sentiu o medo do garoto naquele instante, o quanto ele estava assustado com a hipótese de a irmã morrer, sentiu a vontade de chorar e até mesmo raiva, além de outros sentimentos que ela só podia classificar como malignos. E, acima de tudo, sentiu o desespero dele.

Ela não aguentou, caiu no chão e começou a chorar. Não imaginava que Ely estivesse passando por tudo isso.

 

Seus olhos se abriram e Eve estava num quarto diferente. Era todo pintado de vermelho.

— Até que enfim, Eve. — Shae a observava, preocupada. Abaixou a voz. — Teve outra visão?

— Sim.

Não queria contar a visão que tivera para Shae. Sabia que ela ficaria abalada ao saber que o namorado não estava bem. Não queria isso.

— Vai me contar o que era?

Eve negou com a cabeça. E voltou a virar para o lado, cobrindo a cabeça com o lençol.

— A tripulação vai dar uma espécie de festa daqui a pouco, no horário do jantar. Acho que isso pode te animar.

— Jantar? Ainda é de manhã, Shae.

— Na verdade, você passou dois dias desmaiada.

Dois dias? Isso não era possível, ela nunca havia ficado mais que umas poucas horas nesse estado. Mas ela sabia que as cosias estavam mudando. Percebera isso com essa visão: todas as outras mostravam algum acontecimento muito trágico, dessa vez, porém, fora uma cena carregada de emoção, mas não algo que deixasse os nervos a flor da pele.

E tivera aquela coisa com Ely. Ela tocara em sua imagem e sentira o que ele estava sentindo. Fora a coisa mais estranha que já tinha acontecido.

— Tudo bem então. — Ainda estava atordoada. — Vou tomar um banho e já vou.

— Você está bem? De verdade?

— Estou, afinal, não é a primeira visão que tenho, não é mesmo?

Shae sorriu, mas Eve percebeu que não era um sorriso de verdade, estava carregado de insegurança. Aquela imagem combinava com ela, seu futuro era tão inseguro quanto seu sorriso.

Depois de tomar um banho gelado no navio, ela colocou outra roupa de Shae e aproveitou as bacias de água para lavar a que usara antes.

O vestido tinha ficado um pouco grande, mas estava ótimo. Na verdade, queria usar seu antigo, branco, mas tinha certo receio de fazer isso e ser reconhecida, apesar de achar impossível.

Enrolou as mangas compridas e saiu do quarto. Havia um grande salão no andar de baixo do navio, parecia o lugar onde eles faziam as refeições, mas naquela noite as enormes mesas haviam sido encostadas nas paredes e as cadeiras jogadas para os cantos. De um lado do salão as mesas estavam recheadas de doces e do outro de comida salgada. Havia vinho e cerveja em ambas.

No meio, toda a tripulação parecia conversar e se divertir, havia muito mais homens do que ela tinha visto antes e até mesmo mulheres. Uma música animada tocava e várias pessoas dançavam.

— O que achou? — Shae se aproximou e ofereceu uma taça de vinho para Eve.

Eve não devia beber, seria mais um voto quebrado. Mas já havia se deitado com Kaylan e comido carne. Já havia sido expulsa do templo também, não fazia diferença. Ela tomou um gole e achou maravilhoso o gosto da bebida feita a base de uvas.

— O pessoal parece estar se divertindo aqui.

— Venha, vou te apresentar aos amigos de Erickson.

Shae a conduziu até uma roda de pessoas, havia duas mulheres e três homens, além de Erickon.

— Essas são Tiana, Miek, Rogier, Daan e Samuel. Pessoal, essa é Eve.

— Prazer em conhecê-la. — Tiana, a mulher loira, sorriu.

— Seu cabelo é tão lindo. — Miek, a morena, se aproximou ainda tocando uma mecha de Eve, a garota se segurou para não se retrair.

A música mudou e de repente Shae e Erickson sumiram. Eve olhou para os lados, tentando encontrar a garota no meio de tanta gente, mas não achou.

— Você e Shae são amigas há muito tempo? — um dos homens, o mais baixo e careca falou, era Samuel, se Eve não estivesse enganada.

Amigas... nunca pensara em Shae como sua amiga, será que elas haviam mesmo construído uma amizade?

 — Não. Nos conhecemos há pouco tempo. — Ela esticou o pescoço e finalmente encontrou a menina. Estava dançando com Erickson. Ela sorria e cantava. Os dois pareciam próximos.

Uma leve raiva surgiu dentro de Eve. Ela já não havia dito para Shae que não gostava dele, que não confiava nele? Por que ela insistia em contraria-la? Por que ela tinha que agir desse jeito?

Ela se sentia estranha ao vê-los tão próximos assim. Acreditava que devia ser por causa da visão que tivera com Ely, parecia errado que enquanto o garoto sofria por conta da irmã doente, Shae se divertisse com outro homem.

Ela parou de encara-los. Cada segundo que olhava ficava mais nervosa.

— E vocês, a quanto tempo conhecem Erickson? — Tentou continuar a conversa.

— Eu e Erickson praticamente crescemos juntos. — Tiana tinha um sotaque estranho, um que Erickson não tinha.

— Assim como você, também o conheci há pouco tempo. Mas já acho que podemos nos considerar grandes amigos. — O mais alto de todos, Daan, tinha a pele negra e a cabeça raspada. Dos três homens, era o mais novo e o mais bonito. — Antes de conhecê-lo eu nunca tinha nem mesmo entrado num navio. Sempre tive medo e me parecia bizarro ficar horas assim, no meio da água. Agora essa já é a terceira viagem que faço. Algumas pessoas podem mudar nossa vida de uma maneira que nem imaginamos, não é? Parece que aconteceu o mesmo com você e Shae.

Eve abriu um sorriso, enquanto as outras quatro pessoas na roda olhavam para ela de forma um tanto atravessada, Daan a tinha olhado como ela era. Tinha que admitir, ela tinha um pé atrás com todos naquele navio, mas tinha gostado daquele homem, apesar de ser a primeira coisa que ele tivesse dito para ela.

— Sim. As vezes também mudamos as vidas das pessoas sem perceber.

Ele concordou com a cabeça.

— Eu espero conseguir mudar a vida de pelo menos uma pessoa antes da minha morte.

— Aposto que já deve ter feito isso.

Ele sorriu, seu rosto inteiro se contraiu com isso e pequenas rugas se formaram em volta de seu rosto, ele conseguia ser bonito até mesmo assim.

Por um momento Miek sumiu da rodinha e voltou a aparecer do lado de Daan. Ela segurou a mão do rapaz e Eve percebeu que eles eram mais que amigos e que a mulher havia ficado com ciúmes. Não conseguiu conter um sorriso. Daan quase imperceptivelmente ergueu os ombros e os abaixou, além de erguer as sobrancelhas e contrair a boca, como se pedisse desculpas por isso.

 Uma mão puxou Eve e quando ela se virou deu de cara com Shae sorrindo.

— Vamos dançar, Eve.

A garota a arrastou para o meio do salão. Começaram a girar e pular, iam de um lado para o outro, segurando as mãos, se aproximando e se separando.

Os olhos de Shae brilhavam e suas bochechas estavam um pouco avermelhadas, devido ao álcool. Ela suava, fazendo com que sua pele brilhasse. Novamente Eve percebeu o quão bonita a garota era.

— Esse é o melhor dia da minha vida! — Shae ergueu os braços e se jogou em Eve.

A ruiva teve um pouco de dificuldade em segura-la. Seus rostos estavam a poucos centímetros de distância, os olhos de Shae encarando os de Eve. O coração desta acelerou. Sentia algo dentro de si, uma sensação estranha, como se alguma coisa a estivesse impelindo na direção de Shae. Observou sua boca por um momento, parecia tão convidativa. E então a afastou no mesmo momento em que a música parava.

— Outra música! — Shae gritou, sorrindo. Parecia completamente alheia ao que tinha acabado de acontecer.

Em seu interior, Eve ouvia várias vozes gritando para si mesma.

— Eu acho que vou voltar para o meu quarto. — Ela ainda estava perdida.

— Vamos dançar mais, Eve! — Shae fez um bico.

— Não quero. Dance com Erickson. — Ela apontou para o capitão que comia uma torta.

— Você é muito chata. — A outra garota se afastou cambaleando. — Mais uma cerveja, Capitão!

Eve saiu dali o mais rápido que conseguiu, desviando e empurrando pessoas. Subiu para o convés ansiando por um pouco de ar fresco. Havia poucas pessoas ali e ninguém pareceu perceber sua presença. Aproximou-se da amurada olhando para o céu e para as estrelas que brilhavam, o mar estava calmo e a noite bonita. Tudo ao contrário de como ela se sentia por dentro.

O que era aquele sentimento dentro dela? Por que ficara daquela forma quando Shae se aproximara? Seria o efeito do álcool? Será que o que sentira antes, quando a vira com Erickson, era ciúmes?

Balançou a cabeça. Impossível. Ela amava Kaylan, não amava?

Mais uma vez voltou a observar seu colar. As lágrimas começaram a cair, o que estava acontecendo? Não se reconhecia. Será que já estava enlouquecendo? Por que suas emoções estavam tão bagunçadas assim? Eve já teria esquecido Kaylan?

Um medo percorreu sua espinha: Será que nunca o amara? Poderia muito bem tê-lo usado apenas como uma desculpa para trair Cersey e sair daquela vida. Balançou a cabeça, tentando não pensar nisso. Não era possível que todo esse sentimento, que estivera com ela durante tantos anos fosse uma mentira e também não parecia ser possível que já tivesse acabado.

Ela não queria esquecer Kaylan. Não queria se apaixonar por uma pessoa que estava prestes a morrer.

Não. Sabia que aquilo era loucura. Ela odiava o jeito de Shae, sempre se irritava com a forma como ela era diferente de Eve. Era obvio que todos aqueles pensamentos estavam sendo causados pelo álcool em seu organismo. Tinha que ser isso.

Olhou para o céu. O Sol estava brilhando e aquecendo sua pele. Agradeceu por não estar frio, o dia estava bonito como nunca. Eve paralisou, mas ainda era noite, não era?

Ela se virou, observando o convés. Estava vazio, mas sombras caminhavam por ali. Guerreiros espectrais em armaduras.

O que estava acontecendo? Em um segundo havia alguns tripulantes ali e no segundo seguinte apenas essas almas da Invocadora. Shae a teria usado de novo? Os tripulantes estavam mortos? Não era possível, não havia nenhum rastro de sangue ali.

Eve estava desesperada. Começou a correr para voltar para o Salão e então a escuridão recaiu sobre ela. Era noite de novo, os tripulantes continuavam ali, nunca haviam saído.

Só podia ter sido uma visão. Mas ela nunca tivera uma visão e continuara acordada. Parecia que nem um segundo havia se passado.

“Oráculos que traem Cersey enlouquecem de tal forma que não conseguem distinguir o que é real e o que é uma visão”, as palavras que a mãe havia dito a ela há muito tempo atrás passaram por sua mente.

Era isso? Finalmente tinha começado de verdade? Cersey não conseguira segurar mais?

Ela se agachou ali mesmo, no convés e se deixou chorar. Naquele momento não tinha espaço dentro dela para pensar em mais nada, nem para ligar para seus sentimentos a respeito de Shae. Ela não queria pensar em nada, só deixaria a mente limpa e as lágrimas caírem até secar. Só assim poderia continuar, até que outra visão a derrubasse.

— A garota tem uma espada mágica. Erickson vai matá-la essa noite e pegar a arma. — Eve ouviu a conversa de dois dos tripulantes enquanto eles passavam ao seu lado, sem perceber a garota agachada no chão.

Uma espada mágica, só podia ser a Invocadora de Almas. Eve sabia, ela sabia que não deviam confiar em Erickson. Agora, Shae estava em perigo. Ah, como ela odiava aquela garota por confiar em todo mundo, era a segunda vez em uma semana. Cersey tinha avisado, Eve dissera que Cersey tinha avisado.

Limpou as lágrimas e se levantou, não podia se preocupar com seu futuro, precisava tirar as duas dessa situação antes que não houvesse futuro para se preocupar.

Desceu para o salão. As pessoas ainda dançavam, animadas com outra música. Deu uma volta pelo lugar, não encontrou sinal de Shae ou do capitão.

Já começava a se desesperar quando Daan apareceu em sua frente.

— Você sumiu!

— Você viu Shae? — Sua voz estava falhando, não conseguia ficar quieta, o medo tomava conta dela. — Eu realmente preciso encontrá-la. Por favor.

— Acho que eu a vi saindo com Erickson por aquela porta ali. Acho que foram para o quarto dela.

Ela estava sendo louca de confiar naquele homem, mas não tinha outra saída.

— Eu preciso da sua ajuda. Se você não me ajudar, Erickson vai matá-la.

Daan ficou boquiaberto, sua expressão era realmente de espanto. Mas ela sabia que o homem podia estar fingindo, se fosse esse o caso, ela estaria colocando as duas numa situação ainda mais difícil.

— Erickson pode ser um homem meio bruto, mas não acho que faria isso com a sua amiga.

— Ele faria. Ele quer algo que ela tem e só pode conseguir matando-a. Me ajude, Daan.

— O que você precisa que eu faça? — Ele lançou um olhar para Miek que enchia uma taça com vinho. — Vamos andando antes que alguém me siga.

— Vá para o quarto de Shae e tente distrair Erickson. Eu preciso tira-la de lá.

— Eu espero que você saiba o que está fazendo e não esteja me enganando.

— Não estou, agora vamos! Rápido.

Os dois saíram do salão e começaram a correr em direção aos quartos. Ela entrou em seu próprio enquanto deixava Daan entrar no de Shae.

Eve começou a procurar sua mala, estava ali. A espada de Stev. Pelo menos não a tinham levado. Para falar a verdade, ela não tinha muita ideia de como usar, mas faria o seu melhor para ajudar Shae.

Voltou silenciosamente para o corredor. A porta do quarto de Shae estava entreaberta. Espiou.

A primeira coisa que viu foi Shae caída no chão, estava com os pés e as mãos amarrados e uma mordaça na boca. A Invocadora de Almas estava nas mãos de Erickson, que estava de costas para a porta. Daan estava ao lado do capitão.

Se o homem tivesse traído Eve, elas estavam perdidas. Se aproximou ainda mais, tentando ouvir.

— Não entendi, essa espada pode invocar os mortos? — Daan olhou de relance para a porta.

— Quase isso. Invoca seus espíritos, para lutarem por mim. Posso ter um exército com isso. Infelizmente tenho que matar a garota antes, ou os espíritos não vão me obedecer. — Erickson começou a se aproximar mais de Shae.

— Espere. Tem certeza que isso não é só uma lenda?

Eve tirou os sapatos e entrou silenciosamente no quarto. Dando um passo de cada vez tentando fazer o mínimo de barulho possível.

— É claro que não é só uma lenda. Eu não faria tudo isso apenas por uma lenda.

— Tudo isso? O quê?

— Estou observando essas garotas desde o dia em que elas incendiaram a casa do antigo dono da espada. Tive que esperar a oportunidade perfeita para salva-las. E fazer com que confiassem em mim.

Ele estava completamente desprotegido nas costas, era a oportunidade de Eve, ela se aproximou, pronta para fazer o que tinha que fazer, mas Erickson percebeu sua aproximação e virou-se, empurrando-a.

— Você as está ajudando, Daan? — o homem vociferou.

— Não é certo mata-las, Erickson.

— Eu nunca devia ter confiado em você. — Ele investiu contra Daan, com a invocadora nas mãos. Eve pegou sua espada, que havia caído junto com ela, e a espetou na perna de Erickson.

Quando ela puxou a espada de volta, o homem gritou enquanto caía no chão e o sangue escorria por seus pés.

Eve pulou em cima dele, pronta para acerta-lo novamente. Ele resgatou a Invocadora de Almas e a colocou entre os dois, parando a lâmina da garota. Ele era mais forte, ele iria vencê-la, ela tinha certeza disso. Então fez a única coisa que poderia fazer: Mordeu a mão de Erickson, aplicando toda a força que conseguia em sua boca.

 Ele soltou a espada que escorregou por seu peito e caiu no chão. Ela o soltou e ele a empurrou, tirando-a de cima dele.

Eve sentiu a dor quando sua cabeça bateu no chão. Não sabia para onde tinha ido sua espada. Percebeu tarde demais que Erickson apareceu em cima dela, as mãos se fechando em torno do pescoço da garota. Ela sabia que naquele momento seria sua morte.

Quando não conseguiu mais se debater tentou olhar para Shae uma última vez, mas não conseguiu encontrar a garota em seu campo de visão. Olhou novamente para o rosto de Erickson. Ele parou de apertar sua garganta e sangue começou a escorrer ao mesmo tempo em que a ponta de uma lâmina saia de sua boca. Os olhos do capitão estavam arregalados e ele caiu por cima de Eve. Ela empurrou o cadáver para o lado.

Daan a encarava aterrorizado, sua mão estava vermelha, com o sangue do amigo.

— Eu o matei? — ele perguntou, sem conseguir encarar o morto.

— Você me salvou!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Olho de Jade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.