Jovens Bruxas: O Quinto Elemento escrita por AlexW


Capítulo 5
Capítulo 5




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Regan gostava de ser uma bruxa adolescente. Era, de algum jeito, gratificante. Irônico até, se fosse para analisar a fundo. Ela, de todas as garotas do mundo, havia sido escolhida para reger um dos cinco elementos. Era uma responsabilidade e tanto. Dois anos atrás, a maior responsabilidade dela tinha sido regar as flores da mãe, todos os dias, por duas semanas. Bem, Regan meio que falhou nessa tarefa.

       Por outro lado, ela odiava ser uma garçonete adolescente. Era entediante, trabalhoso e ela detestava ter de sorrir alegremente sempre que um cliente falava com ela. Babette, a dona do bar e restaurante onde Regan trabalhava, estava ciente que, se ela tivesse de passar mais uma semana falando sobre o prato especial da noite, acabaria colocando fogo em alguma coisa. Ou pior, em alguém.

       Pois é, Babette sabia que Regan controlava o fogo. Regan confiava em Babette.

       Era noite de segunda-feira e o restaurante estava mais cheio do que o normal, para azar de Regan e sorte de Babette. Regan havia atendido um grupo de garotas de vinte e poucos anos, que não conseguia se decidir entre salada grega e salada Caesar. No final elas acabaram pedindo uma Voss, que, na verdade, é só uma palavra chique para água norueguesa. Só que, como sempre, Regan fez melhor: ela encheu uma jarra com água da pia do banheiro, acrescentou três gotinhas de limão e pronto! A Voss das garotas estava servida. 

       Para piorar, três garotos acabaram de entrar no restaurante e se sentaram em uma das mesas de Regan. Eram garotos do colégio, por isso ela sabia que, se tivesse sorte, eles teriam no máximo quinze dólares para dividir por três, o que também significava que Regan não receberia gorjeta. Ok, é oficial: Regan definitivamente colocará fogo em alguém hoje à noite.

       – Olá, bem-vindos ao Babette's. Meu nome é Regan e eu serei sua garçonete esta noite. – Diferente das outras garçonetes, que exalavam graciosidade e boa vontade, Regan não se preocupava em demonstrar cansaço e pouca boa vontade. – Em que posso servi-los?

       – Olááá, você – um dos garotos começou, todo sorridente.

       Regan já sabia onde isso acabaria.

       – Eu posso voltar depois, se vocês ainda não tiverem decidido o que vão pedir.

       – Eu sei o que quero – disse o segundo garoto, olhando a garçonete de cima a baixo.

       Regan quase revirou os olhos. Ela estava segurando o lápis com tanta força que o objeto estava prestes a se quebrar. Seria fácil lidar com esses três garotos sem chamar a atenção dos outros clientes. Regan não era uma mera estreante.

       – Eu conheço você – disse o terceiro garoto. – Você frequenta Mystic High.

       – Sorte a minha – era isso, a paciência de Regan havia acabado por completo. – O que vocês vão querer?

       – Primeiro, o seu número – o primeiro garoto continuou – e depois, quem sabe, um pouco de... – sugestivamente, ele começou a mexer as sobrancelhas. Os amigos dele sorriram e Regan fez cara de nojo.

       – Escuta aqui, pivete. Eu sugiro que você e seus amigos nojentos peçam logo algo pra comer. Do contrário, eu sugiro que é melhor, para a segurança de vocês três, que deem o fora daqui.  

       Babette, que estava observando tudo de longe, resolveu se aproximar. Calmamente, ela colocou uma mão sobre o ombro de Ally. Ela precisava acalmar a garota. Do contrário, as coisas sairiam de controle, como da última vez.

       – Regan. – Babette disse, e a primeira coisa que ela notou foi que o ombro da garçonete estava quente, uma pequena amostra do que ela estava sentindo. – Por que você não faz uma pausa? Outra atendente pode fazer isso.

       Regan piscou algumas vezes, tentando se acalmar. Babette estava certa, era melhor pra ela sair de perto daqueles garotos.

       Enquanto caminhava em direção à porta dos fundos, Regan arrancou o avental da cintura e jogou-o em cima do balcão, juntamente com o bloquinho de notas que utilizava para anotar os pedidos.

       Nora Palmer estava sentada em um caixote nos fundos do restaurante. Ela tinha um cigarro aceso entre os lábios, o rosto virado para cima e os olhos fechados.

       Ela era dois anos mais velha que Regan e já havia se formado na escola. Nora até já havia largado a faculdade comunitária, por isso Regan não sabia o que ela ainda estava fazendo em Mystic Village.

       – Ei, você. – Regan puxou um caixote e sentou-se de frente para Nora.

       – Uma tragada? – Nora ofereceu. Ela sabia que Regan não fumava, mas era divertido vê-la torcer a cara por conta da fumaça do cigarro.

       – Não, eu pretendo ter uma vida longa e saudável, obrigada.

       Nora jogou o restante do cigarro no chão e apagou-o com o pé.

       – Eu preciso te dizer uma coisa. – Nora se inclinou para frente.

       Essa não! Nora havia assumido um tom sério, o tipo de coisa que ela não tinha o hábito de fazer. Ela era uma das pessoas menos sérias que Regan conhecia, até a própria Regan era mais séria que Nora.

       – O que foi?

       – Eu vou embora de Mystic Village. Dessa vez, é pra valer.

       – Quando? – Droga, Regan gritou mentalmente.

       – Provavelmente no final do mês.

       – Para onde você vai?

       – Nova York. Uma antiga conhecida minha precisa de uma colega de quarto pra dividir as despesas. Aceitei a proposta sem hesitar.

       Nova York? Antiga conhecida? Colega de quarto? Regan sabia onde Nora estava querendo chegar com aquela conversa. Aquilo não era nada bom. Pelo menos, não para Regan, que seria a maior perdedora.

       – Que bom pra você – disse de maneira ríspida. – Não se esqueça de me enviar um cartão postal, ok? – Ela estava chateada.

       – Não diga isso, por favor. Eu não quero deixá-la aqui. – Nora estava segurando a mão de Regan, olhando diretamente para a garota. – Você sabe disso. Eu até convidaria você para ir embora comigo, mas na última vez que eu toquei no assunto você deixou bem claro que não pretende sair daqui. 

       – Não é isso Nora. Eu pretendo sair daqui no futuro. Não agora. Agora eu... simplesmente não posso.

       – Por que não? O que te prende a esta cidade? É a escola? Porque se for, acredite quando eu digo, dissecar um sapo não te ajuda em nada no mundo lá fora.

       – Eu não me importo com a escola e você sabe disso. Mas o problema não é esse. Tenho a minha família, eu não posso simplesmente deixá-los para trás assim, do nada.  E também tem outra coisa.

       – Você e os seus malditos segredos. – Nora se levantou. – Quer saber? Eu sou mesmo uma idiota. Em todo caso, o meu convite permanece de pé até o fim do mês. Do contrário, eu vou embora sem você. Eu preciso voltar lá pra dentro.

       Para Regan era frustrante não poder dizer a verdade. Nora merecia saber, ela era uma boa garota e adorava Regan. Mas, para a segurança de Nora, era melhor mantê-la desinformada.

       Depois do expediente, quando o restaurante já estava fechado e Regan e Babette eram as únicas que ainda estavam ali dentro, a garçonete estava se preparando emocionalmente para escutar o sermão que Babette estava prestes a fazer.

       – Regan, você precisa se controlar. – Babette estava atrás do balcão, ela havia acabado de fechar a caixa registradora. – Hoje, por pouco, você não colocou fogo naquele garoto.

       Por pouco mesmo.

       – Eu sei, me desculpe.

       Babette sabia das habilidades de Regan. Não foi escolha de ninguém, as garotas sequer sabiam a respeito de Babette. Se Marissa imaginasse, ela era capaz de criar um vórtice, tamanha a raiva. 

       Tudo aconteceu no ano passado, quando Regan estava começando a controlar o fogo. Raramente ela conseguia fazer alguma coisa, mas, quando conseguiu, só precisou da chama de uma vela para multiplicar o fogo e fazê-lo dançar pelo restaurante como em uma animação da Disney. Infelizmente, Babette escolheu aquele momento para aparecer.

       O mais estranho nessa história foi que Babette levou tudo numa boa. Ela não saiu correndo, nem se descabelou. Ficou apenas sentada, enquanto Regan contava uma versão bastante resumida de toda a história.

       – Se por acaso, que Deus não permita que isso aconteça, você colocar fogo acidentalmente em alguém, eu não vou saber como ajudá-la.  – Babette estava preocupada. – Eu não sou uma boa mentirosa e você sabe disso.

       – Eu agradeço a você por guardar o meu segredo. E, se serve de consolo, eu prometo que, a partir de hoje, irei pegar mais leve e tentar não colocar fogo nas coisas. E, principalmente, nas pessoas. 

       – Bem, nesse caso sou eu quem deve agradecê-la.

       Regan estava prestes a ir embora quando sentiu falta de alguma coisa. Olhando dentro da bolsa, ela percebeu que a jaqueta não estava ali dentro.

       – Você viu a minha jaqueta? – Perguntou à Babette.

       – Sim, acho que ela está na cozinha.

       Deixando a bolsa em cima da mesa, Regan foi até a cozinha. A jaqueta jeans estava em cima de um armário. Como ela havia chegado ali? Bem, isso permaneceria um mistério. Regan pegou a jaqueta e, no caminho de volta, escolheu uma maçã dentro de uma bacia cheia destas frutas.

       Antes mesmo de dar uma mordida na maçã, Regan escutou o barulho de algo se quebrando. O som veio do bar, em seguida ela escutou o murmúrio de vozes baixas.

       Regan deixou a fruta e a jaqueta em cima da mesa e caminhou em silêncio até a porta da cozinha. Como estava entreaberta, ela pôde ter uma noção do que estava acontecendo.

       A caixa registradora estava aberta de novo, dessa vez Babette estava tirando dinheiro lá de dentro. Do outro lado do balcão, Regan viu um vulto. Na verdade, ela viu dois vultos. Duas outras pessoas estavam no restaurante, além dela e Babette. Conforme Babette resolveu se movimentar para o lado, Regan pôde identificar melhor os vultos. Eram dois caras: um alto, de cabelo escuro, e o outro era baixo e careca. O cabeludo estava segurando uma arma, o careca segurava um canivete e Babette estava chorando.

       Regan estava presenciando um assalto. Imediatamente ela cogitou ligar para a polícia, mas o celular dela estava dentro da bolsa que ela havia deixado em cima do balcão.

       Assim que encarou a maçã vermelha e brilhante em cima da mesa, Regan teve uma ideia. Não era muito boa, mas, se funcionasse, iria ajudar Babette. Sendo assim, bastava.

       Havia uma janela que ligava a cozinha ao restaurante, onde os assaltantes e Babette estavam. O primeiro a ser atingido foi o careca baixinho, que segurava o canivete. Regan acertou-o em cheio no rosto com uma maçã em chamas, que explodiu na cara do bandido. Babette gritou e se abaixou, enquanto o assaltante cabeludo ainda estava se perguntando o que diabos estava acontecendo. Regan abriu a porta da cozinha, ela trazia consigo duas laranjas, uma em cada mão. Quando o assaltante que ainda estava em pé a encarou, a primeira coisa que ela fez foi incendiar uma das laranjas e jogá-la contra o assaltante. A fruta em chamas acertou o assaltante em cheio no ombro. Regan escutou outro barulho, dessa vez a arma do bandido havia caído no chão. Sem perder tempo, Regan tratou de incendiar a outra laranja e arremessá-la. Dessa vez ela acertou a testa do homem, que caiu no chão, fazendo companhia ao parceiro, que já estava desacordado.

       Ainda assustada e agora em choque, Babette se levantou. O rosto da mulher, que normalmente era rosado, agora estava vermelho.

       – Você está bem? – Regan perguntou.

       Babette fungou e depois limpou o nariz com a manga da blusa.

       – Sim, eu acho que sim.

       Do outro lado do balcão estava uma tremenda bagunça: restos de frutas explodidas no chão e dois homens caídos e desacordados, com os rostos queimados.

       Enquanto Babette ligava para a polícia, Regan fez o que mais gostava de fazer: ela riu de toda a situação. Ela fez isso por ser boa no que gostava de fazer. Ela riu porque era a escolhida e poderia se dar ao luxo de rir em momentos como aquele.


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