Protegida por um Anjo escrita por Moolinha


Capítulo 14
Catorze




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— Aceita refrigerante, Senhorita Keaton? — Perguntou o garçom, segurando o cardápio.

— Não.

— Aceita uma limonada?

— Não.

— Algum suco?

— Não.

—Água, então?

— Pode ser. — Cruzei os braços.

O garçom logo se tratou de sair, deixando-me ali naquela mesa com Harry. Logo, ele colocou sua mão sobre a minha.

— Meu amor, porque não aceita uma bebida? Vamos brindar juntos!

Meu amor? Meu amor!? Revirei os olhos.

— Porque você não para com isso? — Sussurrei, me debruçando na mesa. — Não é tão difícil me deixar em paz. Harry, eu não sou seu amor. E agradeceria muito se você parasse com essas ameaças.

Ele deu uma risada tão alta, mas tão alta que o pessoal que estava na nossa mesa ao lado nos olhou como se estivéssemos mastigando vidro.

— Não. — Ele ficou sério. — Gosto de agir desse modo.

— O quê? De bancar o psicopata e de esmagar meus braços?

— Não. Eu sou normal.

Ah meu Deus.

Tive vontade de dar um soco em Harry. Sério. Só que o único problema é que não sou capaz de matar nem uma formiga. E, bom, se eu o acertasse com meu punhal, provavelmente iria pro Beleléu.

— Eu gosto de você. E quero você, Belatriz.

— Harry — engoli em seco — isso não é amor.

— Um amor diferente. —Ele deu um gole em sua água.

Eu não estava ouvindo aquilo. Impossível. Que idiota!

— Ah, claro. — Levantei-me num pulo, peguei minha bolsa peluda ridícula e saí daquele restaurante horrendo.

E quando digo que o restaurante era horrendo, era porque era horrendo mesmo. Não em termos de higiene e nem nada do tipo. É porque todo lugar aonde vou com Harry é horrendo. Todo lugar onde ele está é horrendo. Ele simplesmente pediu um troço com um gosto horrível para nosso jantar. Nunca havia comido aquilo na minha vida e nem pretendia voltar a comer aquele troço novamente.

Harry levantou-se sem dizer uma palavra sequer e foi em direção ao banheiro, foi quando eu aproveitei a oportunidade e saí do Johnnie’s rapidamente, indo em direção de um ponto de ônibus, já que eu estava tão dura que não tinha dinheiro nem para pagar um taxi de volta pra casa.

A noite estava densa e escura. A lua havia se escondido nas nuvens, deixando a rua — mesmo com grande movimento de carros e pessoas — sombria.

O vento forte e frio jogou minha trança mal feita para trás, desfazendo-a.

— Isso não é amor! — Protestei. — Que diabos ele estava fazendo? Eu estava apenas tentando amenizar essa nossa situação para ele tirar aquela ideia estúpida de me matar da cabeça.

Jimmy, que estava muito silencioso, disse:

— Cara, você é muito pirada. — Ele enfiou suas mãos nos bolsos de seu jeans. — Agora, Senhorita Inteligência, ele pode vir atrás de você.

Dei um gemido baixo.

É, certo. Eu não havia pensado nisso.

— Isso não passou por minha cabeça. — Admiti, olhando para o chão. — E agora?

Ele sorriu.

— Não se preocupe. Eu estou aqui. É só esse pirado levar uma surra que ele para de te ameaçar. — Um risinho baixo saiu de seu sorriso.

— É isso aí. Trate de fazer seu serviço, Fields, porque não quero ter hematomas nos braços e nem coisa pior. — Murmurei nervosa, quando ouvi uma buzina bem atrás de mim que fez meu coração gelar.

A Land Rover preta parou diante dos meus olhos.

Harry me olhou cautelosamente, com uma de suas mãos no volante e o cotovelo apoiado na janela confortavelmente.

— Não foi nem um pouco gentil o que você fez, Belatriz. Agora, entre no carro e deixe-me te levar em um lugar especial.

Lugar especial, ah, claro.

Trinquei meus dentes.

— Seria melhor se você me levasse para casa.

— Acho que não.

Jimmy cruzou os braços e se manteve sério ao meu lado.

— Entre, garota teimosa. — Sussurrou para mim.

— Nem pensar. — Sussurrei de volta para Jimmy. E para Harry, falei: — Olha, está tarde.

— Seu pai não marcou horário para você estar de volta em casa, marcou?

— Me leve para casa. Estou cansada. — Menti, sobre a parte de estar cansada.

Harry ficou sério e tirou a mão do volante.

— Se você não entrar nesse carro, Belatriz, você já sabe o que irá acontecer. Ou entra nessa droga, ou a coisa vai ficar preta.

— Entre logo, Bells. — Jimmy me deu um empurrãozinho.

Calada, sentei-me no banco do carona, enquanto Jimmy se sentava atrás, de braços cruzados.

Fomos parar na rodovia NY-22. Uma rodovia movimentada, estreita e cheia de rochas ao seu redor. Em seu lado direito, estava o mar. Forte e destemido, com ondas gigantescas que se chicoteavam nas pedras, fazendo altos estrondos e suas gotas quicarem sobre o para-brisa dos carros.

— É aqui. — Harry manobrou o carro para um estacionamento meio vazio, bem acima do nível do mar.

Tudo bem. Não era meio vazio. Havia uma iluminação decente ali e alguns carros parados em cantos escuros, bem distantes de nós.

Eu já podia até imaginar o que as pessoas estavam fazendo dentro dos carros naquela escuridão.

— Os casais costumam vir aqui de noite para ter mais privacidade. — Sussurrou Jimmy, bem atrás de mim. — Quando eu era vivo, frequentava esse estacionamento todo final de semana.

Mais privacidade. Entendi.

Mas... Se Harry havia me levado para ali, então não era para conversar... Ou seja, isso significava que ele tinha outras intenções, é claro. Não sou burra nem nada. E, bom, se ele fizesse alguma coisa do tipo, eu iria chutá-lo bem em seu ponto fraco, outra vez.

Tudo bem que sou virgem, que nunca fiquei de amassos “calientes” com nenhum bonitão, mas eu não queria fazer sexo com o animal do Harry. Não. Nem pensar! Sem chance!

Harry tirou o cinto de segurança e se acomodou em seu banco. Ele estava sorrindo, mas agora parecia estar cheio de malicia.

— Harry...

Antes que eu pudesse continuar minha frase, percebi que estava impossibilitada de falar porque a boca de Harry já estava grudada na minha e nossas línguas já estavam entrelaçadas, formando quase um nó. Não vou mentir. Já disse várias vezes que odeio mentir, mas foi um beijo bom. Muito bom.

Deve ter durado uns dois minutos, no máximo. Porque, deixe-me explicar: quando estamos dando um beijo, e o beijo é bom, simplesmente não nos preocupamos com mais nada. E aí, nasce dentro de nós, garotas, uma certa empolgação indescritível e uma coisa ofegante, que nos faz perder a noção do tempo.

Mas como odeio Harry, percebi a noção do tempo rapidinho e tratei de tirar minhas mãos da nuca dele e colocá-las em seu peitoral, para tirar seu corpo de cima do meu.

Só que não funcionou. Ele não estava exatamente em cima de mim. Mas nossos corpos estavam espremidos no banco no carona. Sério, espremidos mesmo.

Tentei dar outro empurrão para ele se desgrudar de mim e parecia nunca funcionar! Achei que estivéssemos colados, sabe, um no outro. Mas, era ele que estava colado em mim. Eu estava quase sufocada entre seus braços e não conseguia sair de maneira nenhuma. Foi aí que percebi que suas mãos estavam apertando minha coxa e dei um forte empurrão dele, para que ele voasse metros de distância.

Será que Jimmy estava sentado no banco de trás, de braços cruzados, assistindo meu amasso forçado com Harry? Será que ele estava vendo tudo?

Estremeci só de pensar.

— Harry! — Protestei, tentando sair de perto dele, ou para ser mais exata, tentando sair debaixo dele.

Ele parou de beijar meu pescoço e me olhou com uma cara de maníaco, — com olhos esbugalhados e dentes trincados — ergueu a palma da mão aberta e me deu um murro, bem no rosto.

Tentei gritar ou xingar ele. Porém não saía nada da minha garganta. Foi como se ela estivesse entupida, ou que toda minha dor tivesse sugado ela.

E aí, levei outro murro e só consegui sentir dor.

Só isso. Dor. Mais nada.

Foi como ser acertada com um martelo bem no rosto. Fiquei ali, totalmente atordoada, — sentindo algo sangrar — incapaz de me mexer, incapaz de respirar e incapaz de fazer nada além de sentir dor.

E quando acabei de levar o sexto murro, Jimmy atendeu minhas preces, jogando o corpo de Harry para fora da Land Rover.

— Mas, o quê? — Perguntou Harry, incrédulo, todo esparramado no cascalho do estacionamento.

— Ande! Dirija! — A voz de Jimmy era firme e dura.

Fui para o banco do motorista e liguei o carro, dando marcha ré.

Minha porta se abriu num piscar de olhos e antes que eu pudesse colocar o cinto de segurança, eu já estava sendo puxada bruscamente para fora do carro e caindo de cara no chão de cascalho. E aí percebi que o fluxo de sangue que saía do meu nariz havia aumentado.

Harry havia me puxado de volta para seu corpo — como no carro — mas dessa vez foi para me dar o sétimo e mais forte murro que eu havia levado em toda a minha vida.

— Já chega! — Jimmy sorriu sombriamente e tirou Harry de cima de mim.

Como se segurasse uma fralda suja de um bebê qualquer, Jimmy jogou Harry no mar, bem abaixo de nós. Porque afinal, não havia uma cerca e nem uma tela separando o mar do estacionamento. Qualquer doido poderia simplesmente se jogar dali.

— Ei! — Pude ouvir o grito protestante dele ecoar, junto as ondas que se estalavam nas rochas.

Tirei o cabelo do rosto e suspirei.

Certo. Foi a primeira vez em que Jimmy me salvou. E, digo que ele fez um ótimo trabalho tacando Harry no mar, bem longe de mim.

Jimmy pareceu tão concentrado em seu trabalho, sabe, e é isso que os anjos da guarda fazem: protegem. Eu não fazia ideia do que Harry iria fazer se Jimmy não estivesse comigo. E, como me protegeu. Foi como se Jimmy tivesse essa prática de proteger a anos, que era até difícil de acreditar que era ele. Afinal, ele não fez nenhuma piadinha e nenhum comentário no qual está acostumado a fazer, e devo admitir que, eu gosto de ouvir.

— Você não podia ter deixado ele te beijar, Bells.

— Desculpe. — Minha voz saiu rouca. — Não vou fazer mais isso.

— Claro que não. Você não pode aceitar nada que venha dele, Bells. Nem um presente ou um beijo, porque você sabe que se fizer isso, vai levar murros até a morte. Tudo que ele fizer para você, acabará em violência contra ti.

Encolhi-me.

Foi aí que ele sorriu, quebrando a tensão daquele momento entre nós.

— Até porque, Bells, você está péssima! Precisa de um bom banho e gelo nesse seu nariz. Não se pode beijar ninguém sangrando desse jeito.


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