Treehouse Café escrita por LStilinski


Capítulo 1
Capítulo Único




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Eu estava namorando aquele café havia muito tempo.

O Treehouse Cafe ficava a algumas quadras do meu apartamento. Era um estabelecimento pequeno, de aparência aconchegante, e eu podia sentir o cheiro de café de longe. Se eu deixasse meu vício pela bebida me guiar, já teria visitado o lugar há muito tempo. Mas a faculdade exigia muito tempo, então tudo o que me sobrava era sentir o cheiro na viagem de ida e volta, e me contentar com meu próprio café.

Em uma tarde fria de quinta-feira, decidi que merecia uma folga.

Fui andando do meu prédio até o café. O cheiro era ainda melhor do lado de dentro. O lugar fazia jus ao nome; o chão e as paredes eram de madeira, assim como as mesas redondas e as cadeiras. Nos booths ao lado das janelas, os assentos dos bancos eram acolchoados, e neles haviam almofadas separadas que aparentavam ser bem macias. O ambiente era decorado com ramalhetes de pequenas flores coloridas, do tipo que era encontrado nos campos e jardins. 

Se ignorasse o barulho da cidade grande ao meu redor, poderia fingir que estava em um lugar isolado, distante de toda a correria, um lugar onde eu poderia sentar e tomar um café, esquecendo todos os meus problemas. 

Perto do balcão, haviam três pessoas na fila. Fiquei atrás da última e peguei o cardápio, escolhendo uma entre as muitas opções deliciosas de bebidas enquanto esperava chegar a minha vez. 

— Boa tarde - disse uma voz feminina. - Pronto para pedir?

— Sim, eu vou querer... - As palavras foram apagadas da minha mente no momento em que levantei meus olhos. Parada em minha frente estava a garota mais linda que eu já havia visto. Seus cabelos ruivos caíam em ondas pelos seus ombros. Sua pele era clara, seus lábios, cheios. Seus olhos grandes tinham um tom incrível de verde, quase como duas esmeraldas. 

Ela ergueu uma sobrancelha, provavelmente porque eu a estava encarando boquiaberto, parecendo um idiota, por tempo demais.

— Um... café - consegui terminar. Sim, parece meio estúpido entrar numa cafeteria e simplesmente pedir um café, mas eu estava em estado de choque. Meu coração corria e dava pulos como um atleta descontrolado. - Preto - completei com o primeiro tipo de café que veio na cabeça.

Ela me lançou um olhar como se perguntasse se eu estava bem.

— Certo... - Ela anotou meu pedido rapidamente. - Seu nome?

— Stiles - respondi, mas estava tão nervoso que a palavra deve ter saído como "sdalz".

Ela franziu o cenho.

— Como? 

— Stiles - repeti, mais devagar. Eu tinha certeza de que ela achava que havia algo errado comigo. Quis dar um tapa na minha própria cara.

— Mais alguma coisa?

— Não, não - Só seu nome, seu número, tive vontade de dizer. Paguei e a observei enquanto ela contava meu troco. Ao me entregar o dinheiro, ela me lançou um sorrisinho educado, de lábios fechados. Não havia nada de especial naquele sorriso; ela provavelmente o dava de cortesia para todos os clientes. Mesmo assim, meu coração pareceu parar antes de recomeçar sua corrida frenética. 

Meu deus, ela é linda.

Ela passou meu pedido para outro funcionário, encarregado de preparar as bebidas, e pediu para que eu esperasse ao lado. Meus olhos continuaram nela enquanto ela atendia o próximo da fila. Ela era linda, e era só isso que me cérebro conseguia processar . Quase fiquei chateado quando o outro funcionário chamou meu nome.

— Aqui está - ele disse, me entregando o café.

— Obrigado - murmurei, pegando o copo de papel com minha mão suada. 

Sentei-me em um dos booths ao lado da janela, de onde eu tinha uma vista não só da tarde chuvosa, mas também da garota no balcão. Ela atendeu as duas pessoas que esperavam atrás de mim, dando-as o mesmo sorriso. Eu imaginei como seria um sorriso de verdade vindo dela. Senti uma vontade enorme de fazê-la rir. 

Naquele momento decidi que sempre arranjaria tempo para voltar.

xxxx

No sábado, voltei ao Treehouse Cafe. Estava cheio de coisas para ler e estudar, mas mesmo assim decidi que tinha que vê-la novamente. Levei um livro na mochila, para aproveitar meu tempo observando a atentente ruiva enquanto fazia algo de útil.

Sentia um sorriso de animação aparecer em meu rosto á medida que me aproximava do local. A ansiedade fazia meu coração bater mais forte. Mais alguns metros e eu a veria...

Meu sorriso murchou. Ela não estava lá. Em seu lugar, uma morena bonita atendia uma senhora. Senti vontade de chorar como uma criança mimada. Ela não estava lá. 

Triste, comprei meu café e voltei para casa. Não fazia sentido ficar lá sem ela.

xxxx

Tentei voltar lá antes, mas o tempo livre só veio na quinta-feira.

Neste meio tempo, ela invadia minha mente constantemente, fazendo com que esquecê-la se tornasse uma tarefa impossível. Essa vontade tão grande de ver alguém era novidade para mim, principalmente se tratando de alguém que eu só havia visto uma vez. 

No caminho para o Treehouse Cafe, eu não consegui evitar me sentir um idiota. O que eu estava fazendo era estranho, ridículo. Eu estava agindo como um psicopata, um stalker. 

Por que eu precisava tanto vê-la? O que havia naquela garota?

Não havia fila quando entrei na cafeteria. Aproximei-me do balcão, olhando o cardápio distraidamente enquanto esperava ser atendido. Com certeza, aparentava estar mais calmo do que realmente estava.

Então ela apareceu.

Tinha as bochechas coradas e um sorriso no rosto. Parecia estar se recuperando de um sério ataque de riso. Seu cabelo estava solto, caindo pelos ombros em ondas bagunçadas. 

Ai meu deus, você é linda.

Eu ofeguei. Meu coração dançava em meu peito, e eu estava paralisado. Ela era tão linda que tinha medo de que, se olhasse demais, ficaria louco. Mas não conseguia desviar o olhar. Ela era como um raio de luz que iluminava um quarto escuro, como a primeira flor que brota na primavera; era simplesmente impossível não admirá-la.

— Boa tarde - ela disse, com a voz rouca de quem acabou de recuperar o fôlego. - Posso anotar seu pedido?

— Vou querer um café... preto. - Eu sabia que eu deveria ter dito "boa tarde", e queria ter pedido outra coisa. Mas eu mal conseguia pensar direito. Respirei fundo, tentando me acalmar.

— Seu nome?

— Stiles - respondi, levemente desapontado por ela não ter lembrado meu nome. Mas, afinal, por que ela lembraria? Eu só havia estado lá uma vez, nem sabia quantos clientes ela havia atendido depois de mim. 

— Hum, nome legal - ela comentou, distraída. Eu corei que nem um garotinho, e sorri.

— Valeu - disse, feliz por terem tipo uma interação que não era simplesmente empregado-cliente. 

— Mais alguma coisa? - ela perguntou, e o nosso momento havia acabado. Reprimi um suspiro.

— Não, só o café.

— Ok, só um minuto. - Como não havia fila, ela mesma foi preparar meu pedido. Eu a assisti enquanto ela preparava minha bebida. Soltava gargalhadas baixinhas de vez em quando, como se ficasse lembrando do motivo do ataque de risos. Eu queria muito saber o que era; queria rir com ela. 

Ela me entregou o copo fumegante. Eu paguei, sem tirar os olhos do seu rosto corado. O sorriso que ela me lançou ao dar meu troco foi um pouco mais genuíno. Não consegui evitar; sorri de volta. E poderia ter ficado lá sorrindo para ela por horas, mas decidi que ir me sentar era uma ideia melhor.

Sentei em um booth mais afastado, de onde tinha uma vista do balcão. O movimento estava lento, portanto após ficar alguns minutos lá, a garota voltou para os fundos. Suspirei e peguei o livro que levara para me distrair. Havia lido duas páginas quando escutei o som que desejava tanto.

Ela estava rindo.

Sorri para o livro em minhas mãos, sem prestar atenção para as palavras, só me deliciando com aquele som angelical. Ela ria como uma criança.

O som parou; ela provavelmente estava se controlando. Senti falta do seu riso imediatamente, mas estava feliz. Eu não era o motivo de sua risada, mas me surpreendi ao perceber que, se ela estava feliz, eu também estava.

xxxx

— De novo: por que estou fazendo isso? - Scott perguntou, tanto para mim quanto para si mesmo.

— Porque estou apaixonado - respondi. Um exagero, é claro; era loucura se apaixonar por alguém sem nem mesmo conversar com ela. Eu sequer sabia seu nome. Não sabia do que ela gostava, de onde ela vinha, o que fazia além de trabalhar na cafeteria. Em suma, eu não a conhecia, nem um pouco. Pensar nisso me deixou um pouco triste. Talvez eu estivesse mesmo louco, porque definitivamente estava gostando dela.

Scott revirou os olhos, como se tivesse ficado claro que eu estava falando besteira.

— Sim, claro que está.

— Cara, é sério. Ela é simplesmente... - Não completei a frase. Ele saberia do que eu estava falando no momento em que entrássemos na cafeteria. - Você gosta de café, não gosta?

— Gosto.

— Então para de fazer perguntas e entra logo.

Empurrei-o de leve porta adentro. Sei que parece meio doido eu querer tanto que meu amigo conhecesse a garota por quem eu tinha uma queda, mas Scott e eu éramos assim. 

Era quinta-feira, e eu sabia que ela estaria no balcão. Mesmo assim, meu coração acelerou quando a vi, com o mesmo sorriso educado no rosto. Seus longos cabelos ruivos estavam presos numa trança que caía pelo seu ombro, deixando-a parecida a uma pintura renascentista. 

— É, ela é gata - disse Scott, tirando-me dos meus devaneios. Eu quase havia esquecido que ele estava ao meu lado. Olhei para ele como se ele houvesse enlouquecido.

Gata!? - exclamei. "Gata" era muito pouco, era o elogio mais simples; não fazia jus a ela. Era como assistir ao melhor filme de todos e dizer que ele é "legal". Como comer a melhor comida e dizer que "não é ruim". Era tão pouco que soava errado. - Gata?

Scott deu de ombros, sem entender minha reação.

— Ela é bonita. - Eu continuava a encará-lo como se acabasse de ouvir a coisa mais absurda de todas. Ele revirou os olhos. - O que mais você quer que eu diga? É você quem tem uma queda por ela, não eu. Deixe de ser uma rainha do drama e vá comprar meu café.

— Vá você - resmunguei. Foi uma resposta automática que, naquele momento, não fez nenhum sentido, já que era eu quem estava louco para falar com ela. Scott sabia disso, e simplesmente ergueu uma sobrancelha para mim. - Já estou indo.

Fui para a fila, já sentido meu coração acelerar. A ansiedade e a animação me faziam parecer como uma criança prestes a ganhar um presente. Só que eu duvidava que a criança sentisse o nervosismo que eu sentia. Aquela garota me deixava em um mix louco de emoções, mas eu não me importava.

Quando a última pessoa na minha frente pegou sua bebida e saiu, eu respirei fundo e dei um passo a frente. Ela levantou seus grandes olhos verdes para mim, e deu um sorrisinho.

— Olá - disse ela. Nada daquele "boa-tarde" automático. E o sorriso não foi um daqueles que ela dava de cortesia para os clientes. Aquele sorriso foi para mim. Ela havia falado comigo, Stiles, e não com mais um cara que viera comprar café.

O sorriso que dei em resposta foi cem vezes mais largo, e eu quase ri de alegria.

— Olá - respondi, ainda sorrindo que nem um idiota.

— O que vai querer? - ela perguntou, ainda me olhando. 

— Um café preto... Não, dois. - Por um segundo, esqueci novamente que Scott estava lá, provavelmente me assistindo agir como um bobo. - É, dois cafés pretos.

— Ok... - ela murmurou, anotando o pedido. Levantou os olhos e apontou para mim com a caneta, erguendo uma sobrancelha perfeita. - Stiles, certo?

Ouvir a voz dela dizer meu nome quase me fez flutuar pela cafeteria. Me sentia um viciado que acabara de tomar uma dose de sua droga preferida. Queria sair dançando, cantar em voz alta, ou simplesmente segurar seu rosto e beijá-la. Me limitei a sorrir. 

— Voce lembrou - eu disse. Se Scott estivesse ouvindo, com certeza riria do meu tom de voz retardado.

Ela apenas deu de ombros, como se não notasse a loucura que tomava conta do rapaz na sua frente. 

— É um nome diferente. Fácil de lembrar. - Eu acenei com a cabeça, concordando. - Mais alguma coisa?

— Hum?

— Quer mais alguma coisa?

Abri minha boca para dizer que não, mas mudei de ideia. A confiança que senti naquele momento era novidade para mim, então me aproveitei dela.

— Na verdade, quero sim - eu disse. - Seu nome.

A ruiva ergueu as sobrancelhas, obviamente surpresa pela minha atitude. Eu também estava bastante surpreso comigo mesmo, mas esperava não deixado transparecer. Ela me encarou com olhos levemente arregalados. Justo quando eu começava a me arrepender de ser tão idiota e a esperar que ela me mandasse fazer algo impróprio, ela sorriu. 

— Lydia - ela disse. 

— Lydia - repeti, só porque queria provar seu nome em minha língua. Lydia. Bonito e delicado; era perfeito para ela. - Prazer em conhecê-la.

Sua risada foi música para meus ouvidos. Suas bochechas estavam rosadas.

— Igualmente - respondeu.

Alguém pigarreou atrás de mim, e o meu tempo com ela estava chegando ao fim. Entreguei-a uma cédula para pagar pelas bebidas. Eu não tirava os olhos do seu rosto ainda corado, do sorriso que ainda estava em seus lábios cheios. 

Nossos dedos se tocaram quando ela me deu meu troco. Eu não soube dizer que havia imaginado a eletricidade entre nossas peles. Pelo jeito que o tom de rosa que tingia suas bochechas ficou mais escuro, ela havia sentido algo também.

Peguei os cafés e fui até a mesa onde estava Scott. Eu não sentia o chão de madeira sob os meus pés. Scott falou alguma coisa, mas eu não estava escutando. Minha atenção ainda era dela. 

xxxx

Imaginei uma música animada tocando pela rua enquanto andava para a cafeteria. Logo os outros pedestres começariam a dançar e a cantar como se não houvesse amanhã. A festa me seguiria até a porta do Treehouse Café, e todos aguardariam, espiando pelas janelas, enquanto eu apoiava Lydia em um dos meus braços e a beijava apaixonadamente.

Sorri comigo mesmo. Cara, eu estava tão na dela.

Infelizmente, a festa ambulante era só minha imaginação, mas eu me sentia tão feliz quanto estaria se fosse verdade. Estava feliz porque sabia que, quando passasse pelas portas de madeira e o sininho nela preso avisasse minha chegada, eu não seria apenas mais um dos milhares de clientes que entraram ali (embora a desculpa de ir até lá porque o café era realmente maravilhoso ainda estivesse valendo). Não, eu seria Stiles indo encontrar Lydia, o provável futuro amor da sua vida. E ela estaria me esperando, ansiosa pela minha chegada, mordendo o lábio enquanto lançava olhares inquietos para as janelas. 

Tudo bem, isso também foi minha imaginação. Eu ganharia meu dia se ela lembrasse de mim.

Uma garota como ela devia atender dezenas de caras como eu; completamente perdidos diante tanta beleza, agindo como bobos, talvez até fazendo sempre o mesmo pedido e sempre voltando para vê-la. Lydia devia estar acostumada com os olhares e as reações. E devia rir dos marmanjos que faziam fila para conquistá-la. 

E eu... Bem, eu era eu. Tinha um rosto irritantemente comum, cabelos sempre bagunçandos (culpa minha, que nunca os arrumava, mas também deles, que não ficavam no lugar) e escuros, assim como os meus olhos - embora minha mãe insistisse em chamá-los de âmbar. Para mim, era marrom. Eu não tinha nada de especial, nem no meu rosto, ou no meu corpo (Eu não era magrelo, mas também não tinha os músculos que gostaria de ter), ou na minha personalidade. 

Era óbvio que meu lugar na fila não era favorável. Mas estar na fila já era bom o suficiente para mim.

Respirei fundo e empurrei a porta. Lydia mexia no celular, encostada no balcão, e não deve ter notado o sininho da porta. Por um segundo, me perguntei se ela estaria falando com o namorado. Esse pensamento foi um soco bem dado na meu ego. 

Ah, o ciúme. Era muito estranho sentir raiva de alguém que nem conhecia. Pior, que eu nem sabia se existia. Balancei a cabeça. Eu deveria detestar essa garota por todas as coisas que ela fazia com a minha cabeça, mas era tarde demais para escolher o ódio ao invés do amor.

Decidi interromper meu diálogo interno fui até ela, que ainda não havia notado minha chegada. Umedeci meus lábios, respirei fundo e disse:

— Oi.

Lydia deu um pulo e quase derrubou o celular. Ela me encarou com olhos arregalados, e eu estava prestes a me desculpar (e provavelmente sair correndo) quando ela me lançou um sorriso que quase me derrubou. 

— Hey! - disse ela, sem fôlego.

— Foi mal, não queria te assustar...

— Não, tudo bem. Eu estava distraída. - Ela gesticulou para o celular. Eu balancei a cabeça, concordando. Seus cabelos ruivos estavam presos em um rabo de cavalo, e eu estava realmente me esforçando para não puxar o elástico e deixá-los cair pelos seus ombros. Queria acariciar aquelas madeixas de cor tão diferente e linda; queria saber se eram tão macias quanto pareciam. 

— Stiles?

— Hm? - respondi, voltando meu foco para o seu rosto. 

Lydia riu da minha reação (e da minha provável cara de bobo).

— O que vai querer? - ela perguntou, mas antes que eu pudesse responder, ela me interrompeu: - Deixa eu adivinhar, café preto?

Eu pisquei os olhos, pego de surpresa.

— Como você sabe?

Ela deu de ombros, como se aquilo não significasse nada.

— Você sempre pede isso. - Tive vontade de gritar. Ela lembrava meu nome, lembrava o que eu pedia. Comecei a cogitar a possibilidade de que ela prestava atenção em mim do jeito que eu prestava a ela... O que era completa maluquice. - É seu tipo preferido?

Não, você que é.

— Ahn... não - respondi, o que soou mais como uma pergunta.

Lydia franziu o cenho.

— Então por que você só pede isso?

— Eu não sei. - Resisti ao impulso de enxugar as palmas das minhas mãos na calça. Estava tão nervoso que tinha certeza de que estaria suando baldes se não estivesse frio. 

Lydia apenas concordou com a cabeça, ignorando minha incoerência, o que me deixou bastante grato.

— Já que é assim - disse ela, puxando o cardápio que estava no balcão e me entregando - Escolhe outro.

Eu analisei o cardápio, depois olhei para ela.

— Qual você recomendaria?

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Essa é uma escolha muito difícil. Tem certeza que quer que eu a faça para você?

Eu sorri, entregando-a o cardápio.

— Confio em você.

Lydia me olhou nos olhos, pegando-o da minha mão. Seus lábios se juntaram num biquinho enquanto ela escolhia um dos vários tipos de café. Quando pareceu ter encontrado o tipo certo, sorriu de leve, virando-se para preparar a bebida.

— Qual deles você escolheu? - perguntei, voltando a olhar o cardápio.

— Surpresa - ela respondeu. Eu esperei ela voltar, sorrindo para mim mesmo. Será que ela escolhia um tipo de café para todos da fila, ou só para os que fossem corajosos o suficiente para pedir? Se, por um lado, eu detestasse o que ela me fazia sentir, por outro, eu adorava quem eu era quando conversávamos. Tudo bem, aquela era a nossa segunda interação oficial, mas também era a segunda vez que eu agia com uma coragem (e ousadia) que eu nem sabia que tinha.

Lydia voltou com uma caneca transparente cheia do que parecia ser um tipo de café cremoso marrom-claro. 

— Caramelo macchiato - disse ela, me entregando a caneca. - Vá em frente.

Tomei um gole. A bebida desceu pela minha garganta me esquentando por inteiro. Eu não sabia o que era um macchiato, mas amava caramelo. Fiquei um pouco chateado comigo mesmo por pedir tantos cafés pretos quando podia estar bebendo aquilo.

— Então? - ela perguntou, me olhando com expectativa. 

— Meu deus, isso é muito bom - respondi, tomando mais um gole. Lydia deu uma risadinha, e quando olhei para ela, gesticulou para minha boca. É claro que eu tinha um bigode de macchiato. Me limpei com as costas da minha mão, corando dos pés a cabeça. 

— Que bom que gostou - disse ela, continuando a conversa como se eu não tivesse acabado de passar vergonha.

— Então... Você escolheu aleatoriamente ou eu tenho cara de quem gosta de caramelo?

— Não foi aleatoriamente - ela respondeu, dando um sorrisinho como se estivesse me contando um segredo. - Eu gosto de caramelo.

Eu sinceramente queria aceitar que ela havia escolhido aquela bebida por que já havia provado e aprovado, mas com o olhar que ela me lançava, era impossível não pensar no que suas palavras significavam. Meu cérebro imperativo começou a juntar os pontos, procurando uma resposta.

Lydia gostava de caramelo. Pode ter pensado: "Hm, ele deve gostar de caramelo. Todo mundo gosta.". Ou, numa segunda hipótese mais otimista (e insana), pode ter pensado: "Posso dizer que gosto dele através de outra coisa de que gosto."

Ela gargalhou, olhando para mim. Já haviam me dito que eu fazia uma cara engraçada quando meu cérebro trabalhava demais. Lydia estava com as bochechas rosadas e mordia o lábio, e de repente tudo ficou claro. Eu não estava inventando mensagens subliminares.

— Ah... - Foi tudo que eu falei. Meu rosto estava quente e mil vezes mais vermelho que o dela. Não podia arriscar dizer que também gostava dela porque, primeiro, eu acabaria me declarando e assustando a garota, e segundo, gostar tinha muitos significados. Ela podia gostar de mim porque gosta de garotos que agem como bobos, ou porque me achava legal, ou (eu duvidava muito que ela estivesse usando esse sentido da palavra) porque ela me achava lindo e queria me agarrar ali mesmo. 

Seja qual fosse o sentido, ela gostava de mim. Lydia gostava de mim. Levantei o dedo do meio para todos os otários naquela maldita fila. Eu estava mais próximo de conquistá-la do que todos eles.

xxxx

Minhas visitas ao Treehouse Café se tornaram a melhor rotina das histórias das rotinas.

Mesmo quando o tempo livre que eu tinha começou a se tornar escasso por causa da época de provas que se aproximava, minhas tardes de quinta-feira sempre tinham outros planos além dos livros. Uma vez na semana, sem falta, eu refazia meu caminho até a cafeteria, e contava as horas até a próxima semana a partir do momento que saía de lá. Meus encontros com Lydia passaram a ser o que me motivava durante as semanas difíceis na faculdade.

Do mesmo jeito que eu esperava para vê-la, ela também esperava para me ver.

Toda quinta-feira, eu passava pela porta de madeira da cafeteria e lá estava ela, me esperando no balcão. Cheguei a pensar que, com o tempo, me acostumaria com sua beleza, mas logo percebi que estava enganado: meu coração sempre acelerava como se fosse a primeira vez que eu a via. Quando o sininho preso a porta anunciava minha chegada, Lydia levantava os olhos e para o que quer que estivesse fazendo para sorrir para mim. Era um momento breve quando estava ocupada, mas quando não estava, ele me acompanhava enquanto eu andava até ela.

Nossas conversas se tornaram cada vez mais íntimas, e quanto mais a conhecia, mais fascinado ficava. Lydia era dois anos mais nova que eu, e havia acabado de começar a faculdade. Conseguiu uma bolsa integral, já que tinha um QI acima da média, sempre foi a primeira da classe. Tinha dúvidas sobre o futuro, porque tinha afinidade com muitas áreas. Amava matemática, cachorros, comédias românticas, e livros. Morava com a mãe e trabalhava no Treehouse Cafe para ajudar com as contas. 

Era muito fácil conversar com Lydia. Tudo nela me atraía; dos lábios cheios que eu estava louco para provar até o jeito com que ela falava sobre as séries que acompanhávamos. Podia ficar ali por horas sem fim e esquecer das minhas obrigações, mas sabia que não podia fazer isso, e ela ainda estava em seu local de trabalho. Quando sabia que nosso tempo se esgotava, Lydia se afastava do balcão e fazia meu pedido por mim.

Cappuccino de chocolate, doce de leite latte, chocolate clássico, frapuccino de, caramelo, brownies, bolo red velvet, donut de creme. Tudo que ela fazia para mim era incrivelmente delicioso. Eu sempre perguntava o que a levou a escolher o pedido, e sempre adorava suas respostas. "Para te aquecer durante a chuva", ela disse uma vez, me fazendo sorrir, assim como "Me deixa feliz como estar em casa." Ás vezes ela dizia algo como "Porque é bem bonito" ou "É doce e fofo", e me dava aquele sorriso enigmático, e eu sabia que ela estava falando de mim. Lydia era esperta e boa com as palavras, diferente de mim. 

Sempre me disseram que eu era muito expressivo. O que passava pela minha cabeça ficava tão claro no meu rosto quanto se eu abrisse a boca e falasse. Isso era legal ás vezes, mas também era um pouco chato. Me fazia ser um livro aberto, dizer coisas que deveria manter para mim. Eu acreditava que era isso que acontecia Lydia e eu. Meus sentimentos por ela ficavam evidentes no meu rosto. Ela usava palavras para dizer o que eu não precisava.

Mesmo com tantas provas de que ela gostava de mim (gostava de verdade), eu ainda achava difícil que ela se apaixonasse por mim. Nos víamos uma vez por semana, por pouquíssimo tempo. Não era o suficiente. Quando a mim, bem, não restava dúvida de que eu a amava. Sonhava com ela, pensava nela o tempo todo, sentia sua falta. Tudo era muito novo para mim: Lydia me fez perceber que todas as paixões que tive na vida eram falsas.

Naquela tarde, passei pelas portas do café com o coração palpitando é o sorriso já se formando no rosto. Estava ansioso para vê-la, ouvir sua voz. A saudade era tanta que meu peito se apertou quando vi uma garota desconhecida ao balcão. Andei até a pequena fila quase sem acreditar que Lydia não estava ali, sem querer aceitar que passaria mais uma semana sem vê-la.

— Boa tarde - a garota morena me cumprimentou com um sorriso educado que eu não consegui retornar.

— Oi, hm... - eu comecei a falar, mas a garota de repente arregalou os olhos e me encarou como se eu tivesse lhe contado uma fofoca picante.

— Você é Stiles, não é? - ela perguntou, seu sorriso se alargando. - O famoso Stiles?

Eu pisquei, incerto sobre o que estava acontecendo. 

— Famoso...?

A garota jogou a cabeça para trás e soltou uma gargalhada que quase me fez dar um pulo para longe. 

— Meu deus, ela te descreveu direitinho - disse ela, limpando uma lágrima que ameaçava cair. - Sou Allison, amiga de Lydia.

Ela estendeu a mão e eu a apertei de leve. 

— Stiles, mas você já sabe disso. - Allison riu de novo e eu me descontraí o suficiente para sorrir. - Então... famoso?

— Ah, Lydia fala sobre você o tempo todo. Sempre Stiles isso, Stiles aquilo... Ás vezes fica meio irritante, mas na maioria do tempo é fofo.

Eu sorri ao imaginar Lydia pensando em mim enquanto batia papo com suas amigas. Talvez eu fizesse parte do seus dias tanto quanto ela fazia dos meus. Talvez ela já soubesse do que a fazia se lembrar de mim, e se fosse verdade, me perguntei o que seria. 

— Ela não veio trabalhar hoje? - perguntei, porque senti uma vontade imensa de beijá-la.

— Não, ela ficou doente. Ah, bem lembrado ela me pediu para te dar o número dela - disse Allison, pegando um guardanapo e uma caneta. Eu a observei anotando o número no papel como uma criança esperando para receber um presente. 

Allison me ofereceu o guardanapo, mas quando estiquei a mão para pegá-lo, ela o puxou de volta.

— Lydia é minha melhor amiga - ela disse, me olhando com uma intensidade que me deu medo. - Se você machucá-la de qualquer forma...

— Não vou - apressei-me em dizer. - Eu nunca faria isso. Prometo. 

Allison estudou meu rosto com olhos semicerrados, provavelmente procurando algum traço de mentira. Eu senti vontade de diminuir e sair correndo, mas então seu rosto suavizou e ela finalmente me entregou o guardanapo.

— Você parece legal. Eu aprovo.

— O-obrigado - gaguejei, pegando o papel com cuidado.

— Disponha - ela respondeu. - Então, o que você vai querer?

— Que? - perguntei, já que toda a minha atenção estava voltada para os números escritos no papel.

— O que você quer pedir?

— Ah... um caramelo macchiato, por favor

— Saindo!

Depois de pagar pela bebida, sentei-me no booth mais afastado e estiquei o guardanapo na mesa. Respirando fundo, pesquei meu celular do bolso e digitei o número, roendo a unha do meu dedão enquanto esperava ela atender.

— Alô? - ouvi sua voz do outro lado da linha. Estava um pouco rouca e fraca, mas era definitivamente ela.

— Lydia, oi ahn...

— Stileees! - ela disse, sua voz afinando por causa da animação. Quase pude imaginar o sorriso preguiçoso aparecendo em seus lábios.

— Hey - eu disse, sorrindo também. - Allison me disse que você ficou doente, o que você tem?

— Fiquei resfriada, nada de mais. Meu chefe me deu o dia de folga.

— Você foi ao médico?

— Não, minha mãe me fez chá, agora eu eatou deitada debaixo do edredom. Amanhã já estou bem. 

— Tem certeza? Você devia ir ao médico, só por precaução.

Lydia riu de leve. 

— Ele iria me mandar fazer o que já estou fazendo. É só um resfriado, Stiles.

— Eu vou confiar em você, então é bom você melhorar.

— Pode confiar - ela disse. - Então, como foi sua semana? 

Eu suspirei, reclinando-me no sofá. 

— Bem chato, bem cansativo, as provas não acabam nunca e eu nunca estive tão perto de cometer um crime - respondi. - Sem novidades.

— Você supera isso. E sem cometer nenhum crime, espero.

— Não sei, Lydia. Tudo ia melhorar quando eu te visse hoje, mas agora não sei se vou conseguir.

Lydia riu com mais força desta vez, tossindo um pouco depois. 

— Não sei você, mas eu já estou me sentindo bem melhor.

Eu sorri, correndo os dedos pelos meus cabelos e sentindo meu rosto esquentar.

— Eu também - disse eu. E era verdade. O aperto que senti ao perceber que não ia poder vê-la desaparecia aos poucos enquanto a escutava falar. Eu já me sentia mais calmo; estava encontrando a paz que só ela me dava. 

— Pense por esse lado - disse ela. - Não vamos nos ver hoje, mas você agora tem meu número, podemos nos falar mais vezes.

Eu franzi a testa.

— Por que não fizemos isso antes? Tipo, trocar números. 

— Sinceramente, eu não sei. Somos dois burros.

— Lydia, você é literalmente uma gênia.

— Ah é, você tem razão.

— É, geralmente tenho mesmo.

Ela bufou.

— Certo, fique sabendo que eu acabei de revirar os olhos.

— Aposto que também está sorrindo.

Lydia riu.

— Sabidinho você, hein?

— Acertei? - perguntei, imaginando seus lábios cheios se curvando e mostrando seus dentes alvos e perfeitos, suas bochechas ganhando aquele tom rosado que eu amava. - Cara, eu queria ver isso.

— Merda de resfriado.

— Merda de resfriado.

xxxx

Depois disso, nos tornamos mais próximos do que nunca. 

Aquela ligação havia levado nosso relacionamento a um nível diferente. Não éramos mais duas pessoas que se encontravam em uma cafeteria - éramos definitivamente algo mais. Éramos alguma coisa. Eu sorria toda vez que me pegava pensando sobre nós dois, no que estávamos nos tornando. Mais que amigos, com certeza. Eu estava apaixonado por ela, e ela... Bem, eu ainda tinha um pouco de dúvidas sobre isso, mas sabia que ela sentia por mim uma fração do que eu sentia por ela. Poderia uma grande parte, ou uma pequena parte; sinceramente, eu não me importava, portanto que ela gostasse de mim.

Saber que Lydia estava a uma ligação de distância fez com que os meus dias ficassem mais fáceis. Eu finalmente podia compartilhar os momentos que me alegravam durante o dia, pedir suporte quando precisava, ou apenas jogar conversa fora. Era fácil, simples. Lydia era como uma pausa para o café no dia-a-dia corrido. 

Eu estive com Lydia até ela se recuperar completamente do resfriado, consolei-a quando seu cachorro morreu, escutei-a falar bem e mal do emprego e contar histórias de sua vida. E ela esteve comigo durantes as semanas que antecederam as provas, me escutou reclamar do ritmo pesado de estudos, riu da minha aventura numa festa no campus (e também riu de mim durante minha ressaca), me incentivou a dar o melhor de mim.

Ao sair da sala de aula, depois de ter terminado a última prova, minha única vontade era voltar para o meu apartamento e dormir por uma semana. Mas depois que fechei a porta, chutei meus sapatos para fora dos meus pés e me joguei no sofá, a minha prioridade era ligar para ela.

— Sério? Finalmente! - Lydia exclamou, sua animação evidente em sua voz.

— Sim, finalmente - eu disse, me aconchegando no sofá. - Eu mereço um prêmio por ter passado por isso sem perder a sanidade.

— Você perdeu um pouquinho.

— É, devo ter perdido mesmo - concordei, e ela riu. - Então...

— O que?

Eu mordi meu lábio enquanto reunia toda minha coragem para finalmente tomar uma atitude. Respirei fundo, ignorei o medo de receber um grande "não" no meio da cara e comecei a falar:

— Então... Já que agora eu tenho mais tempo, que tal a gente... sei lá, ir para algum lugar...

— Não! - ela me interrompeu bruscamente e eu calei a boca, meu rosto esquentando. 

— Hm...

— Não, é claro que eu quero sair com você. Quero muito mesmo - ela se apressou em dizer. - Mas hoje eu não posso porque... Minha mãe comprou um... peixe.

— Um peixe?

— Ela quebrou o pé.

Eu franzi a testa.

— Ela quebrou o pé comprando um peixe?

— Não, ela comprou o peixe e quebrou o pé. Enfim, agora eu tenho que cuidar dela e do peixe, é uma bagunça.

— Ok...

— Mas você se importa em me encontrar na cafeteria amanhã a noite?

Eu pisquei, ainda digerindo o rumo que a conversa havia tomado, depois sorri.

— Não, nem um pouco.

— Ótimo! Então me encontra lá umas... sete horas?

— Perfeito.

Lydia riu, e eu cheguei a conclusão de que ela estava tão animada com isso quanto eu. 

— Ok, te vejo amanhã.

— Até amanhã - eu disse, e desliguei.

Ainda fiquei um tempo sentado lá, sorrindo para o nada, só tentando imaginar como seria o encontro. Será que eu teria coragem de abrir meu coração quando estivéssemos frente a frente, em um momento só nosso? Será que se eu dissesse as coisas certas eu ganharia outro encontro?

Suspirando, levantei-me e fui para o quarto. Não fazia sentido planejar a noite. Portanto que ela estivesse lá, eu sabia que seria perfeito.

xxxx

Dizer que eu estava contando os minutos não era exagero. Não conseguia evitar olhar para o relógio, ter certeza de que o tempo estava passando e que a espera estava chegando ao fim. A ansiedade fazia meu coração acelerar sem aviso, o nervosismo deixava minhas mãos suadas. Tudo isso piorou enquanto seguia meu caminho para o Treehouse Café. Eu estava pirando, e não sabia como parar. 

Do lado de fora, a cafeteria estava escura, parecia fechada. Respirei fundo e empurrei a porta, esperando encontrá-la fechada, mas a madeira cedeu e eu entrei. O que vejo do lado de dentro me faz arquejar: o lugar estava iluminado por dezenas de velas espalhadas pelas mesas e pelo balcão. Meus olhos passearam pelas pequenas chamas até que pousaram na pessoa que eles mais desejavam ver.

— Boa noite - ela disse cordialmente, com um sorriso doce nos lábios. Lydia estava atrás do balcão, os cotovelos apoiados na superfície de madeira. Era como uma quinta-feira qualquer: eu refazendo meu caminho até a cafeteria, passando pela porta e encontrando-a esperando por mim com aquele mesmo sorriso que sempre me fazia prender a respiração. Mas, daquela vez, as intenções eram diferentes, os sorrisos diziam mais e os olhos brilhavam mais intensos. Aquela noite prometia algo grande, e iria mudar tudo; pude sentir isso no momento em que a porta de fechou atrás de mim.

— Boa noite - respondi, andando em sua direção. Meu coração batia tão rápido que eu tinha certeza de que ela podia escutar.

— Posso anotar seu pedido? - ela perguntou, seus grandes olhos verdes focados nos meus, sem piscar. 

— Eu... - Ela era tão linda com seus longos cabelos alaranjados caindo em ondas pelos seus ombros, seus lábios coloridos com um tom de vermelho que os deixavam ainda mais irresistíveis. Eu não podia continuar com aquela brincadeira; meu cérebro não funcionava direito. - Pode vir para cá, por favor?

Lydia riu e afastou-se do balcão, deu a volta e parou bem na minha frente. Vestia um vestido rodado, florido com o fundo azul escuro, que acabava acima dos joelhos. Mesmo de salto, era quase uma cabeça mais baixa que eu. Estávamos fisicamente mais perto do que nunca. 

— Você está linda - murmurei, completamente #mesmerizado por sua beleza. Lydia sorriu.

— Você também está - ela disse. - Até arrumou o cabelo.

— Eu tentei. - Eu ri, sentindo meu rosto esquentar. Antes que eu pudesse resistir ao impulso, passei os dedos pelo meu cabelo, um hábito que resultava num bagunçado irreversível e que jogou fora todo o tempo que eu havia gastado para tentar domá-lo. - Droga - murmurei ao perceber o que tinha feito.

Ela riu da minha reação.

— Tudo bem. Eu prefiro ele assim. - Para minha surpresa, ela ergueu a mão e arrumou algumas mechas que caíram na minha testa. 

— Posso fazer meu pedido agora? - Eu não conseguia mais me segurar; ela estava perto demais e eu estava apaixonado demais. 

— Pode.

— Posso te beijar?

O sorriso dela foi sumindo, mas seu olhar ficou mais intenso. Suas íris verdes brilhantes ficaram mais escuras - ela estava dizendo que sim. Para confirmar o que seu rosto já me dizia, ela balançou a cabeça, dando-me permissão.

Lentamente, coloquei minhas mãos em ambos os lados do seu rosto e aproximei o meu. Lydia inclinou a cabeça para trás, de forma que seus lábios ficaram a milímetros de distância dos meus. Zerando o espaço que havia entre nós, eu a beijei. Fogos de artifício explodiram no céu, lançando uma chuva de cores na escuridão e, ao mesmo tempo, o mundo estava em silêncio, prendendo a respiração ou simplesmente sumindo, deixando apenas nós dois ali.

Beijar Lydia era exatamente como eu imaginava, até melhor. Seus lábios eram gentis mas firmes contra os meus. Sua pele era macia contra meus dedos, seu cheiro era intoxicante. Aquela era a descoberta de uma nova droga; eu já sabia que estava viciado em seu beijo.

Nos afastamos o suficiente para podermos sorrir como bobos um para o outro. 
— Isso foi...

— Absolutamente...

— Posso te beijar de novo?

— O que você acha?

Eu podia. E a beijei.


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