Segundos do Coração escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Olá amores!
Capítulo novo postado, espero que gostem e façam boa leitura.
Beijos :D



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Capítulo 3 - Freyre

Quando alguém diz que você mudará de escola a primeira coisa que passa em sua cabeça é:

Droga, vou ter que me acostumar com novas pessoas, novos professores e diabo a quatro.

E a segunda coisa é que você irá odiar tudo isso, toda essa coisa nova. Provavelmente ficaria em um canto solitário, tentando parecer o mais invisível possível, tentando evitar qualquer tipo de pergunta ou bullying feito por outros alunos, porque se acostumar com algo novo é sempre uma merda.

Sim, isso passou em minha mente no exato momento em que falaram que eu me mudaria para a casa de Tobias até minha maior idade, que eu frequentaria outra escola. Maldição amigo, estávamos no meio do ano, apenas essa ideia abalou minhas estruturas.

A única coisa que não passou por mim foi que eu poderia gostar da escola, e bem, eu estava gostando pelo menos dê parte dela.

A aula de música foi simplesmente maravilhosa, coisa de outro mundo, a professora era engraçada e simpática e os alunos que a frequentavam não eram diferentes, todos me aceitaram da melhor forma possível.

Estávamos no terceiro horário, mas alguns instantes e seria o intervalo.

Apollo e Brian estavam no fundo da sala no meio de uma rodinha de alunos. Acho que o professor preferia ignorar aquela parte da sala, pois sua palavra simplesmente não causava qualquer efeito no grupinho. Apollo não se encaixa ali, não apenas por ser mais velho, mas também mais alto e mais forte que os outros meninos.

Até aquele momento eu havia me apresentado apenas na aula de música, nas outras aulas não fiz questão de qualquer coisa apesar dos dois professores terem me olhado com expectativa.

 Olhei na tela do meu celular e faltavam apenas cinco minutos para o fim daquela aula e eu já estava querendo sair dali mesmo que por pouco tempo.

— Antes de sairmos – Começou o Professor de física, David. – vamos dar boas vinda a nova aula.

Me mate agora!

A sala ficou em silencio e mesmo sem me virar podia sentir todos os olhos em mim.

— Venha até aqui, Freyre. – O professor chama.

Não havia saída para mim, então eu me levanto e vou até ele, e todos os olhares subiam e desciam em mim.

— Estamos contentes por sua presença na nossa escola, esperamos que você aproveite o restante do ensino médio aqui. – Diz David e acena sua mão para mim. – Deem boas vinda à ela, todos vocês.

Que droga? Estávamos no terceiro ano médio não em um primário!

Os alunos se entreolharam e Brian foi o primeiro a cair na risada, maldito mauricinho.

— Obrigado, por isso. – Eu falo com raiva para o professor antes de voltar para minha mesa.

— Não posso dar boas vinda à ela, essa garota é um mal exemplo. – Fala uma ruiva tingida, que parecia mais uma boneca de atacadão.

— Hum, por que você diz isso Felipa? – Questiona o professor e por Deus, será que ele tinha algum distúrbio.

— Não é obvio, professor? Olhe para o corpo dela, cheio de tatuagem, essa caipira é mais selvagem do que os outros roceiros. – A ruiva tingida/Felipa responde me olhando com desprezo.

Eu retribuo o seu olhar e arqueio uma sobrancelha para ela que fica com o rosto vermelho, então eu simplesmente caio na risada.

— Qual o seu problema, caipira? – Ela pergunta irritada.

Oh querida, você que cutucou um urso com vara curta, agora segure sua bunda. Penso alegremente.

— Eu não tenho problema nenhum, ruiva. – Respondo com um sorriso. – Quem está cacarejando como uma galinha sem pintos é você.

A sala explode em gargalhadas e a tal Felipe me dá um olhar mortal e eu, como a vadia que era, mostrei minha língua para ela que imediatamente ficou com olhos arregalados quando viu meu piercing.

Deus, era tão fácil assustar essas patricinhas e mauricinhos da cidade, mas pensando bem, não era todo dia que eles viam alguém como eu, do interior, tão ‘’peculiar’’.

Isso porque nunca me viram nua. Penso novamente.

— Tudo bem, chega disso! – O professor grita sobre os múrmuros altos. – E você, se disser mais alguma coisa que seja considerando um insulto, levará detenção.

Ele fala apontando para a ruiva que fica de boca aberta, e ele se volta para mim.

— Bem vinda Freyre, suas tatuagens são legais e todo o resto. – Ele fala e seu rosto fica vermelho como um tomate em seguida sobre as risadas escandalosas dos demais.

Para sua sorte o sinal toca em seguida e em segundos a sala está quase completamente vazia. Pego minha bolsa e a jogo sobre o ombro, me levantado quando duas sombras para ao meu lado.

— Bom começo, gatinha. – Diz Brian colocando o braço sobre meus ombros, que logo empurro para longe.

— Sim, claro! – Falo sarcasticamente o encarando. – Você apreciou isso, ein? Não é todo dia que alguém monta sobre vocês até que estejam no chão.

— Você se engana, somos os mestres nisso. – Brian retruca estufando o peito.

— Não querido, vocês são aprendizes, mas não se preocupe que a verdadeira peoa chegou. – Respondo chegando mais perto dele e sussurro no seu ouvido. – Vamos ver quem aguenta mais de oito segundos.

Deixo Apollo rindo da boca escancarada de Brian e sigo para o refeitório lotado, ignorando todos os olhares curiosos. Sem demora pego a bandeja com a refeição e me sento em uma mesa no fundo, sozinha.

Dou uma conferida no celular e sorrio tristemente para as várias mensagens de Ana e Caíque.

Ana estava louca para saber tudo sobre a escola nova e Caíque, bem, eu tinha certas suspeitas que ele mantinha sentimentos por mim, mas ele era meu amigo e ao contrário de mim, Ana quem gostava dele, por isso ele sempre seria apenas meu amigo.

— Será que tem algum nude ai? Seu sorriso está muito grande para não algo do tipo. – Olho para a garota delicada que se senta na cadeira em minha frente.

Guardo o celular e cruzo os braços sobre o peito esperando ela falar novamente.

— Sou Vivian, eu esteve com você nas últimas duas aulas, não que você tenha reparado. – Ela fala sorrindo.

— Esteve tentando manter a atenção longe de mim, e pretendo fazer isso pelos próximos dias. – Digo não gostando da acusação.

— Isso vai ser um pouco difícil, quer dizer, você é tão diferente.

— Deveria ser algo ruim? – Questiono semicerrando os olhos para ela.

— Não, claro que não! – Afirma quase gritando, mas então abaixa o tom se aproximando. – Você é diferente porque não tem nem um virgula parecida com as outras garotas daqui, posso dizer com toda certeza que estão todas se roendo de inveja e curiosidade, e que os meninos estão loucos para entrar em sua saia.

Eu dou uma risada, a risada mais sincera que saiu de mim nos últimos três meses.

— Gostei de você. – Falo para Vivian. – Sou Freyre.

Aperto sua mão e retribuo seu sorriso.

— O que está achando da escola, Freyre? – Pergunta mordendo seu sanduiche.

— Um pouco melhor do que a que eu estudava, sem dúvidas. – Digo mordendo o lábio. – Pelo menos até agora.

— Oh, ouvi dizer que você estava em uma escola católica. – Fala com os olhos brilhantes. – Sempre ouvi as melhores coisas sobre escolas militares e católicas, quer dizer, em escolas particulares sempre vão ter as coisas que todos esperam, vadias mimadas, caras babacas e sexo.

— Aonde eu estudava era rígido, meu pai me colocou lá porque tinha medo de certas coisas. – Falo dando um olhar malicioso. – Sempre fui uma garota propensa a coisas que não são comuns para muitas pessoas, então até que eu o entendia, mas o que meu pai não sabia que a escola era um maldito lugar para se aprender as piores coisas.

Não sabia que bicho tinha me mordido, mas continuei contando várias coisas sobre a minha antiga escola para Vivian, aquela garota se parecia muito comigo e uma parte mim bem no fundo me levou a confiar nela.

— Uau, isso é...uau. – Ela sussurra em choque.

— Acredite quando eu disser que ninguém aqui vai querer se meter com essa vadia. – Falo apontando para mim mesma. – Eu posso ser má.

— Eu realmente quero ser sua amiga. – Ela fala ‘’séria’’ e nós duas trocamos um olhar antes de  começamos a rir feito loucas chamando a atenção de todo refeitório. – Merda, os D’Luca estão vindo.

— Os quem? – Pergunto confusa e Vivian me olha estranho.

Sigo seu olhar e encontro Apollo e Brian seguindo em nossa direção.

— Você mora com eles e não sabe nem seus sobrenomes? – Vivian ri, mas logo se mexe desconfortavelmente na cadeira quando eles param na frente da mesa.

— Como está indo, sestra? – Pergunta um sorridente Brian.

Eu realmente não sabia se seu ‘’sestra’’ significava que ele estava me chamando de irmã ou sinistra, mas opto por ignorar.

— Melhor impossível. – Falo olhando para Apollo que parecia uma montanha inabalável. – Vocês provavelmente conhecem Vivian.

— Na verdade, nã...

Brian se cala quando Apollo enfia o cotovelo em suas costelas o parando no meio da frase. Olho para Vivian que tem o rosto quase roxo de vergonha.

— Vocês estão brincando, certo? – Questionei encarando os dois.

Nenhum dos dois respondem e quero ou rachar aqueles rostinhos lindos e patéticos ou retirar minha pergunta para poupar Vivian de tal constrangimento.

— Fracamente meninos! – Bufo e então sorrio tentando disfarçar o gafe. – Apollo e Brian, está é a linda e doce Vivian, a qual acabei de conhecer também.

Com um sorriso constrangido, os dois acenam para ela que retribui o gesto vagarosamente.

Me levanto e pego minha bolsa e bandeja, já estava cheia do rabo daqueles dois e o dia nem tinha começado direito.

— Você vai para a educação física? Vi que tinha essa aula hoje. – Pergunto a Vivian.

— Sim, vou pegar o outro uniforme com você e vamos juntas para a quadra esportiva. – Ela diz pegando também sua bandeja.

Apollo e Brian ainda estavam ali parados iguais postes, então me viro para eles novamente.

— O que foi desta vez? – Pergunto frustrada. – Vocês não têm nada melhor para fazerem com seus preciosos tempos? Meninas para perseguir ou sexo para fazer?

Brian tapa a boca com o punho para não rir, mas Apollo não existe uma gargalhada, passando a mão pelos olhos como se eu fosse muito difícil para ele lidar.

— Nós já vamos, só queríamos te lembrar que você voltará com a gente depois da aula. – Apollo diz com um sorriso predador. – Prazer em conhecer você, Vivian, espero que possa desculpar esses dois babacas.

— Não é grande coisa. – Vivian responde corando. Ela era fofa.

— Nos vemos no final, sestra. – Diz Brian me cutucando com o ombro.

Reviro os olhos enquanto observava os dois caminharem pelo refeitório como se fossem os donos de tudo. Apollo tinha poucos centímetros a mais de altura que Brian, mas os dois eram ótimos de se olhar, ombros largos e braços musculosos mas não enormes, tipo aqueles crushs que por aparência você só é capaz de encontrar em livros, de preferência romances eróticos.

Acho que não comentei que o uniforme masculino incluía malditos suspensórios, Apollo deixava sua camisa de botões dobrada até os cotovelos por fora da calça e ele era a visão do paraíso feminino. Brian não usava os suspensórios como Apollo, ele os deixava jogados ao redor do seu quadril o que não o tornava menos atraente.

— Eles são tão quentes. – Vivian suspira olhando para a mesma direção que eu.

— Prefiro não pensar assim. – Digo com um suspiro longo e profundo.

— Por que? – Pergunta curiosa.

— Eu vou passar os próximos seis meses com eles, se pensar neles como quentes o que são, vou ser uma péssima companhia com hormônios descontrolados. – Respondo fazendo-a rir.

— Quase estou com pena de você. – Ela suspira com a mão no coração.

— Vamos dramática, temos algumas bundas para chutar na educação física. – A puxo e deixamos as bandejas logo saindo do refeitório.

Não deixei de perceber que Vivian parecia tão perdida quanto eu antes de sentar em minha mesa, o que apesar de triste era bom.

Era bom porque possivelmente seriamos amigas, e para passar todo aquele tempo naquela escola longe daquele que sempre estiveram comigo, eu precisaria daquilo.

De amigos.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem.



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