Red, a caça monstros escrita por Amorinha 1991


Capítulo 4
Halloween 2019




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              Mais uma vez era noite de Halloween, o segundo halloween que passo com o lobo.

            ‘Espero que esse halloween seja mais divertido que o anterior. Chamei alguns amigos pra fazer uma festa a fantasia, eu vou ser a chapeuzinho e você meu lobo mau, o que acha?’

            Ele uivou.

            ‘Vou considerar isso como um sim.’ Sorri-lhe. ‘Sabe... dois anos atrás eu jamais pensaria na existência de seres sobrenaturais, mas hoje é diferente. Imagino que os seres sobrenaturais estejam felizes hoje, podem liberar o espírito que lhes é aprisionado o ano todo.  Só espero que não aprontem nada na minha festa. Depois do halloween passado eu andei treinando artes marciais, mas não tenho certeza se sou capaz de lidar com alguns deles.’ Suspirei sentando-me em uma das muitas almofadas que espalhei pelo chão.

            O lobo então veio até mim e deitou-se com a cabeça no meu colo, me olhando como se dissesse ‘Eu te entendo’ quase pude ouvi-lo na minha mente.

            ‘Talvez eu devesse chamar o Lucian, só por segurança.’

            O Lobo rosnou.

            ‘Eu não posso te proteger sozinha, lobo.’ Falei tristemente e ele lambeu meu rosto em sinal de resignação. Eu vou compreender se você não quiser ver ele. Então se quiser pode ir para o quarto.’ Achei que ele preferiria ficar no quarto, mas ele apenas endireitou-se ficando sentado e me olhando com determinação.

Se ele fosse humano imagino que esse seria o momento em que olharia no fundo dos meus olhos e me diria que ficaria sem importar o que venha a ocorrer com tanta determinação nos olhos que você sabe que você querendo ou não que ele fique, só há uma escolha, aceitar a decisão dele.

‘Bom garoto, obrigada por ficar comigo.’ Beijei-lhe o focinho.

Fui até a porta, abri-a, saí e olhando para o lado no qual eu ouvia os uivos em noites de pesadelos gritei:

‘Lucian!’

‘Não precisa gritar, estou bem aqui.’ Ele sussurrou ao meu ouvido, pelas minhas costas! De onde ele saiu? Ok, tudo bem que ele é um lobisomem, mas por acaso ele se teletransporta também? Meu coração foi a mil, eu podia ter tido um infarto.

Claro que toda essa reflexão foi puramente mental e em questão de milissegundos. Então virei-me e dei um soco no peito dele, que obviamente não sentiu nem cócegas, mas ele riu mesmo assim.

‘Não tem graça, você...’ suspirei ‘eu quase enfartei com essa brincadeirinha.’

‘Isso foi interessante, não sabia que podia ser tão divertido ver uma humana agindo como se fosse mais forte que eu, que tal uma batalha amigável?’ Disse ele dando-me um sorriso arrogante.

Revirei meu olhos. ‘Você é tão atrevido que já estou me arrependendo de tê-lo chamado. Acho que podemos resolver os problemas sozinhos, lobo.’

O lobo latiu feliz, pareceu-me extremamente aliviado.

Eu estava já me virando para entrar novamente em casa, mas Lucian segurou-me pelo pulso me impedindo.

‘Espera! Qual o problema?’

Não consegui entender o porque dele parecer tão preocupado, mas respondi mesmo assim. ‘De concreto nada, não há necessidade alguma de você se preocupar. Talvez eu é que esteja sendo cautelosa demais.’

‘Sabe, Emily, nós lobos sentimos o cheiro do medo. Você está apreensiva com alguma coisa, posso sentir. Você está exalando medo por todos os poros.’

‘Eu vou fazer uma festa de halloween, e... bem... depois do halloween passado, achei que seria bom ter alguém capaz de se livrar de certas “pessoas” indesejadas, só por garantia.’

Ele sorriu. ‘Por mim tudo bem, como recusar ficar perto de uma garota tão linda como você?’ Disse Lucian me olhando de um jeito que fazia minhas bochechas queimarem.

‘O-Obrigada.’ Virei-me para o lobo ‘Lobo, busque a minha bolsa e as chaves, por favor.’ Em menos de cinco minutos o lobo voltou para a porta trazendo a bolsa no pescoço e a chave na boca.

‘Juro que não fui eu quem ensinou isso a ele.’ Sorri orgulhosa. ‘Obrigada meu Sancho Pança.’ Ele latiu em resposta.

‘Vamos as compras.’ Fiz um afago em sua cabeça.

‘Eu vou junto!’ Disse Lucian se apressando em abrir a porta.

‘Não vai, não!’

‘Um mero cãozinho de estimação não vai ser capaz de protegê-la se necessário.’

O lobo rosnou.

‘É dia ainda, tenho certeza que de meros mortais ele dá conta.’ Eu respondi fuzilando-o com o olhar e me dirigindo ao lado do motorista.

‘Não estou pedindo permissão, querida.’ Ele estava próximo demais para que eu conseguisse pensar e quando dei por mim ele já estava com as chaves nas mãos. ‘Agora seja boazinha e entre no carro, eu vou dirigir.’

Demoramos um pouco mas achamos tudo que precisávamos, ao chegar em casa o lobo e eu entramos pra arrumar as coisas e Lucian voltou para a floresta.

Faltando trinta minutos para a festa, o lobo e eu estávamos prontos.

Eu usava uma tomara que caia branca cheia de lindas pedrinhas vermelhas, saia, capuz e sandália vermelha com tiras de seda cruzadas até a coxa e então amarradas com um laço em um salto de 10 cm de espessura mediana.

O lobo foi mais fácil de arrumar, só precisei comprar uma coleira com spikes e uma corrente. Achei que ele se incomodaria com a coleira, mas ele nem deu bola.

De repente Lucian apareceu arqueando as sobrancelhas. ‘Quem diria que uma humana o domesticaria tão facilmente.’

‘Se está com ciúmes Lucian, posso domesticá-lo também, o que acha?’ Perguntei-lhe dando uma piscadela.

‘Gostaria de ver você tentar.’ Disse ele com um sorriso malicioso me puxando contra si.

E então o lobo mau começou a latir enfurecido.

‘Calma lobo, não sou tão fácil assim.’ Disse olhando para o lobo e me afastando de Lucian. ‘Se veio para ajudar, pode começar pegando os pães de sandwiche, maionese, presunto, queijo, ricota e orégano.’

‘Sério? Vai me pôr pra trabalhar?’

‘Você ainda está parado aí? Ah! E tente não deixar as pulgas cair nos sandwiches abertos, elas não devem ser gostosas.’

‘Diferente desse seu lobo sarnento eu não tenho pulgas, e só pra você saber, eu sou gostoso até os ossos.’ Disse ele pegando a faca com ponta.

‘Faça-me o favor de largar essa faca, e só pra você saber o lobo não tem pulgas e você é muito do convencido.’

‘E como vamos cortar o queijo e o presunto?’

‘A faca só vai ser utilizada no final, para cortar as fatias de pão em quatro pedaços triangulares.’

‘Mas e o queijo e o...?’

‘Shhh, vocês lobisomens precisam se atualizarem. Conheça o meu multiprocessador de alimentos. Você abre a tampa, joga o queijo e o presunto desses em fatia lá dentro, fecha a tampa, liga na tomada, aperta esse botãozinho aqui e voilà agora seja um bom menino e cuide para que apenas triture e não transforme em pasta.’

‘Está bem, mas podia ao menos pedir por favor, afinal eu sou um alpha, sabe?’

‘Bem... Você está na minha casa, na minha cozinha e utilizando os meus utensílios, então adivinhe só... Nesta casa eu sou a alpha. Fui clara?’

‘Sim senhora.’

‘Good boy! Agora desliga o triturador e vem me ajudar.’

‘O que quer que eu faça?’

‘Misture o presunto e o queijo  com a maionese, eu vou temperar a ricota.’ Olhei para a mesa, maionese, ricota, sal já estavam na mesa, mas faltava alguma coisa. ‘Assim que eu encontrar o orégano.’

O lobo então abriu a porta do armário puxando o puxador com a boca e usando a pata para mantê-la aberta latiu pra mim.

‘Obrigada Lobo, você é realmente muito prestativo.’

‘E eu não?’ Perguntou Lucian.

‘Eu não disse que você não era.’

‘Mas também não disse que eu era.’

‘Lucian, menos papo mais ação. Já pode passar a mistura no pão e cortá-lo em quatro partes triangulares.’

‘Tá, como queira.’ Ele revirou os olhos.

‘Menos papo...’

‘Tá, tá, eu sei... menos papo, mais ação. Alguém já disse que você é um porre quando fica controladora?’

‘Sim, meu ex.’

‘E o que aconteceu com ele?’

‘Eu o matei, aí um idiota achou que era boa ideia transformá-lo em vampiro.’

‘E... Tem coisa faltando aí.’

Suspirei. ‘E o lobo arrancou o braço dele e você a cabeça no halloween passado. Fim de história.’

‘Sério?’

‘Sim. Ele já era violento quando humano, o dia em que o matei... bem... não sei como explicar direito. Eu queria morar no térreo, me sentiria mais segura morando no térreo, mas ele fez questão de morarmos no décimo terceiro andar. Um dia ele se descontrolou de ciúmes de um cara que nunca vi na vida, mas por ter me olhado enquanto passávamos ele achou que era meu amante. Então chegando em casa ele me atacou fui tentando fugir dele, mas então fiquei encurralada na sacada, de alguma forma em um ato feito por puro reflexo eu consegui derrubar ele. Meu cérebro nem assimilou o que fez, até hoje não sei como aconteceu. Mas foi isso, ele caiu e morreu.’

‘Deixe-me adivinhar... tudo isso aconteceu numa sexta feira treze.’

‘Pior que foi, mas não se preocupe com isso, atenha-se aos sandwiches.’

Ele olha pro lobo e diz ‘Como você a aguenta?’

‘Ele é obediente, talvez seja por isso.’ O lobo então lambeu minha bochecha me fazendo rir.

***

Os convidados e alguns penetras chegam. Daphne e Ronald estão juntos em uma conversa bem animada.

‘Vou ser a madrinha?’ Perguntei e eles fizeram simultaneamente uma careta antes de responderem juntos.

‘Não!’

‘Do meu casamento você tem que ser é a noiva.’ Disse Ronald.

‘Nos teus sonhos Ronald, nos teus sonhos.’ Disse afastando-me e ficando atrás da Daphne.

‘Eu protejo você amiga.’ Disse Daphne rindo.

‘Essa função é minha.’ Disse Lucian.

‘Quem é esse? Ambos me perguntam.

‘Esse é Lucian, o segurança da festa.’

‘Segurança pra quê? Pra cuidar dos bêbados?’

‘É noite de lua cheia em pleno halloween, tudo pode acontecer. E o único bebum que conheço que precisa de babá é você, mas a Daphne já está mais que acostumada.’ Respondo com uma piscadela.

Eram cinco horas da manhã quando um penetra tirou uma faca do bolso e esfaqueou Ronald que dançava comigo e Daphne.

Em seguida entraram alguns homens pálidos como papel, amigos de Ted, meu ex. Muito provavelmente queriam vingança pelo amiguinho deles.

Foi um desastre! Os convidados correndo pra todos os lados em busca de saída, aqueles homens pálidos nem estavam tentando impedir ninguém, estavam focados em mim. O lobo estava comigo, mas ele era só um e os idiotas estavam em cinco. E quanto ao Lucian não tenho nem ideia de onde ele estava. Aquele idiota devia estar aqui, ele devia ter percebido a aproximação deles. Porque diabos ele não está aqui?

‘Você, você foi a culpada pela morte do Theodore.’

‘Ted era um idiota e eu já sabia disso, podia ter vivido por milênios se não tivesse vindo atrás de mim. O que eu não sabia é que vocês podiam ser tão babacas quanto ele. Por acaso estão tão ansiosos assim pela própria morte?’

‘Theodore Robert não era idiota, ele era parte da nossa família, ele era tua família Emily e você não se contentou em mata-lo uma única vez não é? Você precisava matar ele uma segunda vez.’

‘Ele quase me matou na primeira vez, eu deveria simplesmente deixar ele me matar na segunda? Não seja idiota Calr. Não vá pensando que ele se importava com você ou com qualquer outro desses idiotas, no momento em que algum de vocês cometessem um deslize, ele os mataria. Ele era assim, a única individualidade que ele conhecia era ele mesmo, ele matava por prazer e pra ferir o idiota que o enfrentasse ele matava a família inteira na frente do pobre coitado que ainda seria muito torturado antes de finalmente receber um tiro bem na cabeça. E esse era ele quando de bom humor, no mau humor ele atiraria em todos a volta dele.’

‘Menos em você. Ele jamais mataria você. Você precisa saber disso Emily.’

‘Cale-se Michael, você acha que isso era sinal de que ele se importava comigo? Ele estava pouco se lixando pra mim. Se ele nunca me matou foi porque sabia que isso pra mim seria uma benção. Aquele idiota me manteve subjugada a vida inteira. Vocês acham que conhecem a história inteira, mas não sabem nem a metade.’

‘Você sabe que a culpa da agressividade dele era tua, você o tornava inseguro.’

‘Fique quieto Henry, você é mais doente do que ele. Não pense você que ele guardava os segredos de vocês, ele fazia questão de me contar tudo o que cada um de vocês faziam com ou sem ele. Eu sei muito bem o doente que você é, e você me dá nojo. Na verdade, todos vocês me dão vontade de vomitar.’

‘Sabe o que faria o Ted feliz, Emily? Se você fosse uma de nós.’

‘Sabe o que o deixaria mais feliz ainda, Jeffrey? Se eu matasse cada um de vocês.’

‘Eu vou adorar te ver se contorcendo e sangrando até a morte garotinha.’

‘Richard, meu caro Richard, você é o mais patético de todos.’ O encarei e ninguém nem viu de onde, mas eu atirei bem no coração dele a adaga que o Robert me deu e soltei a corrente do meu lindo lobo mau.

E foi aí que começou a ficar estranhamente divertido.

O lobo saltou na garganta do Calr, ele parecia estar se divertindo muito brincando com ele. Estava tão entretido que não percebeu Michael se aproximando dele.

‘Hey, você aí de senhor Gray, me passa o chicote pra cá.’ Um dos penetras, uma típica ovelha se passando por lobo.

Eu peguei facilmente o chicote quando ele o jogou para mim, e com ele puxei Michael pelos pés. Com o que sobrou do chicote sem uso eu enrolei no pescoço do desgraçado e fui puxando com toda minha força até que sua cabeça se separou do corpo.

Henry tirou a adaga do corpo do amigo e a atirou em minha direção, mas eu a peguei pela ponta. Aquele treinamento extra de armas brancas valeu mais a pena do que pensei.

Dei um meio sorriso. ‘Quer tentar de novo, Henry?’ e o vi tremer ao olhar em meus olhos no mesmo instante em que joguei a adaga nele acertando em cheio no seu coração. Não pude evitar sorrir ao vê-lo se tornando pó. ‘Do pó ao pó Henry.’

Olhei para a direção do lobo e vi que enquanto ele ainda estava dilacerando o vampiro uma garota fantasiada de harlequina quebrou o martelo que segurava transformando-o em algo pontudo o bastante para perfurar o coração do babaca que estava caído sob o lobo.

Quando virei de novo, vi Richard decepar a cabeça do Jeffrey.

‘Agora somos só nós dois garotinha. Vamos brincar.’

E de alguma forma que não sei explicar, eu percebi a presença dele. Também não sei como, aparentemente, uma haladie, apareceu na minha mão, mas aproveitei suas duas lâminas para fazer um corte no peito de Richard e enfim decepar sua cabeça.

Com o último dos intrusos malignos morto, essa belíssima arma que possui duas lâminas de duplo corte conectadas a um único punho, de repente se retraiu ficando só o punho a mostra e então eu desmaiei de exaustão tendo tempo apenas de ver o lobo correndo em minha direção.


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