Segundos do Coração escrita por Débora Ribeiro


Capítulo 11
Capítulo 11




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Capítulo 11- Freyre

A semana já estava quase acabando novamente, tinha perdido a noção do tempo nos últimos dias.

Eu ouvia atenciosamente enquanto Vivian falava sobre Trent sem parar. Fomos no cinema todos juntos no domingo que passou, ele pareceu ser um cara realmente legal, mas eu ainda não sabia qual era a dele e não queria ver minha amiga sofrer.

Não tinha contado sobre Apollo, não porque não queria, simplesmente não achava certo ainda comigo morando em sua casa e tudo mais. Ele insistia em ficar ao meu lado em todo lugar, não era fácil ficar longe dele se quer saber, mas enquanto estávamos do lado de fora era o certo a se fazer.

— Frey? – Vivian me chama, percebo que não estava prestando atenção no que ela falava.

— Hm?

— Qual é o problema? – Questiona me encarando.

— Nenhum, acho que estou nervosa, o musical já é amanhã. – Minto.

Vadia má, péssima amiga!— Me xingo mentalmente.

— Você vai se sair bem, já disse! – Vivian fala com carinho pegando minha mão.

— Tenho sorte de ter conhecido você, é uma ótima amiga, Vi. – Falo sentindo a necessidade de soltar isso.

Andava muito emotiva durantes esses dias, tentei pegar a carta seguinte para ler mas acabei não conseguindo, sentia que a qualquer momento meu mundo fosse desabar novamente e isso me assustava.

— Você é a melhor! – Ela exclama. – Quero conhecer seus outros amigos.

Bem, isso me pega de surpresa.

— Sério? – Pergunto.

— Sim.

— Vou tentar marcar um passeio até a fazendo do meu pai... – Paro brutalmente quando as palavras saem e ela aperta mais minha mão. – Até a minha fazendo para vocês conhecerem, Corbin quer muito ir até lá também.

Vivian concorda e me olha tristemente e eu quero chorar ali mesmo, mas eu era mais forte do que isso.

— Você vai para a casa de Tobias me ajudar com a maquiagem, né? – Pergunto mudando de assunto.

— Claro que vou. – Diz animada. – E estarei na primeira fila.

Balanço a cabeça sorrindo de verdade desta vez, Tobias estava simplesmente maravilhado com o musical, como se eu fosse realmente de sua família. Ele me perguntava todos os dias se eu precisava de algo, não me deixava faltar nada, isso me fazia sentir mal por estar tendo um ‘’relacionamento’’ com seu filho debaixo do seu nariz.

Apollo e eu quase não ficávamos separados, não tínhamos avançado em nada mais que beijos quentes e mãos por todo lado. E sempre que eu achava que iria acontecer, me sentia insegura e ele se afastava. Ainda não tinha contado a ele que era virgem, não que achasse fosse um grande problema.

Pelo menos achava.

— Vamos? – Vivian me chama.

Aceno e pego minha bandeja quase intocada, estava realmente ansiosa com tudo para não conseguir nem comer direito.

Sinto um arrepio em meu corpo e sei que ele está atrás de mim, o cheiro de bala de uva era inconfundível. Me viro e seus olhos escuros brilhantes me encaravam com um sorriso torto.

— Tudo bem, lobinha? – Ele pergunta perto do meu ouvido.

— Sim, por que não estaria? – Pergunto de volta.

— Você parece distante. – Dá de ombros.

— Estou bem, só ansiosa. – Falo a mesma coisa que falei para Vivian.

— Nos vemos no final da aula?

— Claro. – Digo sorrindo, podia ver a luta que ele tinha para não me beijar ali no refeitório.

Sigo com Vivian para a próxima aula que era educação física. Professor Renan passou a ser mais razoável comigo, eu entrava, jogava, saia e ele me dava meus pontos no fim do bimestre.

Depois de trocar de uniforme, participo do jogo de vôlei, jogo dois tempos antes de ir para o banco reserva. Felipa passou a me ignorar o que era algo bom, ela não mexia comigo e eu ficava na minha, fácil e prático.

— Professor, vou ao banheiro. – Aviso e ele me olha bem antes de concordar.

Pego meu celular e caminho até o vestiário um pouco distraída. Quase chorei de verdade quando vi a foto que Ana tinha me enviado, da minha égua Bron, estava morrendo de saudades.

Antes que eu estrasse para o banheiro sinto mãos fortes me agarrando rudemente, e nunca que Apollo me seguraria daquilo.

— Que merda? – Grito segurando firme meu celular enquanto luto para sair do aperto daqueles braços.

— Você queria isso né putinha?

Professor Renan!

— É melhor você me soltar ou vou quebrar essa sua cara de merda! – Rujo quando sinto a rigidez da sua bermuda contra minha bunda. Que porra era aquela?

— Mmmmm, quanto mais difícil melhor. – Ele geme e eu quero vomitar.

Suas mãos sobem para cima em direção aos meus seios e eu relaxo antes de cravar meus dentes eu seu braço e chutar para trás o meio de suas pernas.

Professor Renan chia com a dor e eu não espero para entrar dentro do banheiro e me trancar ali dentro. Destravo meu celular e coloco no nome de Apollo antes de colocar para gravar, não tinha força nos dedos para escrever qualquer mensagem naquele momento.

— Sua vadia! – Renan rosna batendo o punho contra a porta. – Quando eu pegar você vou foder tão forte essa bocetinha que você não vai conseguir nem se levantar do chão!

Meu coração bate tão forte que eu temia um ataque cardíaco, com as mãos tremendo conseguir enviar o áudio a Apollo, só esperava que ele visualizasse o mais rápido possível.

Renan me xingava não alto o suficiente para ser ouvido do outro lado da quadra, mas alto o suficiente para me fazer tremer de medo. Eu nunca tinha passado por uma situação assim apesar de todos os olhares que recebia, e só pensava em como queria sair ilesa quase tendo um colapso.

A porta do banheiro começa a balançar e a tranca começa a rachar da fechadura. Estava perdida, ele iria entrar!

— Professor, vamos conversar foi tudo um mal entendido! – Peço com a voz trêmula.

— Conversar? – Ele dá uma risada que me faz arrepiar. – Você gosta de atenção com tudo em seu corpo, não é putinha?

Suas palavras me fazem estremecer, já tinha ouvido elas muitas vezes mas a forma como ele diz me fez encolher.

Renan continuou batendo contra a porta até um estrondo ecoou no vestiário e eu permaneço com os olhos fechados encolhida perto da privada esperando o pior, até que percebo que não tinha sido a porta do banheiro que tinha sido derrubada.

Não sabia se era o medo ou choque, mas fiquei na mesma posição por todo tempo enquanto barulhos de socos e xingamentos vinham do lado de fora, e cada um eu me encolhia mais, com as lágrimas escorrendo por todo meu rosto.

— Freye – A voz calma de Brian me chama. – abra a porta, sestra!

Não consigo me mover, mesmo sabendo que eles estavam ali por mim, que tinham me salvado possivelmente de um estupro.

Esse pensamento me faz inclinar sobre a privada e vomitar violentamente contra ela. Pensar no que poderia ter acontecido...

— Freyre amor, abra a porta. – Desta vez é a voz de Apollo que parecia desesperada.

Eu choro mais, soluço violentamente e abraço meu corpo com meus braços. Eles param de me chamar por um momento, possivelmente esperando que eu me acalmasse, e mesmo assim não consigo me levantar do chão.

— Frey? Freyre! – A voz de Vivian me atinge quando ela soca a porta. – Abra isso Frey, traga seu rabo aqui antes que eu pule essa divisa!

Juntando toda coragem que me restava, eu me levanto com as pernas tremendo e destravo a porta que parecia fácil de desmontar depois de tantas pancadas. Vou diretamente para os braços de Vivian que também chorava fortemente.

— Eu sinto muito, Frey! – Ela soluça contra meus cabelos. – Sinto tanto que isso tenha acontecido com você!

— Ele ia... ele ia... – Balanço a cabeça violentamente lembrando das mãos de Renan em meu corpo.

— Eu sei, mas ele teve o que merece e vai pagar caro por isso. – Vivian diz com ódio. – Já passou e você está bem, você está bem.

Lentamente saio de seus braços e avanço para Brian que me aperta forte contra seu corpo.

— Obrigado, obrigado por estar aqui. – Agradeço/soluço contra seu peito.

— Nunca me perdoaria se tivesse acontecido algo com você, sestra. – Ele sussurra acariciando meus cabelos e quando se afasta beija minha testa.

Em seguida, olhando com o lábio ainda tremendo me afundo nos braços de Apollo, que parecia quase tão destroçado quanto eu.

— Você me salvou disso. – Eu quase grito mas não me importava.

— Não lobinha, você se salvou quando me mandou aquela mensagem. – Ela nega com cabeça e posso sentir seu corpo tenso. – Deus se isso não tivesse acontecido, eu não consigo nem...

As palavras de Apollo morreram em seus lábios, eu não queria pensar no que poderia ter acontecido, não podia e ele também não. Ele me leva até um dos bancos e me aconchega em seu colo enquanto eu choro e fungo alto.

— Vão chamar o diretor, quando vocês voltarem talvez ele tenha acordado. – Ouço Apollo dizer.

Eu não queria saber o que tinha acontecido com Renan, não me importava, só queria que ele pagasse pelo que tinha feito e que nunca voltasse a fazer isso com mais ninguém.

Alunos foram entrando no vestiário mas não consegui prestar muita atenção, me lembro de ver Felipa com lágrimas nos olhos enquanto me olhava encolhida no banco, o resto eram vultos vagas e quando Apollo me pegou em seus braços eu adormeci ainda soluçando e não lembrei de mais nada.

                                  Apollo

Eu queria gritar alto, queria matar Renan, queria destruir tudo novamente.

Ver Freyre tão frágil e indefesa foi como ter uma faca enfiada no coração, foi como não poder respirar, mas eu tive que aguentar forte desta vez, ela precisava de mim.

Meu pai ficou louco, tão louco como eu, assim que a polícia chegou para levar Renan por ser acusado de abuso com provas, ele chamou seu advogado e foi junto, prometendo que aquele infeliz passaria um bom tempo atrás das grandes.

Freyre não aceitou ser levada até o hospital apesar de todas a insistência, agora ela dormia em sua cama profundamente depois de ter tomado um calmante que a mãe de Vivian deu. Ela esteve aqui com a filha por um bom tempo enquanto cuidavam de Freyre.

Vivian se recusava a ficar longe dela, mas acabou cedendo depois que Freyre, teimosamente garantiu que os acontecimentos daquele dia não a impediriam de participar do musical e então pediu a Vivian que deixasse o recado na escola.

Brian xingava a cada telefonema que faziam para nossa casa, mas acabava atendendo cada um e agradecendo pela preocupação com sua ‘’sestra’’.

O pequeno Corbin ficou com os olhos marejados quando soube o que aconteceu e prometeu para Freyre que leria para ela a noite, mesmo que ela estivesse dormindo.

— Filho – Me assusto com a voz do meu pai quando ele entra no quarto, estava ali a tanto tempo que acabei cochilando ao lado dela.

— Como foi? – Pergunto me levantando.

— Ele não vai sair facilmente, ainda mais com o áudio de Freyre como prova. – Ele conta parecendo cansado. – Se ele conseguir uma condicional não poderá se aproximar dela ou da escola, será vigiando constantemente.

Apenas o pensamento daquele filho da puta solto fazia meu sangue ferver.

— Acho que é o bastante por enquanto filho, não vamos deixar nada acontecer a ela. – Meu pai firma, e olha entre mim e ela.

— Você sabe não é? – Pergunto não tão surpreso.

— Que vocês dois estão juntos? Sim! – Ele dá uma risadinha e me abraça. – Conhece um olhar apaixonado quando vejo um.

Ficamos parados ali por um momento, apenas observando Freyre dormir e seu peito subir e descer lentamente.

— Ela sente falta do pai, ter você na vida dela foi algo bom. – Meu pai fala. – Eu já vou, se precisar de alguma coisa só chamar, boa noite Apollo.

— Boa noite pai. – Respondo.

Fico em pé no mesmo lugar por um momento, apenas pensando nas palavras dele. Quando volto para o lado de Freyre, juro que nada que acontecesse importaria, eu cuidaria dela e a manteria ao meu lado.

E se ela aceitasse, para sempre.


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Notas finais do capítulo

Obrigado por lerem.



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