Avareza escrita por Srta Snow


Capítulo 2
Pecado 2


Notas iniciais do capítulo

Nathalia muito obrigadaaa pelo comentário mega fofo do capitulo passado.. Prometo responder direitinho pra vc essa semana xD beijos grandes



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— Que droga! Onde estou? – a voz alta e desesperada da garota fez com que Timothy abrisse os olhos contra a sua vontade. No mesmo instante em que levantou a sua cabeça sentiu suas costas doerem ainda sem acreditar que havia levado uma desconhecida para o seu apartamento. Demorou alguns segundos para que seus olhos se acostumassem com a luz e encarasse a desesperada jovem que olhava com medo. Cansado, espreguiçou-se lentamente antes de bocejar – Que porra é essa? – a garota tornou a dizer o que fez Timothy fazer uma careta. Ele sempre ensinara aos seus irmãos a não agir daquela forma e nem  proferir tantos palavrões.

Ignorando a garota propositadamente, ele olhou a sua casa com calma apenas para ter certeza de que tudo encontrava-se em seu devido lugar. O seu apartamento consistia em uma residência de tamanho médio com apenas um quarto, o qual ele havia cedido para a desconhecida. A sala de estar havia sido decorada por ele e isso era notável diante das cores sóbrias em cinza e azul. Uma televisão enfeitava uma parede pintada de azul, fazendo combinação com alguns aparelhos eletrônicos. Não demorou para examinar a garota histérica próxima a si. O vestido conseguia ser ainda mais sedutor a luz do dia, percebeu frustrado ao pigarrear e olhar para o rosto dela. Ela possuía uma face mais redonda do que se recordava, seus cabelos caiam em seu rosto fazendo-a parecer ainda mais jovem.

— Quantos anos você tem? – a voz de Timothy fez com que a garota desse um passo para atrás, surpreendida – O que foi?

— Tenho idade suficiente para saber que você pode ter me sequestrado ou me violentado – estremeceu apenas em falar tais palavras ao estudar o homem a sua frente.

— Como se eu quisesse me aproveitar de uma criança – resmungou sem humor ao se levantar. – Deveria estar me agradecendo agora e não enchendo os meus ouvidos a essa hora – sua paciência começava a esgotar-se, afinal ele jamais fora o irmão mais paciente – Foi deixada para atrás pelas suas amigas, bêbada e inconsciente em uma boate. Tem alguma ideia do perigo que correu? – perguntou retoricamente ao continuar a narrar o que acontecera – Eu estava indo embora quando dois homens se aproximaram de você, estavam lhe agarrando, e imagino que já saiba o que iria acontecer se eu não tivesse interferido.

A jovem fez uma careta em resposta. Ela tinha plena consciência de que ele tinha razão.

—E me trouxe para a sua... casa? – indagou incrédula ao vê-lo assentir em silencio – Quem faz isso? Qual o seu problema, afinal? Ninguém normal faz algo assim.

Timothy deu de ombros ao ajeitar a blusa em seu corpo e olhar para o relógio que ficava próximo a televisão.

—Porque não me levou para um hotel? – a simples palavra fez com que o homem arregalasse os olhos – O que foi? Poderia ter me deixado lá e ido embora em seguida.

— Está louca? Ainda deve estar bêbada, é a única explicação.

— Do que está falando?

— Hotéis são caros. – disse pausadamente como se explicasse algo a uma criança – Vamos supor que eu fizesse isso, quem iria pagar a conta? Seria eu. Por que eu deveria gastar dinheiro com alguém que eu não conheço?

— E é mais sensato me trazer para a sua casa? – gritou incrédula – Sempre faz isso? Como ainda não foi processado?

Timothy calou-se avaliando a melhor forma de responder aquela pergunta.

—Não faço isso sempre, não é como se eu fosse um herói.

—E porque fez isso por mim?

— Orgulho – revelou ao encará-la – Foi a única que se divertiu as minhas custas na boate, alguém precisava ser superior a isso.

Timothy percebeu o constrangimento na face dela.

— Não importa, já que acordou pode ir embora – deu de ombros ao ir em direção a cozinha, a qual possuía o conceito aberto. Abriu a geladeira feliz por encontrar leite gelado. Demorou alguns minutos para se virar e encontrar a garota ainda parada – O que foi? Não tem dinheiro?

— Eu tenho, só... Queria me desculpar da melhor forma com você – confessou com a voz baixa hesitante em encará-lo – Devo ter sido uma idiota e infantil, eu realmente peço desculpas e agradeço pelo o que fez comigo.

— Que seja – murmurou ao lhe dar as costas.

— O seu nome, qual é?

— Não é importante.

—Mas eu realmente quero saber o nome da pessoa que me salvou.

Algo na voz da jovem o fez suspirar antes de responder.

— Timothy.

— Timothy – ela repetiu animada ao sorrir – Vou lhe recompensar depois, Timothy.

—Não precisa – respondeu rápido ao pensar na quantidade de problemas que alguém jovem como ela poderia lhe trazer – Apenas não se meta mais em problemas.

— Farei o possível – sua voz animada contrastava com seu semblante preguiçoso – E meu nome é Julia.

— Não perguntei – resmungou cansado. Dormir no sofá sempre o deixava mal humorado. – E quando sair não esqueça de fechar a porta. – Ele não se virou ate o instante em que escutou o barulho da porta ser fechada. Tocou em seu rosto confuso consigo mesmo – Se Matt descobrir o que eu fiz, nunca irá parar de me perturbar – suspirou cansado ao olhar para o sofá – Seremos companheiros por mais um tempo – somente em pensar em tirar os lençóis da sua cama, o cansava.

—______________________

O olhar divertido do jovem sentado de forma despreocupada no escritório de Timothy fazia com que todos que olhassem a cena, sorrissem divertidos. O jovem possuía cabelos castanhos, olhos igualmente castanhos e um sorriso fácil que conseguia fazer todos se sentirem a vontade com ele. Seus pés encontravam-se em cima da mesa do seu irmão, enquanto olhava para o relógio estranhando a sua demora para começar o trabalho. Timothy jamais faltava ao trabalho ou se atrasava, pois para ele nada dignificava mais um homem do que o seu oficio.

— Ele está realmente atrasado – murmurou ao fechar os olhos. Matt não soube dizer o tempo em que ficou cochilando até sentir algo ser lançado em sua direção. – Está atrasado – reclamou assim que avistou Timothy com o semblante cansado. – O que aconteceu? Trabalhou até tarde imagino. – sorriu debochado.

O único som que Timothy fez foi grunhir. Sua paciência havia se esgotado há muito tempo.

— O que veio fazer aqui? Sabe que não gosto que me perturbem no trabalho.

Matt deu de ombros ainda sorrindo. Um sorriso que muitas vezes fazia o mais velho revirar os olhos e desejar lhe ensinar uma boa lição.

Homens não deveriam sorrir falsamente como conquistadores baratos. Lhe dissera diversas vezes sem sucesso.

Puxou Matt pelo colarinho de sua camisa e sentou-se em seguida em sua cadeira. Optou por não encarar o seu irmão caçula por receio dele desconfiar de algo. Não que ele estivesse escondendo o que acontecera com a jovem, mas se ele soubesse jamais teria paz outra vez.

— De qualquer forma, estou precisando de dinheiro.

— Não tenho nada com isso – o cortou mais rápido que conseguia. Havia prometido a si mesmo não dar dinheiro a nenhum dos seus irmãos, não mais, pelo menos. – Você já trabalha, não faço ideia com o que, mas sei que sim, então consiga seu próprio dinheiro.

A face ultrajada do mais novo não passou despercebida para Timothy.

— Eu já estou pagando o seu apartamento, então não irei gastar mais nada.

— O seu problema, além da velhice, é sua avareza – reclamou bufando.

— Alguém precisa guardar dinheiro – respondeu impaciente. Desde jovem sempre escutara a mesma coisa. – Vá trabalhar, preciso conseguir dinheiro.

—Essa é a sua desculpa para tudo – a sua raiva e impaciência era notória.

Timothy não emitiu nenhum som ao ignorar o seu irmão. Seu dia já havia começado terrivelmente e não planejava piorá-lo.

— Apenas me deixe sozinho – sussurrou como uma prece antes de escutar o telefone tocar, não demorando para atende-lo – Sim, sou eu. Preciso verificar as datas do fornecedor, mas presumo que esteja correto. Por favor, olhe isso. Posso esperar – disse antes de olhar de soslaio para Matt, o qual já havia deixado o escritório – Sim, tudo bem, eu irei retornar em dois dias. – desligou se sentindo mal consigo mesmo. Seu irmão caçula sempre havia sido mimado por ele, percebendo tarde demais o problema que causara em sua personalidade. Matt se tornara impulsivo e infantil.

Eu realmente quero vê-lo mais maduro e independente.

As horas se arrastaram com rapidez, e o homem avarento se deu conta do horário quando escutou batidas em sua porta.

— Vejo que se esqueceu de minha visita – o homem disse acompanhado de um sorriso convidativo. Timothy o olhou por alguns segundos até reconhecer o seu antigo professor da universidade. O professor Curtis denotava vitalidade apesar de seus cabelos estarem completamente grisalhos e seus olhos envoltos em rugas. Ele envelhecera rápido demais – Posso voltar outra hora.

—Não, por favor – Timothy falou educado ao se levantar abruptamente e sorrir para o homem a sua frente – Eu acabei me esquecendo com o trabalho, sente-se por favor – indicou o sofá próximo a porta – será mais confortável. Deseja beber algo?

— Um homem velho como eu não deve beber – brincou sorridente – Faz um tempo que não nos vemos.

— É verdade. Imagino que os novos estudantes estejam lhe dando trabalho.

— Bastante. Se metade deles fossem como você, eu poderia me aposentar – sorriu mais uma vez ao ver Timothy envergonhado – E espero que não tenha ficado muito constrangido com o meu pedido.

— Não, será um prazer – respondeu sincero ao se recordar do e-mail que recebera semanas atrás do professor a sua frente pedindo para ele entrevistar uma pessoa e ajuda-la, empregando-a como uma estagiária em uma de suas boates. Ela precisava de dinheiro e experiência, e ele de alguém útil.

— Não faça, se estiver se sentindo forçado a isso.

— Eu não estou. Se está indicando, é por ser confiável.

O professor sorriu aliviado ao concordar em silencio.

— Peça para vier amanhã.

— Poderia ser hoje? Me perdoe pelos meus pedidos excêntricos.

— Não tem problema –sorriu compreensivo ao concordar – Depois do almoço seria perfeito.

— Já são quase três da tarde – gargalhou diante do olhar surpreso – Vejo que estava envolvido pelo trabalho.

—Realmente.

— Posso manda-la vir em uma hora, se não for incomodo.

— Nenhum problema, mas é uma mulher?

— Sim, terá algum problema?

— Não – negou omitindo o seu desconforto. As mulheres tendiam a se tornar interessadas nele quando descobriam o quanto ele valia – Estarei esperando por ela.

—Perfeito – sorriu mais uma vez antes de se levantar – Não se preocupe, irei ser o mais profissional e gentil possível.

— Eu lhe agradecerei – o professor se levantou sorrindo – Obrigado, Timothy.

Timothy sorriu antes de ver o professor partir.

—Será uma longa tarde.

—____________________

Uma batida sutil e fraca fez com que Timothy erguesse a sua cabeça e encarasse a pessoa que tirou a sua concentração. Seus olhos pousaram na figura acanhada da mulher a sua frente tentando não emitir algum resmungo ao perceber que a reconhecia, apesar de suas roupas serem sóbrias e seus cabelos estarem presos em um rabo de cavalo desleixado. Os olhos dela lhe davam a sensação de um animal prestes a ser abatido.

— O que deseja? – Timothy perguntou cansado ao desviar o seu olhar por alguns segundos, tempo suficiente para ela responder.

— O professor Curtis me enviou – a sua voz baixa fez com que o homem fizesse uma careta em resposta.

Nós dois sabemos que consegue gritar bem alto e ser histérica.

— Certo – se levantou ajeitando a camisa social que teimava em apertar o seu braço. – Por favor, sente-se – disse sem indicar o lugar, segurando o sorriso diante de seu semblante nervoso. Ela não demorou para escolher a cadeira em frente a sua mesa – Então.. Como devo chama-la?

—Julia Mertiele – respondeu ao encará-lo com cuidado.

— Tem alguma experiência Julia?

— Não, mas sou esforçada. Aprendo tudo com facilidade e...

— Não lhe aconselho a dizer algo assim – Timothy a interrompeu – De qualquer forma foi indicada por um amigo, o qual aprecio, então irei lhe dar uma chance, mas antes preciso que me diga a sua idade. Não posso deixar uma menor de idade trabalhar em uma boate.

— Tenho vinte e dois anos – o som de alivio não passou despercebido.

— Irei lhe contratar, mas saiba que se não estiver dentro de minhas expectativas, irei manda-la embora. Não gosto de brincadeiras em horário de trabalho e nem de flerte, consegue me entender? – a jovem concordou em silêncio ao encará-lo – Perfeito. Qual o horário que melhor se adequa a sua faculdade?

— Estudo pela manhã, a tarde ou final da tarde estaria perfeito – respondeu séria tentando controlar o seu nervosismo.

— Certo – Timothy olhou para os diversos documentos espalhados em sua mesa como se buscasse algo, e logo se viu desistindo – Preciso anotar o seu número, espere um segundo – pediu ao passar o olho por cima da mesa e em seguida abrir uma das gavetas. Encontrou um bloco de anotações, o que o fez sorrir em resposta – Pode anotá-lo aqui. Irei entrar em contato para lhe avisar o dia em que deverá vir trabalhar juntamente com os documentos que deverá trazer.

— Certo – a voz baixa da jovem continuava intrigando o homem. Timothy observou os dedos longos deslizando pela caneta, a forma como seu braço se curvava ligeiramente a medida que escrevia. Nada lhe passou despercebido. Envergonhado com seu comportamento, se viu tossindo levemente atraindo a atenção da jovem – Algo aconteceu?

Timothy negou ao balançar a cabeça desviando o olhar.

— Se não tiver perguntas, a entrevista encerrou.

—Me desculpe, mas o que irei fazer? – a pergunta de Julia o pegou desprevenido ao ponto de encará-la com horror. Se ele fosse honesto consigo mesmo, saberia que não precisava de ninguém, mas se viu cedendo para o seu antigo professor e em seguida para a jovem que conhecera na noite anterior. – Talvez Matt tenha acabo com o restante de minha insanidade.

— Irá auxiliar nas contas e no que mais precisar – disse a primeira coisa que lhe passou pela cabeça e ao olhar em seus olhos perceber ter acertado. Ela parecia estar feliz.

Agora eu me importo com isso?

— Mais alguma pergunta?

— Não – negou sorridente ao se levantar estendendo o bloco com o seu número – Estarei esperando a sua ligação, Timothy.

O som de seu nome saindo dos lábios de Julia soou mais agradável do que ele gostaria de admitir.

— Perdoe-me, deveria ser mais formal?

—Não, está tudo bem – mentiu. Todos eram acostumados a chama-lo de Scott. Nunca de Timothy.

— E o sobre o seu chefe? Deveria saber algo?

Timothy piscou confuso ao encarar a jovem. Ele era o dono de tudo, apenas ele.

— Como?

— O seu chefe. O dono da boate.

O silêncio se tornou constrangedor.

— Não haverá problemas – Timothy se viu falando sem acreditar em si mesmo. Ele acabara de mentir para ela.

— Será um prazer trabalhar com você – Julia sorriu antes de dar as costas a Timothy e sair pela porta silenciosamente.

— O que diabos acabei de fazer?


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