Capítulo 10 - Freyre 

Estava com uma dor de cabeça terrível por causa da noite anterior. Tinha falado pelo celular com Vivian assim que acordei, rimos quando comentamos sobre a discussão com Felipa e sobre nosso beijo.

Vivian se sentia mal por ter jogado bebida na garota, mas não a deixei ficar remoendo isso por muito tempo. Depois de falar para ela liguei para Ana, que estava claramente chateada por eu não ter comentado que iria a uma festa na praia, mas depois que contei todos os detalhes ela me perdoou por ser uma péssima amiga, palavras dela.

Ainda podia sentir o perfume de Apollo sobre mim, e isso me fazia sorrir. Conversamos por um bom tempo no píer e depois fomos buscar Brian que tinha um sorriso convencido no rosto, a noite tinha sido boa para ele certamente.

Agora eu estava sentada sobre a cama, segurando mais uma carta em minhas mãos, juntando força e coragem para abri-la. Tinha pegado receio sobre aquilo, não tive como evitar.

Respiro fundo quando finalmente começo a ler.

‘’ 12/05/1994 – São Paulo

Eu sei que foram meses sem falar com você, sem escrever ou dar notícias. Apenas não sabia como te contar isso.

Estou grávida de dois meses, sei que isso significa um ponto final com você, mas eu estou feliz, espero que você fique também.

Não torne as coisas mais difíceis, espero que viva e seja feliz.

                                                  Sempre vou amar você.’’

Um nó se formava em meu estomago, as cartas destinados a pessoa – homem obviamente - não tinham assinaturas, o que me deixava mais confusa ainda. Eu não podia esperar, pego a próxima e começo a ler rapidamente.

‘’05/11/1994 – Minas Gerais

Jurei que deixaria você seguir em frente e ser feliz, ainda mais agora na sua primeira gravidez. Ele é um homem de sorte.

Chegou até mim até mim que é uma criança linda, acho que deve parecer com você.

Se precisar de mim sabe aonde me encontrar.

                                                      Ainda amo você, T’’

Desentendimento tomava conta de mim, as cartas eram curtas e sem qualquer sentido, mas que tomavam todos os meus pensamentos. Quem eram essas pessoas?

Decido lê-las depois e ir tomar banho, cheguei tão cansada que simplesmente desmaiei em minha cama, cheia de areia e suor.

Visto uma saia e uma camiseta com uma estampa da Nirvana, depois faço um rabo alto em meu cabelo. Estava adiando a conversa que tinha quer ter com Tobias mas hoje faria isso. A casa estava silenciosa e supôs que os três garotos ainda estavam dormindo, vou até a cozinha e encontro Tobias preparando o café.

— Bom dia querida, como foi a festa? – Ele pergunta alegremente.

— Ótima. – Digo sorrindo.

Mal sabia ele que eu tinha bebido até sair beijando Vivian e depois começado a chorar descontrolada. O pobre homem não precisava saber desses detalhes.

— Então, estava pensando se podíamos ir resolver o problema da escritura da casa. – Falo sentando em uma das baquetas, balançando minha perna violentamente. – Não posso evitar isso para sempre.

— Sim, não pode. Podemos ir nesta semana até o escritório do seu advogado, não teremos nenhum problema sobre isso. – Responde me passando uma xicara de café fumegante.

Mordo o interior da minha bochecha só de imaginar que a casa que meu pai cresceu e sempre cuidou agora seria minha.

— Que tão na outra segunda? Tenho que me preparar para a estreia do musical na sexta. – Peço nervosamente.

— Como queria. – Tobias se senta ao meu lado. – Seu pai estaria orgulhoso de você, Freyre.

Concordo e tomo meu café comendo uma torrada, meu estomago não estava muito forte depois de tantas bebidas.

— Eu vou subir, se precisar de para alguma coisa pode me chamar. – Falo a ele. – Tenho alguns trabalhos da escola.

— Tudo bem.

No quarto arrumo minha cama e junto algumas roupas, depois começo a realmente fazer alguns trabalhos, alguns de matemática, física e português.

Só de pensar em me levantar cedo no dia seguinte já me fazia suspirar e querer dormir pelo resto do dia. Em algum momento tomo dois analgésicos para dor de cabeça e lavo o rosto, voltando para a bagunça de papeis na penteadeira.

Resmungo com ouço o alerta de mensagens do whatsapp, estranho ao ver o número desconhecido mas logo sorrio abertamente quando a foto carrega e vejo que é Apollo.

A mensagem dizia:

“Vai ficar na toca o dia todo lobinha?”

Sabia que ele tinha pegado meu número com seu pai, penso se respondo ou saio do quarto para falar com ele, mas opto apenas por responder.

‘’Aham, estou com trabalhos para fazer e com dor de cabeça.’’

Espero com o celular na mão pela resposta que não demora a chegar.

‘’Pode vim até o meu quarto rapinho? Eu e Brian estamos esperando.”

Confusa e curiosa calço meu par de chinelos e junto rapidamente a parte pronta dos trabalhou. Vou até o quarto de Apollo que fica no outro corredor, bato na porta duas vezes e espero, quando a porta se abre quase tombo para trás.

Apollo me olha com um sorriso, cabelos molhados e sem camisa, estava apenas com uma calça jeans de cós baixo que mostrava o elástico da sua cueca – que aliás era branca -, peço ajuda divina para subir meus olhos para seu rosto.

— Vai entrar? – Pergunta com um quê malicioso.

— Se você se afastar, eu vou. – Respondo resmungando totalmente constrangida.

Ele abre a porta e eu entro, dando de cara com um quarto completamente arrumado com uma cama enorme e uma TV de plasma gigante na parede. Brian está sentado no chão com um controle de vídeo game, nem ao menos me olha quando fala comigo.

— Como se sente, sestra? – Pergunta. – Espero que mal, pois depois daquele beijo com Vivian senti tesão o resto da noite.

Apollo bate na cabeça dele e chega perto de mim.

— Tudo bem? – Ele pergunta e eu até responderia se conseguisse raciocinar enquanto olhava para sua barriga definida.

Como um cara de quase vinte anos podia ter uma forma como aquela?

Barriga definida com alguns gominhos, o “V’’ que descia mais embaixo fazia com que minhas pernas se apertassem voluntariamente.

Ele pigarreia e eu fico constrangida mais uma vez, uma reação nova para mim.

— Ouviu minha pergunta? – Questiona sorrindo mais ainda.

— Será que pode colocar uma camiseta? Não vou conseguir me concentrar se continuar sem. – É a minha resposta.

Ele ri e faz o que peço, e não sabia se me sentia aliviada ou triste apesar de ter pedido.

— Sim, estou melhor. – Respondo sua verdadeira pergunta.

— Que bom. – Ele fala e chega até mim me abraçando e me afasto.

— Seu irmão está aqui. – Murmuro para ele.

— Sestra, não esquenta, eu sei dos esquemas de vocês. – Brian diz do outro lado, mesmo sem desvair os olhos da televisão. – Não se preocupe comigo.

Olho surpresa para Apollo que dá de ombros sorrindo levemente, e mesmo que ainda estivesse com um pé atrás, deixo que ele me abraça e me beije. Aquilo era tão errado mas ao mesmo tempo tão certo, dava para sentir a batalha em minha mente e coração.  

— Mesmo que eu ache quente ver os dois se agarrando, acho melhor pararem. – Fala Brian.

Me afasto de Apollo com um sorriso.

— O que os bonitos queriam comigo? – Pergunto cruzando os braços sobre o peito.

— Queremos sair. – Brian responde se levantando. – Corbin foi para a casa de um amigo, se sairmos o ninguém precisará fazer o almoço.

— Você tem um ponto. – Digo. – E querem fazer o que?

— Ir ao cinema. – Apollo fala. – Pode chamar Vivian se quiser, Trent meio que ficou interessado nela, vou chama-lo também.

— Sério? – Questiono surpresa. – Uau, eu vou ligar para ela.

— Daqui meia hora? – Apollo quer saber.

— Tudo bem.

Fico na ponta dos pés e lhe dou um beijo rápido, beijar Apollo nunca ficaria cansativo para mim.

Volto para o quarto com o meu humor muito melhor, o que uns amasso não podiam fazer não é mesmo?!

Ligo para a Vivian e a convido, quase ficando surda seu grito quando falo sobre Trent.

Separando minha roupa me pego pensando se não era errado ser feliz naquele momento da minha vida, depois da minha perda tão recente. Logo tiro aquilo da cabeça e respirei fundo, meu pai me amava e queria me ver feliz.

Eu estava fazendo isso.