Duas figuras encapuzadas se aproximavam do portão de Konoha, uma era mais baixa, usava uma capa preta que cobria completamente seu corpo, seu rosto estava oculto por um capuz impossibilitando perceber qualquer traço de seu rosto. A outra era um pouco mais alta, trajava um manto branco também com um capuz cobrindo totalmente seu rosto, o topo do capuz estava elevado em dois pontos, o que fazia um pouco dos seus olhos ficarem descobertos.

Os dois guardas que cuidavam da inspeção dos viajantes observaram as duas figuras se aproximarem lentamente, na opinião de um deles, lentamente demais. Após o que pareceu uma eternidade os desconhecidos chegaram ao portão e um dos guardas se aproximou para cumprir com seu dever.

— Bem vindos a Konoha, poderiam se identificar e informar o motivo de sua visita?

A pessoa com o manto branco moveu lentamente a cabeça em direção ao guarda e por um instante seus olhos cruzaram. Rubis, esse foi o pensamento do guarda antes de todos os seus sentidos se alertarem e o mandassem correr dali com todas suas forças. Sua mente se nublou completamente e ele sentiu a morte se aproximando. Aqueles olhos transbordavam um imenso poder, tão grande que apenas o segundo ele pode saber que se aquela pessoa fosse um inimigo, Konoha cairia em poucos minutos.

Ainda rezando por sua vida, o guarda sentiu algo encostar em sua mão e por pouco ele não perdeu o resto da dignidade que ainda lhe restava. Segurando ao máximo o conteúdo de seu estomago e mordendo a língua para não gritar o mais alto que conseguia ele olhou para o local onde havia sentido o toque e viu que a pessoa de branco lhe estendia uma carta.

Com as mãos tremulas o guarda pegou a carta e a abriu, a cada linha lida sua expressão se alterava, hora mostrava surpresa, hora descrença. Por fim ele guardou a carta e a entregou para o encapuzado, fazendo uma leve referencia para ele e abrindo a passagem.

— Peço perdão pela demora, aproveitem a sua estadia.

O encapuzado pegou a carta e começou a andar, prontamente o outro passou a acompanhá-lo no mesmo ritmo lento em que eles pareciam estar acostumados. Os dois guardas ficaram observando as duas pessoas misteriosas se afastarem, e aquele que tinha visto o olhos da de branco respirava aliviado, como se  algo estivesse o impedindo de respirar até aquele momento.

— Ei Izumo, nunca vi você tenso daquele jeito, o que aconteceu?

  - Não sei explicar bem Kotetsu, só sei que é melhor rezarmos para que aqueles dois sejam nossos aliados. Caso contrário Konoha está condenada à ruína.

Um pouco descrente das palavras de seu amigo, Kotetsu se voltou para onde as duas pessoas estavam anteriormente, mas não conseguiu mais encontrá-las, como se elas nunca tivessem passado por ali, deixando-o se perguntando quem seriam aqueles dois e o que poderia causar aquele grande desconforto em Izumo.

Já um pouco distantes do portão da vila os encapuzados andavam calmamente sobre os telhados das casas indo em direção a maior construção existente: o prédio do Hokage. Apesar de caminharem calmamente pelos telhados ninguém parecia notá-los, como se fossem parte do ar. Ao se aproximarem do seu destino eles deram um grande salto e alcançaram a janela da sala do Hokage e entraram por ela.

Imediatamente os dois foram cercados por um grupo de ANBU que parecia pronto para retalhá-los se fizessem qualquer mínimo movimento. O Hokage estava sentado de costas para a janela e fumava calmamente enquanto lia alguns relatórios, com a chegada dos encapuzados ele deixou os relatórios e girou suavemente sua cadeira para poder ver o que exatamente estava acontecendo Para sua surpresa os ANBU que cercaram os intrusos estava tremendo levemente apesar de tentarem mostrar bravura era claro que não reagiriam a qualquer movimento dos desconhecidos.

— Desculpem por esta indelicadeza, não estava esperando sua chegada. Por favor, deixem meus convidados se acomodarem, estão dispensados por hoje.

Um pouco relutantes os ANBU recuaram e desapareceram do local. As duas pessoas andaram até a frente da mesa e esperaram o homem a sua frente indicar um local para se sentarem, o que aconteceu logo em seguida. Após se sentarem nas cadeiras indicadas o Hokage limpou sua mesa e apoiou seus cotovelos nela, mandou um olhar analítico para a pessoa de branco.

— Não estava esperando você por aqui, as suas instruções diziam apenas que caso fosse necessário vocês viriam para a vila. Presumo que estarem aqui signifique que algo importante está acontecendo, poderiam me contar o que está acontecendo. E gostaria que retirassem os capuzes, gosto de olhar para o rosto das pessoas quando converso com elas.

A pessoa de branco retirou seu capuz revelando ser um mulher... ou o quase isso. Seu rosto era fino e tinha traços incrivelmente belos, uma pele alva como a neve, seus olhos eram de um vermelho incrivelmente brilhante, seus lábios eram finos e avermelhados e continham um discreto sorriso. Seus cabelos eram brancos e tinham um brilho incomum. Porém o que mais chamava atenção em sua aparência era o par de orelhas no topo de sua cabeça, orelhas de raposa.

O de preto também retirou o capuz revelando seus  olhos amarelos ouro e longos cabelos brancos, sua pele era branca mas ao contrário da mulher ao seu lado ele era incrivelmente pálido. Ele exibia um grande sorriso que deixava a mostra suas grande e afiadas presas, que davam a ele um ar selvagem.

— Não há nada acontecendo, ele apenas quis vir morar onde nasceu. Não é mesmo Naruto-Kun?

— É como Shiro disse, achei que era hora de conhecer a vila pela qual meus pais deram a vida.

— Entendo. Fico feliz que esse seja o motivo. -  Ele deu uma tragada em seu cachimbo antes de continuar. - Apesar de tudo eu não os conheço bem, será que poderiam responder algumas perguntas? Principalmente você, Shiro-san.

— Acho que eu devo isso não é mesmo, responderei suas perguntas entretanto se houver algo que eu não ache prudente o senhor saber não adianta fazer nada, certo?

— Não vejo problemas com isso, então para começarmos... - Abriu a primeira gaveta de sua mesa e pegou um envelope um pouco gasto. - A carta que deixou onze anos atrás não foi muito esclarecedora, com todo respeito, poderia me dizer exatamente o que você é e por que levou Naruto-Kun com você?

— Imaginei que essa seria a pergunta. Em relação ao que eu sou, vocês humanos devem me conhecer como um yokai, milhares de anos atrás sua raça e a minha viviam juntos no mesmo continente mas os yokai começaram a abusar de seus poderes e os deuses decidiram separar as raças em dois continentes. Sendo mais especifica eu sou uma  yokai kitsune e essa é minha forma de hanyou, ou seja um meio yokai, minha forma verdadeira se assemelha a Kyuubi.

           - Mesmo sendo um pouco difícil de acreditar, mas você já me deu algumas provas de que é verdade. E sobre ter levado o Naruto- kun?

— Foi um pedido do Shinigami, ele me mandou pegar e cuidar do jovem Uzumaki pois ele seria importante para o futuro do mundo, ou algo assim. Sinceramente não dei muita atenção a ele.

O velho Hokage sentiu um gota de suor escorrer por sua face. Se aquele ser tinha a coragem de ignorar o próprio deus da morte, quem poderia imaginar o que aconteceria se ela decidisse exterminar Konoha. Ele teve um vislumbre da vila em ruínas e a yokai sentada em cima dos escombros com um pequeno sorriso no rosto. Essa imagem fez com que ele tremesse um pouco, Shiro pareceu notar os pensamentos dele e abriu um pouco a boca, mostrando seus dentes brancos perfeitamente alinhados com grandes presas, um sorriso distorcido se formou em sua face. Ela não era alguém que o Hokage gostaria de irritar.

— Tem mais alguma questão a tratar comigo hokage-sama?

Ignorando o tom zombeiro da raposa Hiruzen tragou mais um pouco da erva de seu cachimbo, buscando as palavras certas para fazer sua pergunta.

— Há sim mais um assunto que eu gostaria de tratar, mas precisa ser em particular.

— Não há problemas, Naruto-kun será que você poderia nos deixar sozinhos?

— Claro Shiro, se me permitem estou saindo.

— Um segundo Naruto-kun, tenho uma coisa pra você. - o Hokage tornou a mexer em uma das gavetas de sua mesa e pegou uma chave e uma carta. - É a chave da casa de seus pais, na carta há a localização dela, presumo que ira precisar disso.

O jovem albino aceitou a chave e saiu da sala sem dizer uma palavra, deixando o Sarutobi e a yokai sozinhos. Um silencio desagradável tomou a sala, o Hokage estava um pouco disperso pensando no encontro com o filho de Minato, já Shiro estava distraída brincando com uma mecha de seu cabelo como se fosse uma criança. Limpando um pouco a garganta o Hokage começou a falar:

— Você escreveu na carta que levaria o Naruto e não voltaria se não houvesse um bom motivo e agora me disse que esse foi um pedido do... Shinigami-sama, entretanto uma coisa ainda não está clara para mim. Por que você cuidou de Naruto? Não irei cair nessa mentira de que foi pelo pedido feito a você, qual o real motivo?

— Inicialmente esse foi realmente o motivo, eu tinha um acordo com o Shinigami. Eu poderia andar por essas terras dês de que não causasse problemas e fizesse o que ele me pedisse. Pode parecer uma piada mas eu tenho uma grande ligação com humanos, mas isso não é importante.

— E depois?

— Acabei me afeiçoando ao garoto, ele é uma criança muito interessante. Tenho certeza que se ele tivesse tido a oportunidade de viver aqui ele se tornaria o humano mais forte do mundo.

— Então por que levá-lo daqui?

— Caso eu não tivesse feito isso ele seria apenas um cadáver.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que aquela criança morreria poucos minutos depois de eu ter chegado e salvado ela e nenhum dos seus ninjas seria capaz de salva-lá. Foi muita ingenuidade acreditar que o corpo de um recém-nascido seria capas de suportar um selo como o Shiki Fujin, isso sem considerar que o selo foi feito para conter a Kyuubi, sabe a pressão que o corpo sofre com tanto chakra?

— Então era para o Naruto-kun estar morto? E o que você fez para salva-lo?

— Transformei-o em um yokai. Usei a Kyuubi como um receptáculo e usando meus poderes fiz ele renascer como um yokai.

 O Hokage suspirou cansado, ele nunca imaginaria isso mesmo em seus sonhos mais loucos. O filho de seu sucessor não era nem humano mais, era como se ele tivesse falhado em cumprir a promessa que fez com Minato. Sentia-se envergonhado, se tivesse sido mais forte aquela noite e se sacrificado no lugar do Namikaze quem sabe Naruto agora não teria sua família ao seu lado.

— Acho que isso é informação demais para mim, ainda irei lhe chamar novamente para saber sobre a criação de Naruto. Há mais alguma coisa que queria tratar comigo?

 - Naruto-kun pediu para ser integrado as fileiras shinobi se for possível.

 - Claro, fale para ele se apresentar na academia amanhã as oito horas, mandarei um aviso para que o recepcionem.

 Com uma reverencia claramente irônica Shiro saiu da sala deixando o Hokage perdido em pensamentos. Seria complicado explicar para os conselheiros a volta do Uzumaki e a presença da yokai, como ele explicaria o que ela era para eles? Quem sabe o que seu antigo amigo poderia fazer ao descobrir tal fato, Konoha podia correr riscos.

 Dando mais uma tragada em seu cachimbo o velho Sarutobi fitou a vila através de sua janela. Não cometeria mais erros e não deixaria mais ninguém se sacrificar. Mas agora seu inimigo era a papelada.