Uma semana havia passado sem nenhum caso interessante ou mesmo agitado. Minhas idas ao FBI tinham sido basicamente por conta de Roman, que continuava preso naquela cela, e pra tentar avançar qualquer coisa com Nas ou Patterson. Nas havia oferecido um celular a Patterson dizendo que ele estava criptografado. Graças a descoberta de Borden como infiltrado Patterson estava sinalizando que estava perto de descriptografar. Dois dias atrás ela havia quebrado e encontraram o desenho de uma de minhas tatuagens - uma que havia sido removida. Estava tomando café com Roman quando meu celular apitou. Era Kurt.

“Patterson tem algo”

“Geralmente ela quem me avisa sobre isso”

“Só queria poder te ver antes de irmos ao trabalho”

Respondi com um boneco sorrindo. Roman me observou sorrindo.

— É uma mensagem de Patterson. — Eu disse. — Parece que ela encontrou algo, então eu preciso ir.

— Seu sorriso parece ser mais do que uma mensagem de Patterson. — Ele observou

Ri de sua observação.

— Depois eu explico melhor pra você. Você vai ficar bem?

— Irei. Caso precise de algo eu peço a algum dos guardas.

Sorri sem jeito, pois o odiava  vê-lo ainda preso ali. Me levantei e quando ia subir ele me chamou.

— Eu sei que você odeia o pouco que eu tenho aqui, mas eu sei que o pouco que eu tenho é graças a você e Kurt então eu sou grato.

Sorri novamente sem jeito até sair da sala. Kurt estava lá me esperando e subimos juntos.

Chegamos na sala de Patterson pra descobrir que a tatuagem levava a Roman e uma mulher ruiva que fazia parte de uma gangue de motoqueiros. Chegamos a um consenso que a tatuagem poderia nos levar a Sandstorm já que tinha conexão com Roman e por isso tinha ficado de fora do meu corpo.

— Podemos conectar ele de novo a Kat e ver o que podemos descobrir. — Eu disse.

— Ela não vai simplesmente responder isso por um telefonema. — Tasha disse e todos concordaram.

— Então podemos colocar ele em campo. — Eu finalizei.

Todos me olharam com estranheza. Eu sabia exatamente o que estavam pensando.

— Eu sei que isso pode ser arriscado, mas eu sei que vocês também sabem que isso pode nos trazer algo grande. Eu sei o que estão pensando do Roman, porque eu sei o que pensaram de mim logo que eu voltei, mas eu sei que meu irmão quer ajudar e que ele fará o que for possível pra nos ajudar.

Todos continuaram em silêncio até que Kurt pediu que Patterson retirasse as fotos pois ele iria conversar com Roman. Roman lembrou de vender explosivos e após muito relutar Nas decidiu tirá-lo da cela para colocá-lo de volta na jogada. Fomos atrás da moça ruiva que se chamava Kat. Ela era ex-namorada do Roman, o que nos complicou inicialmente, mas conseguimos combinar um falso roubo de explosivos para vender a Sandstorm numa armadilha pra pegar Shepherd. Nas arrumou os explosivos e Kurt e Reade estariam disfarçados de caminhoneiros. O ‘assalto’ estava indo bem, até que o chefe do grupo da Kat mandou Roman matar Reade e Kurt. Roman trocou um olhar pra mim com a arma na mão e atirou no peito dos dois.

“Eles estão de colete??” foi a primeira coisa que me passou pela cabeça. Vi o Kurt imóvel no chão e Reade também. Meu corpo todo gelou, assim como meu coração. O que diabos Roman tinha feito? Minha respiração até falhou, mas antes que Kat percebesse, Roman me puxou e pediu para irmos. Eu fui, mas meu coração ficou ali, naquele chão, com Weller.

***

— Qual o seu problema? — Perguntei pra Roman quando Kat havia nos deixado a sós.

— Ele estava de colete. — Ele respondeu. — Por que ficou tão assustada e nervosa? Não podia comprometer a missão.

— E se você não tivesse acertado no colete, Roman? Foi a primeira vez que você saiu daquela prisão então você tem que fazer a coisa mais racionalmente possível pra que eles confiem em você.

— Eu já tinha conversado com Kurt sobre isso. Eu tive que atirar ou Kat e seu pessoal atiraria na cabeça deles.

Fomos interrompidos quando Kat chegou com cerveja e pediu privacidade junto com Roman. Eles me deixaram, mas eu ainda estava com a cabeça naquele galpão pensando em como estava Kurt.

***

Cheguei no FBI pra encontrar Reade normalmente em sua mesa. Olhei diretamente pra sala de Kurt, mas ele não estava lá. Roman voltou pra sua sala e passei pela enfermaria, mas Kurt não estava lá. Respirei em frustração pois eu precisava vê-lo. O medo de perdê-lo quando Roman atirou ainda sacudia meu estômago e minha consciência. Fui em direção a locker room jogar uma água no meu rosto, tentar me acalmar. Quando chego lá, Kurt é a primeira pessoa que eu vejo. Ele estava abotoando sua camisa. Suspirei fundo num misto de nervosismo e alívio. Ele me olhou e me aproximei.

— Desculpa por…

— Ele teve que fazer aquilo. — Ele disse brevemente.

— Vocês me assustaram. — Completei num tom baixo, mas audível. — Eu pensei que…

Me perdi num pensamento assombroso de Kurt morto, não querendo falar aquelas palavras porque a memória de Kurt ao chão ainda estava se assustando

— Ei… — Ele chamou, se aproximando e colocando suas mãos em meus braços. — Eu estou aqui.

— Eu estou feliz por você estar. — Eu disse e o abracei sem hesitação.

Os meus batimentos ainda estavam rápidos, mas senti seu toque e sua pele me acalmaram. Suas mãos corriam lentamente pelas minhas costas até que nos afastamos. Olhei dentro dos seus olhos.

— Eu vou sempre estar. — Ele disse sorrindo e nos beijamos brevemente.

Seus lábios me dando a ideia ainda mais clara de vida e me acalmando plenamente. Nos interrompemos quando escutamos uns passos e nos separamos um pouco. Tasha entrou no local.

— Está na hora de irmos. — Ela disse e assentimos com a cabeça.

Kat e seu pessoal haviam marcado a troca com a Shepherd. Marcamos de nos encontrar em seu bar de encontro para irmos, mas quando chegamos lá, havia somente duas pessoas. Entramos na sala para encontrar Kat armada. Ela havia descoberto que estávamos com policiais e confrontou Roman, quase atirando em nós, mas Roman disse que havia mentido somente para poder revê-la e ela ficou ao nosso lado. Os seus aliados porém não concordaram e trocaram tiros comigo, Roman e ela. Ela ficou ferida, mas logo o time apareceu para nos ajudar. O primeiro olhar a atravessar a porta foi Kurt, trazendo um alívio a mim e aparentemente a ele. Derrubamos todos, mas Kat caiu no chão. Ela havia perdido muito sangue. Roman pressionou seu ferimento enquanto ela suspirava com dificuldade. Ela o chamou com dificuldade e disse que o amava, o que o fez engoli em seco quando ela deu o último suspiro. Lembrei que algo parecido poderia ter acontecido entre mim e Kurt, que poderia ser eu e ele, ou ele e eu mais cedo e nós teríamos apenas partido. Esse pensamento apertou ainda mais meu coração. Roman virou-se e deu a Kurt o endereço que Kat o tinha dado.

— Reade e Tasha, vocês irão com Nas e Roman. — Ele disse e virou-se pra mim. — Jane, comigo

Assenti com a cabeça e fomos.

Entramos no carro e Kurt segurou minha mão. Suas mãos estavam tremendo e seus olhos mais acesos e concentrados do que nunca.

— Nós assustamos muito um ao outro no dia de hoje. — Ele começou. — Isso tem que parar de acontecer.

— Nós temos que ser mais racionais em campo.

— Eu serei, desde que você me prometa que não vai se arriscar desnecessariamente.

— Você tem que prometer o mesmo. — Eu respondi olhando em seu olho.

— Eu prometo. — Ele disse.

— Então eu também prometo.

Avançamos e logo estávamos no galpão. Paramos o carro, mas antes de sairmos, Kurt segurou novamente minha mão.

— Eu não sei o que vai acontecer agora. — Ele começou.

— Eu também não.

— Então eu só queria que você soubesse que eu amo você e que eu lamento cada momento em que eu te fiz sofrer, mas eu espero que os momentos felizes...

— Ei… — Eu disse passando a mão em seu rosto. — Nós vamos passar por isso. Eu também amo você e sei que ainda teremos muitos momentos felizes juntos.

— Jane, você não pode prever isso.

— Eu não posso, mas se não tivermos a oportunidade de ter mais momentos, eu quero que você saiba que os momentos felizes que eu tive com você foram os melhores.

Nos beijamos brevemente, mas calorosamente. Preenchendo-nos com os lábios um do outro.

Saímos do carro e dividimos o time e avançamos, mas se tratava apenas de uma armadilha. Os aliados de Kat estavam dentro do caminhão, mortos assim como ela, e o pouco dos explosivos que tínhamos conseguido não estava mais lá.

Todos suspiramos em exaustão por isso. Sempre acontecia algo que fazia Sandstorm estar a frente. O que havia de errado?

Estávamos todos no carro voltando em silêncio, dessa vez eu e Roman estávamos no carro com Nas e Kurt e ele não parava de olhar para suas mãos ensanguentadas. Todos chegamos em silêncio. Nos arrumamos e depois arrumamos a papelada. Após preenchê-las, fui ver como Roman estava.

Ele já estava de volta em sua cela. Ele estava sentado em um lado do vidro, concentrado, e apenas saiu de sua órbita pessoal quando eu sentei ao seu lado, do outro lado.

— Desculpa. — Eu disse, por conta da Kat.

— Eu não senti nada. — Ele disse parecendo desapontada. — Quando eu a reencontrei. Eu apenas lembrei que era feliz, mas eu não senti mais isso.

Eu suspirei, lembrando de quando reconheci Oscar.

— Bem, nem sempre quando você lembrar de algo você vai ressentir aquilo. Você é uma nova pessoa e novos sentimentos virão. — Eu completei pensando em Kurt. — E quando eles chegarem, podem ser ainda melhores do que o que você sentia antes. Não se sinta culpado por isso.

— Isso aconteceu com você? — Ele perguntou curioso.

— Bem, eu já havia sonhado com Oscar e sabia que ele era meu noivo, mas quando eu o reencontrei eu não… não senti nada. Isso foi confuso pra mim no começo, mas eu apenas tinha curiosidade de saber quem ele era, mas pra saber quem eu era antes. Depois eu não quis mais saber porque eu não gostava da pessoa que eu havia sido e eu percebi que a pessoa que ele era não se encaixa mais na pessoa que eu sou agora. Não é fácil de lidar com isso, mas quando você se encontra com novos sentimentos, você conforma-se que não tem mais que amar aquela pessoa. E então você poderá amar outra coisa, ou outra pessoa.

Nossa conversa foi interrompida quando meu celular tocou. Era uma mensagem de Kurt.

“Quer ir ao cinema essa noite?”

Sorri involuntariamente e Roman riu comigo.

— Preciso ir. — Eu disse pra Roman. —  Você vai ficar bem?

— Creio que sim. Aparentemente você vai encontrar algo que você gosta. — Ele disse sorrindo.

— Alguém. — Eu respondi e sorrimos um pro outro.

— Boa noite. — Ele respondeu.

— Boa noite. — Eu disse saindo da sala dele e encontrando com a pessoa que eu amava.

Fui ao encontro de Kurt.