Avareza escrita por Srta Snow


Capítulo 1
Pecado 1




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Um avarento juntou tudo o que tinha e transformou numa barra de ouro que enterrou em seu jardim: com ele enterrou também sua alma e todos os seus pensamentos. E desde então, diariamente, ia inspecionar seu tesouro. Um de seus empregados, observando aquele vaivém, viu logo de que se tratava; desenterrou a barra de ouro e levou-a. Pouco depois, o avarento foi fazer sua inspeção. Quando viu o buraco vazio começou a se lamentar e a arrancar os cabelos. Vendo-o nesse estado, um transeunte perguntou o que tinha acontecido e, compreendendo o que afligia o avarento, disse-lhe: "Por que ficar assim tão desolado? Tinhas o ouro e ao mesmo tempo não o tinhas. Basta pôr uma pedra no lugar onde estava a barra de ouro e imaginar que ele está lá. Pelo que vejo, mesmo quando o ouro estava lá, não fazias uso dele".

Moral: Ter bens e não usufruí-los é o mesmo que não os ter.

Fábulas de Esopo

***

O barulho ensurdecedor da música eletrônica não parecia abalar o homem com o semblante fechado que caminhava entre todos com seriedade e imponência. Todos os funcionários da boate se entreolhavam ao perceberem a presença do terrível Timothy Scott, o homem cujos olhos frios conseguia ser mais assustador que uma gangue de mafiosos.

Em plena sexta-feira a noite, a boate Frog, encontrava-se lotada assim como todas as outras pertences a Timothy. O homem taciturno que conseguia fazer com que todas as boates que tocasse se tornassem famosas e badalas.

Ao andar próximo ao bar, um suspiro escapou dos lábios do homem com o semblante sério ao perceber a quantidade de dinheiro sendo gasta de forma despretensiosa pelos jovens que frequentavam, e com um olhar de reprovação se viu avalizando o serviço dos garçons. Nada para Timothy poderia ser considerado diversão ao estar dentro de suas boates, pois seus olhos buscavam a perfeição em tudo. As luzes piscando de forma incessante assim como o volume da música não passou despercebido.

Estendeu a mão por alguns segundos apenas para ver um dos garçons se aproximar sorridente, mas Timothy conseguia sentir o medo deles.

— Uma agua com gás – pediu sério com a voz baixa com o intuito de testá-lo, e não demorou para se sentir satisfeito ao vê-lo lhe entregar o que pedira segundos depois. – Mais alguma coisa? – Timothy negou ao balançar a cabeça, enquanto olhava para um grupo de garotas que gritavam eufóricas. Não foi difícil imaginar que todas estavam bêbadas. O seu olhar percorreu o grupo por curiosidade ao constatar que todas possuíam cabelos negros. Entretanto, não demorou para dar de ombros e se dar por satisfeito. Seguiu em direção ao seu escritório, o qual se encontrava no segundo andar da boate, mas optou por passar próximo ao grupo de garotas por acreditar que chegaria mais facilmente ao seu destino.

Ledo engano.

As jovens começaram a sorrir em demasiada e em poucos segundos se viu sendo arrastado para perto delas. O seu corpo era mais forte, disso ele sabia, mas não iria ser descortês com uma cliente sua.

Respirou fundo antes de olhar para a jovem que lhe segurava com ansiedade. Os cabelos negros caiam pelo seu rosto contrastado com o tom de sua pele. Seus olhos castanhos faziam um par adorável ao formato de seus lábios. E sem de forma inconsciente se viu olhando para suas pernas grossas.

— Eu quero você – ela gritou eufórica ao se agarrar a ele.                             

— O que... – antes que terminasse a frase, a jovem ergueu-se na ponta dos pés, e usando-o como apoio, selou os seus lábios. As amigas sorriam e gritavam, enquanto o homem mantinha-se estático ao sentir as mãos da jovem em seu peito. Ela o acariciava ao mesmo tempo em que sua língua passeava pelos seus lábios, pedindo passagem. Timothy sabia o que deveria ser feito: afastá-la de si e após isso proferir um discurso sobre bom comportamento. Porém, suas mãos circundaram a sua cintura, seus olhos se fecharam e abriu os lábios sentindo o gosto da vodka.

O beijo da desconhecida era avassalador e inquietante. Ele não conseguia parar de tocá-la ao mesmo tempo em que a beijava.

Senti-la era viciante. Percebeu no instante em que ela afastou o seu rosto do dele, sorrindo.

Timothy olhou para os seus olhos e não demorou para perceber que algo estava errado. As garotas do grupo começaram a gritar sobre ela ter ganhado.

— O que foi isso? – perguntou com a voz dura ao afastar-se dela.

— Ela apostou que conseguiria um beijo do cara inexpressivo do bar – uma das garotas falou ao se apoiar na desconhecida que o havia beijado.

Sem nada a dizer, Timothy deu as costas e se afastou o mais rápido que conseguia para a segurança de seu escritório. Ele odiava pessoas como a desconhecida.

Suspirou ao subir as escadas após passar pelo segurança e abrir a porta de sua sala, onde nada escutava. Ele havia projetado aquele ambiente para ser o seu refúgio. Totalmente a prova de sons, telefone direto para o bar ou qualquer outro local da boate, inúmeros monitores espalhados em uma parede do escritório mostrando as imagens das câmeras, e o mais importante de todos, o silêncio. Ao fechar a porta atrás de si, se viu sentindo raiva por ter cedido a jovem e se tornado uma aposta.

Se sentia velho demais para algo como aquilo.

Velho demais para ter cedido facilmente.

— Odeio as sextas-feiras – resmungou ao se sentar no sofá próximo a porta e olhar para a parede. A vida de Timothy se resumia a seus irmãos desde que se entendia por indivíduo. Ele se perguntava o que começaria a fazer assim que seus irmãos começassem a ter a sua própria família – Talvez eu apenas deva ficar sozinho – murmurou pensativo ao fechar os olhos.

A boate continuava agitada quando Timothy abriu os olhos, horas depois. Olhou frustrado para o relógio em seu pulso e se levantou do sofá sentindo suas costas doerem um pouco. Arqueou-se o suficiente para que escutasse um estralo. Olhou para o escritório com calma antes de desligar a luz e sair. Aquela era a primeira vez que saia sem papeis para ler em casa. Ao descer as escadas escutou os gritos dos jovens e inconsciente sentiu seus olhos irem em direção onde o grupo de jovens estavam anteriormente. Parou inquieto ao ver apenas uma delas sentada, com a cabeça apoiada no balcão.

Não tenho nada com isso.

Deu as costas, mas logo se viu olhando para ela solitária. Respirou fundo ao ver dois homens se aproximarem dela.

Não tenho nada com isso.

Repetiu mais uma vez ao caminhar em direção a ela.

— Posso ajudar, senhores? – a voz grossa de Timothy fez os homens pararem de puxar o braço da jovem e encará-lo.

— É o cara dela?

Timothy poderia responder que não e dar as costas, mas sua consciência não permitiria isso, mesmo que a jovem tivesse o insultado da pior forma possível. Ele havia criado os irmãos para ajudar as pessoas quando precisassem e não iria fazer o contrário.

— Sou – mentiu ao segurar no braço dela – Agora poderia sair daqui? – perguntou calmo ao encará-los. Os dois homens deram de ombros antes de proferir palavras rudes e saírem. Timothy não sabia o que sentir ao olhar para a cena a sua frente. A jovem permanecia com os olhos fechados murmurando coisas desconexas. – O que acontece com os jovens hoje em dia? – questionou-se ao olhar em volta em busca das outras garotas, não as encontrando. Seu olhar foi de encontro ao corpo da desconhecida. O vestido preto ajustava-se as suas curvas revelando detalhes que ele preferia não ter visto, como suas pernas grossas e o decote. – Droga!


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Notas finais do capítulo

História será postada lentamente rsrs



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